domingo, 24 de fevereiro de 2019

Top 10 (Melhores Filmes 2018)


Chegou a hora. Com certo atraso, é verdade, finalmente irei divulgar a minha lista com os Melhores Filmes de 2018. Infelizmente, como não tive a oportunidade de assistir a alguns dos longas mais elogiados do ano, fiquei com peso na consciência em cometer alguma injustiça ao divulgar (como de costume) o meu Top 10 no final do ano. Um “dever de casa” que foi concluído o mais rápido possível. E que lista de qualidade. Levando em consideração a data de lançamento oficial (cinema\streaming) aqui no Brasil, a “safra” 2018 se revelou muito diversificada e qualificada. Indo de gigantescos blockbusters à preciosos exemplares do cinema ‘indie’, a nossa seleção trouxe quatro filmes com nota máxima, o que diz muito sobre este ano no cinema. Dito isso, com base obviamente no meu gosto pessoal, confira a nossa lista com os dez melhores filmes de 2018.

10º Missão Impossível: Efeito Fallout (Paramount)


O que falar de uma franquia de ação em que, para imprimir o máximo de verossimilhança, o seu consagrado protagonista decide parar as filmagens para aprender a pilotar um helicóptero. Que o mesmo, contrariando o bom senso, decide dispensar os dublês e realizar um salto de paraquedas de mais de 7 mil metros. E que, devido a um dessas “estripulias”, fratura a perna ao pular entre dois prédios numa cena de perseguição. Só pelo esforço de Tom Cruise em entregar algo genuinamente inacreditável a cada novo título da saga, a “marca” Missão: Impossível segue se mantendo como um produto indispensável dentro do “digitalizado” universo blockbuster. Afinal de contas, por melhores que sejam os efeitos visuais, nada é capaz de superar o grau de realismo quando um diretor tem a oportunidade de filmar o seu destemido protagonista entrar numa aeronave, em pleno voo, usando apenas um discreto equipamento de proteção. Reduzir a série M:I às insanas peripécias de Cruise, entretanto, é um erro retumbante. Como se não bastasse a dedicação desta inesgotável estrela de Hollywood, o que vemos é uma marca se reinventando a cada lançamento, prezando pela tensão, pelo entretenimento e (acima de tudo) pela qualidade das suas histórias. O que fica bem claro, outra vez, no mais recente capítulo da saga Ethan Hunt, o alucinante Missão: Impossível – Efeito Fallout. Embora narrativamente mais simples e descomplicado que o seu antecessor, o extraordinário Nação Secreta, o longa novamente dirigido e roteirizado por Christopher McQuarrie tira o máximo proveito do complexo ‘background’ introduzido previamente na construção de um ‘plot’ implacável. Uma aventura alucinante recheada de adrenalina que empolga e surpreende com facilidade incomparável dentro do gênero. Leia a nossa crítica completa aqui.

9º Um Lugar Silencioso (Paramount)


Poucos gêneros se reinventaram tanto e tão bem nos últimos anos quanto o Suspense. Após flertar com a saturação e com ideias repetidas no final da última década, vide o desgastado uso do ‘found foutage’, o segmento ganhou uma reoxigenada nas mãos de diretores como James Wan, Guillermo Del Toro, J.J Abrams e M. Night Shyamalan, das visionárias produtoras A24 e Blumhouse, além óbvio da gigante Warner Bros. De 2010 para cá o que temos visto é o resgate de uma fórmula que havia dado muito certo no cinema de Horror entre os anos 1970 e 1980. Uma aposta em filmes pequenos, com premissas originais, um baixo investimento, efeitos práticos e tramas (geralmente) com um forte subtexto. O resultado é uma “safra” de grandes filmes ao redor do mundo, encabeçada por títulos do quilate de Corra! (2017), Ao Cair da Noite (2017), Fragmentado (2016), Rua Cloverfield, 10 (2016), O Homem nas Trevas (2016), Sob as Sombra (2016), A Visita (2015), O Babadook (2014), Invocação do Mal (2013) dentre outros. Nenhum dos filmes acima, entretanto, nos brindou com uma experiência cinematográfica tão singular quanto o extraordinário Um Lugar Silencioso. Magnífico ao se apropriar da liberdade artística possibilitada pelo gênero, o ator e diretor John Krasinski mostra espantosa maturidade ao entregar uma obra única, um filme capaz de explorar o dispositivo cinema em sua máxima potência. Com personagens cativantes, um argumento recheado de tensão e uma linguagem narrativa extremamente ousada, o realizador norte-americano fascina ao valorizar o senso de imersão, fazendo um extraordinário uso da vistosa fotografia e do primoroso design de som na construção de uma película enérgica, enervante e absolutamente sensorial. E isso sem esquecer de tecer um inteligente comentário envolvendo a renovação da velha estrutura familiar. Leia a nossa crítica completa aqui.

