quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

A força feminina das personagens (e dos filmes) de Jessica Chastain


Numa época em que atrizes sobem ao palco de premiações clamando por grandes papéis femininos, a talentosa Jessica Chastain pode se considerar uma felizarda. E muito por seus próprios méritos. Uma das atrizes norte-americanas mais versáteis e intensas da atualidade, ela não se contentou em seguir o caminho mais fácil. Sem nunca fechar a porta para o cinema pipoca, vide as suas marcantes performances em títulos como Interestelar (2015) e Perdido em Marte (2015), Chastain se tornou uma das minhas realizadoras prediletas pela sua integridade enquanto artista, pelo seu esforço em lutar por grandes personagens, pela chance de interpretar grandes mulheres. Uma das vozes mais ativas em Hollywood a favor da igualdade de gênero e de movimentos como o #MeToo, a estrela de filmes como A Hora Mais Escura e Histórias Cruzadas começou como muitas. Com formação na respeitada Juliard, Jessica Chastain entrou no ‘showbiz’ brigando por papéis pequenos em populares séries de TV, entre elas Plantão Médico Veronica Mars e Lei e Ordem. 


Já no seu primeiro relevante longa metragem, entretanto, ficou claro que estávamos diante de uma atriz com anseios bem claros. Na pele de uma jovem mulher vítima da sua própria beleza, Jessica Chastain ganhou um relativo destaque no problemático drama Jolene (2008), dando o ‘start’ numa carreira recheada de pontos altos marcada - em especial - pela força feminina das suas personagens. Uma das principais atrações da CCXP 2018, onde protagonizará o painel do seu mais novo projeto, o aguardado Fênix Negra (2019), Jessica Chastain é o tipo de atriz que merece ganhar o reconhecimento do grande público. Neste artigo, portanto, iremos analisar com maior profundidade a trajetória desta eclética realizadora rumo ao estrelato, relembrando alguns dos seus mais impactantes papéis\filmes ao longo da última década.

- Jolene (Jolene – 2008)


Toda atriz precisa começar. E logo no seu primeiro projeto em Hollywood Jessica Chastain “salvou” Jolene (2008) de ser uma daquelas bombas difíceis de assistir. Não que a simples presença da atriz seja o bastante. Embora se arrisque ao discorrer sobre a rotina de abusos e desilusões de uma jovem incapaz de enxergar o perigo a sua frente, o longa dirigido por Dan Ireland o faz de maneira rasa e unidimensional, pecando pelo exagero ao trazer a realidade para o centro da tela. Com exceção de Jolene (Jessica Chastain) e do mafioso sensível vivido pelo talentoso Chaz Palminteri, a maioria dos personagens soam inexplicavelmente caricatos, o que não só escancara a fragilidade do roteiro, mas principalmente reduz o peso de situações reconhecíveis aos olhos do público. Ainda assim, estamos diante de um filme com temas sérios, pesados, um relato por vezes tocante sobre o quão difícil pode ser para uma mulher desamparada enfrentar os abusos de ordem masculina. Uma realidade infelizmente universal capturada com intensidade por uma então promissora Jessica Chastain. Do alto dos seus 30 anos, a radiante atriz causa um misto de sensações na pele de uma jovem órfã refém da sua beleza em busca do amor que lhe foi tomado tão precocemente. Num inteligente trabalho de transição temporal, talvez um dos grandes trunfos da direção de Ireland, Chastain convence seja como uma adolescente inconsequente, seja como uma jovem agressiva consciente do seu ‘sex-appeal’, seja como uma mulher madura seduzida por um mundo que não era o seu. Por mais que o roteiro peque pelas conveniências narrativas, algumas decisões parecem incompatíveis com o rumo da personagem, Chastain corrige o curso da história ao tornar tudo o mais crível possível, entregando uma protagonista capaz de amadurecer, reagir, se entender enquanto mulher, mas de seguir falhando na esperança de acertar. Uma pena que, na ânsia de explorar a relação de Jolene com a sua sexualidade, Ireland peque pela objetificação de Chastain, inflando a trama com sequências gratuitas e um tanto quanto repetitivas. Uma opção de gosto extremamente duvidoso que, felizmente, tem caído em desuso. A única exceção, na verdade, fica pela elegante cena do strip-tease, que marca o início da melhor passagem da película. Enfim, apesar do tom caricatural dos personagens de apoio e dos inúmeras escorregadas do roteiro\direção, Jolene deu a Jessica Chastain a chance de brilhar num papel realmente desafiador e ela recompensou evitando que o filme se tornasse um completo fiasco.

