Numa daquelas histórias típicas de Hollywood, a mexicana Yalitza Aparício viu a sua vida se transformar da noite para o dia. Habitante de um pequeno vilarejo do país da América do Norte, ela só queria começar a dar aulas após se formar como professora. A sua rotina, entretanto, ganhou um novo rumo quando Yalitza, a pedido da sua irmã grávida, resolveu acompanha-la num teste para um filme que ela desconhecia por completo. Chegando lá, num daqueles acasos do destino, os produtores se interessaram pela expressiva jovem. Convencida pela irmã, Yalitza topou fazer o teste também, mas sem qualquer pretensão. Tempos mais tarde uma ligação a pegou desprevenida. Após uma longa busca, a aspirante à professora foi escolhida para estrelar a mais nova produção original Netflix. Sem sequer fazer ideia de quem era Alfonso Cuarón, Yalitza, num primeiro momento, ficou desconfiada. Chegou a suspeitar que tudo não passava de um esquema de tráfico de órgãos. Felizmente, o medo não a afastou desta oportunidade. Na pele da humana Cleo, uma zelosa babá obrigada a encarar as incertezas da maternidade numa fase complicada da sua vida, Yalitza Aparício se tornou o coração de Roma, um drama familiar imponente e poderoso que logo se tornou um estrondoso sucesso ao redor do mundo. De quebra, a agora atriz surpreendeu a muitos ao conseguir uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, um feito raríssimo para uma estreante na indústria. Uma escolha justíssima que só comprova a força deste incrível longa. Curiosamente, entretanto, Yalitza não foi a primeira (o) a conseguir uma nomeação assim tão “cedo” na sua carreira. Neste artigo, portanto, vamos lembrar de outros dez atores indicados ao Oscar na sua primeira atuação.
- Anna Paquin (O Piano)
E nada melhor do que começar com
um dos exemplos mais bem-sucedidos desta lista. Com apenas onze aninhos, a
neozelandesa Anna Paquin foi apresentada ao mundo do cinema ao conquistar uma
indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por O Piano (1994). Além de ter
se tornado na época a segunda atriz mais jovem a conseguir uma nomeação, Paquin
causou tanto impacto que acabou conquistando a estatueta dourada pela sua
performance na odisseia feminina dirigida por Jane Campion. Embora essa tenha
sido a sua única indicação\conquista do Oscar desde então, Anna Paquin se
tornou um rosto extremamente conhecido em Hollywood nos anos seguintes, graças
a títulos como Voando para Casa (1996), Amistad (1997), Quase Famosos (2000) e
(claro!) a franquia X-Men.
- Justin Henry (Kramer vs Kramer)
Ainda hoje o ator mais jovem a
ter, aos oito anos, conseguido uma indicação ao Oscar, Justin Henry quebrou
todos os recordes a conseguir uma nomeação ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante
por sua marcante performance no emotivo drama de tribunal Kramer Vs Kramer. Na
pele de um esperto garoto obrigado a conviver tão precocemente com as sequelas
do divórcio, o pequeno ator entregou uma atuação extremamente complexa, o que o
coloca (ainda hoje) em listas das melhores atuações infantis da história do
cinema. Embora a sua carreira não tenha decolado da mesma forma como a de
outras estrelas juvenis do cinema, Justin Henry seguiu na ativa nos anos
seguintes, marcando presença em títulos como Gatinhas e Gatões (1984) e Amores
em Conflito (1988).
- Tatum O’Neal (Lua de Papel)
Se engana, porém, que acha que
Anna Paquin é a vencedora do Oscar mais jovem na história da premiação. Com
apenas 10 aninhos, a pequena prodígio Tatum O’Neal levou a estatueta dourada de
Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel na comédia dramática Lua de Papel
(1973). Ao lado do seu pai, o astro dos anos 1970 e 1980 Ryan O’Neal, Tatum
ganhou um repentino status na indústria, se tornando um dos rostos infantis
mais bem-sucedidos da sua geração. Prova disso é que, dois anos depois de Lua
de Papel, a jovem fechou um expressivo contrato de US$ 350 mil para estrelar a
comédia esportiva Garotos em Ponto de Bala (1976). Assim como muitas estrelas
‘kids’, entretanto, com a maturidade Tatum O’Neal perdeu espaço. Conhecida por
ter sido uma das namoradas de Michael Jackson, ela seguiu atuando em filmes
menores, entre eles Choque Mortal (1985) e Basquiat (1996). Recentemente,
aliás, a atriz fez um ponta no romance cômico Um Amor em Cada Esquina (2014),
voltando a trabalhar com o diretor Peter Bogdanovich (diretor de Lua de Papel) após
quarenta anos.
