A ausência de grandes lançamentos
neste período de quarentena faz qualquer fã de cinema sair à caça de filmes. Qualquer novidade é bem-vinda. É
o tempo ideal para pagar velhas dívidas, ver aquele clássico que sempre ficou
para depois. Ou então aquela pérola cult escondida nos catálogos do streaming. É
um período legal também para assistir aquele tipo de produção que não ganhou a
devida atenção. Quantos grandes filmes lançados em 2019 passaram despercebidos aos olhos do público? Muitos! Dos premiados aos mais despretensiosos, dos
subestimados aos incompreendidos. Neste artigo, portanto, resolvi preparar uma
lista algumas destas ótimas produções já disponíveis no streaming.
- Retrato de Uma Jovem em Chamas
Retrato de Uma Jovem em Chamas é um dos mais belos, poéticos e profundos exercícios de metalinguagem que o cinema já viu. Tal qual a sua empoderada protagonista, uma talentosa artista contratada para pintar o retrato de uma jovem reclusa prometida em casamento a um estranho, a expressiva diretora Céline Sciamma (Garotas) começa com uma tela em branco. Primeiro o foco está na construção da atmosfera de época, do mistério em torno de tamanho isolamento. O romance, enquanto gênero, nasce dos segredos, é catalisado pelo drama da retratada. Logo em seguida começam os esboços. Incomodada com a sua situação, Heloise (Adele Haenel, estupenda) não quer ser retratada. O seu casamento com um estranho passa pela aprovação desta obra. Limitada por isso, Marianne (Noémie Merlant, numa das performances femininas da década) precisa se concentrar na “casca”. Nos detalhes. O fascínio floresce gradativamente. Sciamma, tal qual a protagonista, busca nos contornos a porta de entrada para a manifestação da sua arte. Os rabiscos logo ganham forma. Os olhares logo ganham sentido. Os gestos logo se tornam reveladores. O jogo de sedução\conquista nasce de um objetivo prático. O desejo da artista em terminar a sua obra. A pintura logo ganha sombras, nuances, verdade. O romance, enquanto sentimento, chega sorrateiramente. Paixão fulminante de tirar o fôlego. Cercada de significados. À medida que enxerga além dos traços físicos, do contorno da orelha, do vislumbre de um sorriso, Sciamma enche a sua tela com um estudo de personagens vigoroso. A realizadora se dispõe a ir além da moldura. Ela captura a alma de duas mulheres distintas unidas pelo amor, pela dor, pela solidão, pela indignação. Retrato de uma Jovem em Chamas, em sua essência, é um filme (quer dizer, uma pintura) sobre o SER FEMININO em tempos de desigualdade, de repressão afetiva, de pressões e imposições. O foco de Sciamma não está naquilo que mudou, mas naquilo que permanece, que delimita, asfixia e afasta. No fim, porém, ficam as experiências vividas, as memórias criadas. Fica a chama que nunca irá se apagar. Nos seus últimos segundos, cabe a Céline Sciamma capturar a verdade da retratada, a emoção viva que nasce da catarse. O mais poderoso, simbólico e visualmente estonteante retrato pintado em tempos.
Onde Assistir: Looke.
- Adoráveis Mulheres
Adaptar um clássico é algo sempre
desafiador. O que Greta Gerwig faz em Adoráveis Mulheres, porém, é de uma
coragem sem tamanho. A talentosa realizadora se apropria da forte carga
feminina do texto de Louisa May Alcott para redimensionar a personalidade das
suas personagens. Mais do que sublinhar comentários\obstáculos ainda hoje
sensíveis para muitas, Gerwig enxerga a libertação feminina sob múltiplas
perspectivas. A união aqui é mais forte que a rivalidade. A cumplicidade é mais
importante que a vaidade. Aos olhos da realizadora, uma mulher livre é uma
mulher empoderada. Gerwig trata os destinos das quatro irmãs com uma nobreza
comovente. No dinâmico vai e vem temporal pensado pelo roteiro, a cineasta
estuda as nuances de cada uma delas à medida que os contrastes se fazem sentir.