- Samantha (O Abrigo – 2011)


O primeiro grande filme da carreira de Jessica Chastain, O Abrigo é um suspense psicológico inexplicavelmente subestimado que apresentou uma série de expressivos novos rostos. Sob a intensa batuta de Jeff Nichols, um dos realizadores mais autorais na atualidade, o longa colocou o fantástico Michael Shannon no radar do público ao narrar a história de um pai com um histórico familiar de problemas mentais que passa a sofrer com constantes sonhos apocalípticos. Numa obra com múltiplas camadas, Nichols vai da tensão a comoção ao traduzir a deterioração do protagonista, ao mostrar um homem comum caindo em descrédito com a sua comunidade. Um tipo vulnerável capaz de se enxergar ora como a salvação daqueles que ama, ora como uma ameaça. Uma performance marcante de Shannon que alcança o seu ápice na soberba sequência da explosão, quando num gesto de fúria o protagonista desafia os olhares de deboche assumindo a sua face mais errática publicamente. No meio deste turbilhão, a compreensiva Samantha surge como o ombro amigo que o seu marido precisava no meio de tamanha tormenta. Na pele de uma figura materna forte e resiliente, Jessica Chastain desponta como o contraponto a insanidade do protagonista, escancarando através do seu humano olhar os altos e baixos do personagem. A cereja no bolo do longa. Uma atuação marcante potencializada pelo grau de intimidade impresso por Chastain e Shannon em tela.

- Célia Foote (Histórias Cruzadas – 2011)


Foi em Histórias Cruzadas, entretanto, que Jessica Chastain entrou realmente no radar do grande público. Num agridoce drama sobre a luta das babás negras norte-americanas contra os desmandos das suas patroas brancas, a talentosa atriz rouba completamente a cena na pele da radiante Célia Foote, uma mulher belíssima destratada pelas suas enciumadas amigas que encontra na sua nova empregada (Octavia Spencer) uma preciosa fonte de autoestima. Sob a comovente batuta de Tate Taylor, o longa até se esforça para dividir os holofotes, em explorar igualmente os conflitos das mulheres negras e brancas na década de 1950, mas, assim como a “monstra” Viola Davis, Chastain brilha ao construir uma mulher à frente do seu tempo, uma figura iluminada, sem preconceitos e desajustada que, por isso, era tratada como uma “piada” pelas suas companheiras de geração. Apesar do viés cômico embutido pelo texto, Jessica Chastain abraça as múltiplas facetas de Célia com entusiasmo, criando uma personagem com trejeitos singulares capaz de divertir e comover com extrema naturalidade. Um dos principais predicados de um filme precioso. Prova disso é que, assim como a sua (incrível) parceira de cena Octavia Spencer, ela conquistou com Histórias Cruzadas as suas primeiras indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante.

- Maya (A Hora Mais Escura – 2012)


Dando sequência a sua meteórica ascensão em Hollywood, Jessica Chastain se colocou rapidamente entre as gigantes no fantástico thriller dramático A Hora Mais Escura. Inspirado em fatos reais, o longa dirigido pela afiada Kathryn Bigelow prezou pelo realismo ao mostrar a exaustiva operação da CIA que causou a morte do terrorista número 1 da América Osama Bin Laden. Impecável seja como um relato histórico, seja como um estudo de personagem, a película encontrou em Jessica Chastain a complexidade necessária para traduzir o impacto desta devastadora busca na rotina de uma agente obrigada a criar uma casca para seguir no rastro do terror. Na pele da determinada Maya, uma analista da CIA que, ao longo de vários anos, passou por uma verdadeira metamorfose durante o processo de captura e morte de Bin Laden, a atriz cresce assustadoramente em cena ao mostrar o quão tênue pode ser a linha entre a obstinação e a obsessão. Graças ao esmero de Bigelow em se concentrar sempre no aspecto micro, nas pequenas descobertas, nos percalços e nas frustrações da protagonista, o longa deu a Chastain a possibilidade de interiorizar os conflitantes sentimentos da sua Maya, uma figura inicialmente frágil, incapaz de se render a violência, mas que, pouco a pouco, ganha nuances cada vez mais complexas e duras. Numa performance fisicamente desgastante, Chastain beira a perfeição ao capturar a responsabilidade\vulnerabilidade de um agente numa guerra contra um “inimigo invisível”, se tornando facilmente o rosto, o coração, a alma da obra. Contando ainda com um clímax magnífico, uma experiência cinematográfica tensa e imersiva digna de aplausos, A Hora Mais Escura ajudou a solidificar a imagem de Jessica Chastain junto ao grande público, rendendo a ela uma nova indicação ao Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática.

