domingo, 17 de março de 2019

De Johnny Guitar a Capitã Marvel: a evolução do protagonismo feminino no cinema de ação em doze filmes


Em uma semana, Capitã Marvel superou todas as incertezas em torno do sucesso do longa ao faturar espantosos US$ 760 milhões nas bilheterias ao redor do mundo. Após sofrer uma pesada campanha negativa por parte de haters e trolls virtuais contrários a presença feminina no universo dos super-heróis, a aventura estrelada por Brie Larson mostrou (mais uma vez) que o público está completamente aberto a representatividade dentro do segmento. Uma constatação que, felizmente, tem rendido ótimos frutos. Embora, durante a última edição do Oscar, a engajada atriz Jessica Chastain tenha usado o seu Twitter para escancarar o quão grande é o abismo quanto a igualdade de gênero dentro da indústria do entretenimento, é legal ver como o cinema blockbuster começou a dar as mulheres o espaço que elas precisavam para brilhar. O resultado são títulos do quilate de Lucy (2014), Star Wars: O Despertar da Força (2015), Rogue One (2016), Caça Fantasmas (2016), Atômica (2017), Ghost In The Shell (2017), Bumblebee (2018). Quantas boas\grandes películas que até bem pouco tempo atrás sequer seriam produzidos porque uma indústria “viciada” cismava em defender que filmes de ação estrelados por mulheres não eram rentáveis. O caminho para chegarmos neste momento, porém, foi longo. Bem longo. E desbravado por mulheres fortes, grandes atrizes que, contra tudo e contra todos, não titubearam em levar o ‘girl power’ para o ‘mainstream’. Com a estreia de Capitã Marvel, neste artigo especial uma análise sobre a evolução do protagonismo feminino dentro do universo de ação ao longo das últimas décadas. 


- Johnny Guitar (1954)


Durante muito tempo, o Western era o equivalente ao cinema de ação dos dias de hoje. As grandes produções pertenciam ao gênero. Os grandes astros saiam dele. A masculinidade imperava em produções imponentes que se acostumaram a alimentar o rótulo da donzela indefesa. Uma das raras exceções do segmento foi o pioneiro Johnny Guitar. Embora trouxesse no seu título o nome de um personagem masculino, numa esperta tentativa de mascarar as suas reais intenções, o eclético diretor Nicolas Ray (Juventude Transviada, O Rei dos Reis) refrescou o clássico faroeste ao encontrar na imponência da atriz Joan Crawford o ímpeto necessário para criar uma das primeiras grandes protagonistas do cinema de ação. Na pele de Vienna, uma dona de bar independente que entra na mira dos figurões da sua cidade ao dar abrigo a um bandido fugitivo (Sterling Hayden), a estrela vencedora do Oscar por Alma em Suplício (1945) entregou uma personagem única na sua época, uma mulher de fibra capaz de responder pelos seus atos diante de qualquer homem. Mesmo sem grandes cenas de ação, Crowford se impõe em cena com fibra e muita intensidade, rompendo com os clichês da época ao surgir trajando calças compridas, pegando em armas e se fazendo ouvir num ambiente majoritariamente masculino. Uma personagem naturalmente a frente do seu tempo que, graças a sagacidade de Ray, ganhou um impacto ainda maior devido a forma quase patética com que o longa pinta os personagens masculino. Aqui, de fato, as mulheres estão no comando, algo que transformou Vienna numa personagem exemplar na luta pela representatividade feminina dentro do universo blockbuster. Como esperado, Johnny Guitar não foi bem recebido pelo público e pela crítica na época do seu lançamento, mas, nos anos seguintes, se transformou em um influente ‘hit’ cult.

- Coffy (1973)