O duro choque entre a perspectiva e a realidade. O otimismo contido no material
fonte nunca cega Greta Gerwig para a verdade, para as delimitações impostas
pelo masculino. Em sua camada mais íntima, Adoráveis Mulheres é um filme sobre
o árduo processo de transição da infância para a vida adulta. Um 'coming of age
movie' genuinamente feminino que não se interessa em ser taxativo sobre nada.
Não existe espaço para o certo ou o errado. A vida ensina, a realidade molda, a
certeza é tola. No fim, mais do que literalmente reescrever a trajetória de Jo
March, num daqueles 'insights' metalinguísticos geniais, Adoráveis Mulheres
revitaliza um clássico conto sobre o patriarcado e as sequelas do
conservadorismo numa obra sobre a libertação dos sentimentos femininos. E isso
com atuações poderosas (Saoirse Ronan e Florence Pugh estão elétricas em cena)
e um olhar sensível sobre as agruras das suas impetuosas personagens.
Onde Assistir: Google Play.
- Casamento Sangrento
“Fucking rich people!” Ready or
Not é irônico ao subverter o conceito de "pacto" matrimonial num
thriller de horror trash, tenso e estiloso. Embora perca algumas oportunidades,
em especial dentro do literal clímax, o longa é criativo ao tratar o
capitalismo como algo genuinamente maléfico e predador. Além disso, com uma
incorreção impagável, o filme tece alguns espertos comentários sobre a
instituição do casamento em si, encontrando na jornada de sobrevivência de uma
resiliente noiva a oportunidade de rir do processo de descobertas\aceitação em
torno desta nova aliança familiar. Conhecer os sogros nunca foi tão bizarro. Em
tempo, a atriz Samara Weaving é um achado. Talvez o principal predicado desta
valorosa produção.
Onde Assistir: Telecine Play
- A Batalha das Correntes
Com atuações marcantes, uma
reconstrução de época expressiva e uma narrativa dinâmica, A Batalha das
Correntes esbanja vigor no estudo das conflitantes personalidades dos
homens\gênios por trás da difusão da energia elétrica no final do século XIX. O
diretor Alfonso Gomez-Rejon não escolhe lados ao mergulhar nos bastidores de
uma disputa regida pelo egocentrismo, pelo faro empresarial, pelo purismo
utópico e pela ambição. Se por um lado falta ao argumento profundidade no que
diz respeito a análise dos feitos tecnológicos de Thomas Edison, Nikolas Tesla
e George Westinghouse, por outro o longa é perspicaz ao encontrar no tênue
embate filosófico\moral entre os três a força motora desta cinebiografia. Rejon
se encanta pela humanidade dos inventores e, a partir das suas falhas mais
íntimas, investigar a tênue linha que separa a tenacidade da obsessão, o êxito
do fracasso e a rivalidade da perseguição. É legal ver como, apesar da nítida
admiração pelo visionarismo de Edison, o roteiro valoriza as principais
valências de cada um dos protagonistas. A vaidade genial de Thomas (Benedict
Cumberbach, elétrico em cena), contrasta com a visão empresarial de George
(Michael Shanon, intenso como de costume) e o vanguardismo incompreendido de
Nikolas (Nicholas Hoult, delicado ao traduzir a excentricidade do criador). Ao
realçar os predicados deles, Rejon expõe também o outro lado desta
"disputa". O jogo sujo, a amoralidade, a ingenuidade, a pressão, a
vaidade. No fim, porém, A Batalha das Correntes é um filme sobre o respeito
entre iguais, sobre o esforço daqueles que encontraram a luz (literalmente)
através da ciência.
Onde Assistir: Amazon Prime Vídeo.
- Lutando Pela Família
Uma grata surpresa, Lutando Pela
Família é cuidadoso ao investigar o sonho que move, que machuca, que asfixia e
que transforma. Com base na história da lutadora britânica do WWE Saraya-Jade
Bevys, a popular Paige, o longa dirigido por Stephen Merchant vai além do drama
familiar ao investigar o duro processo em torno da concretização de um sonho.
