domingo, 2 de dezembro de 2018

Dez Grandes Cenas nos Dez Anos do Universo Cinematográfico da Marvel


Como o tempo passa rápido. Em julho de 2008, há dez anos, eu resolvi tornar público as minhas análises sobre cinema neste despretensioso espaço. Um pouco antes, em abril deste mesmo ano, chegava aos cinemas o surpreendente Homem de Ferro, um filme de super-herói com uma identidade original, uma descompromissada aura ‘cool’ e um protagonista que o ‘mainstream’ já parecia ter esquecido. Sem os seus principais personagens, “distribuídos” anos antes para estúdios como a Fox (X-Men, Quarteto Fantástico), a Universal (Hulk) e a Sony (Homem-Aranha), a Marvel Studios resolveu entrar na “brincadeira” sem grandes pretensões, revigorando o segmento ao investir num filme solo com um quê anti-heróico. Enquanto a concorrência faturava rios de dinheiro com o Wolverine, o Magneto e o Homem-Aranha, a “casa das ideias” resolveu mostrar a sua força com o então esquecido Tony Stark, o milionário egocêntrico e genial que, graças a estupenda performance de Robert Downey Jr., ajudou a pavimentar a estrada do que viria a se tornar o gigantesco Universo Cinematográfico da Marvel. Contra todas as expectativas, Homem de Ferro se revelou um estrondoso sucesso de público e crítica, estabelecendo o formato escapista\irônico que se tornaria uma marca das produções do selo Marvel Studios. O que se viu nos anos seguintes foi a construção de um império fílmico. Seja com personagens icônicos (Capitão América, Thor), seja com heróis quase desconhecidos do grande público (os Guardiões da Galáxia e Homem-Formiga), a Marvel Studios enfileirou ‘hits’ com um enorme senso de coesão, arriscando cada vez mais na construção de uma engrenagem se tornou um modelo de sucesso dentro da indústria do entretenimento. Para celebrar os dez anos do fantástico MCU (Marvel Cinematic Universe, no original), neste artigo listamos dez das mais memoráveis cenas que ajudaram a transformar a saga Vingadores num verdadeiro símbolo do cinema ‘blockbuster’ moderno. Por ordem cronológica, começamos com... 

- Eu sou o Homem de Ferro (Homem de Ferro)


E nada mais justo do que começar com a cena que, a meu ver, moldou a aura descolada do Universo Vingadores. Sob a batuta de Jon Favreau, Homem de Ferro (2008) tem várias cenas que, facilmente, poderiam fazer parte desta lista. Como não citar, por exemplo, a magnífica sequência da fuga do cativeiro com a versão ‘old-school’ da armadura, ou então o primeiro voo de Tony Stark. Foi no último take do longa, entretanto, que Robert Downey Jr. mostrou a pegada anárquica\egocêntrica do seu Homem de Ferro. Após salvar o dia e ser obrigado a esconder a real identidade do herói por trás da armadura, Tony Stark não resiste às luzes dos holofotes e quebra todas as expectativas como uma simples sentença: “Eu sou o Homem de Ferro”. Boom! Um desfecho direto e impactante que se tornou a cereja do bolo num dos melhores e mais autorais títulos do MCU.

- Vingadores Unidos (Os Vingadores)


Durante muitos anos os fãs de quadrinhos (e dos blockbusters em geral) esperaram por uma produção do porte de Os Vingadores (2012). Após anos de filmes solos e algumas promessas nunca cumpridas, a expectativa da reunião de super-heróis do porte de Capitão América, Thor, Hulk e Homem de Ferro, numa só produção, gerou um ‘hype’ inacreditável. Uma expectativa, diga-se de passagem, perigosíssima. O que Joss Whedon e Kevin Feige fizeram, no entanto, foi revolucionar o universo dos super-heróis do cinema com Os Vingadores (2012). Existe um antes e um depois deste gigantesco blockbuster. Após estabelecer cada um dos seus super-heróis com esmero e paciência nos filmes solos, a Marvel Studios atingiu todas as elevadas expectativas ao entregar uma aventura ímpar, um filme grandioso com uma identidade própria, com espetaculares sequências de ação, um memorável antagonista e as brechas necessárias para poder trabalhar a disfuncional dinâmica entre os heróis. Uma cena, em especial, sintetiza tudo o que eu escrevi acima. No momento certo, na hora certa, Whedon reuni os Vingadores pela primeira vez num mesmo quadro. Num fluído plano sequência, o realizador gira a sua câmera em torno dos heróis ao som da subestimada trilha sonora de Alan Silvestri, os tratando como a implacável última linha de defesa da Terra contra a ameaça alienígena liderada por Loki. Uma cena arrepiante que, na minha opinião, não só segue sendo a melhor e mais impactante do MCU, mas uma das mais incríveis da história da Sétima Arte. O símbolo máximo da retomada de um gênero.

