quinta-feira, 1 de julho de 2021

Crítica | Mortal Kombat

 WO

O novo Mortal Kombat é um Mortal Kombat que se leva a sério. Um erro crasso. Chega a ser risível ver o esforço do diretor Simon McQuoid em criar uma adaptação com uma pretensa substância dramática. Estamos diante de um projeto totalmente equivocado. Um longa que se envergonha das suas origens. Que renega o protagonismo dos seus heróis. Esqueça Liu Kang, Johnny Cage ou Sonya Blade. O guerreiro pelo qual nós temos que torcer é um lutador de MMA sem sal chamado Cole (Lewis Tan, sofrível). Uma solução pensada para trazer a realidade para a trama. Pensada para estabelecer uma mitologia furada que o rascunho de roteiro faz questão de descartar ao trocar o senso de jornada por referências gratuitas. 

A trama em si até respeita os fundamentos do jogo. Temos a Terra. Temos o Outworld. Temos o torn... Ops! Não temos torneio. Não oficialmente. Shang Tsung (Chin Han) quer melar a nova edição. O que ele faz para aniquilar a nossa última linha de defesa? Traz os seus principais lutadores para cá e os obriga (adivinha?) a lutar contra os combalidos guerreiros. Para quê desenvolver cenários? Para quê gastar dinheiro com isso? O diretor prefere cinco minutos de um Goro em cena (num CGI até legal) do que investir na construção de mundo. É inacreditável ver como McQuoid testa a nossa inteligência. Ele acredita que a ultra-violência, a caracterização decente e um dramalhão familiar seria o bastante. O desapego quanto a mitologia é uma afronta. A clássica rivalidade entre Scorpion e Sub-Zero, por exemplo, vira o pano de fundo para a (patética) jornada de Cole. Uma gigantesca inversão de valores. 

Todo o subplot envolvendo a busca do arcano (o supergolpe dos lutadores) é resolvido com uma conveniência assustadora. É impossível não fazer uma comparação com o Mortal Kombat de 1995. Com uma simplicidade revigorante, Paul W.S Anderson tirou do papel uma adaptação com vigor estético, um elenco carismático, um senso humor inteligente e personagens bem caracterizados. Um filme que prezava pela construção de mundo. Pelo senso de jornada. A cada luta os heróis se fortaleciam. Mais do que capturar o visual do jogo, Anderson entendeu a lógica de Mortal Kombat. Um senso de progressão que, inclusive, fortaleceu as microdinâmicas entre os personagens. O arco de Liu Kang cresce até o tenso confronto final. Os personagens realmente se empoderam sem "macetes". Sem atalhos.  

No novo Mortal Kombat o que vemos são cenas escuras. Personagens sisudos. Figurinos (e atuações) sem vida. Diálogos patéticos (por que todo mundo tem que se apresentar?). Coreografias genéricas. A pressa do cineasta para “resolver” a ação é constrangedora. Simon McQuoid não entrega o mínimo. Ele gasta o sonolento segundo ato para sugerir um processo de treinamento que nunca se concretiza. O diretor tem pressa para "zerar o jogo". Um personagem ganha os poderes se irritando. O outro (esse é inacreditável) levantando uma pedra. Ter um braço robótico virou uma dádiva mitológica. Este é o nível do novo Mortal Kombat. Algo está errado quando o Kano é o melhor personagem da nova adaptação. Pobre Liu Kang... Um filme de origem inchado e sem personalidade que aponta para um futuro nada convidativo. 


Post originalmente publicado no meu Instagram. Me siga por lá no @blog_cinemaniac.

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