Com base numa comovente história
de luta e injustiça, A Pequena Casa Rosa (Little Pink House, no original) é uma daquelas produções minúsculas
que não deveriam passar despercebidas. Inspirado em indignantes fatos reais, o
longa dirigido e roteirizado por Courtney Balaker dá uma importante voz aos
reprimidos ao recriar a dolorosa luta de uma mulher comum pelo direito de
manter a posse sobre a sua querida casa. Mais do que simplesmente expor a face
mais vil e predadora do sistema capitalista, o drama estrelado pela talentosa
Catherine Keener cativa ao se encantar pelo elemento humano por trás da batalha
de um brioso grupo de moradores de uma pequena cidade operária contra o poder
devastador da iniciativa privada.
Embora flerte com o teor caricatural no que diz respeito aos personagens "opressores", vide a afetada antagonista interpretada por Jeanne Tripplehorn, Courtney Balaker compensa ao tornar tudo o mais verdadeiro possível quando o assunto é o drama dos moradores diante da iminência do despejo sumário. Através do olhar simples da valente Susette (Keener), uma paramédica que encontrou na sua pequena casa rosa a paz para superar um divórcio, a realizadora é cuidadosa ao investigar o impacto da injustiça em uma comunidade até então esquecida pelo poder público. Sem grandes firulas estética e\ou narrativas, ela investe numa abordagem sem filtros, por vezes nua e crua, expondo os danos morais\pessoais\emocionais na rotina de indivíduos que viu o seu lar ruir de uma hora para outra.
Por mais que Catherine Keener
desfile a sua reconhecida sensibilidade na construção de uma mulher
independente capaz de desafiar o sistema na luta pelo que é seu, o grande
mérito de Courtney Balaker está no cuidado com que ela usa a sua obra para ouvir
o cidadão comum. Para expor com sutileza o impacto da desapropriação sob a
perspectiva de idosos, de pessoas que na fase mais vulnerável da sua existência
viram o esforço de uma vida ser tomado pelo Estado sem grandes justificativas.
O resultado são sequências desconcertantes capturadas com um forte senso de
nobreza pelas lentes de Balaker. Vida a realística cena da demolição e a
maneira com que a diretora traduz a força dos personagens mesmo em meio a uma
situação dilacerante. Além disso, por mais que o já citado viés maniqueísta
salte aos olhos quando o assunto fica pela construção dos personagens relacionados
ao Estado, o argumento compensa ao revelar o jogo sujo dos bastidores, ao
investigar a verdade por trás das promessas vazias de cunho social, culminando
num desfecho duro capaz de se entristecer pela situação enfrentada pelos
moradores sem deixar de reverenciar os frutos conseguidos por eles após uma
árdua batalha judicial.
Enfim, com personagens humanos,
uma premissa naturalmente empática e uma visão realística sobre a desprotegida
posição do indivíduo perante as grandes corporações, A Pequena Casa Rosa encanta
ao valorizar o poder da comunidade, ao defender sem um pingo de pieguice a tese
do "juntos somos mais fortes". Uma mensagem singela e edificante que
surge como um sopro de esperança num momento em que o individualismo parece
sempre falar mais alto.
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