sábado, 12 de outubro de 2019

Outras quinze grandes atuações infantis no cinema



No mundo da Sétima Arte a garotada começa a atuar desde cedo. Em alguns casos espantosamente cedo. E com atuações de deixar muito veterano de queixo caído. Como não citar, por exemplo, Natalie Portman em O Profissional (1994), Jackie Coogan em O Garoto (1921), ou então de Jacob Tremblay no recente O Quarto de Jack (2016). Nomes que marcaram presença na minha primeira lista (veja aqui) com dez das maiores atuações infantis. Neste Dia das Crianças, porém, decidi ampliar a seleção. Seguindo a mesma lógica, neste artigo preparei outra lista com mais quinze grandes performances da garotada no cinema.

- Alex R. Hibbert – Moonlight (2016)


E para começar nada melhor do que citar esta performance avassaladora no ganhador do Oscar Moonlight: Sob a Luz do Luar. Protagonista do que eu considero o segmento mais potente do longa, Alex R. Hibbert entrega uma atuação de rara intensidade ao interpretar um garotinho desprotegido obrigado a conviver com o vício da sua figura materna, com o bullying e as pressões impostas pelo ambiente em que viviam. Com a missão de contracenar com o fantástico Mahershala Ali, Alex então com 11 anos mostrou maturidade de gente grande ao refletir sobre problemas tão reconhecíveis dentro de um contexto genuinamente lúdico. Tudo conduzido com muita sensibilidade pelo talentoso diretor Barry Jenkins.


- Christian Bale – Império Do Sol (1987)


Com doze para treze anos na época das filmagens, Christian Bale mostrou em O Império do Sol os motivos que o transformariam num dos maiores atores da sua geração. Protagonista do drama de guerra do diretor Steven Spielberg, o então garoto absorveu o turbilhão de emoções enfrentados por uma jovem vítima da Segunda Guerra com extrema intensidade, intimismo e muita emoção. A crueza infantil do pequeno Bale foi explorada com sensibilidade por Spielberg, encontrando no jovem ator o estopim necessário para potencializar a sua mensagem pacifista\anti-bélica.

- Dafne Keen – Logan (2017)


O que Dafne Keen fez em Logan é algo digno de nota. Mesmo dividindo espaço com nomes do quilate de Hugh Jackman e Patrick Stewart, a atriz espanhola então com 11 anos roubou o show ao interpretar a feroz (e improvável) parceira de um decadente Wolverine. Com carisma, energia e disposição para as sequências mais físicas, Keen entregou um X-23 selvagem, mas ao mesmo tempo cômica, arredia, mas ao mesmo tempo doce, violenta, mas ao mesmo tempo infantil. Uma performance robusta que, naturalmente, a transformou num dos rostos jovens mais promissores de Hollywood na atualidade.


- Noah Wiseman – Babadook (2014)


Não é de hoje que crianças brilham no cinema de Horror. Em muitos casos, porém, o crédito se deve muito mais a atmosfera soturna criada em torno delas, do que propriamente à performance delas. Em Babadook, porém, o que vemos é uma performance infantil memorável. Na pele do frágil e complexo protagonista, um garotinho imaginativo envolvido com um tenebroso livro infantil e a crescente demência da sua mãe, Noah Whiseman reage ao terror de forma extremamente convincente, criando um personagem ora mimado, ora acuado. Sob a inteligente batuta de Jennifer Kent, que vai sempre muito além do que a premissa parecia sugerir, Whisheman se torna o olho do público dentro da trama, em especial quando o assunto é a jornada de deterioração da sua mãe. O resultado é a mistura de pura angústia e muita tensão.

- Enzo Staiola – Ladrões de Bicicletas (1948)


Sem medo de errar, Ladrões de Bicicletas é um dos filmes mais tristes da história do cinema. Um sentimento que nasce da injustiça, do desespero, da desilusão. Uma atmosfera potencializada pela maiúscula performance de Enzo Staiola. Na pele de um garotinho encantado pela sua trabalhadora figura paterna, o jovem ator de nove anos traduz com um misto de sutileza e humanidade a desventurada jornada do seu pai quando a sua tão estimada bicicleta é roubada. A partir do olhar ingênuo desta criança, Vittorio de Sica pinta uma crônica desconcertante sobre uma Itália desigual, engolida pela miséria, pela falta de perspectivas. O que fica bem claro, em especial, na impiedosa cena final, um daqueles momentos ímpares dentro da Sétima Arte.

