sábado, 31 de agosto de 2019

Top 10 | Jack Black


Jack Black é um dos caras mais legais de Hollywood. Ele pode não ser o ator mais talentoso, mais intenso, mas seus filmes trazem geralmente uma aura ‘feel good’ que está muito ligado à sua presença. Com carisma, humor e muita versatilidade, Black é do raro tipo que não se leva tão a sério assim. Algo que anda muito em falta na indústria do entretenimento. Mais do que entreter, ele parece se divertir com os seus projetos. Imprimir a sua expansiva personalidade neles. Para celebrar os cinquenta anos de vida deste cativante ator, neste Top 10 eu preparei uma lista com dez dos melhores filmes desta figuraça chama Jack Black. E começamos com... 

10º Goosebumps: Monstros e Arrepios (2015)



E nada melhor do que abrir esta lista com esta adorável adaptação. Goosebumps: Monstros e Arrepios conseguiu fazer jus a criação de R.L Stine numa obra divertida, intrigante e metalinguística. Sob a escapista batuta de Rob Letterman, o longa conseguiu unir a vasta gama de personagens deste clássico do terror infanto-juvenil em uma aventura esperta, com personagens carismático, um argumento inteligente e uma das reviravoltas mais legais do cinema nos últimos anos. Por mais que o elenco jovem encabeçado pelo talentoso Dylan Minnette consiga capturar o frescor juvenil desta pérola noventista, grande parte do trunfo de Goosebumps está na marcante performance de Jack Black. Caótico como de costume na pele do próprio R.L Stine, o ator abraça a fantasiosa releitura proposta com energia, injetando o humor que o filme precisava para funcionar. Para quem não sabe, aliás, Black também ficou com a missão de dublar o perverso boneco Slappy e o fez com usual maestria. Baita filme subestimado.

9º Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017)


Uma releitura moderna de um clássico dos anos 1990, Jumanji: Bem-Vindo à Selva é um daqueles triunfos cinematográficos que ora e vez brotam inesperadamente. Embora o ‘star power’ de Dwayne Johnson representasse um prenúncio de sucesso, nem o mais otimista executivo esperava que a continuação\remake fosse ser tão bem recebida pela crítica e somasse quase US$ 1 bilhão nas bilheterias. Trocando os jogos de tabuleiro pelo imersivo mundo dos vídeo-games, a aventura dirigida por Jake Kasdan revigorou uma premissa um tanto quanto nostálgica ao desta vez levar os personagens para o mundo de Jumanji. Indo além da presença de Johnson, um dos grandes (literalmente) atrativos do longa, o realizador encontrou na figura de Jake Black a caótica veia cômica que remetesse a figura do saudoso Robin Williams, o transformando no melhor elemento cômico da obra. Brincando com o gênero dos personagens e alguns elementos do universo gamer, Kasdan trabalhou com muita esperteza o conceito de avatar, dando a nomes como Black, Johnson e Kevin Hart a oportunidade de rir de si próprios e da identidade dos ‘players’. Com efeitos visuais imponentes e uma combinação perfeita de comédia e aventura, Jumanji: Bem-Vindo à Selva se tornou o grande sucesso comercial da carreira de Jack Black, que, em 2020, voltará a este fantástico mundo em Jumanji: Próxima Fase.

8º King Kong (2005)


O maior filme da carreira de Jack Black, porém, foi King Kong. Para o remake que o clássico de 1933 sempre esperou ter, o aclamado diretor Peter Jackson elevou a escala a níveis absurdos ao nos levar para uma ilha habitada por criaturas pré-históricas, monstros, dinossauros e um primata de dezenas de metro de altura. Sem amarras devido ao triunfo da trilogia O Senhor dos Anéis, o realizador neozelandês presenteou o público com uma aventura gigantesca recheada de sequências absurdas, efeitos visuais de primeira geração e um show no uso da técnica de captura de movimentos. Com Naomi Watts como a donzela indefesa da vez e Adrian Brody como um improvável herói, coube a Jack Black se tornar o grande antagonista da história. E um dos elementos mais particulares da adaptação. Na pele do cineasta\produtor Carl Denham, o então astro da comédia não titubeou em criar um vilão ambicioso e carismático, um personagem inconsequente incapaz de calcular o impacto das suas escolhas. Com um primoroso trabalho de reconstrução de época, King Kong é o tipo de projeto gigantesco que anda cada vez mais escasso em Hollywood.

