Um prato cheio para os fãs das cultuadas aventuras oitentistas, o novo It: A Coisa empolga ao propor uma combinação nostálgica e ao mesmo tempo original. Numa mistura de A Hora do Espanto (1985), com os Goonies (1985) e Deu a Louca nos Monstros (1987), o talentoso diretor Andy Muschietti (Mama) esbanja categoria ao conciliar gêneros tão contrastantes, resgatando o popular 'terrir' num filme engraçado, denso e genuinamente assustador. Impecável ao absorver a essência da profunda obra original, o realizador eleva o nível da trama ao transitar entre a realidade e a fantasia com enorme espontaneidade, indo além dos sustos fáceis ao encarar o medo na sua faceta mais pura e urbana. Por mais que o jovem Bill Skarsgård impressione ao causar arrepios na pele do perverso do palhaço Pennywise, Muschietti mostra maturidade ao deixar os 'jump scares', os excelentes alívios cômicos e a violência estilizada em segundo plano na hora certa, preenchendo a desventurada jornada dos protagonistas com conflitos bem mais tenebrosos do que qualquer ameaça da ficção. Mesmo limitado pela falta de tempo, as vigorosas 2 h e 15 min de projeção não se revelam o bastante para o (melhor) desenvolvimento de todos os personagens, o diretor argentino compensa ao encontrar as brechas necessária para pintar um desesperançoso retrato da vida adulta, reforçando o viés crítico do longa ao expor a origem dos medos de cada um dos jovens. O resultado é uma obra tensa e corajosa, a melhor adaptação cinematográfica do "mestre do mistério" desde O Nevoeiro (2007).
Com roteiro assinado pelo trio Chase Palmer, Cary Fukunaga e Gary Dauberman, It: A Coisa acerta ao se concentrar na primeira parte do livro de Stephen King. Ciente da variedade de temas e da diferença de tom entre as duas metades da obra original, Andy Muschietti é sagaz ao priorizar aqui o clima de aventura 'teen', ao se concentrar na revigorante relação entre os garotos, realçando o clima de descompromisso oitentista numa trama inicialmente marcada pelos diálogos "moleques", pelo humor sacana, pelo texto ágil e pela sorrateira construção da ameaça envolvendo a figura de Pennywise. Sem nunca apelar para o didatismo, o realizador, aliás, é impecável ao estabelecer o 'modus operandi' do macabro palhaço, ao mostrar como o medo o movia e o fortalecia, utilizando as suas inúmeras facetas não só nos inspirados (e visualmente impactantes) 'jump scares', como também para expor a intimidade dos protagonistas. Na verdade, além de evitar a banalização da versão "clássica" do antagonista, Muschietti é habilidoso ao torna-lo uma figura ainda mais presente nos dois primeiros atos, transformando o seu transmorfismo num inteligente instrumento narrativo.
É através do vilão, por exemplo, que descobrimos o impacto do luto na rotina do determinado Bill (Jaeden Lieberher), a castradora influência materna na personalidade do precavido Eddie (Jack Dylan Grazer) e a opressão religiosa na vida do introspectivo Stanley (Wyatt Oleff). Ou seja, além de assustadora, a sua presença é, aqui, também bastante reveladora e contribui ativamente para o excelente desenvolvimento dos protagonistas. Na trama, após uma série de misteriosos sumiços, entre eles do seu pequeno irmão Georgie (Jackson Robert Scott), o jovem Bill parece ser o único incomodado com tal situação. Diante da resignação dos seus pais, ele resolve descobrir o possível paradeiro do garotinho, contando apenas com o auxílio dos seus amigos, os 'losers' Eddie, Stanley, Ricchie (Finn Wolfhard, o grande ladão de cenas do filme) e Ben (Jeremy Ray Taylor). A sensação de perigo iminente, entretanto, ganha um novo sentido no momento em que o caminho deles cruza com o do maléfico Pennywise, uma figura tenebrosa que se "alimenta" de crianças e adolescentes. No meio das férias de verão, o grupo de perdedores decide se insurgir contra esta violenta figura, sem sequer desconfiar que a ameaça era íntima e que eles não tinham como fugir dela.
