sábado, 9 de fevereiro de 2019

Crítica | Close

Girl Power pelo Girl Power

Uma guarda-costas ‘bad-ass’ se vê obrigada a proteger uma mimada herdeira em um hostil território estrangeiro. No papel, a premissa de Close prometia oferecer uma hora e meia de pancadaria protagonizada por Noomi Rapace, um dos mais interessantes nomes do cinema de ação feminino na atualidade. Não demora muito, porém, para as já moderadas expectativas se diluírem numa obra que em nenhum momento consegue conciliar o frenesi da busca pela sobrevivência com o terrível desenvolvimento da sua história. Embora a diretora Vicky Jewson mostre virtudes na composição das enervantes cenas de ação, o longa não consegue em momento algum usá-las a favor da construção do fator girl power, esvaziando o elemento mais singular da obra em prol de um argumento frouxo, manipulativo e incapaz de respeitar a inteligência do público. 

Alguns filmes de ação não precisam tentar se esforçar tanto para divertir. Close seria um desses exemplos. Por mais que o roteiro assinado por Vicky Jewson, ao lado de Rupert Whitaker, tenha os seus lampejos de inspiração, espanta a incapacidade do longa em desenvolver o ‘background’ das suas protagonistas. Sempre que se distancia das realísticas cenas de ação, competentes ao explorar a vulnerabilidade da guarda-costas e o impacto delas nas personagens, a realizadora pisa desastradamente no freio na tentativa de trazer o drama delas para o centro da trama. Uma alternativa que seria bem-vinda se o argumento tivesse algo de substancial a oferecer. De um lado temos a introspectiva Sam (Noomi Rapace), uma agressiva agente de segurança que parecia encontrar nas suas “missões” uma válvula de escape para os seus dilemas mais íntimos. Do outro está a imatura Zoe (Sophie Nélisse), uma jovem herdeira que, após a morte do seu querido pai, precisa lidar com a sua fria madrasta (Indira Varma) e o incômodo dela ao descobrir que a jovem era a única herdeira no testamento. Como base neste ‘plot’ pouco original, Jewson até consegue estabelecer um sólido e gradativo elo entre Sam e Zoe, principalmente quando as duas se veem completamente expostas em solo marroquino diante de uma misteriosa ameaça. Sem querer revelar muito, a realizadora é esperta ao valorizar o protagonismo feminino em meio a ação, respeitando as suas respectivas limitações\identidades enquanto uma traduz a necessária troca de experiências entre as duas. Para sobreviver, Zoe precisaria agir, aprender a se defender, uma mudança de postura que de fato dialoga com a dura realidade de muitas mulheres ao redor do mundo.


O problema é que nenhum filme é capaz de sobreviver somente do fator ‘girl power’. E aqui, para a minha surpresa, o argumento falha ao não priorizar aquilo que melhor tem a oferecer. Nos momentos em que o longa se distancia da angustiante luta das duas pela sobrevivência, Vicky Jewson decepciona ao investir em diálogos fraquíssimos, personagens genéricos e soluções narrativas pouco convincentes. Em que mundo uma experiente guarda-costas, após escapar de um impiedoso atentado, entre na primeira viatura policial que surge convenientemente na estrada? Aqui, confesso, o longa começou a me perder. Somado a isso, nos momentos mais íntimos, a relação entre Zoe e Sam soa oca e desinteressante, muito em função da fraca química entre Noomi Rapace e Sophie Nélisse. Outro ponto que incomoda, e muito, é a maneira com que o roteiro explora a figura da madrasta vivida por Indira Varma. Por mais que a atriz britânica tente conferir algum peso a sua personagem, a impressão é que estamos diante de um tipo pensado para servir basicamente ao propósito do roteiro, o que fica bem claro, em especial, dentro do pavoroso último ato. O que falar, então, da desastrada tentativa de Jewson em surpreender com um pífio ‘plot twist’, daqueles que não se envergonha em manipular na cara dura a perspectiva do espectador. 


Com pelo menos três sequências de ação muito mais impactantes do que a do errático clímax, Close subaproveita o seu próprio potencial na tentativa de oferecer algo que o seu promissor ‘plot’ em nenhum momento parecia exigir. Embora Noomi Rapace entregue mais uma protagonista capaz de apanhar e se reerguer de maneira convincente, algo que tem se tornado uma rotina na carreira da atriz de Prometheus e Onde Está Segunda, Vicky Jewson vê as pretensões femininas da sua obra se esvaírem num roteiro fraquíssimo, daqueles incapazes de trabalhar os respiros narrativos sem sacrificar o ritmo da história.


Nenhum comentário: