segunda-feira, 22 de julho de 2019

Destrinchando o estrondoso sucesso comercial do Universo Cinematográfico da Marvel


No último domingo (21) a Marvel Studios adicionou um novo capítulo na sua trajetória de sucesso. Vingadores: Ultimato quebrou uma marca que já durava dez anos e se tornou o longa de maior bilheteria da história do cinema (leia aqui). Os US$ 2.79 bilhões conseguidos ao redor do mundo, no entanto, são apenas a cereja no bolo. Superar o faturamento do fenômeno cinematográfico Avatar (2009) era algo natural diante do 'hype' criado entorno do Universo Cinematográfico da Marvel. Estamos diante de uma saga de uma década sem precedentes dentro da indústria do entretenimento. E quando olhamos em perspectiva para o todo percebemos o quão estrondoso é o triunfo comercial do MCU. Com 23 produções lançadas divididas em 3 fases, a Marvel chegou com Capitã Marvel, Vingadores: Ultimato e Homem-Aranha: Longe de Casa a marca dos US$ 22.419 bilhões em bilheterias mundialmente. Um valor muito superior ao orçamento das produções, que, de acordo com as estimativas divulgadas pela companhia, custaram juntas na casa dos US$ 4,5 bilhões. Segundo os números do site Box Office Mojo, cada lançamento do MCU rendeu em média US$ 974 milhões (para um custo de US$ 196 milhões), um desempenho inacreditável dentro de uma engrenagem que ao longo deste jornada nem sempre trabalhou com personagens populares. Numa comparação até injusta, os sete filmes do renovado Universo DC renderam juntos US$ 5.279 bi, uma média de US$ 754 milhões por obra. E isso com personagens do peso de Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Coringa, Flash. Verdadeiros ícones da cultura pop. Os números do MCU também são bem superiores ao do Universo X-Men da Fox. Embora esteja na vanguarda dos filmes de super-herói (leia mais sobre o tema aqui), o estúdio faturou US$ 6,02 bi ao redor do mundo com 12 longas, uma média de US$ 502 milhões por título.



Sobre isso, aliás, alguns pontos merecem ser destacados. O primeiro é o alcance do MCU ao redor do mundo. Dos US$ 22 bilhões faturados até o presente momento, "apenas" US$ 8.47 bilhões vieram dos EUA. Uma marca indiscutivelmente robusta, mas que não representa nem 40% (cerca de 37%) do que a Marvel Studios arrecada no mundo. Uma característica que premia a estratégia de globalização proposta por Kevin Feige e os executivos do estúdio. Desde o início do processo, lá atrás, quando o corajoso Homem de Ferro (2008) apenas sugeria um vislumbre do que estava por vir, a companhia sempre olhou para o mercado internacional com muita atenção. Em especial o chinês. Apesar da pesada reserva de mercado defendida por este gigante da Ásia, os filmes "internacionais" ficam geralmente apenas 15 dias em cartaz por lá, a China rendeu ao MCU pouco mais de US$ 3 bilhões ao longo destes 11 anos, algo equivalente a 13% da arrecadação total das três primeiras fases. É interessante perceber também a evolução das cifras ao longo deste período em solo chinês. Enquanto Homem de Ferro faturou US$ 15,2 milhões em 2008, Homem de Ferro 3 somou US$ 121,2 milhões em 2013, Vingadores: Era de Ultron US$ 240,1 em 2014 e Vingadores: Ultimato inimagináveis US$ 614 milhões em 2019. Um dos mercados que mais consume cultura pop no mundo na atualidade, o Brasil também teve uma participação ativa neste resultado. Mesmo com a desvalorização da nossa moeda pesando contra, o MCU faturou algo em torno de US$ 716 milhões nas bilheterias por aqui ao longo destes onze anos, uma média de US$ 31 milhões por lançamento, cerca de 3% da arrecadação total. A critério de comparação, no forte mercado britânico a Saga do Infinito rendeu US$ 1,03 bi (US$ 45 milhões em média), na Coréia do Sul US$ 931 milhões (US$ 40,4 milhões em média) e no México US$ 696 milhões (US$ 30 milhões em média). 


Outro ponto que merece ser levado em consideração é a maneira gradativa (e sempre ascendente) com que a Marvel Studios se consolidou nesta posição. Ao contrário do que muitos pensam, o sucesso comercial do MCU não veio instantaneamente. Embora Homem de Ferro (2008) tenha aberto a saga faturando alto, US$ 585 milhões ao redor do mundo, as demais produções da fase 1 não renderam tanto assim. O Incrível Hulk (2008) quase não se pagou (faturou US$ 263 milhões para um orçamento de US$ 150 milhões); Homem de Ferro 2 (2010) fez sucesso (US$ 623 milhões no mundo), mas nada muito superior ao original; Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) - devido ao peso do personagem - frustou ao se tornar a segunda pior bilheteria do MCU com US$ 370 milhões; Thor se saiu melhor (US$ 449 mundialmente), mas nada muito expressivo. Somente quatro anos após o início da empreitada, quatro anos de peças milimetricamente introduzidas, Os Vingadores (2012) chegaram para moralizar as coisas (e salvar o dia) ao conseguir US$ 1.518 bilhão ao redor do mundo. Numa análise mais específica, enquanto a fase 1 (com seis lançamentos) rendeu US$ 3.1 bilhões nas bilheterias (uma média de US$ 635 milhões por filme), a fase 2 (com seis lançamentos) faturou US$ 5.2 bilhões (uma média de US$ 878 milhões por filme) e a fase 3 (com onze lançamentos) somou US$ 13.3 bilhões (uma média de US$ 1,2 bilhão por filme). Ao todo são nove produção com mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias, já incluindo o recente Homem-Aranha: Longe de Casa. Um crescimento expressivo que sintetiza o fortalecimento do elo criado entre público e personagens. 


Entender o sucesso comercial do MCU é uma missão complexa. Os números revelados acima dizem muito sobre o crescimento e a consolidação. A impressão que fica, no entanto, é que as cifras ficaram sempre em segundo plano. A fase 1 não me deixa mentir. Homem de Ferro (2008), por exemplo, foi apenas a oitava bilheteria daquele ano. O Incrível Hulk (2008) a vigésima primeira. Em 2011, Thor foi apenas a décima quinta bilheteria do ano, enquanto Capitão América: O Primeiro Vingador a décima sétima. Os planos, porém, seguiram inalterados. Com coragem, ambição, talento e acima de tudo planejamento, Kevin Feige construiu uma engrenagem que pouco a pouco revolucionou o gênero. Neste artigo, aliás, analisamos com mais profundidade alguns destes predicados. O resultado não poderia ser outro. Hoje, das dez maiores bilheterias de todos os tempos, cinco pertencem ao MCU (Vingadores: Ultimato e Guerra Infinita, A Era de Ultron, Os Vingadores e Pantera Negra). E os planos de futuro da dobradinha Marvel\Disney são ainda mais ousados. No último sábado (20), durante a Comic-Con 2019, o estúdio anunciou (entenda aqui) dez projetos entre 2020 e 2021, uma expansão de marca que promete não só dominar o cinema, mas também o aguardado serviço de streaming Disney +. Vingadores unidos e com os cofres cheio de dinheiro. 

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