Equilibrando Terror, Aventura e Comédia com enorme desenvoltura, Andy Muschietti precisa apenas de uma cena para mostrar o quão impiedosa é a nova versão do Pennywise. Logo na sequência de abertura, um momento contundente e inesperadamente 'gore', o realizador estabelece o tom da película, realçando o clima de tensão presente na trama do primeiro ao último minuto. Ainda que a irreverente aura oitentista possa sugerir um clima de falsa segurança em torno dos protagonistas, o diretor é implacável ao colocar os jovens nas situações mais perigosas possíveis, tornando o processo de amadurecimento deles naturalmente compreensível aos olhos do público. Em meio aos hilários e bem orquestrados alívios cômicos, a maioria deles protagonizados pelo sarcástico Richie, um dos personagens mais engraçados de 2017, e o hipocondríaco Eddie, o argumento é gradativo ao utilizar a ameaçadora presença do palhaço, ao acompanhar os seus ferozes ataques, criando um interessante jogo de gato e rato entre eles. O susto, num primeiro momento, surge como a porta de entrada para o vilão, a brecha encontrada por ele minar a resistência das suas presas. Durante a maior parte dos dois primeiros atos, inclusive, Muschietti faz um esperto uso dos 'jump scares', estreitando a conexão entre o espectador e os personagens ao explorar o melhor do 'terrir' em takes naturalmente arrepiantes. Até porque, por mais "calejados" que nos tornemos ao longo da trama, as nossas reações tendem a ser as mesmas quando somos "trancados" num quarto lotado de palhaços sinistros. O grande trunfo da versão cinematográfica de It: A Coisa, no entanto, reside na astúcia do longa ao trazer o medo para o centro da história. No momento em que o roteiro parecia perto de desgastar a figura de Pennywise e se tornar estruturalmente repetitivo, Muschietti é cuidadoso ao trazer o subtexto crítico para o centro da película, transitando da fantasia para a realidade ao discorrer sobre temas como o preconceito racial, o abuso sexual na infância, a opressão paterna, a perda da inocência e o bullying. Indo de encontro ao teor estilizado proposto nas sequências em torno da criatura transmorfa, ele surpreende ao traduzir a violência urbana sob um prisma bem mais brutal e verossímil, realçando o viés reflexivo da obra original ao tratar o medo em sua face mais pura. Sem querer revelar muito, interpretada com enorme propriedade pela reluzente Sophie Lillis (olho nela), o arco dramático da magnética Beverly desponta como o mais denso da película, uma jornada recheada de simbolismos que absorve a força e a humanidade do texto de Stephen King.
Somado a isso, It: A Coisa é igualmente inteligente ao apontar a sua mira para os adultos. Numa solução genial, Andy Muschietti opta por pesar a mão quando o assunto são os pais, realçando o choque geracional ao torna-los figuras cartunescas e propositalmente unidimensionais. Uma visão desiludida sobre a vida adulta. Sem querer revelar muito, é interessante ver como os garotos refletem os erros dos seus pais, mas se insurgem contra eles no momento em que são obrigados a encarar os seus medos mais íntimos. Na metáfora proposta por King, e brilhantemente capturada nesta versão, Pennywise, então, surge como um agente catalisador, expondo o impacto dos traumas na rotina de qualquer indivíduo. Nem só de flores (e balões vermelhos), porém, vive o novo It. Por mais que a figura do antagonista seja bem estabelecida, a mitologia por trás do palhaço não é bem desenvolvida. Embora o gordinho nerd vivido pelo carismático Jeremy Ray Taylor tente contextualizar a sua presença, o fato é que a origem do vilão é introduzida com inegável descuido, o que pode se tornar um problema junto aos mais perfeccionistas. Encantado pela impagável dinâmica entre os protagonistas, o foco, como no livro, está na amizade entre eles, o realizador argentino também peca ao reduzir o tempo de tela de alguns dos importantes personagens de apoio. A começar pelo acuado Mike (Chosen Jacobs), o grande pivô do arco envolvendo o preconceito racial. Inicialmente bem introduzido, o personagem é praticamente esquecido ao longo do segundo ato, só retornando dentro do angustiante terço final. O grande problema do longa, entretanto, reside na figura do agressivo Henry (Nicholas Hamilton). Pintado inicialmente como o típico valentão do colégio, o detestável personagem ganha um desenvolvimento bem raso, culminando numa virada repentina e um tanto quanto gratuita. O poder de sugestão, aqui, não é o suficiente para sustentar esta mudança de atitude.