8º Primeiro Homem (Universal)


Logo na fantástica cena de abertura, o prodígio Damien Chazelle (WhiplashLa La Land) mostra que Primeiro Homem não será mais um filme reverência sobre os incríveis feitos norte-americanos durante a corrida espacial nos anos 1960. Nela, sentimos na pele a angústia de Neil Armstrong, um verdadeiro “passageiro da agonia” numa aeronave rudimentar durante um mero voo civil rumo à estratosfera. Uma sequência tensa e imersiva que diz muito sobre o que veremos a seguir. Sem a intenção de glamourizar os intrépidos feitos do primeiro homem a pousar na lua, Chazelle mostra a sua impressionante maturidade artística ao desvendar a figura de Armstrong, investindo numa abordagem nua e crua ao tentar entender o que movia esta complexa e introspectiva figura. O resultado é um retrato quase documental, uma obra íntima e densa que, embora esbanje virtuosismo técnico ao traduzir a dura vida de um astronauta em verdadeiras caixas de metal voadoras, se encanta verdadeiramente pelo (vulnerável) homem por dentro do uniforme, o rígido pai, o errático marido. Um tipo pragmático e obstinado disposto a fazer sacrifícios em prol dos seus objetivos. Leia a nossa opinião completa aqui.

7º Não Deixe Rastros (Bleecker Street)


O que fazer quando um dos nossos bens mais preciosos é sumariamente tomado? Quando a dor chega ao ponto de perdemos a confiança em nós mesmos e\ou no outro? Essa crise traumática surge como o agente catalisador do fascinante Não Deixe Ratros, um ‘road-movie’ poderoso sobre um homem e a sua querida filha em uma errática fuga pelo coração da América. Sob a áspera batuta de Debra Granik, do igualmente desconcertante Inverno da Alma (2010), o longa propõe um retrato singular sobre o impacto de um trauma na rotina de uma disfuncional família, refletindo sobre a triste realidade de muitos ao redor do mundo sob uma perspectiva íntima, agridoce e silenciosa. Entre o drama social e o ‘coming of age movie’, a realizadora é enfática ao dividir o protagonismo, ao dar uma comovente voz aos dois, indo além do simples estudo de personagem ao discutir o peso da perda da senilidade na rotina de uma família que só queria permanecer unida. Leia a nossa opinião completa aqui.

6º A Forma da Água (Fox Searchlight)


“É preciso fazer o mundo suficientemente reconhecível para nos ancorar em uma realidade e suficientemente mágico para nos transportar para fora dela". Atribuída ao escritor J.R.R Tolkien, o homem por trás do clássico O Senhor dos Anéis, esta sentença sintetiza a obra do autoral diretor Guillermo del Toro. Uma das vozes mais criativas no mundo da Sétima Arte na atualidade, o realizador mexicano se tornou referência dentro do universo da Fantasia e do Terror, principalmente pela sua habilidade em usar o cinema de gênero dentro de um contexto quase sempre realístico e contestador. Desde pequeno, influenciado pela cultura do seu país e pela popularidade dos Monstros da Universal, del Toro desenvolveu um estreito vínculo com o bizarro, o estranho. Enquanto a maioria via medo e repulsa, ele enxergava a humanidade, a essência dos personagens. Movido por esta visão de mundo, Guillermo imprimiu em tela o seu amor pelas suas estranhas criaturas, refletindo sobre a nossa realidade ao usá-las como uma espécie de espelho. Através delas, ele se acostumou a mostrar o melhor e o pior do ser humano, escancarando a monstruosidade em sua face mais mundana, em sua face mais possível. Para del Toro, não existe monstro pior do que a opressão, a ignorância, a insensatez, o preconceito. O que fica bem claro no seu mais novo projeto, o magnífico A Forma da Água. Transitando com desenvoltura entre a poesia e a realidade, o diretor desfila a sua reconhecida sensibilidade ao nos presentear com um conto de fadas ao mesmo tempo sombrio e otimista, uma película imersiva, refinada e essencialmente feminina que, graças ao seu inteligente subtexto, fascina ao se insurgir contra alguns enraizados tabus da sociedade americana. Leia a nossa crítica completa aqui.

