domingo, 27 de janeiro de 2019

Top 10 (Emma Stone)



Do alto dos seus 30 anos, a radiante Emma Stone já pode ser considerada uma das atrizes mais bem-sucedidas de Hollywood na atualidade. Em pouquíssimo tempo, ela construiu uma filmografia de respeito, indo das suas moderninhas comédias ‘teens’ a papéis mais desafiadores com enorme naturalidade. Uma construção de carreira exemplar que alcança um novo patamar com A Favorita (leia a nossa opinião aqui). Na pele de uma “plebeia” ambiciosa disposta a tudo para se aproximar de uma fragilizada rainha, Stone entrega uma das melhores performances da sua vida, um trabalho singular que se torna um dos grandes diferenciais da obra de Yorgos Lanthimos. Por mais que, verdade seja dita, eu não goste da ideia de fazer um Top 10 com realizadores tão jovens (e que tem muito a oferecer ainda), acho que Emma Stone já fez por merecer esta reverência. Dito isso, confira a nossa lista com dez dos melhores filmes desta adorável atriz. 


10º Magia ao Luar (2014)


Gostem ou não, Woody Allen é uma das grandes referências do cinema americano. E só trabalha com ele que tem muito a oferecer. Acostumado a tirar do papel grandes personagens femininas, o aclamado realizador encontrou no carisma descolado de Emma Stone a força motora do subestimado Magia ao Luar. Num dos seus trabalhos recentes mais cativantes, Allen deu a jovem atriz a oportunidade de viver uma médium pouco confiável que decide usar o seu charme quando um respeitado caçador de mitos decide investigar a raiz dos seus poderes. Como se não bastasse o esperto ‘plot’ investigativo, o competente elenco de apoio e o agradável tempo de comédia da obra, Allen aprontou das suas ao reunir Emma Stone e o sempre expressivo Colin Firth num casal que deu liga em tela. Esbanjando química em cena, os dois conseguem extrair o máximo da inusitada dinâmica por trás desta relação, brincando com o jogo de gato e rato proposto pelo roteiro ao revigorar o clichê do “os opostos se atraem”. Leve, divertido e inocente, Magia ao Luar é uma obra descomplicada que não merecia cair no limbo dos filmes do Woody Allen menos inspirados. Tem muita coisa legal aqui, incluindo, claro, o adorável clímax.

9º Super Bad: É Hoje (2007)


Talvez o último grande expoente do besteirol norte-americano, Super Bad revelou muita gente boa para Hollywood. Jonah Hill, Michael Cera e (claro!) Emma Stone. Mesmo num papel secundário, o descolado interesse amoroso do atrapalhado protagonista, a então jovem ruivinha roubou a cena sempre que estava nela, permitindo que o público pudesse compreender o efeito que ela causava no seu pretendente. É legal ver, aliás, como o longa dirigido por Greg Mottola é cuidadoso ao romper com alguns dos clichês do segmento quanto a representação do feminino. O que faz ainda mais sentido quando nos deparamos com a figura independente de Stone. Embora o foco esteja nas impagáveis desventuras de dois amigos na última noitada juntos antes do começo das férias que viria a definir as suas respectivas vidas, o “bromântico” longa sobrou na turma ao explorar este clássico arquétipo, dando a promissora atriz os ingredientes que ela precisava para brilhar e construir uma personagem que viria a moldar a sua imagem inicial em Hollywood. Um belo cartão de visitas numa das grandes comédias produzidas na última década.

8º Zumbilândia (2009)


Um dos filmes de zumbi mais divertidos já realizados, Zumbilândia reoxigenou o segmento ao colocar um grupo de jovens e um excêntrico homem na mira de criaturas sedentas por carne e sangue. Logo na fantástica cena de abertura, ao som de Metallica, o diretor Ruben Fleischer mostrou que iria entregar algo verdadeiramente novo, uma mistura irresistível de Horror e Comédia potencializado pelo fantástico elenco. Com diálogos impagáveis, situações cômicas dignas de aplausos e uma incrível participação especial, o realizador entrega uma obra imprevisível, conduzida com dinamismo pelo trio Jesse Eisenberg, Woody Harrelson e Emma Stone. O primeiro na pele de um antissocial que por isso sobreviveu ao apocalipse, o segundo na pele de um veterano insano capaz de tudo para conseguir um bolinho e a terceira na pele de uma ardilosa sobrevivente que já antes da invasão zumbi tinha que arriscar para conseguir o seu sustento. Com um entrosamento invejável, o trio parece se divertir a todo momento no ‘mise en scene’ proposto por Fleischer, conseguindo transitar habilmente entre gêneros contrastantes sem nunca sacrificar o clima de perigo iminente. O resultado é um sucesso de público e crítica que, ainda hoje, gera um frisson no público quando alguma notícia em torno da aguardada continuação ganha forma.