Antes de se tornar uma das estrelas mais promissoras de Hollywood, Florence
Pugh esbanja intensidade ao traduzir os conflitos de uma jovem mulher obrigada
a conviver com os julgamentos, a pressão, as imposições, a perda da identidade
e a dura rotina de uma lutadora em busca da oportunidade que mudaria a sua
vida. Com o seu peculiar senso de humor, Merchant é habilidoso ao enxergar a
verdade da protagonista, a determinação de alguém que cresceu respirando luta
livre. Mesmo se renegar clássicas convenções do gênero, o cineasta é comedido
ao revelar os dois lados desta estradada rumo ao sucesso. Para cada
oportunidade dada existem inúmeras portas fechadas. Da complexa relação entre
Saraya e o irmão Zak (Jack Lowden) nascem os momentos mais densos do longa,
justamente quando Merchant realça a tênue linha que separa o sonho de um
pesadelo. Uma pena que, talvez limitado pelos interesses da própria marca WWE,
Merchant não se aprofunde tanto na crítica envolvendo esta face mais
seletiva\predatória da organização. O que fica bem claro, por exemplo, quando o
roteiro tenta forçar uma rivalidade feminina que nunca se concretiza para logo
depois questionar a percepção “pré-conceituosa” de Paige sobre as suas
parceiras de treino. A relação da protagonista com a sua própria beleza, por
sinal, merecia ser tratada com maior peso, já que o sucesso dela representou
uma mudança nos padrões do WWE. Nada que reduza o êxito de Lutando pela
Família. Com um elenco talentoso em mãos, um olhar humano sobre uma modalidade
tão estigmatizada e muito coração, Stephen Merchant enxerga a dor e o humor na
trajetória de uma família que literalmente foi salva pelo esporte que tanto
amou.
Onde Assistir; Telecine Play.
- O Caso de Richard Jewell
O Caso Richard Jewell é o melhor
filme de Clint Eastwood desde Gran Torino. Com a sua usual sensibilidade, este
verdadeiro mestre da Sétima Arte se encanta mais uma vez pelo herói comum e,
através dele, constrói a sua inclemente crítica contra a inconsequência da
mídia, a ineficiência do FBI e a vulnerabilidade dos órgãos de defesa norte-americanos.
E isso numa obra tensa quando precisa ser, comovente quando deveria ser e
irônica quando ninguém esperava que fosse. Do alto dos seus 89 anos, Eastwood
explora o turbilhão de emoções em torno do caso com extrema singularidade. Um
predicado que, apesar da corajosa e humana visão do diretor, merece ser
dividido com o talentoso elenco. Paul Walter Hause captura o misto de
ingenuidade e distanciamento social com primor. Kathy Bates arranca lágrimas
sinceras com o seu forte senso de maternidade. Sam Rockwell esbanja a sua usual
presença de espírito ao mergulhar a relação de cumplicidade e incredulidade
entre cliente e advogado. Por fim, Jon Hamm e Olivia Wilde absorvem a
indignação de Eastwood sem nunca reduzir os seus personagens a meros antagonistas.
O único senão fica pela forma com que o roteiro sexualiza a figura de Kathy
Scruggs. Um desvio narrativo um tanto machista que surge como o calcanhar de Aquiles
desta enfática obra. Um relato provocante com algo a dizer sobre as
transformações que viriam a acontecer na identidade dos EUA no pós 11\09.
Onde Assistir: Google Play.
- Crime sem Saída
Um thriller policial com aura
setentista, Crime Sem Saída se revela uma obra intensa limitada pela rígida
régua moral do seu protagonista. Com um olhar urbano e humano sobre o mundo em
que habitamos, o diretor Brian Kirk fala sobre revanchismo, corrupção e
violência policial com propriedade. Destaque para as ótimas cenas de ação, para
a elegante fotografia noturna de Paul Cameron (colaborador do mestre Michael
Mann no excelente Colateral) e para o talentoso elenco, capitaneado por um
sóbrio e explosivo Chadwick Boseman. O tipo de produção que, por trás de uma
aparência inegavelmente genérica, esconde predicados narrativos e visuais
capazes de a colocar na prateleira dos grandes filmes do gênero lançados nos
últimos anos.
