O maluco do pedaço chegou aos 50
anos. Um dos astros mais carismáticos da história recente em Hollywood, Will
Smith fez jus ao seu rótulo estrelar. Embora, nos últimos anos, ele venha
emplacando uma série de obras um tanto quanto irregulares, é inegável que o seu
prestígio dentro da indústria e junto ao público segue inabalável. Basta, por
exemplo, relembrar da sua concorrida participação na CCXP 2017 e principalmente
da reação catártica dos presentes no evento. Poucos, bem poucos, atrairiam essa
atenção. Uma popularidade que diz muito sobre a sua gestão de carreira. Reconhecido
pela sua versatilidade e pela busca por papeis desafiadores, Will Smith não se
contentou em ser mais um rosto conhecido da comédia negra norte-americana.
Oriundo do mundo do rap, o então promissor cantor decidiu levar a sua história
de vida em Bel Air para as telas da TV, encontrando na série Um Maluco no
Pedaço a plataforma perfeita para fazer o trampolim da música para o cinema.
Numa época em que as ‘sitcons’ não eram tão valorizadas assim pela indústria da
Sétima Arte, Will conquistou o carinho do público com performances
engraçadíssimas, esbanjando carisma e um afiado tempo de comédia num projeto
que logo ganhou um merecido status dentro da cultura pop noventista.
Credenciado pelo sucesso da série, que se manteve inabalável entre os anos 1990
e 1996, Will se tornou um alvo natural dos produtores de Hollywood. Ele, volto
a frisar, não parecia estar interessado em ser mais um. Indo de encontro as
expectativas, os seus primeiros passos no mundo do cinema foram em filmes
densos e\ou dramáticos. Com A Lei de Cada Dia (1992), Will mostrou estofo
dramático ao viver um jovem pobre e deficiente, escancarando os problemas
sociais e raciais nos EUA numa obra competente. No ano seguinte, no subestimado
Seis Graus de Separação (1993), Will voltou a abraçar o drama ao interpretar um
jovem culto, talentoso, mas um tanto quanto dúbio, que decide usar uma
bem-intencionada família como um instrumento de ascensão social. Um filme
surpreendente.
Em pouco menos de cinco anos,
Will Smith já tinha se provado como um rapper de respeito, como uma promessa da
comédia e como um ator com inegáveis recursos dramáticos. Só faltava um grande
blockbuster. Eles não demoraram a vir. E em dose tripla. Com os populares Bad
Boys (1995), Indpendence Day (1996) e MIB: Homens de Preto (1997), Will se
tornou a grande sensação do final dos anos 1990, uma figura conhecida ao redor
do mundo que não demoraria para estar entre os atores mais requisitados por
Hollywood. Nos anos seguintes o que vimos foi a construção de uma filmografia
diga dos grandes. Com incontáveis sucessos de público, constantes sucessos de
críticas e alguns poucos fracassos (As Loucas Aventuras de James West, Depois
da Terra e o recente Beleza Oculta estão ai para provas que os grandes também
erram), Will se tornou um dos atores mais “rentáveis” da história da Sétima
Arte. Até o ano de 2014, 17 dos seus 21 filmes ultrapassaram a barreira dos US$
100 milhões nas bilheterias ao redor do mundo. Sendo que, cinco destes
(Independence Day, MIB, Eu Sou a Lenda, Hancock e Esquadrão Suicida), cruzaram
a marca dos US$ 500 milhões. Ou seja, uma coleção de ‘hits’ que, mesmo após o
insucesso de algumas produções recentes, o colocam ainda hoje na primeira
prateleira de estrelas de Hollywood. Além disso, Will se tornou um símbolo de
representatividade em Hollywood, quebrando sucessivos tabus em prol da
pluralidade étnica dentro da indústria. Para celebrar os 50 anos deste grande
ator, neste Top 10 uma lista com os melhores filmes da carreira de Will Smith.
Um realizador que fez por merecer todo o seu sucesso.
10º Hancock (2008)
Indo de momentos de extrema
criatividade a soluções de gosto bem duvidoso, Hancock é um filme de
super-herói diferente e indiscutivelmente importante. Lançado num ano chave
para a revolução do segmento, dividindo espaço com o original Homem de Ferro e
o fantástico Batman: O Cavaleiros das Trevas, o longa dirigido por Peter Berg
deu a Will Smith a possibilidade de interpretar o primeiro grande personagem
negro superpoderoso no universo ‘mainstream’. Um fato, por si só, relevante.