5º Pantera Negra (Walt Disney) e Vingadores: Guerra Infinita (Walt Disney)


Quando o assunto é a análise de um grande blockbuster, o ‘hype’ pode ser taxado como um grande vilão para aqueles que querem manifestar uma opinião sincera sobre determinado lançamento. Tal qual um doping, a expectativa gera um sentimento de euforia involuntário, o que pode ora derrubar o seu senso crítico quando o resultado é muito positivo, ora aguçar o seu faro para as falhas quando o material decepciona. Nos últimos anos, inclusive, o que eu tenho visto são filmes perdendo “prestígio” junto a mídia especializada nas primeiras semanas pós-lançamento. Após o ‘hype’ inicial, a aclamação logo dá espaço aos questionamentos. Aos poucos os problemas começam a ser realçados, justamente quando a adrenalina da estreia parece baixar. No olho do furacão das grandes produções, o Universo Cinematográfico da Marvel tem atraído as atenções neste sentido nas últimas décadas. Para os detratores, a crítica tem sido condescendente com o nível das produções da companhia. Basta entrarmos numa sessão de comentários de um site de Cultura Pop para percebemos que a maioria das opiniões negativas está ligada ao potencial de esquecimento das obras do MCU. Ao impacto do fator ‘hype’ na equação Marvel. E confesso que este não é um argumento inválido. Eu mesmo já me peguei revendo alguns (poucos, é verdade) títulos da Marvel posteriormente e o resultado não foi o mesmo. Por isso decidi fazer algo novo. Optei por fugir do ‘hype’. Esperar o clima de euforia cair, a histeria coletiva em torno de tal projeto perder a força e só então o assistir. Com a consciência “tranquila” neste sentido, posso dizer que Pantera Negra é - indiscutivelmente - o filme mais importante da Marvel Studios. Após ficar atrás da concorrência quando o assunto foi a representatividade feminina no gênero, ponto para a DC e o empolgante Mulher-Maravilha, a empresa correu atrás do prejuízo com agilidade, fincando os dois pés na realidade ao entregar o super-herói negro que o cinema precisava. Sob a refinada batuta do talentoso Ryan Coogler, o longa exalta a nobreza da cultura negra com rara energia, respeitando o doloroso passado de uma raça numa obra que não se omite ao explorar o contexto histórico. E isso, obviamente, sem abrir mão do fator entretenimento que, por trás das sólidas discussões morais em torno da trama, guia a ação exaltando com propriedade as raízes afro. Leia a nossa crítica completa aqui.


Ao longo dos últimos dez anos, tenho defendido que o maior trunfo do Universo Cinematográfico da Marvel está na maneira com que a franquia explora o altruísmo dos seus personagens. A capacidade dos seus heróis em, no ápice do caos e da destruição, colocarem as suas vidas em risco por um bem maior. Como não citar, por exemplo, o voo para a “morte” de Steve Rogers em Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), o gesto de bravura de Thor diante do imponente Destruidor em Thor (2011), a praticamente suicida ida ao espaço de Tony Stark em Os Vingadores (2012), o “abraço” protetor de Groot em Guardiões da Galáxia (2014), o resgate paternal de Yondu em Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2016). Momentos que, indiscutivelmente, ajudaram a transformar o então inicialmente subestimado MCU num verdadeiro fenômeno dentro da Cultura Pop. Um dos “calcanhares de Aquiles” da Marvel na última década, entretanto, ficou pelo inegável apego dos produtores pelas suas produções. Embora, à essa altura, seja difícil contestar os feitos de Kevin Feige e sua turma, é fato que, seguindo a (lucrativa) fórmula familiar proposta desde a fase um, o Universo Vingadores se tornou um ambiente seguro demais nos cinemas. A ousadia, na verdade, se fez presente muito mais na narrativa dos longas, do que propriamente no destino dos (principais) personagens. O sacrifício se tornou um tabu dentro desta escapista engrenagem. Isso, pelo menos, até o lançamento do imponente Vingadores: Guerra Infinita, um filme capaz de redefinir o conceito de épico dentro da franquia. Consciente das elevadas expectativas do público quanto ao poder de destruição do ameaçador Thanos, um personagem que, ao longo da última década, se tornou um dos mais bem construídos da história do segmento, os irmãos Anthony e Joe Russo entregam um blockbuster raro, um longa impiedoso capaz de ir da empolgação ao choque com um estalar de dedos. Leia a nossa crítica completa aqui.