Deslizes que, indiscutivelmente, se tornam quase insignificantes diante do predicados estéticos de It: A Coisa. Fazendo um magnífico uso do sucateado set concebido pela direção de arte, Andy Muschietti brilha ao estabelecer a atmosfera de suspense, o clima de pavor em torno das aparições de Pannywise, impedindo que o longa se torne repetitivo ao investir em cenários lúdicos, habitáveis e naturalmente sombrios. As sequências na casa abandonada e no fosso da criatura, por exemplo, são sensacionais, incrementando as aparições do monstro sem contrariar a proposta aventuresca defendida pelo diretor. Além disso, por mais que o CGI seja bem utilizado na composição das expressões do antagonista, Muschietti brilha ao abraçar também os sempre realísticos efeitos práticos, indo além da maquiagem 'creep' do palhaço ao criar figuras genuinamente assustadoras. Na verdade, as aparições de Pennywise são cercadas de adrenalina, muito em função da sua pavorosa movimentação descontrolada, da utilização de elementos como a luz\água e da insana performance "zombeteira" do jovem Bill Skarsgård. Um triunfo que, diga-se de passagem, merece ser dividido com a estilosa direção de Muschietti e com a iluminada fotografia diurna do virtuoso Chung-Hoon Chung (Oldboy). Com movimentos de câmera fluídos e criativos enquadramentos, o diretor argentino nos coloca no centro da ação ao acompanhar bem de perto as peripécias dos protagonistas, elevando a escala de tensão ao investir em magníficos takes subjetivos, em nervosos planos fechados e em imersivos planos abertos. Tudo é muito claro aos olhos do público. Nas sequências mais combativas, inclusive, ele potencializa a sensação de caos ao apostar em movimentos bruscos, mas sempre compreensíveis, mostrando um esperto senso de simultaneidade ao ressaltar a ação coletiva do grupo. Numa sacada de mestre, aliás, Muschietti opta por dar uma leve inclinada no eixo da câmera durante as cenas mais ameaçadoras, o popular plano holandês, um recurso aparentemente despretensioso, mas que logo se torna decisivo para a preparação do clima de pavor em torno das iminentes aparições de Pennywise.
Com um elenco jovem liderado pelo talentoso Jaeden Lieberher, sensível ao reproduzir os dramáticos sentimentos do seu Bill sem prejudicar o viés aventureiro proposto pelo roteiro, It: A Coisa empolga ao encontrar na fantasia a possibilidade de desmascarar os monstros da vida real. Reverente à obra original, Andy Muschietti mostra um raro senso de coesão narrativa ao transitar entre gêneros tão distintos sem nunca perder o tom, buscando referência em arquétipos de clássicos oitentistas do porte de A Garota de Rosa Shocking (1986) e Os Garotos Perdidos (1987) aos entregar uma adaptação vibrante capaz de realmente mexer com as nossas emoções. Um filme com inúmeras camadas que ao, criar uma sincera conexão entre o público e os personagens, permite que sintamos os seus medos, interiorizemos a sua crescente coragem e enxerguemos que a realidade pode ser bem mais assustadora do que qualquer palhaço da ficção.
É através do vilão, por exemplo, que descobrimos o impacto do luto na rotina do determinado Bill (Jaeden Lieberher), a castradora influência materna na personalidade do precavido Eddie (Jack Dylan Grazer) e a opressão religiosa na vida do introspectivo Stanley (Wyatt Oleff). Ou seja, além de assustadora, a sua presença é, aqui, também bastante reveladora e contribui ativamente para o excelente desenvolvimento dos protagonistas. Na trama, após uma série de misteriosos sumiços, entre eles do seu pequeno irmão Georgie (Jackson Robert Scott), o jovem Bill parece ser o único incomodado com tal situação. Diante da resignação dos seus pais, ele resolve descobrir o possível paradeiro do garotinho, contando apenas com o auxílio dos seus amigos, os 'losers' Eddie, Stanley, Ricchie (Finn Wolfhard, o grande ladão de cenas do filme) e Ben (Jeremy Ray Taylor). A sensação de perigo iminente, entretanto, ganha um novo sentido no momento em que o caminho deles cruza com o do maléfico Pennywise, uma figura tenebrosa que se "alimenta" de crianças e adolescentes. No meio das férias de verão, o grupo de perdedores decide se insurgir contra esta violenta figura, sem sequer desconfiar que a ameaça era íntima e que eles não tinham como fugir dela.