Além disso, Hancock era um personagem completamente novo, uma opção raríssima
dentro do segmento. O mais legal de tudo, entretanto, era a concepção do
protagonista. Um homem dotado de superpoderes, mas desleixado, alcoólatra e
inconsequente. Vivendo à margem da sociedade, ele agia quando bem queria, sem
grande cuidado, conquistando assim uma má fama junto à opinião pública. Tudo
muda, entretanto, quando ele salva um influente marqueteiro (Jason Bateman),
que, disposto a torna-lo um super-herói de respeito, decide mudar a sua imagem.
Com uma premissa inventiva em mãos, Berg consegue extrair o melhor de Will
Smith na composição do multidimensional personagem. Se num primeiro momento o
longa se rende as divertidas sequências de ação, aos poucos as coisas começam a
ficar mais sérias. Numa opção inesperada, e um tanto quanto bem-vinda, o
argumento é astuto ao explorar o ‘background’ do protagonista, ao se debruçar
sobre os seus anseios, a sua solidão e os motivos que o levaram a se
transformar num errático herói, flertando com o drama ao expor a face mais
humana de Hancock. Um prato cheio para Will mostrar a sua versatilidade na pele
de um homem poderoso relutante quanto ao seu papel nesta sociedade. O problema
é que, na transição para a metade final, Berg se perde ao investir numa
complicada reviravolta e na tentativa de expandir a mitologia em torno do
personagem. Apesar do esforço de Charlize Theron e das competentes cenas de
ação, Berg aposta em soluções pretensiosas, que se acham inteligentes, mas na
verdade são apenas tolas. Um desfecho que, embora não estrague a experiência,
nem tão pouco reduza os méritos narrativos, fica bem abaixo dos dois primeiros
atos. Ainda assim, sustentado pela figura de Will Smith, Hancock se tornou um
estrondoso sucesso de público ao faturar espantosos US$ 624 mi ao redor do
mundo. Mais do que os US$ 585 mi conseguidos pela “pedra fundamental” do MCU
Homem de Ferro.
9º Bad Boys (1995)
Antes de se tornar o diretor
megalomaníaco que conhecemos atualmente, Michael Bay entregou alguns dos filmes
mais divertidos dos anos 1990. Influenciado pelos ‘hits’ 48 Horas e Máquina
Mortífera, o realizador norte-americano decidiu revigorar os ‘buddy cop
movies’, privilegiando a comédia e o ‘bromance’ no impagável Bad Boys. Num
momento em que a representatividade se fazia urgente em Hollywood, Bay rompeu
com a estrutura inter-racial do gênero ao investir em dois personagens negros,
dialogando com a linguagem “das ruas” numa obra pop, urbana e genuinamente
cômica. Embora o ‘plot’ não trouxesse nada de novo para o gênero, o grande
trunfo do longa está na disfuncional dupla Mike e Marcus, dois policiais com
estilos de vida diferentes que precisam passar por uma “troca de identidades”
para proteger a identidade de uma testemunha (Tea Leoni). Mesmo sem
“sacrificar” as (explosivas) cenas de ação, que não deixam a desejar para
nenhum outro título do gênero, Bay esbanja astúcia ao valorizar a hilária
dinâmica entre o caótico pai de família e um mulherengo sedutor, criando uma
parceria completamente inédita até então nos ‘buddy cop movies’. Um predicado,
indiscutivelmente, potencializado pelas expansivas performances de Will Smith e
Martin Lawrence. Como se não bastasse a espantosa química entre os dois, eles conseguem
abraçar o humor escrachado da dupla de parceiros sem prejudicar a “seriedade”
da trama, encontrando assim um belo meio termo entre a comédia e a ação. Ponto para
Bay que, indo além dos alívios cômicos, não foge da raia ao abrir generosas
brechas para que os dois pudessem brilhar no gênero que os consagrou.
Conveniências narrativas a parte, sim, elas são muitas, Bad Boys é o ‘buddy cop
movie’ dos anos 1990. Com uma linguagem própria, personagens cativantes e as
radiantes performances da dobradinha Smith\Lawrence, o longa se tornou um
verdadeiro ‘hit’ pop, rendendo US$ 141 milhões ao redor do mundo e o
fortalecimento da cultura negra no cinema ‘mainstream’. Além disso, no início
dos anos 2000, Bad Boys ganhou uma sequência extravagante, um filme com sérios
problemas, mas com um humor escrachado que o transformou num dos meus ‘guilty
pleasures’ favoritos.