- Annabel (Mama – 2013)


Sob a chancela de Guillermo Del Toro, produtor executivo do longa, Mama é um filme de Horror extremamente subestimado. Dirigido pelo talentoso Andy Muschietti, o mesmo do fenômeno It: A Coisa, o longa atrelou o elo do amor materno ao paranormal ao narrar a jornada de duas garotinhas que, após um trágico acidente, sobreviveram como animais numa isolada casa de campo. Uma peça chave num argumento que, entre altos e baixos, mostra coragem sempre que possível, Jessica Chastain confere peso dramático ao longa ao dar vida a descolada Annabel, uma mulher independente\imatura que, ao lado do seu querido namorado (e tio das duas pequenas), se vê obrigada a abrigar as meninas quando o paradeiro delas é descoberto. Embora siga uma fórmula bem reconhecível dentro dos filmes de horror “pop”, Mama causa um misto de encantamento e tensão ao se preocupar em construir o sincero elo entre as personagens, ao estabelecer o desconforto de Annabel diante dos estranhos “episódios” envolvendo as crianças. Longe de ser mais uma típica heroína do gênero, Chastain cria uma protagonista com camadas, uma mulher que, aos poucos, abraça a disfuncionalidade deste novo núcleo familiar e se vê realmente ligada às suas “enteadas”. Um elo crescente que se torna decisivo dentro do impactante e subvalorizado clímax. Num filme sobre a imortalidade do amor materno, Chastain cativa ao tornar a sua Annabel uma “mãe” moderna, por vezes rebelde, irritadiça, mas capaz de imprimir em tela os sentimentos necessários para solidificar o ‘background’ dramático sugerido pelo roteiro. Uma robusta performance num filme desvalorizado.

- Eleanor Rigby (Dois Lados do Amor – 2014)


Esse é um projeto singular que pouca gente viu por aqui. Numa proposta realmente rara, o diretor Ned Benson resolveu tirar do papel um romance real, verdadeiro, intenso, uma história de amor recheada de altos e baixos narrada sob três perspectivas diferentes. Num filme conhecemos a verdade dele (James McAvoy). No outro o lado dela (Jessica Chastain). E no terceiro Benson costura as duas histórias em Dois Lados do Amor, a versão que eu pude assistir no Festival do Rio. Numa pegada franca, o longa fascina ao mostrar o florescer, o ápice e a saturação de uma relação, discorrendo sobre problemas genuinamente urbanos com emoção, intensidade e muita delicadeza. Uma abordagem madura potencializada pela comedida performance de Jessica Chastain. Tirando o máximo da proposta efêmera da obra, a talentosa atriz encontra o espaço perfeito para explorar as múltiplas facetas da sua personagem, escancarando tanto a sua face mais iluminada e madura, quanto o seu lado mais vulnerável e depressivo. Um trabalho denso valorizado pela qualidade do roteiro, pela direção intimista de Benson e pela sua extraordinária química com McAvoy. Embora os dois personagens funcionem muito bem separados, os melhores momentos do longa acontecem quando vemos o casal junto, quando celebramos as suas alegrias, torcemos pela sua reaproximação, nos entristecemos com as suas respectivas desilusões. Uma original história de amor que atinge o seu ápice na esperta sequência final, quando, fazendo um primoroso uso do poder da sugestão, o espectador se vê obrigado a preencher as brechas e buscar nos detalhes as respostas para esta emotiva história de amor. Mais uma grande personagem feminina para o currículo de Jessica Chastain.

