quarta-feira, 12 de julho de 2017

A Nona Vida de Louis Drax

Um filme tão desastrado quanto o personagem título

Adaptação do elogiado ‘best seller’ de Liz Jensen, A Nona Vida de Louis Drax é uma obra "estranha" que se perde nas suas próprias pretensões narrativas. Indeciso quanto o gênero\tom da película, o diretor Alexander Aja (Viagem Maldita) transita entre a Fantasia, o Suspense e o Romance com pouca desenvoltura, esvaziando o intimista arco infantil em prol de uma insossa história de amor e da construção do previsível 'plot twist'. O resultado é uma obra arrastada e mal montada que se sustenta, basicamente, no carisma do promissor protagonista e no inusitado cenário lúdico defendido pela trama. 

Flutuando por temas realmente pesados, a maioria deles desenvolvidos com uma superficialidade irritante, o argumento assinado pelo ator Max Minghella (A Rede Social) peca ao se desviar exageradamente do cativante arco do desastrado Louis Drax (Aiden Longworth, numa performance cheia de personalidade). Na verdade, enquanto se concentra na jornada do pequeno protagonista, o longa contorna os inúmeros problemas narrativos ao abraçar elementos genuinamente fantasiosos, fisgando a nossa atenção ao revelar os complexos conflitos mais íntimos do garoto sob um prisma subjetivo e sinceramente inocente. Na trama, após cair de um íngrime penhasco, o desafortunado Louis sobrevive milagrosamente, mas entra num profundo estado de coma. Sob os cuidados da sua superprotetora mãe (Sarah Gadon) e de um dedicado médico (Jamie Dornan), o jovem conhece uma imponente criatura e passa a se comunicar com ela. Em busca de respostas, Louis decide então tentar entender os mistérios em torno da sua existência, sem saber que iria se tornar a peça chave na investigação envolvendo a sua própria queda. 


Fazendo um inteligente uso da narração infantil, Alexandre Aja é inicialmente habilidoso ao estabelecer a faceta mais excêntrica do pequeno Louis. Com uma montagem esperta durante os quinze primeiros minutos, o realizador holandês introduz o viés lúdico com enorme energia, criando uma conexão quase que instantânea entre público e personagem. Afinal de contas, os mistérios em torno do garoto são instigantes, a relação dele com a criatura é impactante e os flasbacks envolvendo o seu simpático psiquiatra (Oliver Plat) são divertidíssimos. No momento em que o roteiro decide abrir espaço para as demais subtramas, entretanto, o longa se transforma numa arrastada bagunça. Por mais que o singelo arco infantil funcione até a comovente cena final, Aja peca ao transitar com superficialidade por temas naturalmente espinhosos, flertando com o suspense policial e com o romance sem um pingo de inspiração. Com um péssimo senso de simultaneidade, o diretor não só "estraga" o único 'plot twist' capaz de surpreender, no caso o enigma em torno da identidade do monstro, como também picota a trama de maneira inadvertida, perdendo um precioso tempo com a desentrosada relação entre mãe e médico e com a construção do conveniente clímax. Sem querer revelar muito, embora presente na obra original, o uso da hipnose surge, aqui, como um "Deus Ex Machina", uma solução forçada e mirabolante pessimamente estabelecida pelo roteiro.


Outro ponto que incomoda, e muito, é o raso desenvolvimento da tão explorada figura materna. Apesar do esforço da atriz Sarah Gadon, dedicada ao reproduzir a faceta mais fria da sua personagem, Alexandre Aja não consegue dar credibilidade aos dilemas mais íntimos da superprotetora mãe, introduzidos (em sua maioria) de maneira apressada no didático clímax. Além disso, embora acerte ao revelar os bastidores da queda sob um gradativo ponto de vista parcial, o diretor se atrapalha ao banalizar o uso do flashback, tornando algumas cenas repetitivas e completamente desnecessárias. Em contrapartida, Aja eleva o nível da película quando o assunto é o aspecto estético. Mesmo diante de evidentes limitações técnicas, vide o artificial uso do CGI na composição dos coloridos cenários, Aja é delicado ao construir a atmosfera lúdica defendida pelo longa, tornando a relação entre Louis e a criatura atraente aos olhos do público. Melhor ainda, aliás, são as belas sequências subaquáticas, uma criativa forma de traduzir o estado de coma\inércia do protagonista. Num todo, porém, a iluminada fotografia bucólica de Maxime Alexandre só amplia os problemas de tom da película, principalmente no que diz respeito a "passional" relação entre médico e mãe.


Tematicamente ousado, A Nona Vida de Louis Grax falha ao não explorar o inegável potencial de uma obra tão interessante. Por mais que o arco central seja bem resolvido, principalmente pelo cuidado de Alexandre Aja ao explorar o viés fantástico do livro, o longa não mostra o mesmo esmero na construção das demais subtramas, subaproveitando o elemento mágico ao tentar analisar os problemas em torno do exótico Louis Drax sob um ponto de vista vago e exageradamente adulto.

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