- Saoirse Ronan – Desejo e Reparação (2007)


O que falar então desta pequena “monstrinha” chamada Saoirse Ronan em Desejo e Reparação. Na época com doze anos, a atriz irlandesa se tornou uma das grandes surpresas de aclamado longa ao interpretar a pequena Briony, uma criança que para se “vingar” de um amor platônico não correspondido decide fazer uma pesada acusação. Mesmo com um menor tempo de tela do que os seus companheiros de cena, Ronan rouba o show ao criar uma personagem perversa, mas ao mesmo tempo inocente. Uma menina incapaz de enxergar a consequência dos seus atos. Por trás do seu rosto angelical existem sentimentos confusos, uma distorção da realidade, um tipo desafiador para qualquer criança interpretado com maestria por Ronan. O que lhe rendeu, inclusive, a indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.


- T.J Lowther – Um Mundo Perfeito (1993)


É legal quando uma criança consegue atuar como um adulto. Eu gosto muito, porém, em ver crianças sendo crianças no cinema. Como T.J Lowther no poderoso Um Mundo Perfeito. Com apenas sete aninhos na época das filmagens, o garoto mostra um misto de doçura, inocência e medo ao viver um guri sequestrado por uma dupla de fugitivos. Sob a sensível batuta de Clint Eastwood, T.J se revelou parte importante da crônica sobre a paternidade proposta pelo realizador. Um olhar humano sobre o impacto da violência, do machismo e dos abusos na identidade de um homem. Mesmo ao lado de um dos maiores astros dos anos 1990, o popular Kevin Costner, o jovem ator não se intimida ao transitar na tortuosa estrada proposta por Eastwood, estreitando os laços com o público à medida que enxergamos a perversidade do mundo pelos seus olhos.

- Brooklynn Prince – Projeto Flórida (2017)


O que falar então desta moleca chamada Brooklyn Prince. Com apenas seis anos na época das filmagens, a pequena atriz se tornou o rosto desta pérola do cinema ‘indie’ chamada Projeto Flórida. Dirigida por Sean Baker, Prince provocou as mais variadas emoções no público ao protagonizar a história de uma garotinha disposta a curtir o seu verão alheia aos gigantescos problemas que a cercavam. Assim como em Um Mundo Perfeito, Baker usa a eletricidade pueril de Prince a serviço de uma crônica realística sobre o destino de muitas crianças ao redor do mundo. No centro da tela em grande parte do filme, a pequena atriz emana uma luz própria em cena, nos levando dos risos às lágrimas com extrema facilidade. Nós rimos com ela, nós choramos com ela, mas, acima de tudo, nós sentimos por todas as crianças que, tal qual a sua personagem, viram o mundo de cores repentinamente ser tomado pelo cinza da realidade.


- Macaulay Culkin e Elijah Wood – O Anjo Mal (1993)


Um foi um dos mais populares atores mirins que o cinema já viu. O outro, além de brilhar na infância, seguiu entregando grandes atuações e até hoje é referência para muitos. Juntos, porém, Macaulay Culkin e Elijah Wood protagonizaram ainda bem jovens o impactante thriller dramático O Anjo Mal. Clássico perdido da Sessão da Tarde, o longa colocou frente a frente dois dos nomes mais promissores da sua geração numa trama sobre dissimulação, psicopatia e o perigo que pode estar escondido num olhar inocente. Por mais que, sabendo dos tabus em torno do processo de adoção, a mensagem final possa não ser das mais conscientes, Culkin (com doze anos) e Wood (com onze anos) injetam perversidade e inocência a uma trama naturalmente tensa. O resultado é um filme memorável, um thriller que não merece cair no esquecimento.

- Jamie Bell – Billy Elliot (2000)


Poucos atores tem a oportunidade de estrear num drama tão poderoso. Numa daquelas seleções de elenco minuciosas, o novato Jamie Bell foi escolhido pelo delicado diretor Stephen Daldry para estrelar Billy Elliot. Um verdadeiro grito contra a repressão. Na pele de um garoto que, contrariando as intenções do seu truculento pai, decide trocar o boxe pelo balé, Bell esbanjou fisicalidade ao encarar um dos papéis mais desafiadores desta lista. Para ele não bastava apenas uma grande atuação. Como se não bastasse o profundo arco do seu personagem, o então jovem de 13 anos teve que mostrar aptidão para a dança ao traduzir a jornada de descobertas do garoto, entregando uma performance marcante. Um desempenho premiado com o BAFTA de Melhor Ator.