7º A Favorita (2019)


Disposta a embarcar em tipos mais complexos e desafiadoras, Emma Stone desfilou todo o seu magnetismo no ácido A Favorita. Sob a batuta cínica de Yorgos Lanthimos, o longa co-estrelado por Olivia Colman e Rachel Weisz causa um misto de sensações ao narrar a perigosa “guerra fria” entre duas mulheres de classes sociais distintas pela confiança de uma fragilizada rainha da Inglaterra. A partir deste implacável jogo de gato e rato pela corte vitoriana, o realizador grego invade o terreno da sátira ao refletir sobre a inglória busca de três mulheres por empoderamento, rindo da nobreza e em especial do arquétipo masculino ao se encantar pela agressiva força feminina das suas personagens. No centro da trama do primeiro ao último minuto de projeção, Colman, Weisz e Stone protagonizam uma relação tóxica movida pela ambição, pela carência e (sim) pelo afeto, um arco recheado de nuances que atinge o seu ápice no momento em que as “preferidas” da rainha entram em rota de colisão. E mesmo diante de duas atrizes bem mais experientes, Emma Stone não titubeia por um segundo sequer ao interiorizar os conflitos da sua ardilosa personagem, uma jovem mulher movida pela ambição e pelo perigoso desejo de ser a favorita. Um filme provocador que, mesmo diante da queda ritmo no terço final, impressiona pelo requinte estético e narrativo.

6º A Guerra dos Sexos (2018)


Um daqueles filmes (infelizmente) urgentes, A Guerra dos Sexos deu a Emma Stone a oportunidade (eu diria a missão) de interpretar uma das grandes vozes do movimento feminista na década de 1970, a tenista Billie Jean King. Inspirado numa incrível história real, o longa dirigido pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris é enfático ao desvendar o machismo enraizado na sociedade norte-americana sob uma perspectiva densa e ao mesmo tempo dinâmica. Embora peque pelo maniqueísmo em alguns momentos, principalmente quando o assunto são as figuras da tenista Margaret Court e do comentarista Jack Kramer, o realizador compensa ao se debruçar com afinco na raiz do problema, indo além do circo midiático ao se preocupar em investigar o estado de espírito dos personagens. Em torná-los tipos humanos, como eu ou você, envolvidos em algo muito maior que eles poderiam imaginar. Enquanto o falastrão Bobby Riggs vivido por Steve Carrel surge como um mero peão, um homem com problemas pessoais que decide fazer coro ao discurso patriarcal anti-igualitário apenas para faturar mais um, a destemida Billie Jean de Emma Stone surge nitidamente acuada por seus sentimentos, pela opressão masculina e principalmente pela sua posição enquanto voz de um movimento tão importante. Um arco dramático encarado com enorme maturidade pela jovem atriz. Mesmo mais jovem que a tenista, Stone interioriza o misto de emoções da sua personagem com louvor, explodindo em tela seja com a sua face intrépida e resiliente, seja nos momentos de maior fragilidade e pressão. Sem querer revelar muito, é legal ver o cuidado do longa em investigar também os dilemas amorosos da tenista, uma superatleta lésbica consciente que um passo em falso poderia representar o fim da sua carreira. Contundente ao dar voz ao discurso machista da época, que surge em tela, inclusive, com depoimentos reais de grandes nomes do entretenimento e do esporte, A Guerra dos Sexos atinge o seu ápice no momento em que King e Riggs pisam em quadra. Fazendo um primoroso uso dos dublês, que, bem “escondidos”, conferem uma incrível dose de realismo ao jogo em si, só aqui Dayton e Faris se sentem obrigados a reverenciar os feitos desta inabalável tenista, levantando uma preciosa bandeira em prol da igualdade dentro do empolgante clímax. Contando ainda com marcantes coadjuvantes, Alan Cumming, Elisabeth Shue e Sarah Silverman roubam a cena sempre em que estão nela, A Guerra dos Sexos comove e inspira ao usar uma comentada partida de tênis como o ponto de partida para a construção de um drama crítico e indiscutivelmente atual. Em pensar que, ainda hoje, atletas, artistas e pessoas comuns seguem sentindo na pele o peso da desigualdade de gêneros e do preconceito.