Duas décadas depois. Hollywood precisou de vinte anos para entregar (pequeno) grande filme de ação estrelado por uma mulher. Num contexto completamente diferente, uma América miscigenada, urbana e ativa na luta pelos direitos raciais, nasceu do desvalorizado universo do Blaxpoitation a pérola Coffy: Em Busca de Vingança (1973). Lançado sem qualquer tipo de pretensão, algo que, diga-se de passagem, se tornou a “alma do negócio” dos melhores filmes deste segmento, o longa dirigido por Jack Hill transformou Pam Grier numa das expoentes do cinema de ação feminino. Na pele de uma mulher hipersexualizada, uma enfermeira com sede de vingança disposta a tudo para desafiar os responsáveis por viciar a sua irmã caçula, a atriz criou uma protagonista imparável, agressiva e senhora de si, um tipo destemido até então inédito dentro do segmento. Embora, seguindo o viés masculinizado do Blaxploitation, Hill não relute em explorar as voluptuosas curvas da sua estrela, o longa foi muito além da “apelação” gratuita ao dar a Grier um arco extremamente digno, uma história de vingança que o mundo do cinema havia se acostumado a ver sob a perspectiva masculina. Usando a feminilidade da atriz a favor do gênero, o que fica bem claro quando percebemos o ferino ‘modus operandi’ da protagonista, Coffy se tornou um dos filmes de ação mais influentes dos anos 1970. Ainda que se sustentando demais na sexualização da personagem, um “vício” que, infelizmente, se tornaria muito comum nos anos seguintes dentro da indústria, a produção abriu as portas para uma série de outros filmes de ação estrelados por mulheres, dando a própria Pam Grier a oportunidade de voltar aos holofotes no ano seguinte com o igualmente importante Foxy Brown (1974). Excessos a parte, as mulheres dos grandes centros urbanos finalmente tiveram a chance de se sentir representadas dentro do gênero.

- Star Wars: Uma Nova Esperança (1977)


Foi com Star Wars: Uma Nova Esperança, entretanto, que a posição da mulher dentro do universo blockbuster começou a mudar verdadeiramente. Após algumas ousadias em pequenas obras, ver uma gigantesca produção de Hollywood apostar na figura de uma heroína abalou as estruturas do segmento. E a personagem não poderia ser melhor. Leia Organa se tornou com toda justiça um inesquecível ícone pop. Interpretada com magnetismo pela saudosa Carrie Fisher, que, consciente da grande oportunidade que tinha em mãos, injetou a sua própria luz e a sua mentalidade despojada na protagonista, a princesa rebelde se revelou uma figura muito a frente do seu tempo. Estávamos diante de uma personagem corajosa, persuasiva, inteligente, uma mulher capaz de liderar a revolução contra a tirania. George Lucas, entretanto, não queria apenas criar uma heroína inacessível. Graças também a personalidade radiante de Fisher, Leia escondia na sua evidente valentia características extremamente reconhecíveis. Uma aura moleca\romântica\irônica que ajudou a redefinir o estado das coisas em Hollywood. Com o estrondoso sucesso de público da obra, Uma Nova Esperança se tornou a primeira grande franquia cinematográfica estrelada por uma mulher, algo que, infelizmente, não ecoou pelo universo do cinema de ação como deveria. O feito, porém, era inquestionável. Pela primeira vez estávamos diante de uma princesa nada indefesa e de um filme capaz de romper com o estigma do sexo frágil aos olhos do grande público. Pena que, ainda hoje, muitos nerds\geeks não tenham aprendido nada com a obra que ajudou a moldar o conceito de cultura pop nas últimas cinco décadas. O que fica bem claro, em especial, com a grita envolvendo a ‘bad-ass’ Rey (Daisy Ridley) e o seu protagonismo dentro da nova trilogia.

- Alien: O Oitavo Passageiro (1979)


A década de 1970 foi transformadora no cinemão norte-americano. Influenciados pela Nova Hollywood, a indústria como um todo rompeu com o classicismo sem sequer pestanejar, dando espaço as novas vozes em obras plurais, independentes e com muito a dizer. Nada mais justo que, no ápice deste movimento, surgisse uma das maiores personagens femininas da história do cinema. Ridley Scott encontrou em Alien: O Oitavo Passageiro a oportunidade perfeita para entregar algo completamente novo. Desde a vanguardista campanha de marketing, passando pela ousada abordagem espacial, e chegando a escolha do elenco, tudo exalava o frescor da renovação. Uma expectativa saciada com louvor, em especial, graças ao protagonismo dado a Sigourney Weaver. Tratada inicialmente como uma personagem secundária, apenas mais uma peça dentro da trama, Ellen Ripley cresceu ao longo da obra para se tornar um verdadeiro símbolo da cultura pop moderna. Na pele de uma mecânica rústica, pouco vaidosa e resiliente, Weaver elevou a sua carreira a um novo patamar ao viver um modelo de heroína completamente inovador. Uma mulher ‘bad-ass’ de poucas palavras, mas muita atitude. É legal ver como Scott realça a feminilidade da protagonista sem apelar para o óbvio. O foco aqui não está na beleza, nem nos clichês sexuais. Ellen Ripley é prática, independente, astuta. Do tipo que não se esconde atrás do herói masculino. Ela só quer sobreviver e lutar pela vida daqueles que a importam. Algo que se refletiu também nas demais sequências, em especial no igualmente primoroso Aliens: O Resgate (1992), quando, já sob a adrenalizada batuta de James Cameron, Ripley deixou o instinto materno falar mais alto num contexto totalmente coerente com a sua personalidade. Talvez uma das figuras mais influentes desta lista, Ellen Ripley inaugurou em Alien: O Oitavo Passageiro um novo tipo de protagonismo feminino dentro do cinema de ação. O da mulher fisicamente forte, destemida, uma heroína nada improvável pensada para sobreviver sem precisar “apelar” para características mais comumente associadas às personagens femininas dentro do cinema daquele período. Em pensar que, num primeiro momento, a personagem foi desenvolvida para ser interpretada por um homem, mas, durante a pré-produção, Scott decidiu mudar o seu gênero do seu protagonista após a escalação de Sigourney Weaver.

