quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Crítica | O Halloween do Hubie

Alguém se divertiu, mas não fui eu...

Vamos tirar o elefante da sala. Não sou um ‘hater’ do Adam Sandler. Longe disso. Como Se Fosse a Primeira Vez, por exemplo, foi um dos pouquíssimos filmes que vi duas vezes no cinema. Gosto das suas comédias familiares dos anos 1990. Acho um ator que, quando desafiado, costuma entregar ótimas atuações. Dito isso, O Halloween do Hubie é uma experiência sofrível. O tipo de obra em que, claramente, a diversão ficou no set de filmagens. 

Mais uma vez Adam Sandler reúne os seus principais amigos\colaboradores numa produção demasiadamente familiar. E aqui não me refiro somente ao tom afável da comédia da Netflix. Ao trabalhar com os seus pares, o astro de Joias Brutas volta para a sua zona de conforto. Uma região que, nos últimos anos, tem se tornado sinônimo de filmes no mínimo problemáticos. Embora parta de uma premissa até curiosa, O Halloween do Hubie frustra ao não se comprometer verdadeiramente nem com a comédia, nem tão pouco com o terror. Sob a descompromissada batuta de Steven Brill, o longa renega o seu potencial ao investir num fiapo de trama sustentado pelo carismático elenco e pelo humor de improviso\repetição. Sandler lidera um show com hits batidos. Mais uma vez na pele de um tipo abobalhado, o ator entrega uma das performances mais histriônicas e menos engraçadas da sua carreira. 


O seu Hubie é até cativante, ingênuo, mas não vai muito além disso. Uma figura digna de pena que, após anos sofrendo ‘bullying’ por sua postura zelosa no Halloween, é o único a notar uma série de enigmáticos desaparecimentos. Apesar do cenário fértil, Steven Brill não se preocupa em construir o humor. As gags nascem da individualidade dos atores e da capacidade deles em extrair algo de um texto bobo e pueril. A sequência na casa assombrada sintetiza esta falta de ideias. O imersivo cenário é desperdiçado com uma série de sustos fakes e gritos aleatórios dos protagonistas. Na dúvida, o realizador opta por rir dos seus personagens. Os momentos de maior inspiração cômica, na verdade, vêm do núcleo de apoio. Em especial do impagável lobisomem vivido por Steve Buscemi e do vestuário da sempre carismática June Squibb. Um problema que, infelizmente, se repete também quando o assunto é o elemento sombrio.

É aqui que O Halloween de Hubie frustra mais. Confesso que estava na expectativa para ver Adam Sandler protagonizar um genuíno representante do “terrir”. Pensei em Os Caça-Fantasmas. O que vi, porém, foi uma produção capaz de fazer os recentes live-action do Scooby-Doo parecerem filmes melhores. O roteiro trata o fantasmagórico com um desdém constrangedor. Para que situar a trama em Salem se Steven Brill sequer tem o trabalho de desenvolver algum tipo de mitologia? Por mais que, de fato, as sequências de desparecimento sejam até bem resolvidas visualmente, o longa em momento algum se preocupa em ensaiar a atmosfera de perigo. Ou em explorar as possibilidades insinuadas pelo plot. Tudo não passa de motivo de piada. Se pelo menos elas fossem boas...

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