domingo, 25 de março de 2018

Cinco Filmes (Domhnall Gleeson)


Trazendo no seu DNA o talento para atuação, Domhnall Gleeson já é um dos atores mais interessantes de Hollywood na atualidade. Filho do veterano Brendan Gleeson (Coração Valente, Extermínio, Gangues de Nova Iorque), o astro irlandês chegou em Hollywood colecionando grandes papéis, transitando entre os gêneros para se afirmar como um dos atores mais versáteis da sua geração. Numa ascensão meteórica, Gleeson conquistou o seu espaço com intensidade e um inegável carisma, se tornando um invejável “ladrão de cenas” em títulos como Não Me Abandone Jamais (2010), Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 e 2 (2010 e 2011) e Dredd (2012). Um daqueles atores que não precisa de muito para deixar a sua marca, ele, nos últimos cinco anos, ganhou um repentino – e justificado – status dentro da indústria, trilhando um caminho original ao não se ver obrigado a ficar no centro das atenções. Seja num adorável romance inglês, seja num genial Sci-Fi existencialista, seja numa das franquias mais populares da história, Domhnall Gleeson chegou disposto a conquistar o seu espaço, construindo uma filmografia digna dos melhores elogios. O que pode ser percebido no seu último grande filme, o subestimado Adeus, Christopher Robin (leia a nossa opinião aqui). Num daqueles trabalhos pensados para as grandes premiações, o denso longa dirigido por Simon Curtis coloca Gleeson como o escritor A. A Milne, o homem por trás do clássico Ursinho Pooh. Com um belo material em mãos, o ator enche a tela de sentimento ao interiorizar os conflitos de um homem pacífico traumatizado pela guerra, se distanciando do viés reverencial ao realçar o fator humano presente na película. E aproveitando que o tema é Domhnall Gleeson, neste Cinco Filmes listaremos as obras que o colocaram entre os grandes de Hollywood.

- Questão de Tempo (2013) 


Após roubar a cena na fase final da franquia Harry Potter e no elogiado Dredd, Domhnall Gleeson já estava por merecer uma chance como protagonista. E ela veio das mãos do talentoso Richard Curtis no extraordinário Questão de Tempo (2013). Um dos filmes mais bonitos que já tive a oportunidade de assistir na tela grande, o longa britânico encantou o público ao narrar a jornada de um inseguro jovem que, ao descobrir que podia viajar no tempo, decide usar o seu dom para conquistar a garota dos seus sonhos. Numa mistura de romance com ficção científica, Curtis deu a Gleeson a chance que ele precisava para exibir o seu talento, extraindo o seu carisma e sensibilidade ao criar uma mágica história de amor. Impulsionado pela excelente química com os seus parceiros de cena, a magnética Rachel McAdams (Meninas Malvadas) e o igualmente versátil Bill Nighy (Anjos da Noite, Simplesmente Amor), o então promissor ator irlandês brilhou ao capturar a essência da obra, ao transitar entre o drama e a comédia com leveza e emoção, realçando a delicadeza do texto de Curtis ao valorizar o fator humano, ao mostrar que a vida normal pode ser por si só tão mágica. O resultado é um ‘feel good movie’ fascinante, um filme inteligente, comovente e original que, como se não bastasse os seus inúmeros predicados narrativos\visuais, também nos apresentou outra grande atriz da sua geração, a radiante Margot Robbie (O Lobo de Wall Street, Eu, Tonya). 

- Frank (2014) 


Protagonizar um filme coestrelado por Michael Fassbender (X-Men: Primeira Classe, Bastardos Inglórios) não é para qualquer um. Numa coprodução inglesa, irlandesa e norte-americana, Frank deu a Domhnall Gleeson a oportunidade de se afirmar no prestigiado cenário ‘indie’ ao narrar a desaventurada jornada de um músico aspirante que é contratado pelo vocalista de uma inusitada banda alternativa. Na pele do simpático Jon, um jovem comum, com uma rotina ordinária, Gleeson se torna os “olhos do público” diante do cenário adoravelmente esquisito pensado pelo talentoso diretor Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack). Recheado de singulares números musicais, o realizador envolve ao se debruçar sobre a disfuncional dinâmica de um grupo liderado por um virtuoso vocalista (Fassbender) que vive com uma cabeçorra de papel machê escondendo a sua identidade. Impecável ao estabelecer a sincera conexão entre os protagonistas, Abrahamson tira o máximo da química entre Gleeson, Fassbender e a também ótima Maggie Gyllenhaal, encontrando os ingredientes para a construção de uma ‘dramédia’ agridoce sobre a realidade de um artista\grupo independente e os espinhosos percalços na busca pelo sucesso. 

