Com Coringa, Joaquin Phoenix se aproxima a galope do seu primeiro Oscar. E tardiamente. Qualquer coisa diferente disso seria uma surpresa bombástica. Vou além, seria um crime. Num ano com atuações masculinas tão robustas, em que faltaram vagas para performances do quilate de Robert De Niro em O Irlandês, Taron Egerton em Rocketman, Brad Pitt em Ad Astra, Adam Sandler em Joias Brutas e Kang-ho Song em Parasita, Phoenix se colocou numa posição poucas vezes vista na temporada de premiações. Não existe muita discussão sobre o seu trabalho. Até os que desgostam do filme reconhecem a unicidade do que ele entrega. Um nível de aclamação que, a meu ver, diz muito sobre a verve do ator. Joaquin Phoenix é daqueles “astros atormentados”. Seu processo de criação beira o caos. Seus personagens refletem em sua maioria essa instabilidade. Ao subir no palco para receber o Globo de Ouro de Melhor Ator Dramático, o próprio fez questão de agradecer a paciência do diretor Todd Phillips e admitiu ter sido um “pé no saco” durante as filmagens. Não é questão de mídia. Ele não sai distribuindo ratos vivos e pregando peças no “método”, como fez recentemente Jared Leto, o último a viver o icônico palhaço do crime no infame Esquadrão Suicida (2015). Phoenix é o tipo de realizador que busca sempre o limite. E por isso ele merece tanto esta aclamação popular.
Um processo construção peculiar que, verdade seja dita, dialoga com a vida pessoal de Joaquin Phoenix. Desde cedo ele se acostumou a conviver com a disfuncionalidade. Seus pais, John e Arlyn, membros de uma seita religiosa nos anos 1970, criaram ele e os seus quatro irmãos numa rotina um tanto quanto alternativa em Porto Rico, o país natal do ator. Embora fale pouco sobre o tema, Phoenix passou por maus bocados neste período. É certo que, na época em que nasceu, seus pais viajavam pela América no Sul\Central e sobreviviam muitas vezes como pedintes. A arte, desde cedo, se tornou uma fonte de renda para ele e seus irmãos. Neste aspecto, Joaquin pode até se considerar um felizardo. Pouco tempo depois do seu nascimento, ao tomar ciência das digressões da seita que, dentre outras coisas, incentivava a prostituição dos seus integrantes, o clã Phoenix se mudou para Los Angeles. Se mudou não, fugiu clandestinamente escondido num navio cargueiro. É bom frisar, aliás, que segundo o próprio ator, os seus pais nunca foram negligentes ou expuseram ele e os seus irmãos. “Eles eram idealistas e acreditaram que estavam num grupo com gente que tinha seus valores. Eles deviam estar buscando por segurança e uma família”, confirmou o ator a Vanity Fair. Em solo norte-americano, porém, a rotina disfuncional seguiu presente. Joaquin e os seus irmãos não iam frequentemente para a escola. Levavam uma vida fora dos padrões. Sem televisão, sem acesso à mídia, com alimentação restrita. O veganismo, por sinal, se transformou numa escolha bastante precoce. Por mais paradoxal que isso possa parecer, no entanto, John queria transformar seus filhos em estrelas mirins de Hollywood. Com apenas oito anos, River e Joaquin começaram a atuar na sua trupe familiar. Em qualquer tipo de projeto e\ou concurso. Arlyn, agora secretária da rede NBC, conseguiu fazer contatos. E após anos ao relento dos palcos da vida, a chance que eles tanto procuravam apareceu.
Bastaram alguns pequenos papeis na
TV para River Phoenix estourar. O seu talento era natural. Numa ascensão
meteórica ele emplacou seguidamente ‘hits’ do porte de Viagem ao Mundo dos
Sonhos (1985), Conta Comigo (1986), O Peso de Um Passado (1988), Indiana Jones
e a Última Cruzada (1989) e Garotos de Programa (1991). Em poucos anos River se
transformava no maior ator jovem de sua geração. Uma promessa capaz de eclipsar
nomes do porte de Johnny Depp e Leonardo DiCaprio. Ele era o futuro. O seu
presente, porém, estava ameaçado. Assim como muitos, River foi devorado pelo
meio em que vivia. O garoto que nasceu em berço ‘hippie’ era agora o centro das
atenções. A precocidade o impedia de atentar para as tentações do showbiz. O
seu sucesso escondia o abuso nas bebidas e nas drogas, a rotina autodestrutiva.