7º O Amor Não Tira Férias (2006)


E quem diria que Jack Black iria brilhar também nas comédias românticas. Dividindo a tela com um timaço, Kate Winslet, Jude Law, Cameron Diaz e Elli Wallach, o expansivo ator surpreendeu a todos ao mostrar a sua face mais comedida em O Amor Não Tira Férias. Sob a açucarada batuta de Nancy Meyers, a agradável obra propôs uma improvável “troca de realidades” ao narrar a jornada de duas mulheres diferentes dispostas a fugir das suas respectivas rotinas. Com um texto saboroso, personagens (outra vez) cativantes e um cenário imersivo, Meyers tirou do papel uma obra recheada de personalidade, muito em função do eclético elenco. Um dos últimos representantes de uma safra de romances ‘feel good’ noventistas. E o casal Black\Winslet é ótimo.

6º Alta Fidelidade (2000)


Um romance ‘indie’ extremamente influente, Alta Fidelidade trouxe consigo inúmeros predicados. Numa crônica musical recheada de diálogos realistas e personagens tridimensionais, Stephen Frears começou a renegar o formato ‘feel good’ noventista ao mostrar a vida como ela é. Sem espaço para ilusões e a idealização dos sentimentos. Sob a perspectiva de um imaturo “jovem” homem de trinta e poucos anos às avessas com mais um rompimento, Frears decidiu escancarar os vícios e virtudes de uma geração a partir dos seus conflitos amorosos. No embalo da complexa performance de John Cusack, ora cativante e descolado, ora egoísta e odiável, o longa brinca com a quebra da quarta parede e os flashbacks ao investigar os dilemas do protagonista e como ele chegou a tal situação. Fazendo um primoroso uso da trilha sonora, uma das mais ecléticas da história recente do cinema, Frears revigora o subgênero ao conseguir conferir uma aura leve a trama sem reduzir o drama dos seus personagens. Muito em função, é verdade, do carismático elenco de apoio, encabeçado (claro!) por um então promissor Jack Black. Graças a Frears pela primeira vez pudemos ver o carismático ator em sua máxima potência, com direito a diálogos engraçadíssimos e um icônico número musical ao som de Marvin Gaye. Na pele de um vendedor intransigente e muitas vezes hostil com os seus clientes, Black roubou o show com enorme facilidade, usando este criativo longa como uma espécie de trampolim para se estabelecer como um dos atores cômicos mais bem-sucedidos em Hollywood nos anos 2000. Em suma, enérgico e realista, Alta Fidelidade ajudou a mostrar a força do cinema indie norte-americano na virada do milênio, servindo como um modelo para uma nova safra de diretores\produtores. Como envelheceu bem essa obra.

5º Trovão Tropical (2008)


É inacreditável pensar que um filme como Trovão Tropical tenha sido lançado no século XXI. E que tenha feito sucesso. E que seja ótima. Numa sátira improvável, Ben Stiller mostrou porque é um dos maiores comediantes da atualidade ao rir do egocêntrico\fake mundo de Hollywood numa comédia de erros extremamente ácida. Tem blackface, tem piada com doentes mentais, tem Tom Cruise “velho e barrigudo”, tem uma enxurrada de estereótipos. Um passo em falso e o fiasco poderia ser gigantesco. O que vemos, porém, é o triunfo da comédia. Feroz, Stiller não poupa ninguém ao narrar a desventurada jornada de um grupo de vaidosos\estúpidos atores que, sem saber, são largados numa zona de guerra para rodar um filme acreditando que estavam num set de filmagens. Recheada de soluções impagáveis, os trailers remetendo a títulos como Forrest Gump, O Segredo de Brockback Mountain e Professor Aloprado são hilários, o longa arranca sucessivas risadas ao acompanhar as trapalhadas deste inusitado grupo na tentativa de sobreviver em território inimigo. Peça chave no processo de “redenção” de Robert Downey Jr. dentro da indústria, Trovão Tropical deu a Jack Black um dos personagens mais exóticos da sua carreira. Na pele de um astro da comédia com sérios problemas com drogas, ele, como esperado, abraça a insana empreitada proposta por Stiller com rara energia, criando um tipo absurdo capaz de quase tudo para saciar o seu vício. Uma ode contra o politicamente incorreto, Trovão Tropical é uma comédia hilária e extravagante, uma das últimas grandes produções do gênero verdadeiramente corajosas.