- Nikita: Programada para Matar (1990)


Se hoje temos títulos como Capitã Marvel e Mulher-Maravilha, muito devemos a nomes como o do francês Luc Besson. Ao longo de sua prolífera carreira, o realizador se acostumou a dar a atrizes o protagonismo dentro dos seus enérgicos filmes, o que fica bem claro no cultuado Nikita: Programada para Matar. Na pele de um ex-presidiária agressiva treinada para ser uma letal assassina profissional, Anne Parillaud entrou para o ‘hall’ das precursoras dentro do gênero ao criar uma personagem feroz, por vezes impiedosa, uma mulher um tanto quanto instável em busca da dignidade perdida. Embora já fosse possível perceber nela traços de outras figuras desta lista, em especial o visual sexualizado de Coffy e a rudeza ‘bad-ass’ de Ripley, Besson conseguiu adicionar elementos novos ao segmento ao realçar também a sua face mais frágil. Na verdade, a partir desta singular característica, o realizador consegue criar um inusitado triângulo amoroso em torno dela, conferindo ao longa um charme todo especial. E isso, óbvio, sem nunca sacrificar a independência da personagem, que fica bem clara dentro do último ato. No final das contas, ela só queria reaver a sua identidade e a sua liberdade. Com Nikita, Luc Besson resgatou a força das ‘femme fatales’, conseguindo ir além do ‘sex-appeal’ de Parillaud (e da sua metamorfose visual em cena) ao dar a ela um arco complexo, com nuances próprias e uma jornada genuinamente feminina. E isso sem precisar abrir mão da beleza e da sua feminilidade.

- O Exterminador do Futuro 2 (1991)


Nos anos 1980 e parte de 1990, o cinema de ação foi invadido pelos populares exércitos de um homem só. Uma visão estritamente masculina do gênero que consagrou nomes como Sylvester Stallone (Rambo), Arnold Schwarzenneger (Predador), Chuck Norris (Operação Delta), Steven Seagal (Força em Alerta) e alguns outros. Talvez a grande representante feminina deste subgênero tenha sido Linda Hamilton e a sua renovada Sarah Connor no magnífico O Exterminador do Futuro 2. Numa daquelas sacadas de gênio, James Cameron (olha ele de novo por aqui) reinventou o ‘status quo’ da sua própria franquia ao romper com o original. Se no igualmente memorável primeiro filme Hamilton surgia como uma futura mãe obrigada a sobreviver ao lado de um viajante do futuro, na continuação o que vimos foi uma verdadeira metamorfose. Esqueça o elo mais fraco. Esqueça os clichês românticos. Connor surge aqui “monstruosa”, uma máquina furiosa preparada para proteger o seu filho de uma nova e perigosa ameaça. Num esperto trabalho de recomposição de personagem, Hamilton fincou os dois pés no cinema de ação ao criar uma heroína implacável, forte e destemida. Por mais que Schwarzenneger reapareça também para dividir os holofotes do protagonismo, é na transformação de Sarah Connor que o longa se sustenta, levando a questão da igualdade a sério ao dar a ela traços que ainda hoje se refletem em boa parte das estrelas do cinema de ação. Uma mistura de força e emoção fez muito bem ao gênero como um todo.