É difícil entender se essa reação era um reflexo do seu pesado passado, ou do
corrosivo ambiente em que habitava. O fato é que em 1993, aos 23 anos, River
Phoenix nos deixava vítima de uma overdose acidental. Joaquin, então aos 19
anos, estava do lado do querido irmão perto do fim. Foi a sua voz desesperada,
clamando por socorro ao telefone, que acabou vazada e explorada pela mídia
sensacionalista. De uma hora para outra, Joaquin perdia o seu irmão, um
verdadeiro herói para ele, e, como se não bastasse isso, via a sua intimidade
devassada pela imprensa. Àquela altura, Joaquin já era um ator consolidado. Não
tanto quanto seu irmão, claro, mas com papéis de destaque em títulos como
SpaceCamp (1985), Corrida contra o Tempo (1987) e O Tiro que Não Saiu pela
Culatra (1989). Atordoado, ele desistiu. O garoto que cresceu sem TV não
resistiu a superexposição. E por um bom tempo. "Nós éramos muito distantes
do mundo do entretenimento. Nós não assistíamos a programas de TV, não tínhamos
revistas na nossa casa. O River era um ator conhecido e nós não compreendíamos
isso. Quando estivemos mais vulneráveis havia uma agressividade da mídia com
helicópteros em cima da gente, pessoas invadindo a nossa casa. Isso com certeza
prejudicou o meu processo de luto”, afirmou Phoenix em uma rara resposta sobre
o tema em entrevista recente ao 60 Minutes. Ele se escondeu. Se mudou para a
Costa Rica junto da sua família. Fugiu dos holofotes.
Joaquin Phoenix ao lado do elenco de Círculo de Paixões (1997) |
Você que não conhecia tão bem a
carreira do ator, à essa altura, já deve estar entendendo os motivos por trás
do sucesso de Coringa. Em algumas das muitas camadas pensadas pelo filme,
Joaquin Phoenix tem uma ligação direta com Arthur Fleck. Tal qual o caótico
personagem, o astro foi moldado pelo meio em que vivia. Nasceu ao relento,
cresceu numa família disfuncional, trocou a infância pela chance de prosperar,
viu seu irmão morrer ao seu lado vítima do mesmo ambiente em que habitava.
Traumas e tormentos se tonaram uma rotina. E ele, felizmente, canalizou isso
para a sua arte. Após quase seis anos longe dos holofotes, Joaquin Phoenix foi
convencido pelos seus amigos mais próximos a dar uma nova chance para o cinema.
E logo no retorno veio o primeiro grande ‘hit’ da sua carreira. Seguindo o
caminho do seu irmão, ele fez a transição da adolescência para a vida adulta nos
cinemas sob a tutela do diretor Gus Van Sant no aclamado Um Sonho sem Limites
(1995). Aos 21 anos, assim como havia acontecido com River em Os Garotos de
Programa (1991), o longa abriu novas portas para Joaquin em Hollywood. Sem o
mesmo status do saudoso irmão, no entanto, ele trilhou nesta fase de retomada
um caminho mais alternativo. Trabalhou com jovens atores (Liv Tyler, Jennifer
Connely, Mark Wahlberg, Vince Vaughn e Billy Crudup), em filmes menores e
papeis desafiadores. Enquanto Leonardo DiCaprio era o “rei do mundo” em Titanic
(1997) e Johnny Depp o “Ás” de Tim Burton em diversas produções, Phoenix optou
por trilhar um caminho mais discreto. Algumas feridas ainda precisavam ser
cicatrizadas. A explosão do astro atormentado só viria a acontecer com a
chegada do novo século.