- Anna Morales (O Ano Mais Violento – 2014)


Sem medo de exagerar, Anna Morales é o tipo de personagem digna de um Poderoso Chefão. Um filme de máfia indiscutivelmente particular, O Ano Mais Violento causa um misto de tensão e (por que não¿) fascínio ao narrar a jornada de um casal herdeiro do crime organizado disposto a limpar o negócio da sua família. Sob a refinada batuta de J.C Chandor, o longa nos leva a uma violenta Nova Iorque dos anos 1980 para narrar a trajetória de Abel Morales (Oscar Isaac, excelente), um homem sensato de origem latina que prosperou como o dono de uma petrolífera. Quando uma greve de caminhoneiros passa a ameaçar a liquidez do seu negócio, ele é obrigado lidar com pessoas pertencentes a um mundo o qual ele queria distância, tendo que lidar com as pressões, as ofertas e as ameaças anônimas na tentativa de se manter longe da ilegalidade. Embora Abel seja o personagem estudado pelo longa, quem realmente atrai os holofotes aqui é Jessica Chastain e a sua Anna Morales. Na pele de uma esposa independente e que se faz ouvir, a atriz explode em cena ao surgir como a antítese do protagonista, como um tipo prático e agressivo incapaz de renegar as suas origens para proteger o que é seu. Numa das performances mais complexas da sua filmografia, Chastain cria uma personagem forte, por vezes indomável, mas genuinamente humana, uma mulher que, embora consciente do esforço do seu marido, não titubearia em fazer o trabalho sujo. Sem querer revelar muito, as trocas de farpas entre Abel e Anna estão entre os pontos mais altos do longa, muito em função não só da extraordinária química entre Isaac e Chastain, mas principalmente pela propriedade com que Chandor traduz os conflitos desta relação. O resultado é um filme de máfia adulto, inteligente, com um forte senso de consequência. Um longa instigante que, sabe-se lá porque, pouquíssima gente viu por aqui.

- Lucille Sharpe (A Colina Escarlate – 2015)


Um dos traços que mais me encanta na filmografia de Jessica Chastain é a sua versatilidade. Uma daquelas raras atrizes capazes de se encaixar em qualquer projeto, ela ganhou das mãos do virtuoso Guillermo Del Toro a oportunidade de emplacar a primeira grande antagonista da sua carreira e o fez da forma mais ardilosa possível. No romance gótico A Colina Escarlate, Chastain causou justificados arrepios ao viver a possessiva Lucille Sharpe, uma mulher elegante e maquiavélica que escancara a sua pior face quando o seu querido irmão (Tom Hiddleston) decide se casar com uma bela garota (Mia Wasikowska). Ambientado praticamente num só cenário, a imersiva\deteriorada mansão em que os dois irmãos viviam, Del Toro causa um misto de sensações ao tirar do papel um romance peculiar, um filme sobre o quão tênue pode ser a linha entre o amor e a paixão, entre a pureza e a visceralidade. Enquanto a talentosa Mia Wasikowska surge como a bela jovem na busca pelo seu conto de fadas, Chastain se revela a mulher capaz de transformar sonhos em pesadelos, uma figura dissimulada, com passado nebuloso, que se acostumou a utilizar o seu charmoso meio de persuasão para conseguir o que queria. Tirando o máximo proveito das suas experiências nos palcos, ela investe aqui numa performance mais carregada, expansiva, criando a verdadeira figura de ameaça desta intrigante história. Mais uma vez, Chastain entrega uma personagem feminina indomável, que sabe o que quer e que não parece disposta a ceder na luta pelo que considera seu. Isso, obviamente, dentro de um contexto ‘creep’ até então inédito na sua carreira, o que faz de A Colina Escarlate um filme singular dentro da sua eclética obra.

- Madeline Sloane (Armas na Mesa - 2016)


