sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Crítica | "O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface" se equilibra perigosamente entre a brutalidade e a imbecilidade numa 'requel' frustrante


Em 1974, o cineasta Tobe Hooper abalou as estruturas do cinema de horror com o lançamento de "O Massacre da Serra Elétrica". Desde "A Noite dos Mortos Vivos" (1968) Hollywood não via um filme tão cru chegar ao mainstream. Uma obra marginal, mas com virtudes estéticas inegáveis. Um longa visceral, mas capaz de usar o terror para expor uma outra face dos EUA. Um país consumido pelo ódio, pela miséria e pela disfuncionalidade. Uma América que os EUA destrinchou sem pudor ao longo dos anos 1970.


Após o sucesso do cultuado longa setentista, muitos produtores tentaram revitalizar a marca "Texas Chainsaw Massacre". Nenhum chegou perto de conseguir. Nenhum conseguiu enxergar além do peso da violência gráfica. Talvez a mais ousada dessas continuações, "O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface" renega tudo o que foi lançado nas últimas décadas ao se assumir como uma sequência direta do original.


É interessante ver como a produção Netflix dirigida por David Blue Garcia dialoga com o teor do hit de horror de 1974 ao focar primeiro no elemento social. Os jovens ignorantes do passado ficaram para trás. A nova geração "invade" com ideais próprios. Sobreviventes de um atentado numa escola norte-americana, os engajados Dante (Jacob Latimore), Melody (Sarah Yarkin), Ruth (Nell Hudson) e Lila (Elsie Fisher) resolvem tirar proveito da decadência econômica de uma cidade do interior para estabelece um utópico conceito de futuro através da especulação imobiliária.


Em "O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface", as boas intenções dos jovens adultos escondem a gentrificação. Assim como no original, Garcia usa a inocência como o botão que aciona a explosão de violência. Um começo promissor aniquilado, primeiro, pela maneira descuidada com que o roteiro de Chris Thomas Devlin mergulha nas intenções dos protagonistas. A ambiguidade com que o texto explora o viés progressista dos personagens não é por si só um problema. O que pesa aqui é ver como o filme trata temas sensíveis como a violência gerada pela bélica sociedade americana apenas como um mero gatilho narrativo sem peso. É a violência como resposta a violência.


"O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface" se equilibra perigosamente entre a brutalidade e a imbecilidade numa sequência que distorce, mas entrega quando o assunto é o horror. Por trás do mau uso de temas complexos existe um argumento que funciona dentro do que se propõe. Green enxerga a beleza no horror ao resgatar a imponência do temido Leatherface com um olhar que humaniza para chocar. Uma abordagem que, embora faça pouco sentido, não afeta em nada a ferocidade da continuação. A sequência do ônibus, em especial, (mesmo com um CGI sem peso) entrega aquilo que o público esperaria ver de um filme que traz no título as palavras "massacre" e "serra elétrica".


A violência em "O Retorno de Leatherface" faz jus ao original. Garcia resgata a potência visual da obra de Tobe Hopper ao criar sequências imagéticas capazes de enervar. Isso até o longa sucumbir aos clichês de dez entre dez filmes de horror pasteurizados. Isso até descobrimos que o passado, aqui, está a serviço de um novo (e frustrante) começo. Com um último ato desastroso, "O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface" termina zombando da inteligência do espectador ao mostrar o quão grande pode ser o abismo que separa um filme brutal de uma obra pesada.


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