- Mackenzie Foy – Interestelar (2014)


Alguns atores precisam de pouco tempo para roubar a cena. Esse foi o caso de Mackenzie Foy, de longe o coração de Interestelar. Em pouco menos de um terço da obra, a atriz então com doze anos se torna a bússola familiar da história, a jovem esperta que se torna o motivo para o seu querido pai voltar do espaço. Com intensidade e muita emoção, Foy traduz com rara naturalidade o turbilhão de emoções enfrentados pela sua Murph, o misto de resiliência, medo e afeto que guia a sua personagem, entregando algumas das melhores sequências do filme ao lado de Mathew McCounaghey.

- Jodie Foster – Taxi Driver (1976)


Escrever sobre a performance de Jodie Foster em Taxi Driver é algo bem difícil. Com apenas 12 anos, a futura grande atriz causou um misto de frisson na e choque ao viver uma garota de programa que se torna o motivo que um taxista sociopata precisava para agir. Numa performance desafiadora, Foster entregou uma personagem em sua essência precoce, experimentada pela vida, com olhar adulto, mas aura inocente. Fica a ter difícil crer que estamos diante de uma atriz de doze anos. Para ter noção do quão complexo e delicado foi o processo de composição da jovem prostituta, Jodie Foster, em entrevista recente, admitiu que todos ficaram incomodado com o rumo da sua Iris. “Eles ficaram muito desconfortáveis ​​com o meu personagem. Ninguém sabia como me dirigir.”, revelou a atriz. Isso num projeto dirigido por Martin Scorsese, estrelado por Robert De Niro e roteirizado por Paul Schrader.


- Vinicius de Oliveira – Central do Brasil (1998)


E não podia faltar Brasil nesta lista. Central do Brasil foi uma porta de entrada para o cinema nacional para uma geração. Eu cresci achando que o Brasil vivia cinematograficamente de Os Trapalhões, Xuxa e filmes de baixa qualidade. Era isso que passava na televisão. Era essa a nossa realidade. Quando O Quatrilho foi indicado ao Oscar a surpresa foi grande. Mas para uma criança esse era um filme que não chamava atenção. Com Central do Brasil, porém, o efeito foi instantâneo. Ao lado de um verdadeiro monumento da cultura brasileiro chamado Fernanda Montenegro, Vinicius Oliveira nos levou ás lágrimas ao viver o órfão Josué em Central do Brasil. Na pele de um guri arredio obrigado a se unir a uma estranha numa tentativa de volta para casa, o jovem de doze anos protagonizou um indispensável ‘coming of age movie’, uma jornada de amizade movida pela cumplicidade, pela solidão, pela frustração e também pela esperança. Uma grande atuação que o levou ao Oscar. Não como indicado, uma pena, mas como convidado de uma produção que arrebatou a indicação ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro e também ao de Melhor Atriz.

- Jaeden Martell – Um Santo Vizinho (2014)


Um dos filmes mais fofos desta lista, Um Santo Vizinho apresentou ao público o talentosíssimo Jaeden Martell. Na época Jaeden Lieberher, o ator com onze anos ganhou a oportunidade de dividir a tela com o fantástico Bill Murray em mais um ‘coming of age movie’ cativante e engraçado. Como se não bastasse as óbvias diferenças entre o frágil personagem de Jaeden e rabugice de Bill, o longa dirigido por Theodore Melfi conseguiu extrair o máximo desta curiosa e entrosada parceria, encontrando no incorreto adulto um exótico modelo paterno. Com um tempo de comédia afiadíssimo, Martell não se intimidou diante da figura de Murray, reagindo sempre com espontaneidade ao marcante tempo de comédia desta legenda do gênero.


- Isabelle Fuhrman – A Órfã (2009)


Para fechar nada mais justo que lembrar desta pequena monstra. Tenho as minhas ressalvas quanto A Órfã. Um filme que estaria fatalmente fadado ao esquecimento se não fosse a monumental performance de Isabell Furhman. Com apenas onze anos na época das filmagens, a jovem chocou o público ao interpretar uma perversa filha adotiva (mais uma) envolvida numa estranha relação com os seus pais\irmãos. Furhman carrega consigo um veneno difícil de se traduzir em palavras. A maldade da sua personagem se dilui na expressão de inocência dúbia da sua personagem. No fim, tal qual o ‘plot’ twist de Jaume Collet-Serra, eu cheguei a duvidar se de fato não estava realmente diante de uma adulta. Uma atuação maiúscula que merecia fechar esta lista.

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