5º A Mentira (2010)


O filme que elevou a carreira de Emma Stone a um novo patamar, A Mentira mostrou que a jovem atriz era capaz também de brilhar em voos solo. Com uma personagem feita à sua medida, o diretor Will Gluck reoxigenou as comédias ‘high-school’ ao entregar uma obra irônica e inteligente. Numa mistura de A Letra Escarlate, com Meninas Malvadas e Namorada de Aluguel, o longa conquistou uma legião de fãs ao narrar as desventuras de uma jovem descolada que, para ajudar um amigo gay, decide simular com ele uma noite de amor. O tiro, porém, sai pela culatra quando o segredo se espalha pelos corredores da escola, a transformando num alvo para outros jovens desesperados para construir uma imagem de “pegador”. Com estrutura narrativa dinâmica, um constante flerte com o viés satírico e personagens engraçados, Gluck acertou em cheio ao invadir o gênero sob uma perspectiva genuinamente feminina, dando voz a uma garota que, ao invés de se esconder, fugir da perseguição e do bullying, decide encarar de frente, de peito aberto. Uma proposta atual incrementada pela radiante presença de Emma Stone. No centro dos holofotes, ela desfilou o seu carisma ao interpretar uma jovem criativa, esperta e irreverente, alguém disposta a contornar as suas fragilidades para desafiar o tóxico ‘status quo’ que a cercava. A câmera, na verdade, parece verdadeira apaixonada pela figura de Stone, o que só explica o grau de magnetismo em torno de A Mentira.

4º Birdman (2014)


Sob a virtuosa batuta de Alejandro G. Iñarritu, Birdman é o tipo de filme que mereceria elogios somente pela sua ousadia. Um filme ácido sobre os vícios da indústria, da crítica e da classe artística rodado praticamente em planos sequências e com um exótico subtexto super-heroico. Uma obra pretensiosa que poderia facilmente ser detonada, até porque, a rigor, a sua mensagem nem era tão inovadora assim. O rigor estético\narrativo do realizador mexicano, entretanto, conferiu ao longa uma aura instigante que merecidamente transformou Birdman num dos grandes filmes sobre o mundo do showbiz dos últimos anos. Quiçá das últimas décadas. Além de resgatar um esquecido Michael Keaton, que, numa performance explosiva, voltou aos holofotes ao – paradoxalmente – interpretar um ator às avessas com o ostracismo, o longa não poupou ninguém ao destilar a sua venenosa crítica contra a face mais egocêntrica de Hollywood, testando as nossas expectativas num estudo de personagem complexo e reflexivo. Uma das peças mais humanas do enérgico tabuleiro de Iñarritu, Stone roubou a cena na pele da expansiva filha do protagonista, uma jovem de passado turbulento disposta a desafiar o seu pai para se reconectar com o homem por trás do artista. Mesmo em poucas cenas, ela deixou a sua marca no longa, culminando numa indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Mais do que justa.

3º Amor a Toda Prova (2011)


Uma das minhas comédias românticas favoritas, Amor a Toda Prova é um filme irresistível. Gostem ou não do gênero, é muito difícil não se afeiçoar pelos personagens, seus reconhecíveis conflitos e pelo cômico rumo que a trama toma. Dirigido pela dupla de Glenn Ficarra e John Requa, que hoje tocam o barco da aclamada série This Is Us, o cativante longa envolve e surpreende ao acompanhar as desventuras amorosas de personagens distintos unidos pela carência e pelo acaso. Sem recorrer aos vícios das produções com múltiplos personagens, chama a atenção o dinamismo da dupla em fazer com que ambas as histórias avancem simultaneamente, brincando com as nossas expectativas ao ora e vez entrelaça-las sem que nem pudéssemos desconfiar. Um predicado valorizado pelo sagaz roteiro que, mesmo sem reinventar a roda, prega as suas peças com leveza e extremo bom humor. É indiscutível, porém, que o charme de Crazy, Stupid, Love (que título maravilhoso) reside no fantástico elenco. Reúna Ryan Gosling, Emma Stone, Steve Carrel, Marisa Tomei, Juliane Moore e Kevin Bacon e a chance de sucesso do longa será enorme. Com personagens de diferentes faixas etárias, mas problemas semelhantes, Ficarra e Requa extrai o máximo deste timaço na construção de instigante um vai e vem romântico, culminando num desfecho genuinamente surpreendente. Não pelo rumo da trama, mas pela forma como as peças se encaixam harmoniosamente.

