quarta-feira, 1 de julho de 2020

Artigo | Os 104 anos de Olivia de Havilland, a atriz que desafiou a indústria do cinema (e ganhou!)


Muitos não sabem a importância de Olivia de Havilland para o mundo do cinema. A ícone da Era de Ouro que completou 104 anos hoje, foi pioneira na luta pela independência dos atores em Hollywood. Até os anos 1940, as estrelas da Sétima Arte praticamente "pertenciam" aos grandes estúdios. Eles ditavam as regras do jogo, o rumo das suas carreiras e por consequência o destino artístico dos seus contratados. Com o contrato assinado, atores e atrizes perdiam qualquer controle sobre os seus futuros projetos. Na sua juventude, Olivia de Hallivand construiu o seu nome dentro da indústria em filmes como As Aventuras de Robin Hood (1938), ...E o Vento Levou (1939) e A Porta de Ouro (1941). Consagrada como o par do astro do gênero capa e espada Errol Flynn, Olivia de Havilland queria mais. Queria novos desafios. 


Ela estava cansada de se ver presa ao tipo da donzela em perigo, ou o da dama recatada. O reconhecimento da crítica e do público lhe deu coragem. O seu pleito, porém, foi recebido de maneira negativa pela Warner e ela tomou seis meses de suspensão. Mais do que isso. Foi obrigada a coestrelar Meu Reino Por Amor (1939), perdendo o espaço de protagonista que era seu para a sua futura grande amiga Bette Davis. Outro nome importante, por sinal, na luta contra o controlador sistema dos grandes estúdios. Ao fim do contrato com a Warner, Olivia de Havilland foi buscar os seus direitos. Entrou com um processo contra a companhia para anular uma cláusula que exigia a extensão do seu vínculo por mais 6 meses. Apoiada pelo Sindicato dos Atores, a atriz sentiu na pele o peso do confronto. Após quase três anos parada e milhares de dólares em dívidas, Olivia ganhou o embate e também a liberdade. 


Pouco tempo depois nasceu a Lei de Havilland, um decreto que trouxe mais autonomia para os atores e atrizes da sua geração. Chegava ao fim a era das clausulas contratuais abusivas, das suspensões retaliatórias e da interferência unilateral na carreira do artista. O resultado foi instantâneo para ela. Nos anos seguintes, Olivia Havilland emplacou grandes filmes e personagens singulares. Livre para escolher papeis mais desafiadores, a atriz foi aclamada no drama Só Resta uma Lágrima (1946), no thriller psicológico Espelhos da Alma (1946) e no suspense Na Cova da Serpente (1948), no romance Tarde Demais (1949) e no tenso Eu Te Matarei Querida (1952). A atriz não titubeou em dar vida a mulheres tridimensionais e obras totalmente distintas. Nestes projetos ela exibiu o seu até então subaproveitado alcance dramático em papeis mais complexos. Olivia de Havilland, inclusive, foi convidada para estrelar o clássico Uma Rua Chamada Pecado (1951), mas recusou o papel que seria da vencedora do Oscar (e ex-parceira de ...E O Vento Levou) Vivien Leigh.


Vencedora do Oscar de Melhor Atriz por Só Resta Uma Lágrima e Tarde Demais, Olivia De Havilland seguiu atuante até 1988. Neste meio tempo, ela conseguiu surfar na onda do hagsploitation (os filmes de suspense\terror estrelado por envelhecidas estrelas da Era de Ouro) nos elogiados A Dama Enjaulada e Com a Maldade na Alma (ambos de 1964). Mais dedicada a família a partir dos anos 1970, a atriz diminuiu o ritmo, mas ainda assim conseguiu papeis de destaques em títulos como Aeroporto 77 (1977) e A Mulher que ele Amou (1988). Primeira mulher a presidir o juri do Festival De Cannes, em 1965, Olivia de Havilland é o tipo de realizadora que merece ser redescoberta pelas novas gerações. Não só pelo seu talento, mas pelos seus feitos. Muitas das suas conquistas ecoam até hoje dentro da indústria e porque não fora dela. Talvez por isso ela tenha se tornado a mulher mais idosa, aos 101 anos, a receber o título de Dama do Império Britânico. E se, no aniversário de 103 anos, a família de Havilland postou uma foto (pasmem) com ela andando de bicicleta, no aniversário de 104 anos a celebração foi mais íntima ao lado do seu cãozinho chamado ... Oscar. 

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