4º The Rider – Domando o Destino (Sony Classics)


Um dos relatos mais comoventes que eu tive a oportunidade de assistir em 2018, Domando o Destino (The Rider, no original) é o tipo de obra que só o cinema ‘indie’ é capaz de produzir. Um retrato contemplativo sobre a resiliência humana a partir da perspectiva de um jovem que viu os seus sonhos ruírem da noite para o dia. Com uma dose de sinceridade cada vez mais rara na indústria da Sétima Arte, a diretora, produtora e roteirista Chloé Zhao fascina ao “esticar” ao máximo a linha que separa o documental da ficção, entregando uma história real, sobre pessoas reais, filmado com a imponência dos maiores clássicos do Western norte-americano. Uma obra preciosa que, ao ir além da figura do convalescente protagonista, desconstrói alguns dos mais velhos arquétipos do gênero num drama familiar poderoso e indescritivelmente sensível. Leia a nossa crítica completa aqui.

3º A Ghost Story – Sombras da Vida (A24)


Confesso que gostaria de escrever melhor para entregar um texto à altura desta pérola chamada Sombras da Vida (A Ghost Story, no original). Denso, melancólico e reflexivo, o longa dirigido por David Lowery é um daqueles títulos impossíveis de se traduzir em palavras. Um filme raro capaz de transitar por temas tão complexos com a leveza de um fantasma preso às suas memórias. Numa proposta imersiva e delicadamente imagética, o talentoso realizador norte-americano provoca uma mistura de sentimentos e emoções ao tecer um poético comentário sobre o luto, a efemeridade do tempo e a complexa experiência que é estar vivo. Sem medo de soar pretensioso, Lowery encanta ao investir numa silenciosa atmosfera contemplativa, encontrando na força das suas imagens e na poderosa performance de Casey Affleck a inquietação necessária para questionar a nossa imaturidade quanto ao fim, quanto a nossa finitude e quanto a difícil missão de dar adeus. Leia a crítica completa aqui.

2º Infiltrado na Klan (Focus Feature)


É inadmissível que só agora, em 2019, o veterano Spike Lee tenha recebido a sua primeira indicação ao Oscar na categoria Melhor Direção. Um realizador com voz ativa e uma singular visão de cinema, ele ajudou a levar a realidade das ruas para a tela grande, se insurgindo contra o estado das coisas em títulos do quilate de Faça a Coisa Certa (1989), Febre da Selva (1991), Malcom X (1992), O Verão de Sam (1999) e A Última Noite (2002). Mesmo nos seus trabalhos mais comerciais, como Jogada Decisiva (1998) e O Plano Perfeito (2006), Lee sempre procurou ter algo a mais a dizer, a oferecer, o que logicamente o transformou num dos cineastas norte-americanos mais respeitados em atividade. Curiosamente, entretanto, nos últimos anos o diretor parecia ter perdido a sua marcante ferocidade. Dos seus últimos projetos, o único recebido com entusiasmo foi o provocador Chi-Raq (2015), um oásis de frescor num período de lançamentos ou fraquíssimos, ou esquecíveis. Como li em algum lugar pelas redes sociais da vida, a era Obama parece ter feito muito mal a verve criativa de Spike Lee. A fera, porém, estava adormecida, não enjaulada. Bastou a balança voltar a desequilibrar, a voz da opressão falar mais alto, para que o realizador retornasse da sua entressafra com o poderoso Infiltrado na Klan. De volta a sua forma mais afiada e questionadora, Lee enfia o dedo na ferida ao se insurgir contra a crescente onda de preconceito nos Estados Unidos da América, buscando no passado a inspiração necessária para construir uma das mais contundentes, cínicas e corajosas críticas políticas já produzidas em Hollywood. Um filme que se orgulha das suas raízes, da sua mensagem, da rica cultura afro-americana e (especialmente) dos feitos de jovens corajosos que - no ápice da intolerância - resistiram contra uma das mais nefastas faces do racismo. Leia a nossa crítica completa aqui.