- Ex_Machina: Instinto Artificial (2015) 


Com um renovado status em Hollywood, Dohmnall Gleeson “pisou no acelerado” e passou a enfileirar trabalhos de respeito nos anos seguintes. Após dividir a cena com o seu pai no elogiado drama Calvário (2014) e coestrelar o drama de guerra Invencível (2014), o ator irlandês se afirmou de vez no instigante Ex_Machina (2014). Reunindo três dos astros estrangeiros mais talentosos na atualidade, além de Gleeson a sueca Alicia Vikander e o guatemalteco Oscar Isaac, o longa dirigido pelo talentoso Alex Garland conquistou o cérebro dos fãs do cinema Sci-Fi ao investir num thriller denso, sedutor e naturalmente envolvente. Dando vida ao introspectivo Caleb, um jovem programador que, para a sua surpresa, é recrutado por um excêntrico e recluso midas da tecnologia para participar de um misterioso experimento. Lá ele terá que atestar a capacidade cognitiva de Ava, uma inteligência artificial num cibernético corpo feminino que esconde na sua fragilidade alguns instigantes segredos. Na pele do elemento inocente da película, Gleeson, novamente, se torna os olhos do público dentro da trama, um personagem errático dividido entre a razão e a emoção. Uma relutância perigosíssima dentro do contexto proposto por Garland. Com um forte viés feminino, nas entrelinhas o realizador questiona a falta de voz, o machismo e o sexisismo, o realizador abraça o viés existencialista ao revigorar uma discussão envolvendo os que nos define como um ser humano, um ser pensante, diluindo as barreiras dualísticas ao apontar a sua mira para as nossas mais enraizadas “falhas de programação”. O resultado é um filme inquietante e visualmente estiloso que, de maneira inteligente, propõe uma primorosa reflexão acerca da nossa relação com as novas tecnologias. 

- Star Wars: O Despertar da Força (2015) 


Ex_Machina foi um sucesso estrondoso. Um filme baratíssimo, de um realizador estreante que conquistou o público, a crítica e a estatueta do Oscar de Melhor Efeitos Visuais. Domhnall Glesson se tornou um nome a ser observado pelos grandes estúdios, um status que se comprovou no seu projeto seguinte, o excelente Brooklyn (2015). Na pele de um dos interesses românticos da protagonista vivida por Saiorse Ronan, ele mostrou que precisava de pouco para roubar a cena, um predicado que – indiscutivelmente – o conduziu a uma das maiores franquias de todos os tempos, a popular saga Star Wars. Escolhido a dedo por J.J Abrams, Gleeson se tornou parte do renovado elenco, da renovada série, encarando um dos personagens mais interessantes da revigorada trilogia, o vaidoso General Hux. Num personagem ardiloso e com sede de poder, o astro irlandês surgiu como um inteligente contraponto ao errático Kylo Ren (Adam Driver), um antagonista com um forte apelo cômico que, mesmo diante da falta de espaço dentro deste primeiro longa, disse ao que veio e se tornou um dos (inúmeros) fatores positivos do aclamado reboot\sequência. Uma aventura recheada de personagens marcantes e sequências empolgantes que, após a tão contestada trilogia prequel, recolou a saga Star Wars no prumo. E mesmo sem ganhar o status merecido no audacioso Star Wars: Os Últimos Jedi, Gleeson segue firme e forte na franquia, mostrando os ingredientes necessários para tornar o seu Hux o vilão que Snoke acabou não sendo. 

- O Regresso (2015) 


Foi no mesmo ano de 2015, entretanto, que Domhnall Gleeson reafirmou a sua capacidade de brilhar com pouco no excelente O Regresso. Dividindo a tela com Leonardo DiCaprio e Tom Hardy, dois dos nomes mais respeitados em Hollywood na atualidade, o irlandês ganhou um personagem de peso do diretor Alejandro G. Iñarritu, a voz da sensatez num cenário marcado pela violência e pela vingança. Na pele do capitão Andrew Henry, um homem justo e nobre que se mostra capaz de tomar as decisões mais difíceis mesmo nos momentos mais conturbados, Gleeson entregou um dos personagens mais marcantes de sua carreira, uma figura humana que rouba a cena sempre que está nela. No embalo da visceralidade proposta por Iñarritu, vide a genial e feroz sequência do urso, DiCaprio, Hardy e Gleeson protagonizam uma dinâmica muito particular, uma rixa extrema capturada com intensidade pelas lentes do talentoso realizador mexicano. Indicado a 12 Oscars, O Regresso levou três estatuetas, se tornando um raro sucesso de público e crítica. Isso porque, mesmo limitado pela elevada classificação etária, o longa faturou US$ 532 milhões ao redor do mundo, comprovando o faro de Gleeson para os bons papéis. Um predicado que seguiu inalterado nos últimos dois anos, já que o ator, mesmo na função de coadjuvante de luxo\coestrela, enfileirou ótimos trabalhos no competente Feito na América (2017), cinebiografia protagonizada por Tom Cruise, no polêmico Mãe (2017), suspense estrelado por Javier Bardem e Jennifer Lawrence, e no divertido Fútil e Inútil (2018), produção original da Netflix sobre os bastidores da criação da popular revista National Lampoon. Uma filmografia de respeito para alguém com “apenas” dez anos de carreira cinematográfica.

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