
Considerado o primeiro grande filme do gênero suspense, O Gabinete do Dr Caligari se tornou um dos grande marcos do cinema mudo. Dirigido por Robert Wiene, o longa representou um dos maiores avanços em técnicas cinematográficas até então. Criando uma estética até então inovadora no cinema, Wiene consegue criar um clima realmente assustador. Fugindo completamente do realismo, o diretor carrega nos cenários desconformes, nitidamente tortos e distorcidos, contribuindo para imprimir a sensação de loucura que o filme visa passar ao espectador. Com uma trilha sonora vibrante, que acompanha o ritmo intenso do filme, Wiene trabalha bem as caracterização dos personagens, e as suas interpretações, sempre exageradas e com bastante dramaticidade. Característica esta que, aliás, marcou o expressionismo alemão. Porém, apesar destes recursos saltarem aos olhos, são nos detalhes que Wiene mostra todo o seu pioneirismo.
Poucos podem ter reparado, mas este é talvez um dos primeiros filmes a usar a técnica do flashback. Comum no cinema atual, se mal utilizado - na época - este recurso poderia confundir o espectador. Mas na verdade, graças a este recurso, Wiene proporciona uma das maiores reviravoltas já realizadas no cinema, que em muito se assemelha a apresentada por Martin Scorsese, em A Ilha do Medo. Além deste recurso, Wiene usa e abusa dos closes e detalhes, recursos na época não eram muito utilizados. Com cortes rápidos para aquele período, o diretor explora de maneira brilhante todos os personagens e as suas expressões. Outro detalhe muito interessante, talvez um dos mais impressionantes, fica pela utilização das luzes em um filme preto e branco. Para a criar a sensação de dia, o diretor carrega na iluminação, passando para a projeção uma pigmentação mais amarelada. Já na noite, explorando muito bem a utilização das sombras, a opção é uma iluminação mais leve, que projeta uma cor mais azulada a tela, facilitando a compreensão temporal do filme.
Por falar em sombra, uma das cenas mais geniais do filme se utiliza de maneira sublime deste recurso. Se você acha Alfred Hitchcock um gênio pela cena do assassinato em Psicose, é porque não viu - ainda - O Gabinete do Dr Caligari. Com bem menos recursos que o mestre do suspense, Wiene nos brinda com uma cena brilhante, quando mostra o assassinato de um homem através da sombra. O resultado é realmente impactante, e até os dias de hoje serve de inspiração para muitos grandes diretores.
Além de todos estes pioneiros recursos, o longa ainda conta com uma trama realmente assustadora. Narrada em flashback, a história se passa em um pequeno vilarejo da fronteira holandesa. Somos então apresentados ao misterioso hipnotizador Dr. Caligari (interpretação magnífica de Wenner Krauss), que acompanhado do sonâmbulo Cesare (Conrad Veidit) monta uma apresentação circense no local. Prometendo mostrar o futuro para as pessoas, através das previsões do sonâmbulo, o espetáculo faz sucesso. Porém, após a chegada da dupla, misteriosos assassinatos começam a acontecer no vilarejo, fazendo com que o jovem Francis (ótima atuação de Friedrich Feher) comece a tentar prender o responsável pela morte de seu melhor amigo.
Com uma narrativa brilhante, uma trama intensa, e recursos que deixam os fãs da sétima arte abismados, O Gabinete do Dr Caligari representou como ninguém um dos grande movimentos do cinema. Além disto, é considerado por muitos um dos primeiros, e por que não melhores, filmes de suspense/terror já realizados em toda história. Ou seja, se Alfred Hitchcock foi o grande Mestre do Suspense, posso dizer que Robert Wiene foi o grande percursor. Não deixem de assistir esta grande obra prima do cinema mudo.
Por que Assistir ?
- Pelo pioneirismo apresentado ao longo de todo o filme.
- Pela excelente e surpreendente trama, com uma das maiores reviravoltas já realizadas.
- Por ser um dos grandes filmes do expressionismo alemão, movimento que até hoje serve de inspiração para grande diretores.