4º Rebobine Por Favor (2008)


Nostálgico e genuinamente cinematográfico, Rebobine Por Favor é um deleite para qualquer um que goste da Sétima Arte. Um filme sobre o “faça você mesmo”, sobre a capacidade de qualquer um em ser criativo. Sob a eclética batuta de Michel Gondry, o longa estrelado por Jack Black e Mos Def causa um fascínio natural ao narrar as desventuras de dois funcionários de uma decadente locadora que decidem “suecar” clássicos do cinema na tentativa de mantê-la em atividade. Engraçado, tocante e peculiar, Rebobine Por Favor conseguiu extrair o máximo desta revigorante premissa, brincando com as referências e o viés saudosista de forma extremamente cativante.

3º Nacho Libre (2006)


Uma das minhas comédias favoritas, Nacho Libre é uma produção com o DNA de Jack Black. Disposto a reverenciar o universo das “lucha libres”, o ator entregou uma das suas performances mais exóticas ao viver um monge órfão disposto a subir no ringue para salvar o orfanato em que foi criado. Como se não bastasse a peculiaridade do cenário em questão, o extravagante mundo das luta livres mexicanas, o diretor e roteirista Jared Hess transita entre a sátira e o ‘non-sense’  ao arquitetar uma trama engraçadíssima recheada de excêntricos personagens e impagáveis lutas. O que falar, por exemplo, da relação entre o herói altruísta Nacho e a bela\convicta freira Encarnacion (Ana de la Reguera). Ou então do esquelético parceiro do protagonista, o intrépido Esqueleto (Héctor Jiménez). Sem se levar a sério por um segundo sequer, Nacho Libre mostra o melhor de Jack Black num filme sem pudor de fazer rir.

2º - Trilogia Kung Fu Panda


Responsável por dar vida a um dos personagens mais cativantes da história recente da animação, Jack Black ajudou a fazer de Po e da série Kung Fu Panda um fenômeno junto a criançada. Preguiçoso, bonachão e desastrado, o panda lutador de artes marciais se tornou um sucesso triunfante, um dos principais responsáveis pelo triunfo da trilogia. Mas não o único. Longe disso. Reduzir Kung Fu Panda a figura de Jack Black é um erro. Estamos diante de três filmes cativantes, com personagens carismáticos, um arco dramático sólido e crescente, além de um visual espetacular. Ao contrário da grande maioria das produções DreamWorks (Shrek, Madagascar), em Kung Fu Panda o que vemos é uma evolução da qualidade estética\narrativa de uma sequência para outra. Po se tornou um personagem melhor a cada filme. O seu arco ganhou nuances mais complexas. O humor só melhorou com o avançar das películas. Reunindo um timaço de vozes, além de Black a franquia trouxe nomes como Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Seth Rogen, Gary Oldman, Bryan Cranston, J.K Simmons, Jackie Chan e Lucy Liu, Kung Fu Panda merece ser tratada como uma das trilogias mais bem-sucedidas da história recente do cinema. Um exemplo de como construir um arco com começo, meio e fim sem se render à busca incessante pelo lucro.

1º Escola de Rock (2003)


O primeiro lugar, porém, não poderia ser outro. Um daqueles projetos capazes de definir uma carreira, Escola de Rock ajudou a transformar Jack Black em referência dentro de Hollywood num sucesso totalmente inesperados. Dirigido pelo talentoso Richard Linklater, o longa conquistou o público e a crítica ao acompanhar as peripécias de um músico fracassado disposto a se passar por professor para conseguir uma fonte de renda provisória. Com o padrão Black de qualidade\caos, o pouco ortodoxo Dewey resolver usar o rock para inspirar os seus alunos, abalando as estruturas de uma conservadora escola enquanto vislumbra o sucesso ao lado da autodidata garotada. Como de costume na sua filmografia, Linklater causa um fascínio natural ao invadir a realidade deste grupo, propondo um revigorante choque de realidades enquanto constrói uma história de amizade ímpar. Recheado de personagens cativantes e inesquecíveis números musicais, Escola do Rock se tornou um inesperado fenômeno pop nos cinemas e no mercado ‘home-vídeo’, se tornando ainda hoje uma obra reverenciada e influente.