Equilibrando Terror, Aventura e Comédia com enorme desenvoltura, Andy Muschietti precisa apenas de uma cena para mostrar o quão impiedosa é a nova versão do Pennywise. Logo na sequência de abertura, um momento contundente e inesperadamente 'gore', o realizador estabelece o tom da película, realçando o clima de tensão presente na trama do primeiro ao último minuto. Ainda que a irreverente aura oitentista possa sugerir um clima de falsa segurança em torno dos protagonistas, o diretor é implacável ao colocar os jovens nas situações mais perigosas possíveis, tornando o processo de amadurecimento deles naturalmente compreensível aos olhos do público. Em meio aos hilários e bem orquestrados alívios cômicos, a maioria deles protagonizados pelo sarcástico Richie, um dos personagens mais engraçados de 2017, e o hipocondríaco Eddie, o argumento é gradativo ao utilizar a ameaçadora presença do palhaço, ao acompanhar os seus ferozes ataques, criando um interessante jogo de gato e rato entre eles. O susto, num primeiro momento, surge como a porta de entrada para o vilão, a brecha encontrada por ele minar a resistência das suas presas. Durante a maior parte dos dois primeiros atos, inclusive, Muschietti faz um esperto uso dos 'jump scares', estreitando a conexão entre o espectador e os personagens ao explorar o melhor do 'terrir' em takes naturalmente arrepiantes. Até porque, por mais "calejados" que nos tornemos ao longo da trama, as nossas reações tendem a ser as mesmas quando somos "trancados" num quarto lotado de palhaços sinistros. O grande trunfo da versão cinematográfica de It: A Coisa, no entanto, reside na astúcia do longa ao trazer o medo para o centro da história. No momento em que o roteiro parecia perto de desgastar a figura de Pennywise e se tornar estruturalmente repetitivo, Muschietti é cuidadoso ao trazer o subtexto crítico para o centro da película, transitando da fantasia para a realidade ao discorrer sobre temas como o preconceito racial, o abuso sexual na infância, a opressão paterna, a perda da inocência e o bullying. Indo de encontro ao teor estilizado proposto nas sequências em torno da criatura transmorfa, ele surpreende ao traduzir a violência urbana sob um prisma bem mais brutal e verossímil, realçando o viés reflexivo da obra original ao tratar o medo em sua face mais pura. Sem querer revelar muito, interpretada com enorme propriedade pela reluzente Sophie Lillis (olho nela), o arco dramático da magnética Beverly desponta como o mais denso da película, uma jornada recheada de simbolismos que absorve a força e a humanidade do texto de Stephen King.