8º Hitch: Conselheiro Amoroso
(2005)
Uma encantadora e engraçadíssima
comédia romântica, Hitch: Conselheiro Amoroso comprovou a capacidade de Will
Smith em brilhar em qualquer gênero. Com uma premissa original e um elenco
entrosado, o longa dirigido por Andy Tennant deu uma agitada no gênero ao
investir numa história de amor irreverente, envolvente e com uma identidade
própria. Will vive o expansivo Hitch, um especialista na arte dos encontros.
Contratados por homens inseguros, entre eles o simpático Albert (Kevin James),
o professor ensinava tudo que eles precisavam para conquistar as suas amadas. Num
inesperado golpe do destino, porém, Hitch se vê em apuros quando conhece a
estonteante Sara (Eva Mendes). Confiante, o bem-sucedido conquistador
profissional acreditava que não demoraria para conquistar a atenção da moça.
Ele só não esperava que fosse cometer “deslizes” de iniciante, protagonizando
situações impagáveis na busca pelo amor não correspondido. Indo além do
radiante carisma de Will Smith, especialmente cômico aqui, Tennant é astuto ao
valorizar a comicidade do astro enquanto constrói um singelo romance. O
resultado é uma obra narrativa simples, mas extremamente eficaz dentro da sua
proposta, uma comédia romântica para todos os públicos que, mesmo sem
“reinventar a roda”, se tornou um estrondoso sucesso de público. Com orçamento
de US$ 70 mi, Hitch faturou inesperados US$ 368 mi ao redor do mundo, se
tornando assim um dos representantes do gênero mais populares e bem recebidos
na primeira década do ano 2000.
7º Ali (2001)
Após triunfar no cinema pipoca,
Will Smith se viu novamente desafiado a tentar papéis mais densos. Primeiro
veio o adorável Lendas da Vida (2000), onde, sob a batuta do legendário Robert
Redford, ele surgiu na pele de um sábio ‘caddy’ que se torna a esperança de um
alcoólatra golfista local num grande torneio. Uma atuação cativante num filme
agradável. No ano seguinte, entretanto, Will colocou a sua carreira num novo
patamar ao viver o icônico pugilista Muhammed Ali em Ali. Numa performance
magnética e imponente, Will Smith conseguiu reproduzir o melhor e o pior do
pugilista, expondo a sua incoerência, a sua genialidade e a sua forte crença
ideológica num retrato íntimo e humano. Dirigido pelo mestre Michael Mann, Ali
se tornou presença certa na lista de qualquer fã dos filmes de Boxe. E isso,
muito em função, das opções narrativas escolhidas pelo longa. Diferente da
grande maioria dos filmes do gênero, Ali já começa com o lutador sendo campeão
mundial. Com o título já alcançado, Mann ganha espaço para abordar toda a
carreira do polêmico lutador, indo além das glórias ao se encantar também pelas
controvérsias. Momentos como a prisão por não aceitar a servir o exército no
Vietnã e também a mudança de nome em função do Islamismo são bem mostrados,
destacando a forte personalidade do lutador conhecidos por "dar ferroadas
e flutuar". Além disto, o filme recria uma das maiores lutas já realizadas
na história do boxe: Ali Vs Foreman. Bom para nós, que nem sonhávamos em ser
nascido na época do confronto. Impulsionado pela incrível atuação de Smith e a
direção segura de Mann, Ali se tornou uma vitória pessoal do ator. Embora o
filme não tenha se saído bem nas bilheterias, fato raro para Will Smith, ele
conseguiu a sua primeira indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro, validando o seu
esforço para conquistar o seu espaço dentro do “circuito artístico”.
6º Eu, Robô (2004)
É interessante ver como, ao longo
da sua carreira, Will Smith sempre esteve atrelado aos filmes de
ficção-científica. Ora em obras mais “lights”, ora em Sci-Fi’s mais “cabeças”.