- Barkhad Abdi (Capitão Philips)
Imigrante da Somália, Barkhad
Abdi seguiu um caminho bem semelhante ao de Yalitza Aparício. Embora já nos
EUA, o então motorista de limousines e DJ não tinha grandes aspirações
artísticas. Isso até o enérgico diretor Paul Greengrass decidir contar a
história real de um capitão da marinha-mercantil norte-americana que viu a sua
tripulação ser sequestrada por um bando de perigosos piratas somalis. Escolhido
a dedo para viver o inteligente Muse, um pescador em sérios problemas obrigado
a seguir um agressivo caminho para sobreviver, Abdi entregou uma performance
impactante, entregando um personagem humano, complexo, mas determinado a não
ser pego em águas internacionais. Mesmo diante da imponente figura de Tom
Hanks, numa das suas inúmeras performances memoráveis, Barkhad Abdi não se
intimidou, conquistando assim uma merecida indicação ao Oscar de Melhor Ator
Coadjuvante. Impulsionado por esta marcante atuação, o ator naturalizado
americano conseguiu emplacar uma carreira sólida em Hollywood, ganhando papéis
relevantes em títulos do porte Decisão de Risco (2015), Bom Comportamento
(2017) e Blade Runner 2049 (2017).
- Quvenzhané Wallis (Indomável
Sonhadora)
Eis a responsável por bater a
marca que até então pertencia a Anna Paquin. Graças a sua performance vigorosa,
a precoce Quvenzhané Wallis se tornou com nove anos a atriz mais jovem a
conseguir uma indicação ao Oscar de Melhor Filme. Na pele da resiliente
Hushpuppy, a filha de um morador de uma das regiões mais inóspitas em
território norte-americano, a pequena conquistou a Academia num trabalho
revigorante, impregnando com ingenuidade o realista longa do diretor Behn
Zeitlin. Impulsionado por esta triunfante pérola do cinema ‘indie’, Wallis seguiu
firme construindo a sua carreira em Hollywood, brilhando em títulos como o remake
do musical Annie (2014) e a popular animação Trolls (2016). Em pensar que, por
muito pouco, a jovem não conseguiu o papel de Hushpuppy. Na época dos testes,
Wallis tinha apenas cinco anos, um a menos que o exigido pela produção. Numa
decisão corajosa, porém, a família dela decidiu omitir a sua idade, garantindo
assim a sua participação nas audições e futuramente o papel que viria a mudar a
sua vida. Melhor para o público que foi premiado com esta fenomenal
performance.
- Gabourey Sidibe (Preciosa: Uma
História de Esperança)
As vezes a oportunidade chega
mais tarde. Bem mais tarde. Beirando os trinta anos, Gabourey Sidibe ganhou a
chance de interpretar uma jovem de 16 anos traumatizada por uma rotina de
abusos no elogiado drama Preciosa: Uma História de Esperança. Embora,
teoricamente, ela não tivesse a idade exigida para o papel, a então
ex-recepcionista impressionou o público e a crítica com uma performance dura,
realista, exprimindo em tela a dor de uma adolescente vítima da crueldade
humana. Indicada ao Oscar de Melhor Atriz, Gabourey não perdeu a oportunidade
para embarcar na sua tão sonhada carreira de atriz, brilhando – em especial –
na TV em séries como American Horror Story e Empire.
- Jennifer Hudson (Dreamgirls)
Após brilhar num reality-show
musical da TV americana, Jennifer Hudson mostrou que tinha muito mais a
oferecer do que a sua voz no musical Dreamgirls. Na pele de uma artista
talentosa refém de um relacionamento abusivo com o empresário do seu grupo, a
então cantora entregou uma performance completa, roubando o show de nomes como
Beyoncé e Terrence Howard numa atuação densa e dramaticamente complexa.
Indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e laureada pela sua participação
na elogiada trilha sonora do longa, Hudson conseguiu nos anos seguintes
conciliar a carreira de atriz e cantora com muita categoria, permanecendo
atuante mesmo sem emplacar um grande filme do porte de Dreamgirls.
- Keisha Castle-Hughes (Encantadora de Baleias)
Da Nova Zelândia para o mundo, Keisha Castle-Hughes foi mais uma das grandes descobertas de Hollywood. Com apenas 11 anos, a então pacata estudante ganhou a oportunidade de estrelar o aclamado longa Encantadora de Baleias. Na pele da personagem título, uma garotinha maori em busca de reconhecimento do seu avô, Keisha conseguiu uma inesperada indicação ao Oscar de Melhor Atriz, um prêmio justo diante da sua poderosa performance. Impulsionada por este enorme reconhecimento, ela seguiu atuante dentro da indústria nos anos seguintes, chegando a ganhar papéis importantes em séries do porte de The Walking Dead e Game of Thrones.
- Edward Norton (As Duas Faces de
Um Crime)
Talvez o nome mais consagrado da
lista, Edward Norton mostrou logo no seu primeiro papel o que tinha a oferecer
para a indústria. Após uma minúscula experiência numa espécie de Telecurso 2000
para VHS nos EUA, o então desconhecido ator não titubeou em fazer de As Duas
Faces do Crime a sua porta de entrada para a indústria do cinema. Num trabalho
desconcertante, Norton esbanjou o seu poder persuasão ao viver um jovem de
passado nebuloso obrigado a encarar as suas mais duras lembranças na luta para
ser inocentado da acusação de assassinato. Dividindo a tela com Richard Gere,
Norton é a melhor coisa deste imprevisível suspense, conferindo um indiscutível
peso dramático à obra do diretor Gregory Hobiltt. Com a indicação ao Oscar de
Melhor Ator Coadjuvante, Norton, então com 27 anos, viu uma série de portas
abrirem, se tornando uma referência nos anos seguintes graças a títulos como O
Povo Contra Larry Flint (1996), Cartas na Mesa (1998), A Outra História
Americana (1998) e Clube da Luta (1999).
- Oprah Winfrey (A Cor Púrpura)
Falar sobre Oprah Winfrey é um
tanto quanto desnecessário. Uma das mais poderosas mulheres dentro da indústria
do entretenimento norte-americano, a apresentadora, produtora e atriz emplacou
logo no seu primeiro filme uma performance digna de uma indicação ao Oscar. E
que filme! Sob a batuta de Steven Spielberg, A Cor Púrpura comoveu plateias ao
redor do mundo ao narrar as desventuras de duas irmãs separadas numa América
segregada. Na pele de uma espécie de amiga\confidente da protagonista vivida
por Whoopi Goldberg, Oprah Winfrey roubou a cena num trabalho intenso, uma
performance consciente da dor enfrentada pelos seus antepassados. Uma entrega
que, obviamente, foi reconhecida pela Academia com a indicação ao Oscar de
Melhor Atriz Coadjuvante. Nos anos seguintes, seja na TV, seja no Cinema, Oprah
se manteve como sinônimo do sucesso, tendo o seu nome atrelado a títulos do
porte de A Princesa e o Sapo (2009), O Mordomo da Casa Branca (2013) e Selma
(2014).
- Angela Lansbury (A Meia Luz)
Dona de uma das carreiras mais
longevas da indústria, a veterana Angela Lansbury estreou emplacando uma
indicação ao Oscar no drama A Meia Luz. Influenciada pela sua mãe, uma
entusiasta do mundo da arte, a atriz de origem britânica construiu uma carreira
sólida a partir deste importante reconhecimento. Ao longo de sete décadas,
Lansbury se manteve sempre em evidência com títulos do quilate de O Retrato de
Dorian Gray (1945), Os Três Mosqueteiros (1948), O Mercador de Almas (1958), o
extraordinário Sob o Domínio da Mal (1962), Morte Sobre o Nilo (1978) e A Bela
e a Fera (1991). Do alto dos seus 94 anos, ela segue em plena atividade ainda
hoje, vide a sua participação no elogiado musical O Retorno de Mary Poppins.
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