Após anos dedicados ao circuito
alternativo, Joaquin Phoenix decidiu retomar o elo com o ‘mainstream’. E numa
das obras mais grandiosas dos últimos anos. Foi em Gladiador (2000) que o
grande público finalmente foi apresentado ao ator. Não ao garotinho bonachão de
Spacecamp, mas ao ator metódico, intenso e explosivo. Na pele do vilão, o
imperador golpista Commodus, Phoenix se tornou um dos maiores trunfos do épico
dirigido por Ridley Scott. Seu personagem era perverso, ferino e instável. Uma
figura genuinamente ameaçadora. A indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante
foi uma mera consequência. Com um método todo particular, Phoenix entrou em
rota de colisão com o diretor, engordou muito para o papel, causou um rebuliço
no set de filmagens. Ele precisava disso para funcionar. A atuação, numa
análise subjetiva, parece uma válvula de escape para Phoenix. Nos seus
personagens muitas vezes caóticos ele tem a chance de extravasar os seus sentimentos
mais reprimidos. Atuar é também levar as suas próprias experiências para a tela
grande. Phoenix sabe muito bem disso. O sucesso de Gladiador, vencedor do Oscar
de Melhor Filme, revitalizou a carreira do ator. Com M. Night Shyamalan ele
coestrelou o intrigante Sinais (2002) e o excelente A Vila (2004). A essa
altura, no entanto, o seu temperamento nos sets de filmagem já era conhecido. Para
viver um bombeiro no esquecível Brigada 49 (2004), por exemplo, Joaquin decidiu
trabalhar em um quartel real de bombeiros para tornar a sua performance o mais
crível possível. Mesmo nos projetos mais aleatórios como esse, ele queria
entregar o seu melhor. Um dos poucos atores que nunca tolerou o piloto
automático na sua carreira. Mais recentemente, para interpretar um cadeirante
no subestimado A Pé ele Não Vai Longe (2018), Joaquin arranjou sérios problemas
físicos ao passar meses numa cadeira de rodas durante as filmagens do longa. Antes
mesmo de se tornar a estrela que é hoje, Phoenix era tratado como um ator
desafiador. O tipo de “fio desencapado” que toparia dar vida a um ícone como
Johnny Cash.
Mergulhado na conturbada psique
do astro da música country em Johnny e June (2005), Joaquin Phoenix nos brindou
com uma daquelas performances arrebatadoras. Mais uma vez diante de um tipo
instável, castigado pelo vício, pelo alcoolismo, pela deterioração emocional e pela
pressão midiática, o ator entregou tudo de si numa atuação visceral. Ele
cantou, aprendeu a tocar guitarra, suou a camisa como poucos no set, causou
problemas, fez exigências extravagantes. Reza a lenda que, durante as filmagens
de uma sequência em uma prisão, Phoenix teria exigido que a equipe de produção
tratasse os atores\figurantes como verdadeiros presidiários. Sem regalias, sem
comida, sem liberdade. De alguma forma, Phoenix tentava trazer todos ao redor
para o seu mundo. Buscava também levá-los ao limite. Reese Whiterspoon que o
diga. Ao contrário de muitos dos seus parceiros, a vencedora do Oscar de Melhor
Atriz admitiu ter ficada impressionada com a
entrega do seu companheiro. Uma atriz desafiada que, coincidentemente ou não,
entregou no vigoroso drama biográfico a maior performance da sua carreira na pele da cantora June Carter.
Enquanto Whiterspoon triunfava na temporada de premiações, Phoenix, indicado ao
Oscar de Melhor Ator, chegava a uma importante (e dolorosa) constatação. O
álcool era um problema. Sério. O abuso na bebida o levou a uma clínica de
reabilitação. Acostumado a transportar as suas próprias emoções para os seus
personagens, desta vez era ele que aprendia com eles. Ou melhor, aprendia com a
vida de uma estrela da música que, antes tarde do que nunca, encarou os seus
problemas e deu a volta por cima. A sorte que, infelizmente, o seu irmão não
teve...