1º Roma (Netflix)


A vida cotidiana nunca foi tratada com tanta grandiosidade na Sétima Arte quanto em Roma, a mais nova pérola do extraordinário Alfonso Cuarón. Um filme raro e poderoso, principalmente pela sua capacidade em dar contornos épicos a uma história tão rotineira e (infelizmente) reconhecível. A rigor, estamos diante de um drama familiar intimista, a jornada de duas mulheres de classes sociais distintas unidas pelo abandono e o desprezo masculino. Numa memorável carta de amor ao cinema, entretanto, o diretor mexicano impressiona ao elevar o escopo da sua obra a níveis inigualáveis, capturando o fervor na sociedade mexicana no início da década de 1970 a partir da vulnerável perspectiva de uma família diante de um iminente divórcio. Numa opção audaciosa, Cuarón decide filmar a dura realidade dos seus humanos personagens com a imponência de títulos do quilate de Rastros de Ódio (1956), Lawrence da Arábia (1962), Era uma Vez no Oeste (1968) e mais recentemente Titanic (1997), o que fica bem claro quando nos deparamos com o potencial imagético e o virtuosismo estético contido em cada uma das suas preciosas imagens. E isso, é bom frisar, sem sacrificar o aspecto narrativo da película, tão impactante quanto o visual. O resultado é um longa vistoso, forte e genuinamente crítico, uma epopeia urbana recheada de símbolos que se revela uma comovente ode a resiliência feminina em tempos de turbulência. Uma experiência cinematográfica indescritível. Leia a nossa crítica completa aqui.

Menções (muito) Honrosas

- Lady Bird: A Hora de Voar (A24)


Íntimo, honesto e extremamente sensível, Lady Bird: A Hora de Voar cativa ao refletir sobre a imprevisibilidade da vida adulta através da sua impulsiva protagonista. Muito mais do que uma simples história de amadurecimento, o longa dirigido e roteirizado por Greta Gerwig coloca os “pingos nos is” ao desmistificar algumas expectativas tipicamente juvenis, pintando um retrato humano e realístico sobre uma jovem despreparada diante de decisões tão importantes. Usando parte das suas próprias experiências na trama, a realizadora esbanja propriedade ao construir esta figura indomável e incoerente, uma personagem positivamente petulante que não parece entender as consequências dos seus atos. E isso com a ternura de uma mulher adulta que, calejada após enfrentar dilemas semelhantes, parece já ter a maioria das respostas\conselhos que o seu "eu" mais jovem - e consequentemente a sua Lady Bird - gostaria de ter ouvido durante este importante rito de passagem. Leia a nossa opinião completa aqui.

- Viva: A Vida é uma Festa (Disney\Pixar)


Confesso que, num primeiro momento, Viva: A Vida é Uma Festa não me chamou tanto a atenção. Por mais que o visual, como de costume nas produções Pixar, saltasse aos olhos logo na primeira prévia, tematicamente o filme parecia trazer consigo aquela sensação de "já vi isso antes". Recentemente, inclusive, a excelente animação Festa no Céu (2014) havia explorado as tradições culturais mexicanas com riqueza e criatividade, o que só ajudou a reforçar a minha primeira impressão. Felizmente, existem muitas formas de se contar uma mesma história. Apesar das inegáveis semelhanças narrativas entre as suas obras, Viva comprova a genialidade da Pixar ao abordar a nossa relação com a morte sob um prisma denso e emotivamente adulto. Por mais que o espetacular visual colorido dê uma aparência infantil à trama, a película dirigida por Lee Unkrich (Toy Story 3) e Adrian Molina ganha um sincero escopo dramático a medida avança, refletindo sobre a fama, os vínculos familiares e o valor das memórias numa obra que permanece após os créditos finais. Uma obra revigorante que encanta e emociona graças à força da sua mensagem. Leia a nossa crítica completa aqui.

- A Balada de Buster Scruggs (Netflix)


Feliz foi aquele que teve a ideia de transformar A Balada de Buster Scruggs num longa-metragem. Pensado inicialmente como uma minissérie de seis capítulos, o filme dirigido pelos cultuados Ethan e Joel Coen funciona brilhantemente como uma antologia sobre o Velho Oeste, uma compilação de histórias contrastantes com a assinatura sarcástica (e visualmente estonteante) destes dois autorais realizadores norte-americanos. Embora cada um dos contos cause um impacto natural isoladamente, ao assisti-los juntos percebemos não só a genialidade do texto dos irmãos Coen, mas principalmente a versatilidade temática da dupla, a capacidade deles em imprimir o seu estilo independentemente do gênero proposto, o que confere a este ousado original Netflix um charme todo especial. Na verdade, com total liberdade para criar num cenário de fácil domínio para os dois, a impressão que fica é os Coen tratam A Balada de Buster Scruggs como o seu parque de diversões pessoal, brincando com a falta de “amarras” narrativas, com símbolos do tradicional Western e (claro!) com as expectativas do público numa obra inteligente, revigorante e acima de tudo imprevisível. Leia a nossa crítica completa aqui.