- O Quinto Elemento (1997)


Nos anos 1990, influenciado pelo hit Nikita: Programado para Matar, vimos uma “explosão” das belas heroínas em Hollywood. Tivemos Alicia Silverstone em Buffy: A Caça Vampiros (1992), Sharon Stone em O Especialista (1994), Demi Moore em Até o Limite da Honra (1997), Dina Meyer em Tropas Estrelares (1997), Carrie Anne-Moss em Matrix (1999). Coube a Luc Besson, no entanto, mais uma vez a missão de entregar uma das grandes heroínas de ação da década. Na magnífica ‘space opera’ O Quinto Elemento, o realizador francês ofuscou a presença do astro Bruce Willis a dar a Milla Jovovich a oportunidade de se transformar num dos grandes rostos femininos do gênero na atualidade. Na pele da ‘bad-ass’ Leloo, a então promissora jovem atriz esbanjou fisicalidade ao viver uma “escolhida”, uma mulher inocente e letal que se transforma na última esperança da Terra contra uma ameaça apocalíptica. Sob a criativa batuta de Besson, no auge da sua carreira, Jovovich entregou uma heroína sexy, ‘bad-ass’, engraçada e também vulnerável, uma personagem singular que ajudou a pavimentar a estrada rumo ao protagonismo feminino dentro do gênero. Embora, num primeiro momento, o longa não tenha conseguido grande sucesso de público\crítica, com o passar dos anos o Sci-Fi de ação se tornou um adorado hit cult. Além disso, O Quinto Elemento catapultou a carreira de Milla Jovovich que, nos anos seguintes, se consolidou no cinema de ação com a franquia Resident Evil, com o genérico Ultravioleta, com Os Três Mosqueteiros e com o ainda inédito Hellboy. Uma atriz que, consciente das suas limitações, aproveitou como poucos a brecha e não titubeou em abraçar o escapismo do cinema de ação.

- Lara Croft: Tomb Raider (2001)


Antes que Resident Evil explodisse em Hollywood, entretanto, uma outra adaptação de um jogo ajudou a consagrar uma das primeiras grandes estrelas femininas do cinema de ação. Baseado na série de games Tomb Raider, Lara Croft deu a Angelina Jolie a oportunidade que ela precisava para se transformar numa das realizadoras mais bem pagas de Hollywood. O pior filme desta lista, o longa dirigido por Simon West encontrou na exuberância da então promissora atriz a semelhança necessária para capturar o viés sexualizado da primeira geração desta série. É inegável, porém, que a produção não ficou reduzida a isso. Apesar de ter mantido alguns dos traços mais batidos da mídia original, com a preocupação óbvia de conquistar a atenção do público masculino, Lara Croft: Tomb Raider mostrou que uma mulher poderia assumir uma franquia deste porte e torna-la lucrativa. Além disso, mesmo limitada pelas baixas pretensões dos produtores, Jolie conseguiu criar uma heroína intrépida e destemida, ganhando assim um “passe” para uma série de outras produções do gênero. Nos anos seguintes, ela construiu o seu status em Hollywood dentro do gênero, atraindo os holofotes para si em títulos como Srº e Srª Smith (2005), Procurado (2008) e Salt (2010). Sempre com personagens sensuais, inteligentes e indiscutivelmente ameaçadoras.

- Kill Bill (2003)


Lá atrás, eu falei que Coffy se tornou um dos filmes de ação mais influentes dos anos 1970. E isso não é exagero. Dentre os grandes diretores que já admitiram publicamente a reverência ao clássico do blaxploitation, Quentin Tarantino sempre foi um dos maiores entusiastas. Prova disso é que, em 1997, o realizador decidiu criar uma espécie de continuação de Foxy Brown (1974) no subestimado Jackie Brown (1997). Com direito, inclusive, ao resgate da veterana Pam Grier. Foi em Kill Bill, entretanto, que Tarantino construiu a grande heroína feminina da sua filmografia. Novamente ao lado de Uma Thruman, uma das estrelas de Pulp Fiction, o diretor desfilou o seu vasto repertório de referências ao criar uma protagonista implacável. Uma noiva largada para morte com sede de vingança contra aquele que a abandonou. Como se não bastasse o saboroso arco da personagem, Tarantino ajudou a construir um verdadeiro ícone pop, uma mulher corajosa, perita em artes marciais, que não precisava de ninguém para conseguir o que queria. E isso, verdade seja dita, sem sacrificar as emoções da personagem, que, naturalmente, se transforma num dos seus pontos mais fracos ao longo dos dois capítulos. O resultado é uma heroína complexa, com nuances próprias, uma jornada violenta e genuinamente feminina. Uma das personagens mais representativas desta lista.

