Jack Black é um dos caras mais legais de Hollywood. Ele pode não ser o ator mais talentoso, mais intenso, mas seus filmes trazem geralmente uma aura ‘feel good’ que está muito ligado à sua presença. Com carisma, humor e muita versatilidade, Black é do raro tipo que não se leva tão a sério assim. Algo que anda muito em falta na indústria do entretenimento. Mais do que entreter, ele parece se divertir com os seus projetos. Imprimir a sua expansiva personalidade neles. Para celebrar os cinquenta anos de vida deste cativante ator, neste Top 10 eu preparei uma lista com dez dos melhores filmes desta figuraça chama Jack Black. E começamos com...
10º Goosebumps: Monstros e
Arrepios (2015)
E nada melhor do que abrir esta lista com esta adorável adaptação. Goosebumps: Monstros e Arrepios conseguiu fazer jus a criação de R.L Stine numa obra divertida, intrigante e metalinguística. Sob a escapista batuta de Rob Letterman, o longa conseguiu unir a vasta gama de personagens deste clássico do terror infanto-juvenil em uma aventura esperta, com personagens carismático, um argumento inteligente e uma das reviravoltas mais legais do cinema nos últimos anos. Por mais que o elenco jovem encabeçado pelo talentoso Dylan Minnette consiga capturar o frescor juvenil desta pérola noventista, grande parte do trunfo de Goosebumps está na marcante performance de Jack Black. Caótico como de costume na pele do próprio R.L Stine, o ator abraça a fantasiosa releitura proposta com energia, injetando o humor que o filme precisava para funcionar. Para quem não sabe, aliás, Black também ficou com a missão de dublar o perverso boneco Slappy e o fez com usual maestria. Baita filme subestimado.
9º Jumanji: Bem-Vindo à Selva
(2017)
Uma releitura moderna de um
clássico dos anos 1990, Jumanji: Bem-Vindo à Selva é um daqueles triunfos
cinematográficos que ora e vez brotam inesperadamente. Embora o ‘star power’ de
Dwayne Johnson representasse um prenúncio de sucesso, nem o mais otimista
executivo esperava que a continuação\remake fosse ser tão bem recebida pela
crítica e somasse quase US$ 1 bilhão nas bilheterias. Trocando os jogos de
tabuleiro pelo imersivo mundo dos vídeo-games, a aventura dirigida por Jake
Kasdan revigorou uma premissa um tanto quanto nostálgica ao desta vez levar os
personagens para o mundo de Jumanji. Indo além da presença de Johnson, um dos
grandes (literalmente) atrativos do longa, o realizador encontrou na figura de
Jake Black a caótica veia cômica que remetesse a figura do saudoso Robin
Williams, o transformando no melhor elemento cômico da obra. Brincando com o
gênero dos personagens e alguns elementos do universo gamer, Kasdan trabalhou
com muita esperteza o conceito de avatar, dando a nomes como Black, Johnson e
Kevin Hart a oportunidade de rir de si próprios e da identidade dos ‘players’.
Com efeitos visuais imponentes e uma combinação perfeita de comédia e aventura,
Jumanji: Bem-Vindo à Selva se tornou o grande sucesso comercial da carreira de
Jack Black, que, em 2020, voltará a este fantástico mundo em Jumanji: Próxima
Fase.
8º King Kong (2005)
O maior filme da carreira de Jack
Black, porém, foi King Kong. Para o remake que o clássico de 1933 sempre esperou
ter, o aclamado diretor Peter Jackson elevou a escala a níveis absurdos ao nos
levar para uma ilha habitada por criaturas pré-históricas, monstros,
dinossauros e um primata de dezenas de metro de altura. Sem amarras devido ao
triunfo da trilogia O Senhor dos Anéis, o realizador neozelandês presenteou o
público com uma aventura gigantesca recheada de sequências absurdas, efeitos
visuais de primeira geração e um show no uso da técnica de captura de movimentos.
Com Naomi Watts como a donzela indefesa da vez e Adrian Brody como um
improvável herói, coube a Jack Black se tornar o grande antagonista da
história. E um dos elementos mais particulares da adaptação. Na pele do cineasta\produtor
Carl Denham, o então astro da comédia não titubeou em criar um vilão ambicioso
e carismático, um personagem inconsequente incapaz de calcular o impacto das
suas escolhas. Com um primoroso trabalho de reconstrução de época, King Kong é
o tipo de projeto gigantesco que anda cada vez mais escasso em Hollywood.