De volta ao ambiente urbano, Jessica Chastain invadiu o terreno dos thrillers políticos com Armas na Mesa. Uma espécie de Obrigado por Fumar versão ‘girl power’, o longa dirigido pelo veterano John Madden descortinou o voraz universo dos lobistas ao revelar as agruras de uma respeitada marqueteira com crise de consciência após recusar defender uma campanha pró-armas. Sem a intenção de escolher lados políticos, o realizador acerta ao explorar o jogo sujo por trás da aprovação de uma lei, encontrando na ferocidade ‘workaholic’ de Sloane os ingredientes necessários para questionar o seu ‘status quo’. Ancorado na magnética performance de Chastain, que eleva o nível do competente filme como um todo, Madden constrói uma protagonista senhora de si, uma mulher disposta a colocar o seu nome em cheque na tentativa de se colocar do lado certo da equação ao menos uma vez. Como de costume nos seus principais projetos após A Hora mais Escura, Chastain se coloca no centro dos holofotes com desenvoltura, indo além da aparente frieza distante de Sloane ao pouco a pouco desvendar as nuances sentimentais desta mulher. Por trás do terninho executivo, da sagacidade profissionais e do seu poder de persuasão existe uma mulher solitária, por vezes vulnerável, uma personagem que parece ter esquecido de exercer a sua humanidade. Um relato crítico sobre o jogo de poder legislativo catapultado pelo indomável trabalho de Jessica Chastain.

- Antonina Zabinska (O Zoológico de Varsóvia – 2017)


Com base numa inspiradora história real, O Zoológico de Varsóvia é o tipo de filme que, embora vacile aqui ou ali, merecia ter recebido um maior espaço. E muito em função da comovente performance de Jessica Chastain, devotada ao recontar os feitos de Antonina Zabinska, uma mulher que, durante a presença nazista na Polônia, usou o seu esvaziado jardim zoológico como um refúgio para crianças judias. Sob a delicada batuta de Niki Caro (Terra Fria), o longa é enfático ao revelar a jornada de resiliência de Antonina, criando assim uma protagonista forte, independente, mas consciente das suas responsabilidades e dos perigos que a cercavam. Com a sua usual intensidade, Chastain emociona seja na sua afetuosa relação com os animais, seja na sua maternal luta pela proteção daqueles que escondiam sob o seu teto, escancarando os horrores do conflito com peso dramático e muita sensibilidade. Sem querer revelar muito, da sua sincera relação com o marido, vivido com igual solidez pelo belga Johan Heldenbergh (Alabama Monroe), nascem sequência realmente desconcertantes, principalmente pela forma como o medo acaba por ferir o altruísmo da dupla. Um retrato ora inspirado, ora desolador sobre a Segunda Guerra, O Zoológico de Varsóvia é um drama classudo que, apesar dos inegáveis predicados estéticos\narrativos, encontra o seu verdadeiro diferencial na performance do qualificado elenco, em especial na força feminina de Jessica Chastain.

- Molly Bloom (A Grande Jogada – 2018)


Novamente na pele de uma mulher independente e ambiciosa, Jessica Chastain empresta todo o seu carisma para o texto afiado de Aaron Sorkin (A Rede Social) no envolvente A Grande Jogada. Inspirado na história da jovem “empreendedora” Molly Bloom, que, em poucos anos, faturou milhões ao gerenciar algumas das mesas de pôquer mais cobiçadas dos EUA, o longa fascina ao mostrar o genial ‘modus operandi’ desta implacável mulher, falando sobre poder, ambição e independência dentro de um contexto moderno e sedutor. Fazendo um primoroso uso da narrativa não linear, Sorkin praticamente estende o seu tapete vermelho para que Jessica Chastain pudesse desfilar o seu talento, dando a ela o espaço necessário para ela interiorizar as nuances da biografada, expor tanto a sua face mais destemida e implacável, quanto o seu lado mais frágil e solitário. No embalo do dinâmico texto de Sorkin, Chastain assume o show praticamente sozinha ao pintar um retrato completo sobre Molly Brown, entregando uma das grandes performances da sua carreira ao abraçar a complexidade dela. Uma mulher com um peculiar senso de integridade que, na ânsia de imperar num universo masculinizado, se expôs às falhas\vaidades\interesses do seu requintado público alvo. E pagou um preço caro por isso. O filme, entretanto, acerta ao não concentrar nos fatos conhecidos. Transitando entre o passado e o presente com enorme sagacidade, Sorkin se preocupa em investigar o que movia esta mulher, a sua gana vencedora, a sua relação com as derrotas esportivas (ela foi atleta com aspirações olímpicas), os seus conflitos familiares e (acima de tudo) a sua dedicação em romper com o arquétipo do sexo frágil. Uma jornada exaustiva e deteriorante capturada com particular afinco por Jessica Chastain, uma mulher que, tal qual a sua Molly Bloom, lutou arduamente para ser tratada com uma igual.

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