Inspirado nos conceitos do pai da robótica moderna Isaac Asimov, Eu, Robô deu
ao ator a possibilidade de estrelar um thriller de ação inteligente e
envolvente. Num momento em que o gênero voltava a vigorar em Hollywood,
impulsionado por títulos como Matrix (1999), A.I: Inteligência Artificial
(2001) e Minority Report (2002), o longa dirigido por Alex Proyas conseguiu
usar os conceitos do cientista numa obra moderna e “acessível”, um filme de
ação futurístico capaz de agradar tanto os fãs de uma obra mais escapista,
quanto os fãs de ficções-científicas mais densas. Na trama, Will vive o detetive
Spooner, um policial determinado (e anti-robótico) que, após a morte de um
velho amigo, começa a acreditar uma linha de robôs poderia estar se voltando
contra os seres humanos. Aos poucos, porém, ele começa a temer que tenha uma
outra pessoa por trás da morte, principalmente quando passa a conviver com o
sentimental robô Sonny (voz de Alan Tudyk). Disposto a tornar o pano de fundo
filosófico o mais acessível possível, Proyas conseguiu levar Asimov ao grande
público sem grandes dificuldades, investindo em personagens cativantes, num
argumento satisfatoriamente inteligente e numa visão de futuro extremamente
inventiva. Além disso, embora Will Smith segure os holofotes com o seu usual
carisma, é legal ver como o realizador valoriza os efeitos digitais na construção
do mundo futurista e do expressivo Sonny. Por mais que, aos olhos do público
atual, a tecnologia impressa no filme já soe um pouco datada, vide as
competentes cenas de ação nos cenários ‘hi-tech’, Proyas fez de Sonny um dos
primeiros grandes personagens digitais do cinema, o que transformou Eu, Robô numa
obra importante no desenvolvimento do CGI na Sétima Arte.
5º Eu Sou a Lenda (2007)
Segurar um filme praticamente
sozinho é uma missão para poucos. E Will Smith o fez com maestria. Após Vincent
Prince e Charlton Heston levarem a mesma história para a tela grande em Mortos
que Matam (1964) e A Última Esperança da Terra (1971), coube ao astro a
oportunidade de brilhar em Eu Sou a Lenda, um thriller pós-apocalíptico
recheado de ritmo que optou por trocar o suspense pela ação numa versão
tipicamente hollywoodiana. O que nem de longe é um problema. Por mais que,
narrativamente, o longa original siga sendo o mais ambicioso dos três, é
inegável que o diretor Francis Lawrence merece elogios ao dar contornos
grandiloquentes a uma obra tão silenciosa. Indo além do virtuosismo técnico, a
abandonada Manhattan é (ainda hoje) impressionante, o realizador
norte-americano mostrou astúcia ao dar completa liberdade para Will Smith,
permitindo que ele pudesse ter um arco dramático sólido mesmo praticamente
sozinho durante a maior parte da película. Valorizando elementos como os
‘flashbacks’ familiares, a exploração deste “mundo aberto” e a relação do
protagonista com o seu fiel cão, Lawrence consegue entregar uma obra recheada
de ritmo, com tensão, ação e drama na medida certa. Por mais que, esteticamente,
o visual “borrachudo” dos digitalizados “vampiros” já fosse um problema na
época do lançamento, Eu Sou a Lenda se revela um blockbuster com momentos
corajosos, vide a desconcertante cena ao som de Bob Marley, uma estrutura
narrativa esperta e um arco central naturalmente envolvente. Um filme que,
embora peque pela condescendência no eficaz clímax, se revela um filme pipoca
de ótima qualidade e que, fazendo jus as expectativas, rendeu US$ 585 mi ao
redor do mundo.
4º Inimigo do Estado (1998)
Confesso que, na época do
lançamento, lá pelos meus dez, onze anos, foi um pouco decepcionante ver o
astro de Bad Boys, Independence Day e MIB protagonizando um filme tão “sério”.
