Na semana do Dia Internacional das Mulheres, nada mais justo do que
exaltar o crescente movimento em torno da igualdade de gêneros em Hollywood.
Embora a disparidade salarial ainda seja um problema evidente, o fato é que a "indústria" tem tratado de dar uma relevância maior às personagens
femininas. Nos últimos cinco anos, inclusive, me arrisco a dizer que uma parte
considerável das grandes produções de Hollywood foram
protagonizadas por mulheres, refutando uma velha máxima envolvendo a baixa rentabilidade das produções estreladas por protagonistas femininas. Uma teoria estapafúrdia que caiu por terra, por exemplo, com o
indiscutível êxito de Star Wars: O Despertar da Força (US$ 2,06 bi ao redor do
mundo), da franquia Jogos Vorazes e do espetacular Mad Max: Estrada da Fúria.
Dito isso, nesta matéria especial fizemos uma lista com algumas das novas e
mais relevantes personagens femininas do Cinema. Só para deixar claro, como a
intenção é exaltar a criação dos roteiristas e \ou diretores, neste
post iremos nos ater somente aos personagens ficcionais. Desta forma, começamos
com...
O que falar de um filme que estreou há tão pouco tempo e eu já considero
tanto... Numa daquelas sacadas que só um corajoso realizador poderia ter, o
setentão George Miller transformou uma franquia essencialmente masculina numa
ode ao feminismo moderno em Mad Max: Estrada da Fúria. Contrariando o seu próprio título, o quarto capítulo da saga
pós-apocalíptica traz a incrível Imperatriz Furiosa como a grande protagonista
desta sequência. No embalo da fantástica atuação de Charlize Theron, a
comandante se revela a força motora do longa ao "sequestrar" as
escravas sexuais do nefasto Imortan Joe e livra-las da sua tirania. Esbanjando
energia, a atriz sul-africana abre mão da sua reconhecida beleza para dar corpo
e voz a uma personagem indispensável, um elemento revolucionário dentro de uma
franquia tão bem estabelecida. Leia a nossa crítica aqui.
- Mia (La La Land)
A alma do musical de Damien Chazelle, a Mia de Emma Stone encanta ao
representar os anseios da mulher atual. Independente, resiliente e
absolutamente dedicada, a personagem absorve os dilemas da aspirante à atriz
com enorme propriedade, nos fazendo enxergar os anseios, as desilusões e os
obstáculos impostos na rotina daqueles que desejam abraçar os seus sonhos. Uma
apaixonante protagonista num charmoso musical. Leia a nossa crítica aqui.
- Tiffany (O Lado Bom da Vida)
Estrela da elogiada franquia Jogos Vorazes, onde vive a guerreira Katniss, Jennifer Lawrence comprovou realmente todo o seu talento ao construir a complexa e desbocada Tiffany em O Lado Bom da Vida. Flertando com a insanidade ao longo da trama dirigida por David O. Russel, Tiffany é uma daquelas personagens que rapidamente conquistam o espectador. Demonstrando uma impecável química com Bradley Cooper, Lawrence constrói uma personagem até certo ponto simples, mas que se torna comovente ao lutar para recuperar o rumo de sua vida após uma grande tragédia familiar. Um comédia deliciosa, que merecidamente rendeu o Oscar de Melhor Atriz para essa força da natureza chamada Jennifer Lawrence.
- Paula (Moonlight)
Naomie Harris precisa de apenas três grandes sequências para merecer
espaço nesta lista. Dando vida a uma mãe viciada em drogas, a talentosa atriz
britânica comove ao extrair a humanidade por trás da relapsa Paula, criando uma
figura impactante e inesperadamente amorosa. Além de traduzir a deterioração
física da sua personagem com louvor, Harris brilha ao realçar os sentimentos
desta figura materna durante os seus lampejos de lucidez, nos brindando com uma
atuação exemplar. Uma realística personagem num sensível drama. Leia a nossa crítica aqui.
- Ava (Ex-Machina)
Ao que parece, no entanto, os distribuidores brasileiros ainda não
aprenderam a sua lição. Lançado diretamente em DVD no mercado nacional,
Ex-Machina é uma instigante pérola do cinema
Sci-Fi. Com um orçamento enxuto em mãos, o diretor Alex Garland transforma a
robótica Ava numa das personagens mais complexas de 2015. Interpretada com
maestria pela sensação Alicia Vikander, a inteligência artificial se revela um
elemento chave dentro do longa. Através desta sedutora figura, o realizador
investiga questões essencialmente humanas, dentre elas a nossa relação com as
novas tecnologias, a desumanização do indivíduo e as imperfeições por trás da
nossa existência. Isso tudo num suspense elegante e naturalmente feminista. Leia a nossa crítica aqui.