Menções Honrosas

- Tenacious D (2006)


Um dos projetos mais pessoais da filmografia de Jack Black, Tenacious D é a prova da versatilidade deste ator. Antes mesmo de brilhar na Sétima Arte, o realizador abraçou a sua faceta musical com originalidade. Formada em 1994, a banda Tenacious D se tornou o tipo de projeto paralelo que quase assumiu as rédeas da sua carreira. Ao lado do seu parceiro e amigo Kyle Glass, Black decidiu sintetizar todas as suas referências musicais num projeto único, um dueto acústico satírico capaz de ir do Hard Rock ao Heavy Metal como poucos. Num projeto ambicioso, o Tenacious D virou uma fracassada série de curtas da HBO, atraiu o olhar de bandas do porte de Pearl Jam e Foo Fighters, vieram os álbuns, um grande contrato com a Epic Records e posteriormente o filme. Com Jack Black em evidência dentro da indústria e com o ‘status’ necessário para pilotar um projeto deste porte, Tenacious D finalmente encontrou o seu lugar da tela grande. E o resultado não poderia ser mais singular. Atraindo nomes do porte de Ron James Dio e David Grohl para o projeto, o musical reuniu Black e Glass numa aventura insana sobre dois músicos fracassados dispostos a conseguir uma palheta mística que os colocaria no rumo do sucesso. Com excelentes números musicais, muito humor, personagens carismáticos e uma trama divertidíssima, Tenacious D pode não ter feito o sucesso esperado, mas ajudou a ampliar o alcance desta improvável banda, comprovando o talento de Black enquanto ator, cantor\músico e porque não homem de negócios.

- O Amor é Cego (2001)


Está ai um filme que não envelheceu tão bem. Recheado de boas intenções, O Amor é Cego até fazia sentido na época em que foi lançado. Sob a perspectiva atual, porém, a comédia dirigida pelos irmãos Farrelly parece rir mais da gordofobia do que combatê-la. Ainda assim, deixando de lado o politicamente incorreto, o longa arranca risadas ao narrar a curiosa jornada de um homem frustrado que dá noite para o dia passa apenas a enxergar a beleza interior das mulheres. Recheado de ótimas gags, O Amor é Cego cativa, parte de uma premissa inteligente, mas hoje percebo o quão mal explorada ela foi.

- O Rei da Polca (2017)


Talvez um dos projetos mais subestimados da carreira de Jack Black, O Rei da Polca é uma comédia de erros recheada de predicados. Indo muito além da afetada performance do ator, o longa dirigido por Maya Forbes arranca risadas ao narrar a jornada de um cantor de polca decadente que resolve enriquecer através de um estrambólico esquema de pirâmide financeira. Inspirado em inusitados fatos, a sátira até tem os seus altos e baixos, mas nos melhores momentos extrai o melhor de Black.

- O Mistério do Relógio da Parede (2018)


O Mistério do Relógio na Parede é um filme surpreendente. O extraordinário, aqui, está no simples fato de um projeto tão despretensioso e ingênuo como esse existir. Um “peixinho dourado” bem caro mergulhado num tanque de gigantescos tubarões. Não dá para subestimar Cate Blanchett e Jack Black. Um "terrir" infanto-juvenil divertido, imersivo, ‘creep’ e com um contexto dramático que merecia ser melhor aprofundado. De longe o melhor trabalho de Eli Roth na direção.

- Bernie: Quase Um Anjo (2011)


Mais um projeto pouco ortodoxo na filmografia de Jack Black, Bernie: Quase Um Anjo reuniu mais uma vez o ator e Richard Linklater numa comédia de erros sobre um ingênuo e influenciável agente funerário. Com um time de protagonistas de peso, Shirley McLaine e Matthew McConaughey dividem a tela com Black, o realizador mantém um pé no absurdo e outro no drama humano numa obra mais intrigante do que engraçada.

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