Hoje, porém, vinte anos depois, não tenho dúvidas que Inimigo do Estado é um
thriller visionário e bem à frente do seu tempo. Sob a enérgica batuta do
saudoso Tony Scott, Will Smith enche a tela de tensão ao viver um destemido
advogado que, num acaso do destino, entra na mira de uma conspiração política
liderada por um agente (Jon Voight) disposto a tudo para a aprovação de uma lei
favorável a “invasão de privacidade”. Numa época em que “estar online” era para
poucos, em que vazamento de e-mails e informações sigilosas eram assuntos
ficcionais aos olhos do grande público e que o monitoramento individual era um
temor apenas junto aos adeptos de uma boa teoria conspiratória, Scott se
antecipou a concorrência ao usar a vigilância não autorizada como o agente
catalisador de um suspense tenso, frenético e indiscutivelmente inteligente. No
embalo da carismática performance de Will Smith, impecável ao traduzir o misto
de fragilidade e desespero de um homem comum perseguido pelo governo, o
realizador é astuto ao tirar do papel um blockbuster instigante e ao mesmo
tempo crítico. Antes que Matrix trouxesse a tecnologia para o imaginário
popular e que a Trilogia Bourne trouxesse os seus engenhosos gadgets de
espionagem, Scott colocou o dedo na ferida ao levantar um tema extremamente
atual aos olhos do público atual, refletindo sobre a nossa vulnerabilidade
diante dos escusos interesses do Estado com enorme propriedade. Por mais que,
em alguns momentos, o argumento se escore em soluções convenientes, o diretor
consegue tornar tudo o mais crível possível para o seu espectador, construindo
assim um blockbuster com ideias próprias e um forte senso de entretenimento.
Num todo, aliás, como não bastasse os cativantes personagens e a instigante
trama, Scott preenche a película com memoráveis sequências de ação, a fuga pelo
túnel é puro nervosismo, e um clímax engenhoso, mantendo assim o ótimo ritmo do
primeiro ao último minuto. A cereja do bolo, entretanto, fica pela presença do
veterano Gene Hackman. Protagonista de um dos maiores e mais influentes filmes
de espionagens norte-americano, o fantástico A Conversação, Hackman adiciona um
indiscutível peso à segunda metade da película, dividindo os holofotes com Will
Smith numa parceria sagaz, disfuncional e particularmente cômica. Um thriller
muito subestimado, Inimigo do Estado é o tipo de filme que pouco envelheceu.
Ainda que as tecnologias mostradas no longa estejam completamente defasadas, o
‘plot’ deste suspense nunca esteve tão atual, o que confere ao projeto de Tony
Scott uma aura ainda hoje original.
3º MIB: Homens de Preto (1997)
Um dos blockbusters mais autorais
dos anos noventa, MIB: Homens de Preto colocou Will Smith num patamar raro
dentro da indústria. Após brilhar em Bad Boys e Indpendence Day, o jovem e já
consagrado embarcou num projeto mais ousado, uma mistura de comédia e ficção
científica que, apesar dos indiscutíveis méritos estéticos e narrativos, se
tornou um sucesso de público e crítica graças a sua presença. Num momento em
que o gênero não era tão explorado assim, o experiente diretor Barry Sonnefeld
surpreendeu ao investir numa história de invasão alienígena com uma identidade
própria, com uma mitologia brilhantemente concebida. Com Will no papel do
agente J, um ex-policial que, em busca de um novo ofício, aceita entrar para
uma agência intergaláctica, o realizador testou as nossas expectativas ao
sugerir uma realidade em que os aliens já viviam entre nós, disfarçados como
artistas, pessoas comuns e animais. No melhor estilo ‘buddy cop movie’,
Sonnefeld arriscou a investir numa dupla de protagonistas completamente
exótica, com Will Smith dividindo a tela com o aclamado Tommy Lee Jones, nos
presenteando com uma parceira disfuncional e naturalmente cômica. Além disso, o
realizador investiu pesado na construção de mundo, ampliando a sua
recém-introduzida mitologia ao valorizar os detalhes, seja na concepção dos
exóticos personagens, seja na construção dos inventivos cenários, seja na
preocupação com design das armas e dos dispositivos ‘hi-tech’. Na verdade, MIB
se tornou uma daquelas obras capazes de definir os anos 1990. Com um humor
inteligente, uma misteriosa aura noturna, figurinos sóbrios e um espetacular
trabalho de maquiagem, Homens de Preto trouxe ao universo da comédia um
conceito estético “dark” que viria a se tornar recorrente na década, se
tornando um dos grandes atrativos deste ‘hit’. Com Vincent D’Onofrio no papel
de um repugnante antagonista, MIB se revelou um improvável sucesso de público,
rendendo expressivos US$ 583 milhões mundialmente. Além disso, o longa se
tornou uma competente trilogia, alcançando um status ainda maior no divertido
MIB 2 (2002) e no esperto MIB 3 (2012).