- Susan Cooper (A Espiã
que sabia de Menos)
Durante anos nos acostumamos a ver as mulheres como símbolos sexuais em
filmes de espionagem. Isso é um fato inquestionável. O diretor Paul Feig, no
entanto, resolveu mudar este cenário. Ao lado da sua inestimável parceira
Melissa McCarthy, o realizador nos brindou com o hilário A Espiã que Sabia de
Menos. Contrariando todos os clichês do gênero, o
realizador foge das fórmulas fáceis ao acompanhar a jornada de autoafirmação da
pacata Susan Cooper, uma analista da CIA que do "dia para a noite" é
a escolhida para assumir uma perigosa missão. Em meio as hilárias piadas, a
transformação desta pacata mulher em uma confiante espiã é absolutamente bem
conduzida pelo longa, mostrando que um pessoa não deve ser resumida ao peso e a
aparência. A "Espiã" se tornou um inesperado sucesso de público, recebendo, inclusive, duas indicações a o Globo de Ouro 2016. Leia a nossa crítica aqui.
- Louise (A Chegada)
Se Mia é a alma de La La Land, Louise é o coração de A Chegada. Num dos
filmes mais inteligentes de 2016, a talentosa Amy Adams fascina ao interpretar
uma doutora em linguística que passa a refletir sobre a sua própria existência
após ser escalada para interpretar os sinais emitidos por uma nave alienígena.
Vou parar por aqui porque este é o tipo de filme que merece ter os seus
segredos protegidos. Leia a nossa crítica aqui.
- Nelly (Phoenix)
Essa é uma daquelas pérolas que merecem ser descobertas. Num drama com toques de suspense, a talentosa Nina Hoss entrega uma das melhores performances do ano ao interpretar uma devastada sobrevivente do holocausto. Em Phoenix a atriz interpreta Nelly, uma mulher desfigurada que, após uma cirurgia de reconstrução da face, resolve se reaproximar do ex-marido na tentativa de descobrir quem a entregou aos nazistas. Numa analogia envolvendo o mito da ave Fênix, Nelly renasce das cinzas à medida que se reaproxima do seu velho passado, reencontrando tanto a sua própria identidade, quanto a força necessária para encontrar as respostas para as suas perguntas. Por mais devastadoras que elas possam ser. Um filmaço. Leia a nossa crítica aqui.
Destemida e incorruptível, Kate Macer se revela o grande símbolo do
crítico e contundente Sicario: Terra de
Ninguém. Numa personagem repleta de boas intenções,
a magnética Emily Blunt enche a tela de emoção ao traduzir as nuances de uma
idealista agente do FBI disposta a tudo para colocar fim a um poderoso chefão
do narcotráfico mexicano. Indo da destemida à incapaz com extrema naturalidade,
a atriz é habilidosa ao tirar proveito das nuances possibilitadas pelo roteiro,
acrescentando uma incrível dose de humanidade a sua Kate. Sem querer revelar
muito, a desconstrução física e emocional
da sua personagem é digna de aplausos, principalmente pela maneira com que o
diretor Dennis Villeneuve (Suspeitos) desenvolve a a crise ética da agente diante desta nebulosa
missão. Leia a nossa crítica aqui.
- Carol Aird (Carol)
Inspirado no romance The Price of Salt, de Patricia Highsmith, Carol volta ao passado para mostrar uma história de amor
e intolerância que ainda hoje se revela extremamente pertinente. Através da
elegante Carol Aird, uma mulher à frente do seu tempo, nos deparamos com o
preconceito da sociedade da época ao acompanhar a relação entre ela e a tímida
Theresa (Rooney Mara). Reconhecida por dar vida a tipos naturalmente refinados,
Cate Blanchett entrega uma das performances mais complexas da sua elogiada
filmografia, passeando com maturidade pelo turbilhão de situações enfrentadas
por Carol. Numa figura completamente independente, a experiente atriz hipnotiza
ora como uma apaixonante mulher inebriada por um repentino caso de amor, ora como
uma devastada mãe obrigada a conviver com as consequências dos seus sentimentos. Leia a nossa crítica aqui.
- Gamora (Guardiões da Galáxia)
Uma das grandes surpresas do universo cinematográfico da Marvel,
Guardiões da Galáxia nos apresentou a indomável Gamora, uma alienígena
'bad-ass' e inteligente interpretada com energia por Zoe Saldana. Dona de uma
personalidade independente, a heroina roubou a cena dentro do primeiro longa da
franquia, se esquivando a qualquer custo dos clichês ao se revelar uma figura
indomável e naturalmente engraçada. Leia a nossa crítica aqui.
- Joy (O Quarto de Jack)
Inspirado no 'best-seller' da escritora Emma Donoghue, O Quarto de Jack se esquiva por completo dos melodramas ao adaptar
uma premissa ao mesmo tempo dolorosa e reconfortante. Sem recorrer aos clichês
do tema, o longa dirigido por Lenny Abrahamson é sensível ao reproduzir um
nefasto episódio na vida de Joy, uma jovem mantida em cativeiro ao lado do seu
carismático filho. Indo da esperançosa à devastada com suavidade, a vencedora
do Oscar Brie Larson esbanja elegância ao expor as nuances da complexa Joy,
escondendo no seu traumatizado olhar uma gama de sentimentos difícil de resumir
em palavras. Um relato surpreendente e desconfortavelmente encantador sobre uma
mãe que, na tentativa de impedir que o seu filho experimentasse os horrores
deste episódio, transformou o seu cativeiro num lugar mágico e único no mundo. Leia a nossa crítica aqui.