Onde Assistir: Amazon Prime Vídeo.
- Luta por Justiça
O que mais choca em Luta por
Justiça não é a forma como o talentoso diretor Destin Daniel Cretton escancara
o racismo enraizado na sociedade americana. Isso não é novidade. O impacto nasce
da sensibilidade do longa em expor as sequelas desta impiedosa mazela social na
vida dos injustiçados, dos homens julgados\condenados pela sua etnia. Ceifados
das suas famílias por um sistema corrupto, violento e explicitamente racista.
Embora baseado em fatos acontecidos no final dos anos 1980, Cretton é
contundente ao tornar tudo o mais universal e reconhecível possível. Acontecia
no auge da segregação, aconteceu há trinta anos, acontece nos dias de hoje. Com
um olhar humano sobre a realidade, o cineasta acerta em cheio ao não se
contentar em traduzir o preconceito, a impotência dos afro-americanos e a
seletividade judicial. O melhor de Luta por Justiça se dá quando, através do
olhar de espanto do advogado Bryan Stevensson (Michael B. Jordan, intenso como
de costume), Cretton dá voz aos marginalizados. Ouve o grito de desespero dos
homens condenados à morte por um sistema nada confiável. Eficaz enquanto
suspense de tribunal, o drama alcança outro patamar nestes (muitos) momentos
mais intimistas.
Ao invés de se concentrar num só caso, na condenação Walter
McMillian (Jamie Foxx, esbanjando verdade e dramaticidade), o realizador é
cuidadoso ao olhar o todo, ao flertar com o tom documental sempre que precisa
ouvir as vítimas. Sempre que preciso, ele pisa no freio, ele traduz com um
realismo desconcertante a dor dos prisioneiros, o senso de cumplicidade, a
resignação. O que falar, por exemplo, da delicadeza com que o roteiro discute a
trágica posição de vulnerabilidade do condenado Herbert Richardson. Como, aliás,
os expressivos Rob Morgan e Tim Blake Nelson não foram sequer cotados ao prêmio
de Melhor Ator Coadjuvante. O misto de indignação, raiva e emoção nascem
consistentemente destes pequenos grandes momentos de confidência. Um senso de
prioridade que se reflete no filme como um todo. Longe de ser mais um filme de
tribunal, Luta por Justiça contorna as batidas narrativas mais convencionais ao
nunca se render à sedução de criar um novo Atticus Finch. O idealismo, aqui,
não é o bastante. É a coragem contida nos atos de homens comuns que Destin
Daniel Cretton resolve exaltar numa obra envolvente, inspiradora e ao mesmo
tempo dilacerante.
Onde Assistir: Google Play.
- Os Miseráveis
Quantos “filhotes de leão” vivem
ao nosso redor largados à sua própria sorte? Sozinhos. Vulneráveis. Acuados.
Expostos à violência. Tomados da sua alcateia pela
desigualdade, pela falta de oportunidades, pelo crime organizado. Enquanto
trata o naturalismo como o seu grande diferencial, Os Miseráveis captura e
traduz as tensões sociais\raciais em solo francês com absoluta propriedade. No
melhor estilo Dia de Treinamento (2001), o longa dirigido por Ladj Ly escancara
uma realidade reconhecível nos principais centros urbanos ao acompanhar as
desventuras de um policial recém-transferido em suas primeiras 24 horas pelas
ruas de um bairro periférico de Paris. Flertando habilmente com o tom
documental, o realizador transforma uma premissa aparentemente inofensiva, o
sumiço de um filhote de leão de uma gangue de ciganos, num agente catalisador capaz
de expor toda a tensão, a raiva e a violência contida na relação entre a
polícia e os moradores deste bairro periférico. Com um olhar atento para a
repressão, a exposição dos mais jovens e a corrupção moral, Ladj Ly, em grande
parte do filme, transita entre o micro e o macro com desenvoltura. O clima de
ebulição cresce à medida que a realidade se faz notar. Que as barreiras
sociais\raciais começam a se erguer.