7º O Amor Não Tira Férias (2006)
E quem diria que Jack Black iria
brilhar também nas comédias românticas. Dividindo a tela com um timaço, Kate Winslet,
Jude Law, Cameron Diaz e Elli Wallach, o expansivo ator surpreendeu a todos ao mostrar
a sua face mais comedida em O Amor Não Tira Férias. Sob a açucarada batuta de
Nancy Meyers, a agradável obra propôs uma improvável “troca de realidades” ao
narrar a jornada de duas mulheres diferentes dispostas a fugir das suas
respectivas rotinas. Com um texto saboroso, personagens (outra vez) cativantes
e um cenário imersivo, Meyers tirou do papel uma obra recheada de personalidade,
muito em função do eclético elenco. Um dos últimos representantes de uma safra
de romances ‘feel good’ noventistas. E o casal Black\Winslet é ótimo.
6º Alta Fidelidade (2000)
Um romance ‘indie’ extremamente
influente, Alta Fidelidade trouxe consigo inúmeros predicados. Numa crônica
musical recheada de diálogos realistas e personagens tridimensionais, Stephen
Frears começou a renegar o formato ‘feel good’ noventista ao mostrar a vida
como ela é. Sem espaço para ilusões e a idealização dos sentimentos. Sob a
perspectiva de um imaturo “jovem” homem de trinta e poucos anos às avessas com
mais um rompimento, Frears decidiu escancarar os vícios e virtudes de uma
geração a partir dos seus conflitos amorosos. No embalo da complexa performance
de John Cusack, ora cativante e descolado, ora egoísta e odiável, o longa
brinca com a quebra da quarta parede e os flashbacks ao investigar os dilemas
do protagonista e como ele chegou a tal situação. Fazendo um primoroso uso da
trilha sonora, uma das mais ecléticas da história recente do cinema, Frears
revigora o subgênero ao conseguir conferir uma aura leve a trama sem reduzir o
drama dos seus personagens. Muito em função, é verdade, do carismático elenco
de apoio, encabeçado (claro!) por um então promissor Jack Black. Graças a
Frears pela primeira vez pudemos ver o carismático ator em sua máxima potência,
com direito a diálogos engraçadíssimos e um icônico número musical ao som de
Marvin Gaye. Na pele de um vendedor intransigente e muitas vezes hostil com os
seus clientes, Black roubou o show com enorme facilidade, usando este criativo
longa como uma espécie de trampolim para se estabelecer como um dos atores
cômicos mais bem-sucedidos em Hollywood nos anos 2000. Em suma, enérgico e
realista, Alta Fidelidade ajudou a mostrar a força do cinema indie
norte-americano na virada do milênio, servindo como um modelo para uma nova
safra de diretores\produtores. Como envelheceu bem essa obra.
5º Trovão Tropical (2008)
É inacreditável pensar que um
filme como Trovão Tropical tenha sido lançado no século XXI. E que tenha feito
sucesso. E que seja ótima. Numa sátira improvável, Ben Stiller mostrou porque é
um dos maiores comediantes da atualidade ao rir do egocêntrico\fake mundo de
Hollywood numa comédia de erros extremamente ácida. Tem blackface, tem piada
com doentes mentais, tem Tom Cruise “velho e barrigudo”, tem uma enxurrada de
estereótipos. Um passo em falso e o fiasco poderia ser gigantesco. O que vemos,
porém, é o triunfo da comédia. Feroz, Stiller não poupa ninguém ao narrar a
desventurada jornada de um grupo de vaidosos\estúpidos atores que, sem saber,
são largados numa zona de guerra para rodar um filme acreditando que estavam
num set de filmagens. Recheada de soluções impagáveis, os trailers remetendo a
títulos como Forrest Gump, O Segredo de Brockback Mountain e Professor Aloprado
são hilários, o longa arranca sucessivas risadas ao acompanhar as trapalhadas
deste inusitado grupo na tentativa de sobreviver em território inimigo. Peça
chave no processo de “redenção” de Robert Downey Jr. dentro da indústria,
Trovão Tropical deu a Jack Black um dos personagens mais exóticos da sua
carreira. Na pele de um astro da comédia com sérios problemas com drogas, ele,
como esperado, abraça a insana empreitada proposta por Stiller com rara
energia, criando um tipo absurdo capaz de quase tudo para saciar o seu vício. Uma
ode contra o politicamente incorreto, Trovão Tropical é uma comédia hilária e
extravagante, uma das últimas grandes produções do gênero verdadeiramente
corajosas.