- Nick Fury luta pela vida (Capitão América: O Soldado Invernal)


O Batman: Cavaleiro das Trevas (2008) da Marvel, Capitão América: O Soldado Invernal (2014) trouxe a seriedade para o MCU num filme urgente, implacável e agressivo. Com espetaculares sequências de ação, os irmãos Anthony e Joe Russo chegaram para ficar com uma obra intensa, um thriller de espionagem que ajudou a recalcular a rota da franquia com decisões corajosas e um dos roteiros mais sólidos da franquia. O ponto alto do longa, entretanto, ficou para a marcante primeira aparição oficial do Soldado Invernal e a incrível cena do sequestro. Num ‘mise en scene’ enérgico e extremamente realístico, Anthony e Joe Russo tiraram do papel uma sequência digna dos grandes filmes do gênero, buscando inspiração em nomes como Michael Mann (Fogo Contra Fogo), Peter Yates (Bullitt), William Friedkin (Operação França) e porque não Christopher Nolan ao narrar a desesperada luta Nick Fury (Samuel L. Jackson) preso no seu carro “inteligente” contra uma ameaça implacável. Uma cena antológica.

- O sacrifício de Groot (Guardiões da Galáxia)


Guardiões da Galáxia é provavelmente o meu filme favorito do Universo Star Wars. Em meio a tantos heróis muito conhecidos, o inventivo diretor James Gunn conseguiu em um filme dar completa relevância a um super-grupo b dos quadrinhos, entregando uma ‘space opera’ engraçadíssima e genuinamente empolgante. Com personagens criativos, uma influente aura pop e um visual singular dentro do universo MCU, Gunn extraiu o máximo deste peculiar grupo de heróis, estreitando os laços entre eles através de sequências como a cena da fuga da prisão, a batalha aérea em Xandar e (claro!) o sacrifício de Groot. Numa só cena, diante do caos, James Gunn reforça o vínculo construído na película num take sensível, esteticamente belo e muito emocional. “We are Groot” se tornou a grande marca registrada de Guardiões Da Galáxia, alcançando o ápice no viés cômico\altruísta proposto pelo longa.

- Visão ergue o Mjolnir (Vingadores: Era de Ultron)


Vingadores: Era de Ultron é um dos filmes mais injustiçados da Marvel. Sigo achando que foi aqui que o MCU ganhou uma aura mais drástica, passou a lidar com as inconsequências do até então infalíveis super-heróis. Ultron é um baita vilão, as sequências de ação são insanas é o clímax à altura do ‘status’ da obra. Diante de tantos momentos dignos de nota, entretanto, o grande destaque do longa ficou pelo nascimento do Visão (Paul Bettany). Numa sequência impactante, Joss Whedon é cuidadoso ao capturar o misto de temor e expectativa em torno da aparição da nova criação de Tony Stark, uma cena imponente que alcança o seu ápice no momento em que sem qualquer esforço o novo Vingador levanta o martelo do Thor e “brinca” com ele. Um momento extremamente importante não só pela sagacidade do diretor em rapidamente estabelecer a índole do recém-introduzido personagem, mas principalmente por dialogar com a fantástica cena do ‘happy hour’, quando, num raro momento de descontração, os Vingadores se esforçam para manusear o lendário Mjolnir.

- Time Homem de Ferro vs Time Capitão América (Capitão América: Guerra Civil)


O que falar da grandiosa sequência do aeroporto em Capitão América: Guerra Civil? Na maior reunião de super-heróis até então vista no mundo do cinema, os irmãos Anthony e Joe Russo capturaram a aura dos quadrinhos ao criar uma batalha entre “irmãos” por motivos ideológicos, escancarando as rixas internas dos Vingadores numa cena empolgante, visualmente estonteante e recheada de pequenos\grandes duelos. Como se não bastasse a formação original do super-grupo, vimos o Pantera-Negra em ação, a versão gigantesca do Homem-Formiga e aguardada aparição do “teioso” Homem Aranha de volta ao Universo Marvel. Uma batalha recheada de expectativas que, ao longo dos seus quase 15 mins, entrega tudo aquilo que um fã de quadrinhos gostaria de ver num “encontro” deste porte. Embora Guerra Civil não dependa exclusivamente desta cena, principalmente pela propriedade dos diretores em solidificar os intensos conflitos por trás da crescente rixa ente o time Homem de Ferro e o time Capitão América, a sequência do aeroporto é um dos capítulos mais bem-sucedidos do MCU e está facilmente entre os maiores momentos deste universo.  

- O adeus do(a) Ancião(a) (Doutor Estranho)


Nem só de momentos espetaculares vive o universo Marvel. Muito pelo contrário. Sempre que possível, os diretores ganharam carta branca para investir em sequências densas e\ou com uma forte carga dramática. O que fica bem claro, em especial, na comovente despedida do(a) Ancião(a) em Doutor Estranho. Sob a intimista batuta de Scott Derickson, o realizador extrai o máximo das marcantes performances de Benedict Cumberbatch e Tilda Swinton numa cena exemplar. Aliando a força do texto ao visual, o realizador usa a condição da mentora do Drº Stephen Strange para refletir sobre o tempo, o destino do herói e a nossa relação com a vida, buscando inspiração em títulos como Blade Runner (1982) ao trazer o existencialismo para o cinema ‘mainstream’. Um momento de rara sensibilidade que ajudou a fazer de Doutor Estranho uma das peças mais singulares da engrenagem Marvel. Vide as psicodélicas viagens de Stephen e a nada ortodoxa batalha final, duas cenas que, facilmente, poderiam também fazer parte desta lista.