Nas entrelinhas, o realizador é cuidadoso
ao notar a farsa do discurso integrador, ao exaltar o frágil senso de
comunidade que nasce do abandono, ao mostrar a força do “poder paralelo”. Na
ausência do Estado, alguém sempre assume o controle. É da tênue relação entre
os representantes da lei do país e da lei do bairro que reside o melhor de Os
Miseráveis. O diretor é contundente ao permitir que estamos diante de um barril
de pólvora prestes a estourar. E a fagulha encontrada por ele não poderia ser
mais reconhecível. Tudo é muito real ao longo dos dois primeiros atos. Os
dilemas morais humanizam os personagens. A instabilidade do mundo em que estão
inseridos nos permitem mensurar as pressões impostas\sentidas pelos dois lados.
Ly, por sinal, recusa o discurso de que todos são vítimas ao defender que, no
fim do dia, por maior que seja o peso na consciência, tudo ali era evitável.
Ele reconhece a posição de vulnerabilidade dos representantes da lei, mas não
os perdoa. Uma pena que, na transição para o clímax, o cineasta rompa com o
naturalismo abruptamente. Na ânsia de reforçar a sua mensagem, o longa peca
pela literalidade ao apressar a sua inteligente alegoria. Em Os Miseráveis, os
leões filhotes rugem cedo demais, o que, indiscutivelmente, afeta o senso de
verossimilhança da obra nos seus minutos finais. O recado, no entanto, foi
dado. E com clareza.
Onde Assistir: Google Play.
- Os Bons Meninos
Dirigido por Gene Stupnitsky (The
Office), Bons Meninos é a melhor comédia recente que pouca gente viu. Mais
do que reverenciar um formato consagrado nos anos 1980, o longa reaquece o
segmento das comédias ‘teen’ ao entender a nova faixa etária do gênero. A
precocidade das novas gerações tornou os adolescentes de outrora um tanto
defasados. Consciente disso, Stupnitsky entrega um filme fruto do seu tempo ao
encontrar na inocência da garotada um material farto para o humor. Como se Os
Goonies se encontrasse com Superbad e saíssem para uma aventura recheada de
piadas sobre sexo, puberdade, drogas, pedofilia e as descobertas desta complexa
fase de transição. No papel, a comédia encabeçada por um carismático Jacob
Tremblay segue um rumo bem clássico. Três amigos precisam correr contra o tempo
para recuperar o drone do pai de um deles e garantirem assim a ida para a sua
primeira festa do beijo. O frescor de Os Bons Meninos, porém, nasce da sua faixa
etária e da moderna visão de mundo destes meninos. Gene Stupnitsky é sagaz ao
trazer convenções dos filmes de ‘high-school’ para o universo da criançada e, a
partir deles, realçar bem-vindas mudanças.
A fórmula é basicamente a mesma. Tem
os populares, o bullying, o esforço para impressionar a garota perfeita. Só que
os “adolescentes” da vez agora têm 11\12 anos. Com um olhar afiado para esta
fase da vida, o realizador arranca gargalhadas ao brincar com a mentalidade desconstruída
das crianças de hoje, ao traduzir o misto de precocidade e desconhecimento,
curiosidade e pressa. Stupnitsky ri da visão dos garotos sobre a vida adulta,
sobre a relação deles com “utensílios” dos seus pais, sobre os tabus\medos em
torno de alguns ritos de passagem. E isso sem infantilizá-los. O longa respeita
a personalidade deles, evita os reduzir a meros arquétipos. O humor adulto
nunca menospreza a inteligência\sentimentos\ignorância deles. No fim, ainda
sobra espaço para uma tocante reflexão sobre a amizade na infância e as
complexas mudanças que se avizinham. Com gags impagáveis, um elenco entrosado e
uma visão própria sobre a infância de hoje em dia, Os Bons Meninos é uma
incorreta e peculiar brincadeira de criança. E, desta vez, sem apelar para o
senso de nostalgia que impregnou o gênero nas últimas décadas.
Onde Assistir: Google Play.
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