4º Rebobine Por Favor (2008)
Nostálgico e genuinamente
cinematográfico, Rebobine Por Favor é um deleite para qualquer um que goste da
Sétima Arte. Um filme sobre o “faça você mesmo”, sobre a capacidade de qualquer
um em ser criativo. Sob a eclética batuta de Michel Gondry, o longa estrelado
por Jack Black e Mos Def causa um fascínio natural ao narrar as desventuras de
dois funcionários de uma decadente locadora que decidem “suecar” clássicos do
cinema na tentativa de mantê-la em atividade. Engraçado, tocante e peculiar,
Rebobine Por Favor conseguiu extrair o máximo desta revigorante premissa,
brincando com as referências e o viés saudosista de forma extremamente
cativante.
3º Nacho Libre (2006)
Uma das minhas comédias
favoritas, Nacho Libre é uma produção com o DNA de Jack Black. Disposto a
reverenciar o universo das “lucha libres”, o ator entregou uma das suas
performances mais exóticas ao viver um monge órfão disposto a subir no ringue
para salvar o orfanato em que foi criado. Como se não bastasse a peculiaridade
do cenário em questão, o extravagante mundo das luta livres mexicanas, o
diretor e roteirista Jared Hess transita entre a sátira e o ‘non-sense’ ao arquitetar uma trama engraçadíssima
recheada de excêntricos personagens e impagáveis lutas. O que falar, por
exemplo, da relação entre o herói altruísta Nacho e a bela\convicta freira
Encarnacion (Ana de la Reguera). Ou então do esquelético parceiro do
protagonista, o intrépido Esqueleto (Héctor Jiménez). Sem se levar a sério por
um segundo sequer, Nacho Libre mostra o melhor de Jack Black num filme sem pudor
de fazer rir.
2º - Trilogia Kung Fu Panda
Responsável por dar vida a um dos
personagens mais cativantes da história recente da animação, Jack Black ajudou
a fazer de Po e da série Kung Fu Panda um fenômeno junto a criançada.
Preguiçoso, bonachão e desastrado, o panda lutador de artes marciais se tornou
um sucesso triunfante, um dos principais responsáveis pelo triunfo da trilogia.
Mas não o único. Longe disso. Reduzir Kung Fu Panda a figura de Jack Black é um
erro. Estamos diante de três filmes cativantes, com personagens carismáticos,
um arco dramático sólido e crescente, além de um visual espetacular. Ao
contrário da grande maioria das produções DreamWorks (Shrek, Madagascar), em
Kung Fu Panda o que vemos é uma evolução da qualidade estética\narrativa de uma
sequência para outra. Po se tornou um personagem melhor a cada filme. O seu
arco ganhou nuances mais complexas. O humor só melhorou com o avançar das
películas. Reunindo um timaço de vozes, além de Black a franquia trouxe nomes
como Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Seth Rogen, Gary Oldman, Bryan Cranston,
J.K Simmons, Jackie Chan e Lucy Liu, Kung Fu Panda merece ser tratada como uma
das trilogias mais bem-sucedidas da história recente do cinema. Um exemplo de
como construir um arco com começo, meio e fim sem se render à busca incessante
pelo lucro.
1º Escola de Rock (2003)
O primeiro lugar, porém, não
poderia ser outro. Um daqueles projetos capazes de definir uma carreira, Escola
de Rock ajudou a transformar Jack Black em referência dentro de Hollywood num sucesso
totalmente inesperados. Dirigido pelo talentoso Richard Linklater, o longa conquistou
o público e a crítica ao acompanhar as peripécias de um músico fracassado
disposto a se passar por professor para conseguir uma fonte de renda
provisória. Com o padrão Black de qualidade\caos, o pouco ortodoxo Dewey
resolver usar o rock para inspirar os seus alunos, abalando as estruturas de
uma conservadora escola enquanto vislumbra o sucesso ao lado da autodidata
garotada. Como de costume na sua filmografia, Linklater causa um fascínio
natural ao invadir a realidade deste grupo, propondo um revigorante choque de
realidades enquanto constrói uma história de amizade ímpar. Recheado de
personagens cativantes e inesquecíveis números musicais, Escola do Rock se
tornou um inesperado fenômeno pop nos cinemas e no mercado ‘home-vídeo’, se
tornando ainda hoje uma obra reverenciada e influente.