- O “grito” de liberdade de Killmonger (Pantera Negra)


Um dos filmes de super-heróis mais preciosos e representativos dos últimos anos, Pantera Negra fez jus ao legado histórico deste clássico personagem, criado por Stan Lee e Jack Kirby no auge da luta pela igualdade racial nos EUA, ao não se furtar da responsabilidade de refletir sobre a condição do negro americano nos dias de hoje. Comandado com um misto de ferocidade e realismo por Ryan Coogler, o longa conquistou o público e a crítica não só pela aura ‘badass’ do protagonista, o ‘hi-tech’ visual de Wakanda, os cativantes coadjuvantes e pelas fantásticas sequencias de ação, mas principalmente pelo complexo arco do vilão Killmonger. Um produto do seu meio, o antagonista vivido por Michael B. Jordan surge como o agente catalisador da trama, o único capaz de revelar a face mais contraditória do jovem rei T’Challa (Chadwick Boseman) e do seu império. Inteligente, questionados e urbano, o vilão rouba a cena sempre em que está nela, o que fica claro na sua comovente última cena. Nela, sem querer revelar muito, Killmonger escancara a sua amargura num diálogo forte e doloroso, daqueles que vêm das entranhas do oprimido, uma fala poderosa que ecoa alto e entra para o panteão dos grandes diálogos do gênero. Wakanda Forever!

- Thor com sede de vingança (Vingadores: Guerra Infinita)


E por fim chegamos ao terceiro filme evento da Marvel Studios, o novo ápice de uma saga minuciosamente construída ao longo de dez anos. Com Vingadores: Guerra Infinita, o MCU ofereceu tudo aquilo que os fãs e os detratores esperavam ver ao trazer o caos a partir da tirânica presença do aguardado Thanos. Impecável ao desenvolver os arcos dos principais personagens sem sacrificar o implacável ritmo da trama, os irmãos Anthony e Joe Russo colocaram os Vingadores diante do seu maior vilão, extraindo o máximo deste nefasto antagonista ao torná-lo o principal trunfo da película. Após mostrar o quão perigoso e calculista poderia ser o titã louco, a dupla de realizadores entrega uma das grandes sequências do MCU ao tornar a “entrada triunfal” de Thor no campo de batalha um verdadeiro grito de vingança deste poderoso super-herói. O “Bring me Thanos!” sacode a batalha de Wakanda tal qual um trovão, mostrando o quão ‘bad-ass’ poderia ser Thor ao lado dos seus novos amigos Groot e Rocket Racoon. Uma parceria que só a Marvel Studios seria capaz de tirar do papel.

- O estalar de dedos de Thanos (Vingadores: Guerra Infinita)


É impossível não concluir esta lista, entretanto, com outra destruidora sequência de Vingadores: Guerra Infinita. De longe a cena mais corajosa do Universo Marvel, e porque não dos filmes de super-heróis recentes, o estalar de dedos do Thanos sacudiu o MCU ao se revelar uma espécie de Apocalipse deste vasto universo. Os diretores Anthony e Joe Russo não se contentam somente em quebras as expectativas do público. Na verdade, eles a destroem ao entregar um clímax desesperador, um desfecho à altura de todas as promessas sugeridas ao longo destes dez anos de Universo Cinematográfico da Marvel. Independentemente do que venha a acontecer nos próximos capítulos, as consequências por trás deste ínfimo gesto seguem agitando as discussões dos fãs meses após o lançamento da película, mostrando o quão impactante foi a decisão de Kevin Feige e sua turma nesta desconcertante sequência em especial.

Menções Honrosas

 - Thor tem os seus poderes tomados (Thor)


Um momento singular por mostrar a face mais falível\humana do personagem sem os seus poderes.

- O adeus a Yondu (Guardiões da Galáxia Vol. 2)


Ao som de “Father and Son”, de Cat Stevens, James Gunn esmigalha o coração do espectador numa despedida memorável.

- Thor vs Hulk (Thor: Ragnarok)


Taika Waititi coloca dois “amigos do trabalho” num embate à altura das expectativas.

- Conheça o Papai (Homem-Aranha: De Volta para Casa)


Que reviravolta para o jovem Parker! Numa sequência marcante, Jon Watts revela a identidade do Abutre para o amigão da vizinhança num momento recheado de tensão.

- Hulk desmoraliza Loki (Os Vingadores)


Talvez o momento mais catártico de Vingadores, a surra que o Hulk aplica no Thor é uma das cenas que ajudaram a definir o Universo Marvel.

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