Representatividade e decepção
Esqueça a construção narrativa. Esqueça
a atmosfera de tensão. Esqueça o desenvolvimento de personagens. O problema,
aqui, vai além da superficialidade. A dupla de cineastas realmente acredita que
imagens aleatórias de violência contra a mulher, flashbacks estilizados desconectados e um
fiapo de trama envolvendo reencarnação era o bastante para construir um arco
dramático. A rica cultura indiana é empobrecida num plot que a todo momento
subestima a inteligência do público com superstições gratuitas e um destoante
tom folhetinesco. Ao invés
de estudar as sequelas deste problema dilacerante, Elan e Rajeev preferem a dramatização. Ao
invés de analisar o estrago causado por homens como Sandeep, a dupla prefere
construir o mistério.
O suspense surge para desacreditar
a vítima, a traumatizada Usha (interpretada com afinco por Sarita Choudhury). Quando
ela vê a sua filha (Sunita Mani, limitada pela personagem) envolvida com um
homem de passado nebuloso, feridas nunca cicatrizadas voltam a se abrir. No
papel, uma premissa extremamente atual. Na prática, um argumento que, na ânsia
de construir a tensão em torno da natureza do novo pretendente, erra feio ao
fantasiar a realidade. Elan e Rajeev Dassani sacrificam a universalidade da
crítica ao enxergar o mal como algo puro e unidimensional. O hinduísmo serve como
uma “desculpa” para a construção de um ‘plot twist’ oco, repentino e previsível.
O que ajuda a explicar a fragilidade narrativa da produção. O tipo de obra que
sacrifica o desenvolvimento dramático para impactar através de uma reviravolta.
Paupérrimo também esteticamente, as
conversas entre mãe e filha por um Skype imaginário escancaram a falta de
ideias da direção, Evil Eye é um thriller com alma de ‘soap opera’ que se
sustenta minimamente na representatividade. Como é legal ver um filme da
Blumhouse formado majoritariamente por indianos. Como é frustrante ver o
talentoso elenco desperdiçado numa obra refém das afetações do gênero e da
falta de assinatura visual.
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