Somado a isso, It: A Coisa é igualmente inteligente ao apontar a sua mira para os adultos. Numa solução genial, Andy Muschietti opta por pesar a mão quando o assunto são os pais, realçando o choque geracional ao torna-los figuras cartunescas e propositalmente unidimensionais. Uma visão desiludida sobre a vida adulta. Sem querer revelar muito, é interessante ver como os garotos refletem os erros dos seus pais, mas se insurgem contra eles no momento em que são obrigados a encarar os seus medos mais íntimos. Na metáfora proposta por King, e brilhantemente capturada nesta versão, Pennywise, então, surge como um agente catalisador, expondo o impacto dos traumas na rotina de qualquer indivíduo. Nem só de flores (e balões vermelhos), porém, vive o novo It. Por mais que a figura do antagonista seja bem estabelecida, a mitologia por trás do palhaço não é bem desenvolvida. Embora o gordinho nerd vivido pelo carismático Jeremy Ray Taylor tente contextualizar a sua presença, o fato é que a origem do vilão é introduzida com inegável descuido, o que pode se tornar um problema junto aos mais perfeccionistas. Encantado pela impagável dinâmica entre os protagonistas, o foco, como no livro, está na amizade entre eles, o realizador argentino também peca ao reduzir o tempo de tela de alguns dos importantes personagens de apoio. A começar pelo acuado Mike (Chosen Jacobs), o grande pivô do arco envolvendo o preconceito racial. Inicialmente bem introduzido, o personagem é praticamente esquecido ao longo do segundo ato, só retornando dentro do angustiante terço final. O grande problema do longa, entretanto, reside na figura do agressivo Henry (Nicholas Hamilton). Pintado inicialmente como o típico valentão do colégio, o detestável personagem ganha um desenvolvimento bem raso, culminando numa virada repentina e um tanto quanto gratuita. O poder de sugestão, aqui, não é o suficiente para sustentar esta mudança de atitude.
Deslizes que, indiscutivelmente, se tornam quase insignificantes diante do predicados estéticos de It: A Coisa. Fazendo um magnífico uso do sucateado set concebido pela direção de arte, Andy Muschietti brilha ao estabelecer a atmosfera de suspense, o clima de pavor em torno das aparições de Pannywise, impedindo que o longa se torne repetitivo ao investir em cenários lúdicos, habitáveis e naturalmente sombrios. As sequências na casa abandonada e no fosso da criatura, por exemplo, são sensacionais, incrementando as aparições do monstro sem contrariar a proposta aventuresca defendida pelo diretor. Além disso, por mais que o CGI seja bem utilizado na composição das expressões do antagonista, Muschietti brilha ao abraçar também os sempre realísticos efeitos práticos, indo além da maquiagem 'creep' do palhaço ao criar figuras genuinamente assustadoras. Na verdade, as aparições de Pennywise são cercadas de adrenalina, muito em função da sua pavorosa movimentação descontrolada, da utilização de elementos como a luz\água e da insana performance "zombeteira" do jovem Bill Skarsgård. Um triunfo que, diga-se de passagem, merece ser dividido com a estilosa direção de Muschietti e com a iluminada fotografia diurna do virtuoso Chung-Hoon Chung (Oldboy). Com movimentos de câmera fluídos e criativos enquadramentos, o diretor argentino nos coloca no centro da ação ao acompanhar bem de perto as peripécias dos protagonistas, elevando a escala de tensão ao investir em magníficos takes subjetivos, em nervosos planos fechados e em imersivos planos abertos. Tudo é muito claro aos olhos do público. Nas sequências mais combativas, inclusive, ele potencializa a sensação de caos ao apostar em movimentos bruscos, mas sempre compreensíveis, mostrando um esperto senso de simultaneidade ao ressaltar a ação coletiva do grupo. Numa sacada de mestre, aliás, Muschietti opta por dar uma leve inclinada no eixo da câmera durante as cenas mais ameaçadoras, o popular plano holandês, um recurso aparentemente despretensioso, mas que logo se torna decisivo para a preparação do clima de pavor em torno das iminentes aparições de Pennywise.
Com um elenco jovem liderado pelo talentoso Jaeden Lieberher, sensível ao reproduzir os dramáticos sentimentos do seu Bill sem prejudicar o viés aventureiro proposto pelo roteiro, It: A Coisa empolga ao encontrar na fantasia a possibilidade de desmascarar os monstros da vida real. Reverente à obra original, Andy Muschietti mostra um raro senso de coesão narrativa ao transitar entre gêneros tão distintos sem nunca perder o tom, buscando referência em arquétipos de clássicos oitentistas do porte de A Garota de Rosa Shocking (1986) e Os Garotos Perdidos (1987) aos entregar uma adaptação vibrante capaz de realmente mexer com as nossas emoções. Um filme com inúmeras camadas que ao, criar uma sincera conexão entre o público e os personagens, permite que sintamos os seus medos, interiorizemos a sua crescente coragem e enxerguemos que a realidade pode ser bem mais assustadora do que qualquer palhaço da ficção.
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