2º Independence Day (1996)
Poucos filmes fizeram tão jus ao
rótulo “arrasa-quarteirões” do que Independence Day. Um dos responsáveis pela
revitalização do cinema catástrofe, que se tornaria uma presença constante na
véspera da chegada do novo milênio, o longa dirigido por Rolland Emmerich
conquistou plateias ao redor do mundo ao explorar o medo do que vem do espaço.
Hoje tratado com certo desdém pelo público, o longa estrelado por Will Smith,
Bill Pulman e Jeff Goldblum se tornou um dos maiores fenômenos do cinema na
década de 1990, se colocando na vanguarda do cinema pipoca graças aos
espetaculares efeitos visuais, as grandiosas sequências de ação e a improvável
mistura do Sci-Fi com a aventura. No rastro de títulos como Exterminador do
Futuro 2 e Jurassic Park, Emmerich ajudou redefinir os padrões da computação
gráfica na época, tornando a massiva invasão alienígena assustadoramente
realística aos olhos do público. Sem medo de errar, a icônica sequência do
ataque aos EUA está, na minha humilde opinião, entre as mais incríveis da
história da Sétima Arte. O grande trunfo de Independence Day, entretanto, está
na sagacidade de Emmerich em valorizar o elemento humano em meio ao
grandiloquente caos. E ai brilhou a estrela de Will Smith. Na pele de um
autoconfiante piloto da força aérea que, ao lado de um cientista pouco ortodoxo,
se torna a última arma da raça humana, o então astro em ascensão conseguiu o
arquétipo heroico que viria a definir a sua carreira. Um personagem ‘bad-ass’,
mas ao mesmo tempo com laços familiares, que facilmente caiu nas graças do
público. É bom frisar, entretanto, a capacidade do diretor em valorizar os seus
cativantes personagens, ampliando o escopo da obra ao preencher a história com
uma vasta gama de interessantes subtramas. Vide o arco do transloucado piloto
vivido por Randy Quaid. Com um envolvente senso de simultaneidade, Independence
Day é um blockbuster com alma dos anos 1990, um filme ousado e grandioso que,
logicamente, se tornou o primeiro grande sucesso de público de Will Smith. Um
filme de verão exemplar que rendeu impressionantes US$ 817 milhões ao redor do
mundo. Disparado, a maior bilheteria daquele ano.
1º À Procura da Felicidade (2006)
Inspirado numa encantadora
história real, À Procura da Felicidade deu a Will Smith a possibilidade de
entregar a atuação da sua carreira. Na pele do resiliente Chris Gardner, um
homem negócios que, após despejar todo o seu dinheiro numa “furada”, vê a sua
vida desmoronar, o expansivo ator entregou uma performance madura e
introspectiva, tornando o sofrimento deste pai de família extremamente
compreensível aos olhos do público. É impressionante como tudo soa muito
verdadeiro. O diretor italiano Gabriele Muccino rompe com o sentimentalismo ao
tornar a jornada de Chris a mais realística possível. Com uma direção intimista
e uma abordagem delicada, o longa comove ao desvendar os altos e baixos na vida
desse homem comum, nos presenteando com sequências ora emotivas e
desconcertantes, ora singelas e revigorantes. Como não citar, por exemplo, a
cena da noite na estação, ou então a incrível lição na quadra de basquete, momentos
que nos fazem criar uma identificação praticamente instantânea com o
personagem. Além disso, Muccino é enfático ao traduzir a deterioração financeira
de Gardner, ao permitir que o público experimente a sua tristeza, a incerteza
quanto o amanhã. Por melhor que seja a condução de Muccino, entretanto, a alma
de À Procura da Felicidade está no trabalho de Will Smith e na incrível química
com o seu filho (na vida real) Jadden Smith. Numa sacada genial, a dinâmica
entre os dois sustenta a trama com enorme dramaticidade, muito em função do
carinho impresso em tela, do nítido elo paterno. É bom frisar, aliás, que
Jadden entrega uma daquelas memoráveis atuações infantis, esbanjando
naturalismo ao traduzir as reações de uma criança o obrigada a se “despedir”
pouco a pouco do seu confortável estilo de vida. Uma relação honesta que fez de
À Procura da Felicidade um inquestionável ‘hit’ popular e deu a Will Smith a
sua segunda indicação ao Oscar.
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