terça-feira, 28 de abril de 2020

Artigo | Só enquanto os cinemas estiverem fechados! Filmes lançados exclusivamente via streaming ficarão elegíveis ao Oscar 2021


A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou hoje um pacote de novidades envolvendo o Oscar 2021. E a principal delas diz respeito aos serviços de streaming. Em meio ao quente debate envolvendo o futuro da indústria do cinema, o conselho gestor da premiação confirmou que os filmes lançados exclusivamente sob demanda em 2020 ficarão elegíveis no próximo ano sem a necessidade de serem exibidos comercialmente em Los Angeles. A decisão, porém, é pontual. Segundo o comunicado, o "relaxamento" só acontecerá enquanto o 'lockdown' for mantido. Ou seja, no momento em que os principais exibidores voltarem a abrir as portas, esta concessão tende a cair por terra. O que só comprova a resistência da Academia ao crescente poderio de empresas como a Netflix e a Amazon Studios. Nem mesmo esta devastadora crise fez o conselho dar o braço a torcer. Aos olhos daqueles que mandam no Oscar, o streaming segue uma "janela" menor. Um quebra galho diante da iminência de não termos grandes filmes lançados nos cinemas em 2020. Sim, essa possibilidade existe enquanto a vacina contra o coronavírus não for criada. Algo que debatemos mais profundamente aqui. Hoje, seguindo as regras tradicionais de elegibilidade, teríamos poucas obras disponíveis ao crivo do corpo votante. Já imaginou uma cerimônia do Oscar com Bad Boys: Para Sempre, Sonic: O Filme e Aves de Rapina entre os poucos selecionáveis? É isso que aconteceria até o presente momento. 

Óbvio que, por trás desta resistência, existem os interesses comerciais de uma indústria. O Oscar, gostem ou não, é o símbolo máximo de êxito no cinema. A pompa em torno da premiação é insuperável. Tanto que muitos títulos só conseguem lucrar impulsionados por uma indicação. Num mar dominado pelos tubarões do universo blockbuster, o carimbo do Oscar segue representando um momento de sossego. Uma chance de "alimentação" nesta impiedosa cadeia alimentar. No momento em que a Academia permitir a elegibilidade dos filmes lançados via streaming, uma revolução no que diz respeito a distribuição tende a acontecer. Os produtores\criadores se tornarão menos dependentes dos grandes estúdios e principalmente dos exibidores. E isso tem um preço. Um preço que, nos últimos anos, companhias como a Netflix e a Amazon Studios se mostram dispostas a pagar. Dinheiro não tem faltado para as duas gigantes do streaming. Alcance na comercialização das obras também não. E para aquele que produz, de fato, pouco importa a origem da verba. Muitos executivos dentro da indústria, no entanto, não querem abrir mão desta sensação de controle, aceitar o empoderamento do streaming como algo natural. Prova disso é que hoje, horas após Jeff Shell, executivo da NBCUniversal, exaltar o retorno financeiro gerado pela animação Trolls 2 (lançada exclusivamente via VOD nos EUA durante a quarentena), a poderosa rede de cinemas AMC anunciou que não irá exibir mais qualquer produção do estúdio nas suas salas de cinema. Uma retaliação gratuita (e em tempos de crise) que diz muito sobre o conservadorismo da Academia quando o assunto são os filmes lançados no mercado domiciliar. 

Ainda sobre os anúncios para o Oscar 2021, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas confirmou a a unificação das categorias Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição de Som. Agora, o prêmio será o de Melhor Som. O que, a meu ver, mostra que ninguém nunca entendeu muito bem as diferenças entre os dois quesitos. Já na categoria Melhor Trilha Sonora caiu por terra a necessidade das composições serem 100% originais. A partir de agora, as trilhas deverão ser ao menos 60% autorais. Por fim, ao contrário do que acontecia até então, todos os membros poderão participar da votação na categoria Melhor Filme Internacional. Os filmes elegíveis, a partir do próximo ano, ficarão disponíveis no serviço de streaming privado da Academia, o que facilitará o acesso a essas produções. O que, torcemos, tende a democratizar mais a disputa e afastá-la das certezas dos grandes festivais. 

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