- Ryan (Gravidade)
Numa época em que muitas atrizes reclamam da falta de bons papéis para
personagens femininas, Sandra Bullock é um dos raros nomes que conseguiu
permanecer firme entre as grandes produções. Vencedora do Oscar por Um Sonho
Possível, Bullock repetiu a dose no espetacular Gravidade. Num daqueles longas
que parecem à frente do seu tempo, a atriz dá vida a obstinada Ryan, uma
astronauta com pouca experiência que acaba ficando à deriva no espaço após ser
atingida por uma chuva de destroços. Esbanjando carisma e energia em cena,
Bullock consegue levar o longa praticamente nas costas, construindo uma
personagem forte num longa repleto de simbolismos. Uma atuação laureada não só
pela crítica, mas também pelo público, vide os mais de US$ 716 milhões
conseguidos nas bilheterias internacionais. Leia a nossa crítica aqui.
- Minny (Histórias Cruzadas)
Fugindo dos estereótipos envolvendo os filmes sobre as questões raciais,
Histórias Cruzadas procurou mostrar a força das mulheres negras em meio ao
latente preconceito racial nos EUA da década de 1950. Apesar de Viola Davis ter
a atuação mais dramática do longa, é a carismática Octavia Spencer e a sua
Minny a décima colocada nesta seleta lista. Vencedora do Oscar de Melhor Atriz
Coadjuvante, a atriz vive uma daquelas personagens magnéticas, que rouba a cena
através do bom humor e de sua irreverência. Em meio a um tema tão sério, Minny
é uma daquelas personagens que não se contenta com a sua situação e resolve
fazer a sua parte na luta contra a segregação racial. Um baita filme e uma
grande personagem.
- Anna Morales (O Ano mais Violento)
Interpretada pela talentosíssima Jessica Chastain, Anna é a verdadeira
alma do excelente drama O Ano Mais Violento.
Dividindo a tela com o excelente Oscar Isaac, a atriz atrai os holofotes ao dar
vida a mulher de um correto empresário hispânico disposto a prosperar num
mercado preconceituoso e voraz. Na contramão dos clichês, é da indomável Anna a
postura mais agressiva do longa, o que rende discussões poderosas entre marido
e mulher. Numa daquelas personagens que merecia maior espaço em cena, a
eloquente atriz constrói uma mulher vibrante, dúbia e influente, um tipo raro
dentro do cinema atual. Leia a nossa crítica aqui.
- Frances (Frances Ha)
Uma das mais apaixonantes personagens desta lista, Frances é a
autenticidade em pessoa. Radiante, atrapalhada e carismática, a jovem sonhava
em se tornar bailarina. Enquanto não consegue viver da sua arte, Frances se
apoia no ombro amigo de sua amiga Sophie, principalmente após recusar morar com
seu namorado. Tudo muda, no entanto, quando Sophie faz diferente e decide
deixar o apartamento que dividia com Frances ao aceitar se mudar para a casa do
namorada. Sozinha e sem dinheiro para manter o apê, Frances passa então a ter
que enfrentar os dilemas da vida adulta, se esforçando para não perder o alto
astral. Estrelado pela carismática Greta Gerwig, na minha opinião uma das mais
interessantes atrizes desta nova safra, Frances Ha é um daqueles filmes que não
merecem passar despercebidos. Um longa charmoso, repleto de estilo, que mostra
também o talento do diretor Noah Baumbach. Leia a nossa crítica aqui.
- Moana (Moana)
A primeira princesa da Disney que não "depende" de um príncipe
encantado não poderia ficar de fora desta lista. Disposta a superar os
obstáculos impostos pelo ambiente que a cerca, Moana é uma das personagens mais
corajosas da história da Disney. Inteligente, destemida e inabalável, a pequena
princesa maori se torna o símbolo de uma animação extraordinária, um relato
atual sobre o empoderamento feminino e sobre a construção de uma identidade
própria. Um filme libertador. Leia a nossa crítica aqui.
- Rey (Star Wars: O Despertar da Força)
E por fim chegamos a ela. Talvez a grande sensação de 2015, a indomável
Rey se transformou naturalmente num dos principais trunfos do estrondoso Star
Wars: O Despertar da Força. Numa sacada de mestre da Disney, o misto de
reboot e refilmagem fez da talentosa Daisy Ridley a sua grande protagonista,
dando a esta incrível personagem um "poder" poucas vezes visto dentro
de uma franquia deste porte. Ainda que a inesquecível Princesa Leia (Carrie
Fisher) já tivesse um reconhecido papel de destaque dentro da franquia, só
agora um tipo feminino realmente assumiu o controle da situação. Completamente
destemida, a jovem sucateira é a personagem que tem o melhor desenvolvimento
dentro do Episódio VII, crescendo assustadoramente ao longo das envolventes 2 h
e 15 min de projeção. Dando vida a uma figura inicialmente dócil, a carismática
Ridley exibe enorme expressividade ao acompanhar a evolução da sua Rey,
entregando uma performance arrebatadora dentro do excelente clímax. Leia a nossa crítica aqui.
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