- As Boas Maneiras (Imovision)


2018 não foi um grande ano para o cinema nacional. Enquanto a maior parte dos considerados blockbusters naufragaram nas bilheterias, os títulos mais autorais (como de costume) não conseguiram sequer chegar ao grande público. Aos poucos, porém, algumas destas produções começam a ganhar uma sobrevida no ‘streaming’. Taxado erroneamente como o filme de lobisomem nacional, As Boas Maneiras tem muito a dizer e também a mostrar. Numa fábula urbana recheada de camadas, o longa dirigido pela Marco Dutra e Juliana Rojas sai em defesa do potencial inexplorado do cinema de gênero brasileiro numa obra corajosa, poética e ao mesmo tempo implacável. Uma película instigante que, embora abra generosas brechas para a construção de uma preciosa crônica social\familiar, não titubeia ao trazer o horror para o centro para trama, fazendo jus ao status de “filme de monstro” ao oferecer aquilo que os fãs do segmento esperavam ver. E algumas outras coisinhas a mais. Leia a nossa crítica completa aqui.

- Tully (Focus Features)


Muito mais do que um relato realista sobre a face mais árdua e desgastante da maternidade, Tully encanta ao dar uma honesta voz a mulher por trás deste rótulo. Sob a perspicaz batuta de Jason Reitman, que repete a parceria do ‘cult’ Jovens Adultos com a inventiva roteirista Diablo Cody (Juno) e a eclética atriz Charlize Theron (Mad Max: Estrada da Fúria), o longa causa um indescritível fascínio ao invadir uma realidade tão reconhecível aos olhos do público com inesperada originalidade, refletindo sobre as amarguras de uma progenitora às avessas com as suas múltiplas tarefas diárias numa crônica atual, envolvente e genuinamente feminina. Um retrato dinâmico e revelador sobre a mulher escondida no “avental” materno, aquela que já foi jovem um dia, independente, que já viveu inúmeras experiências, mas que se viu obrigada a adormecer o seu velho “eu” em busca de responsabilidade, de estabilidade e do bem maior da sua família. Alguns dos mais enraizados clichês da vida adulta. Leia a crítica completa aqui.

- Shirkers: O Filme Roubado (Netflix)


Sem medo de errar, poucos longas lançados em 2018 me surpreenderam tanto quanto Shirkers: O Filme Perdido. Confesso, inclusive, que cheguei a relutar em assisti-lo, mesmo diante das elogiosas críticas ao redor do mundo. Felizmente, a curiosidade venceu mais essa vez. Uma exaltação do cinema faça você mesmo, a película escrita e dirigida por Sandi Tan impressiona ao se debruçar sobre as agruras de uma então realizadora da Singapura que viu o seu sonho juvenil se transformar num desconcertante pesadelo. Embora o argumento se disperse demais nos seus primeiros minutos, se distanciando do tema em questão ao estabelecer o contexto sócio-político do pequeno país asiático e a formação cultural das protagonistas, Tan não demora muito para fisgar a atenção do espectador com a sua hipnotizante história de vida. Transitando entre o passado e o presente com enorme desenvoltura, o doc retorna a década de 1990 para narrar a jornada da jovem Sandi, um adolescente com anseios artístico que diante da repressão e da censura só queria fazer cinema. Ao lado das suas duas inseparáveis amigas, a madura Jamine Ng e a cativante Sophie, ela decide filmar o que seria uma das primeiras produções ‘indies’ do seu país. Tudo sai do seu controle, entretanto, quando ele decide trazer o seu tutor cinematográfico, o enigmático Georges Cardona, para o comando da produção, iniciando assim um relacionamento complexo que viria a mudar a sua vida de uma vez por todas. Leia a crítica completa aqui.

Sentiu falta de algum filme? Leia também a nossa lista com as grandes surpresas cinematográficas de 2018.

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