Ao mesmo tempo em que colhia os
louros do triunfo de Johnny e June, Joaquin Phoenix começou a ver o seu
temperamento cada vez mais ser tratado como algo intimidador. Nem todo mundo
estava disposto a entregar (ou talvez sacrificar) tanto para atuar. Existem
várias formas de se atingir um mesmo objetivo. Aos olhos da imprensa, Phoenix
nunca se abriu tanto. O ressentimento, talvez involuntário, ainda hoje é
nítido. Existe um claro bloqueio por parte do ator. Somado a isso, ele nunca
(ou quase nunca) se esforçou para vender uma imagem que não fosse a sua. O
sucesso não subiu a sua cabeça, mas ajudou a transformá-lo numa figura mais
relaxada. Ou seria provocante. Uma veia anárquica (olha outra coincidência com
Coringa) que quase representou o fim da sua carreira. De uma hora para outra o
que já não era tão bom ficou pior. Phoenix começou a dar entrevistas contraditórias.
Foi acusado de se sabotar durante as filmagens de Os Amantes (2008). Em uma
infame (e super popular) entrevista ao apresentador David Letterman, Phoenix
causou um misto de sensações ao debochar nas respostas, revelar que estava
largando a carreira de ator e afirmar que se tornaria um rapper. O
constrangimento foi tanto que o veterano comunicador interrompeu a entrevista
bem antes do esperado. Naquele momento a preocupação era clara. Muitos chegaram
a realmente duvidar da sanidade do ator. Conhecendo ele, a loucura não parecia
um destino tão distante assim. Phoenix, no entanto, fez todo mundo de bobo. Ao
lado do seu então cunhado e amigo Casey Affleck, ele tirou do papel o
‘mockumentary’ Eu Ainda Estou Aqui (2010), onde debochava do mundo do showbiz
sob a perspectiva de um autodestrutivo astro. Na obra de ficção, Phoenix
ridicularizou a indústria como poucos conseguiram. Alguns amigos pessoais
(incluindo o boa praça Matt Damon) aconselharam ele a não embarcar neste
projeto. E a recepção foi péssima. A crítica não comprou a brincadeira. Phoenix
se indispôs com os seus companheiros de Os Amantes, cujo boicote serviu de pano
de fundo para o doc fake. Neste momento, o ator estava longe de ser a escolha
fácil. E ele gostava disso.
Segundo o próprio Joaquin
Phoenix, aliás, algo em Eu Ainda Estou Aqui o fez mudar. “Transformar-me em um
bufão me ajudou a relaxar minha técnica (...), deixei de interpretar com
desespero”, resumiu. O que, de fato, se refletiu na sua carreira. Nos anos
seguintes o que vimos foi um ator em sua melhor forma. A sua personalidade
excêntrica o aproximou dos realizadores autorais. Com James Gray ele esbanjou
intensidade no maduro Era Uma Vez em Nova Iorque (2013). Um filme que só
cresceu para mim com o passar dos anos. Com Spike Jonze abraçou a melancolia de
um homem solitário com (rara) ternura e comedimento no reflexivo Ela (2013).
Com Paul Thomas Anderson entregou o que muitos consideram a performance da sua
carreira no complexo O Mestre (2012). E garantiu outra indicação ao Oscar de
Melhor Ator. Com Woody Allen viveu um professor impotente com tendências
sociopatas no subestimado O Homem Irracional (2015). Personagens quebrados,
falhos e à sua maneira obscuros interpretados por um ator sedento por emoções
humanas. O caos, aqui, pareceu mais controlado. O seu método ganhou nuances
mais brandas. Ainda assim, durante as filmagens de O Mestre, PTA confessou ter
ficado preocupado com a integridade física de Joaquin. “Acredito que houve
várias oportunidades em que podia ter se machucado e se machucou. Mas isso é um
pouco o que você quer (como diretor), sempre dentro da razão”, revelou
Anderson. Ao invés do embate, da discussão, desta vez veio o incentivo. Como
disse na abertura deste texto, Phoenix se colocou num patamar cada vez mais
raro dentro da indústria. E seguiu extraindo o melhor dele.