Menções Honrosas
- Tenacious D (2006)
Um dos projetos mais pessoais da
filmografia de Jack Black, Tenacious D é a prova da versatilidade deste ator. Antes
mesmo de brilhar na Sétima Arte, o realizador abraçou a sua faceta musical com
originalidade. Formada em 1994, a banda Tenacious D se tornou o tipo de projeto
paralelo que quase assumiu as rédeas da sua carreira. Ao lado do seu parceiro e
amigo Kyle Glass, Black decidiu sintetizar todas as suas referências musicais
num projeto único, um dueto acústico satírico capaz de ir do Hard Rock ao Heavy
Metal como poucos. Num projeto ambicioso, o Tenacious D virou uma fracassada série
de curtas da HBO, atraiu o olhar de bandas do porte de Pearl Jam e Foo
Fighters, vieram os álbuns, um grande contrato com a Epic Records e posteriormente
o filme. Com Jack Black em evidência dentro da indústria e com o ‘status’
necessário para pilotar um projeto deste porte, Tenacious D finalmente
encontrou o seu lugar da tela grande. E o resultado não poderia ser mais
singular. Atraindo nomes do porte de Ron James Dio e David Grohl para o
projeto, o musical reuniu Black e Glass numa aventura insana sobre dois músicos
fracassados dispostos a conseguir uma palheta mística que os colocaria no rumo
do sucesso. Com excelentes números musicais, muito humor, personagens carismáticos
e uma trama divertidíssima, Tenacious D pode não ter feito o sucesso esperado,
mas ajudou a ampliar o alcance desta improvável banda, comprovando o talento de
Black enquanto ator, cantor\músico e porque não homem de negócios.
- O Amor é Cego (2001)
Está ai um filme que não
envelheceu tão bem. Recheado de boas intenções, O Amor é Cego até fazia sentido
na época em que foi lançado. Sob a perspectiva atual, porém, a comédia dirigida
pelos irmãos Farrelly parece rir mais da gordofobia do que combatê-la. Ainda
assim, deixando de lado o politicamente incorreto, o longa arranca risadas ao
narrar a curiosa jornada de um homem frustrado que dá noite para o dia passa
apenas a enxergar a beleza interior das mulheres. Recheado de ótimas gags, O
Amor é Cego cativa, parte de uma premissa inteligente, mas hoje percebo o quão
mal explorada ela foi.
- O Rei da Polca (2017)
Talvez um dos projetos mais
subestimados da carreira de Jack Black, O Rei da Polca é uma comédia de erros
recheada de predicados. Indo muito além da afetada performance do ator, o longa
dirigido por Maya Forbes arranca risadas ao narrar a jornada de um cantor de
polca decadente que resolve enriquecer através de um estrambólico esquema de
pirâmide financeira. Inspirado em inusitados fatos, a sátira até tem os seus
altos e baixos, mas nos melhores momentos extrai o melhor de Black.
- O Mistério do Relógio da Parede
(2018)
O Mistério do Relógio na Parede é
um filme surpreendente. O extraordinário, aqui, está no simples fato de um
projeto tão despretensioso e ingênuo como esse existir. Um “peixinho dourado”
bem caro mergulhado num tanque de gigantescos tubarões. Não dá para subestimar
Cate Blanchett e Jack Black. Um "terrir" infanto-juvenil divertido,
imersivo, ‘creep’ e com um contexto dramático que merecia ser melhor
aprofundado. De longe o melhor trabalho de Eli Roth na direção.
- Bernie: Quase Um Anjo (2011)
Mais um projeto pouco ortodoxo na
filmografia de Jack Black, Bernie: Quase Um Anjo reuniu mais uma vez o ator e
Richard Linklater numa comédia de erros sobre um ingênuo e influenciável agente
funerário. Com um time de protagonistas de peso, Shirley McLaine e Matthew McConaughey dividem a tela com
Black, o realizador mantém um pé no absurdo e outro no drama humano numa obra
mais intrigante do que engraçada.
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