2º Histórias Cruzadas (2011)


Antes que movimentos como o Oscar So White e o #MeToo ganhassem forma em Hollywood, Histórias Cruzadas reuniu um elenco fantástico para narrar as desventuras de babás negras numa américa preconceituosa e segregadora. Como eu escrevi acima, é difícil errar com um elenco formado por nomes como os de Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Allison Janey e Sissy Spacek. Muito difícil. Consciente disso, o bem-intencionado diretor Tate Taylor nada mais fez do que estender o seu tapete vermelho para elas, extraindo o máximo do drama contido nos desconcertantes relatos inspirado em fatos numa proposta densa e agridoce. Transitando com brilhantismo entre o drama e a comédia, ele mostrou maturidade de gente grande ao rir sem sacrificar o peso das lágrimas, subdividindo a trama em arcos ora inspiradores e\ou engraçados, ora tristes e\ou desoladores. E isso sem, necessariamente, escolher protagonistas. Embora a radiante Emma Stone surja como a interlocutora da história, uma mulher com uma visão de mundo moderna incapaz de compactuar com a realidade racial da sua pequena cidade, Taylor não titubeia em torna-la sempre que necessário uma simples porta-voz. É só através dela, infelizmente uma realidade da época, que aquelas mulheres babás poderiam ganhar uma voz. Algo que além de fazer todo sentido dentro do contexto proposto pelo filme, é muito bem explorado pelo argumento. Todo o ‘background’ envolvendo a culpa da mãe da protagonista, por exemplo, mostra o quão complexa pode ser a questão do preconceito racial, surgindo como um bem-vindo contraponto ao maniqueísmo de algumas outras personagens brancas. O show, porém, é da dupla Davis e Spencer, graças tanto ao enorme talento das duas, quanto a capacidade de Taylor em gradativamente transformá-las nas verdadeiras protagonistas do longa. Afinal de contas, o foco, aqui, não está em que escreveu as histórias, mas em quem as viveu, algo que faz de Histórias Cruzadas um filme ainda hoje indispensável. Como é bom, entretanto, poder ver realizadores negros podendo contar as suas próprias histórias, ganhando o espaço e a voz que, infelizmente, muitas mulheres e homens não tinham nas décadas de 1950 e 1960.
                                                                                                                                                                  
1º La La Land (2016)


O primeiro lugar, porém, não poderia ser de outro filme senão La La Land: Cantando Estações. Um musical revigorante pensado para os tempos difíceis que vivemos, o fascinante longa dirigido pelo prodígio Damien Chazelle conquistou o público e a crítica ao narrar as idas e vindas de um casal de sonhadores em busca do tão cobiçado final feliz. Com números musicais encantadores, uma visão calorosa sobre Los Angeles e algumas sequências dignas de aplausos entusiasmados, vide a magnífica cena de abertura, o romance encontra na dupla Ryan Goslin e Emma Stone o coração necessário para dar sustento a esta visualmente irretocável obra. Mesmo diante do tamanho ‘hype’ criado em torno do lançamento do filme, é praticamente impossível não se apaixonar pela dupla. Não torcer por eles, não se comover com eles, não chorar por eles. Apesar da estética musical, Chazelle instiga ao trazer a realidade para este gênero otimista por natureza, estabelecendo pouco a pouco o destino da dupla enquanto investiga os seus respectivos anseios, sonhos e desilusões. O resultado é uma produção (gostem ou não) memorável, um filme que, impulsionado pela extraordinária química do casal Goslyng\Stone, faturou estrondoso US$ 446 mi ao redor do mundo. Além disso, La La Land teve um triunfante desempenho também na temporada de premiações, dando a Emma Stone o seu primeiro Oscar de Melhor Atriz. E isso na sua segunda indicação ao prêmio.

Menções Honrosas: Caça aos Gangsters (2013) e O Homem Irracional (2015).

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