Nesse meio tempo, Joaquin Phoenix
trocou a grandiosidade do MCU, ele era a escolha original da Marvel para
interpretar o Doutor Estranho, por alguns pequenos grandes filmes. Sob a batuta
de Lynne Ramsey, o ator arrancou suspiros da crítica ao interpretar um
vigilante violento numa releitura moderna do clássico Taxi Driver em Você Nunca
Esteve Realmente Aqui (2017). Muito mais do que um ensaio para o Coringa, o
longa mostrou um Joaquin Phoenix feroz, gigante fisicamente, mas poucas vezes
tão comedido. A reação dele após um visceral embate físico figura entre um dos
meus momentos favoritos do cinema nos últimos anos. Uma performance magistral
criminosamente esnobada na temporada de premiações. No ano passado, em outro
filme totalmente subestimado, ele foi mais uma vez muito elogiado por sua
performance no irreverente Western Os Irmãos Sisters (2018). Um filme que,
sabe-se lá porque, caiu numa espécie de limbo e sequer foi lançado
comercialmente por aqui. Neste momento, era impensável ver Joaquin Phoenix
estrelando uma obra como Joker. E ele precisou ser convencido. “Eu acho que
muitas vezes, nesses filmes, temos esse padrão simplificado e reducionista e
isso permite que o público fique distante do personagem, assim como faríamos na
vida real, onde é fácil rotular alguém como mal e, portanto, dizer: ‘Bom, eu
não sou assim’.”, disse o ator a Total Film. Muito apegado aos seus
personagens, Phoenix confessou que teve até medo em assinar o contrato. “Demorei
um pouco (para me comprometer). Agora, quando olho para trás, não entendo
porquê… Havia muito medo, sim. Mas eu sempre digo que há o medo que motiva e o
que paralisa. Há o medo no qual você não pode se mover nem 1 milímetro e há
aquele que é tipo ‘OK, o que fazemos agora? Isso não é bom o suficiente’. E
você vai mais fundo. Amo esse tipo de medo. Ele nos guia, nos faz trabalhar
mais e melhor”.
Desafiado mais uma vez na sua
carreira, Joaquin Phoenix fez aquilo que se esperava dele: entregou o seu
melhor. E também o pior. Talvez pelo frisson em torno do projeto, que logo
tomou conta da mídia como um todo, o ator resgatou a sua verve criativa quase
insana. Quase porque, no fim, ele ainda está no controle da situação. Desde O
Mestre Joaquin não passava por um período de filmagens tão tenso. Foram 23 quilos perdidos para o papel. A sua relação
com a equipe de produção não era fácil. O time de maquiadores sofreu tanto com a
inquietude do ator que a chefe do grupo pediu demissão. Houve discussão áspera.
Phoenix vira e mexe sumia no set. Ele chegou até mesmo a ensaiar uma crise com
Robert De Niro. Tudo por causa de uma passagem de texto exigida pelo veterano e
prontamente recusada pelo intérprete do palhaço do crime. Desta vez, no
entanto, Todd Phillips interferiu. Na dividida, melhor para De Niro que, além
de se preparar devidamente para a cena, ainda fez questão de selar a paz com um
gesto afetuoso. É impossível mensurar o
que passa na cabeça de um artista que se dedica tanto a sua arte. O que talvez
para gente soe como uma tortura, para nomes como Joaquin Phoenix se revela um
combustível. O fato é que, no personagem mais caótico e manipulável da sua
carreira, ele entregou uma performance inesquecível. Poucas vezes vi um ator
com tanto domínio sobre as emoções do seu personagem quanto Phoenix em Coringa.
Só mesmo quem sofreu emoções semelhantes poderia impregnar a tela com tanta
verdade, tanta realidade, tanta dor, tanta revolta. A assombrosa presença
física do ator se torna quase irrelevante diante da sua expressividade. Phoenix
entrega mais do que o roteiro exigia, entrega mais do que Todd Phillips projetava,
entrega mais do que o espectador esperava ver. Uma verdadeira força da natureza
em cena num filme que, sabiamente, potencializa a sua feroz crítica social a
partir deste trabalho monumental. Aos 45 anos, ao contrário do seu errático
personagem, o “astro atormentado” nunca pareceu tão em paz. "Sempre tive
momentos difíceis. Acho que só recentemente, ao envelhecer eu vi que estava
tudo bem. Eu sei que tenho significado em outras áreas da minha vida. E isso é
o que me sustenta. Eu gosto. Eu amo minha vida. Amo a p... da minha vida”,
enfatizou o ator a Vanity Fair. E nós amamos os seus filmes.
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