- Mad Max: Estrada da Fúria (2015)


Nos anos seguintes o que vimos foi uma profusão de ‘sidekicks’. Tivemos a Hit-Girl de Kick Ass, a Viúva Negra de Os Vingadores, a Rita de No Limite do Amanhã, a Gamora de Guardiões da Galáxia, a Letty da renovada franquia Velozes e Furiosas. Faltava, porém, um grande blockbuster do gênero estrelado por uma mulher. E ele “brotou” da fonte mais inimaginável possível. Do alto dos seus 70 anos, o veterano George Miller resolveu mudar o ‘status quo’ da sua franquia no magnífico Mad Max: Estrada da Fúria. Numa sacada de gênio, o realizador australiano ousou ao entregar o protagonismo para uma mulher, e que mulher! Os hates e trolls não conseguiram sequer anotar a placa. Imperatriz Furiosa levou a questão da representatividade muito a sério. Como se não bastasse o forte contexto feminista da obra, Charlize Theron causou um justificável frisson ao entregar uma heroína destemida, respeitada, um tipo capaz de desafiar a tirania masculina sem nunca se render. Embora novamente no título da obra, o Mad Max de Tom Hardy virou o ‘sidekick’ da vez, estendendo o tapete vermelho para que Furiosa e Theron pudessem brilhar. O resultado foi uma obra visionária, o empurrão que os produtores precisavam para enxergar o quão importante era a luta por representatividade feminina dentro do cinema de ação. Por mais que, a rigor, o longa não tenha chegado perto de fazer o sucesso comercial esperado, o impacto de Mad Max: Estrada da Fúria foi tão grande, mais tão grande, que logo ecoou no tão cobiçado universo dos super-heróis. Finalmente!

- Mulher-Maravilha (2016)


Na fase de Ouro dos super-heróis do cinema, um período que consiste do início dos anos 2000 até os dias de hoje, as heroínas sempre foram relegadas. Embora nos filmes de “grupo” personagens como Tempestade, Mística, Jean Gray, Viúva Negra, Gamora, Feiticeira Escarlate fossem muito importante, quando assunto eram os filmes solos os resultados foram desastrosos. Mulher-Gato e Elektra que o digam. Durante muito tempo, inclusive, Hollywood se viu assombrada por estas péssimas obras, o que reduziu a praticamente zero a chance de um grande blockbuster pilotado por uma mulher. Com o tempo, porém, as cicatrizes foram se cicatrizando. O gênero mudou e o público feminino exigia por representatividade. Eis que, após um longo e tenebroso inverno, a dobradinha DC\Warner decidiu tomar as rédeas do gênero. Com bem pouco a perder, os produtores resolverem investir pesado no seu aditivo menos desgastado. Um dos poucos pontos inquestionáveis do desastrado Batman Vs Superman, a Mulher-Maravilha de Gal Gadot deu a certeza que todos precisavam para investir no primeiro grande filme solo de super-herói liderado por uma mulher. O resultado superou todas as expectativas. Wonder Woman se tornou de longe o filme mais bem-sucedido da nova DC. Respeitando ao máximo a essência da personagem, que surgiu aqui empoderada, independente e acima de tudo implacável, a diretora Patty Jenkins entregou aquilo que o público feminino tanto clamava. Uma heroína para inspirar crianças e adultos, independentemente do gênero. A Diana Prince de Gal Gadot demoliu todos os paradigmas. Trouxe luz, feminilidade e bravura para o escurecido universo DC. Apesar das escorregada romântica no terço final, Patty Jenkins nos brindou com o filme que o mundo do cinema precisava para quebrar certos tabus, se tornando o primeiro longa dirigido por uma mulher a superar (por muito) a marca dos US$ 100 milhões nas bilheterias.

- Capitã Marvel (2018)


Eis que chegamos ao filme que todo mundo esperava. Referência máxima quando o assunto é o gênero blockbuster na atualidade, o Universo Cinematográfico da Marvel perdeu o ‘timing’ quando o assunto é o protagonismo feminino. Embora, desde a sua fase inicial, as mulheres sempre fossem representadas com muita força e identidade dentro do MCU, a demora em entregar um filme solo incomodou. Com Capitã Marvel, porém, o que vemos é o triunfo do protagonismo feminino dentro do cinema de ação. Mesmo atacada por haters, o longa estrelado por uma independente Brie Larson faturou US$ 456 milhões no seu primeiro final de semana em cartaz. Mais do que isso, alvo de questionamentos por parte da crítica, o longa dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck fez questão de oferecer ao pública uma heroína com anseios próprios, que não está preocupada em agradar, em conquistar, em romantizar, mas em cumprir os seus objetivos da forma mais objetiva possível. Uma personagem que aprendeu a cair, sacudir a poeira e se reerguer. A lutar pelo que é seu e desafiar qualquer um que cruze o seu caminho. Uma mulher do século XXI, briosa, impetuosa e capaz de se defender. Não seria uns trolls de internet que a impediriam de voar alto, bem alto.

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