Uma das grandes representantes do cinema 'indie' norte-americano, a
carismática Greta Gerwig é uma realizadora rara. Avessa aos holofotes dos
grandes blockbusters, a talentosa atriz californiana construiu o seu nome em
produções de pequeno\médio porte, imprimindo sempre a sua personalidade ao
construir personagens independentes e frequentemente marcantes. Dona de uma
filmografia enxuta, mas recheada de sucessos de crítica, ela é uma daquelas
atrizes que merece o reconhecimento do grande público, principalmente pela sua
capacidade de escolher projetos capazes de levantar preciosas questões femininas
sem nunca parecer pedagógico e\ou panfletário. Como podemos perceber, por
exemplo, no seu último grande trabalho, o recém-lançado Mulheres do Século 20 (leia a nossa opinião aqui),
um recorte delicado e revigorante sobre os anseios mais íntimos de três
gerações de mulheres. Magnética, extrovertida e com um faro apurado para papéis
descolados, Greta Gerwig é uma das minhas atrizes favoritas, uma figura
proeminente que não se contentou em seguir o caminho mais fácil.
Indo de encontro a maioria das atrizes com o seu "status" em
Hollywood, Greta Gerwig não se viu obrigada a seguir o caminho do 'mainstream'.
Reconhecida pelo cuidado na composição das suas personagens, a atriz não parece
disposta a abrir mão da liberdade do cinema 'indie', o que vem se refletindo
nos seus últimos trabalhos. Em entrevista recente a revista Bilboard, ela
revelou o seu entusiasmo pelo feminino e pela preocupação com o fator humano
nos seus projetos. "Quando escrevo filmes, só escrevo sobre mulheres.
Existem papeis masculinos, mas eu estou mais interessado em mulheres. Eu estou
interessado em filmes sobre pessoas, não estereótipos, então eu tendo a
gravitar em direção a filmes que têm personagens complexos para homens e
mulheres", afirmou a atriz durante a divulgação de Mulheres do Século 20.
Atualmente casada com Noah Baumbach (Frances Ha), um dos grandes expoentes da
comédia independente americana, Greta Gerwig estreou em 2006 com um papel
pequeno na comédia dramática LOL. Dirigida por Joe Swanberg (Um Novo Começo), o
longa acompanha as relações de três homens, os examinando através da sua
conexão com a tecnologia.
Inserida no movimento Mumblecore, uma corrente cinematográfica conhecida
pelo improviso, pela simplicidade narrativa, pelo uso de atores desconhecidos e pelo método "faça você mesmo",
Greta Gerwig ganhou o seu primeiro papel de protagonista na comédia Hannah Sobe
as Escadas (2007). Também responsável pelo roteiro, ela interpreta um
recém-formada (foto acima) que consegue um emprego numa produtora de Chicago. Lá, Hannah se
envolve com os seus dois parceiros de escritório, colocando em risco a amizade
entre eles. Recebido de maneira amistosa pela crítica, o longa alavancou a
carreira de Gerwig, que, até então, ainda estava em dúvidas sobre o seu futuro
como atriz, já que antes de estrear LOL o seu sonho era se tornar uma
dramaturga. Em entrevista para o Tonight Show, no ano de 2010, Gerwig recordou esta
fase e expôs as dificuldades em torno deste início. "Eu estava realmente
depressiva. Eu tinha 25 anos (em 2008) e pensava. Essa era para ser a melhor
época e eu me sentia miserável, mas eu sentia que a atuação estava acontecendo
para mim e resolvi voltar as aulas de teatro", afirmou a atriz já numa
fase mais áurea de sua carreira. Antes disso, porém, ela teve que seguir se
dedicando a alguns trabalhos pequenos, entre eles os modestos Baghead (2008) e
Nights and Weekends (2008).
O ponto de virada na sua carreira, no entanto, aconteceu com o
lançamento de O Solteirão (2010). No seu primeiro trabalho com o seu então
namorado Noah Baumbach, Greta Gerwig ganhou um papel de destaque na 'dramédia'
independente estrelada pelo popular Ben Stiller. Na pele de uma solitária
assistente (foto acima) que se envolve com fracassado músico, a atriz roubou a cena num
filme coestrelado por nomes como Jennifer Jason Leigh, Rhys Ifans e June
Temple. Impulsionado por este trabalho, Gerwig chegou ao cinema blockbuster nas
comédias românticas Sexo sem Compromisso (2011) e Arthur, O Milionário Sedutor
(2011). Mesmo limitada pelas amarras do gênero, a atriz adicionou uma ‘vibe’
particular aos dois filmes, principalmente no criticado remake estrelado por
Russell Brand, revelando um magnético ar 'cool' que viria a marcar as suas
produções seguintes. De volta ao circuito 'indie', ele estrelou o exótico
Descobrindo o Amor (2011), uma comédia estrambólica sobre uma universitária que
resolve fazer um grupo de ajuda para animar os alunos depressivos. Recheado de
boas intenções, o ingênuo filme se distanciou perigosamente da realidade ao
tratar um tema tão importante, se tornando um dos trabalhos mais frágeis da sua
carreira. Ainda assim, Gerwig está muito bem na pele de uma exótica figura
incapaz de colocar a sua vocação altruísta em prática.
Após trabalhar com Woody Allen no insosso Para Roma, Com Amor (2012),
Greta Gerwig voltou a interpretar uma personagem com a sua cara no divertido
Lola Versus o Mundo (2012). Recebido de maneira morna pela crítica, o cativante
longa dirigido por Daryl Wein colocou a atriz como uma jovem frustrada que,
após levar um fora do seu noivo, resolve "sair a caça" e encontrar um
novo amor antes de completar trinta anos. O seu grande trabalho, porém, viria
no seu próximo filme, o aclamado Frances Ha (2012). Sob a batuta de Noah
Baumbach, Gerwig se tornou a alma deste estiloso e bem humorado romance. Também
responsável pelo roteiro, ela encarna a jovem Frances, um dançarina
desengonçada que vê a sua rotina mudar no momento em que a sua colega de quarto
resolve se casar. Com marcantes diálogos, carismáticos personagens e uma
fantástica trilha sonora, o filme se revela um sincero relato sobre a difícil
missão que é amadurecer, uma obra definitiva sobre a difícil transição da
juventude para a fase adulta. Na verdade, Frances surge como o símbolo de uma
geração reticente quanto ao seu futuro, um papel marcante que iniciou a atualmente
excelente fase da atriz.
Um das suas personagens mais complexas, entretanto, surgiria no
subestimado O Último Ato (2014). Dirigida pelo veterano Barry Levinson (Mera
Coincidência), Greta Gerwig fugiu da sua zona de conforto ao interpretar uma
jovem dúbia, uma mulher ora companheira e apaixonante, ora possessiva e
gananciosa. Dividindo a cena com o lendário Al Pacino, a atriz mostrou o seu
reconhecido charme ao protagonizar um instável relacionamento, uma inusitada
história de amor potencializada pela química do casal de atores e pelo afiado
senso de humor do roteiro. Um relato interessante sobre a decadência e os
métodos encontrados por um velho astro (Pacino) para retornar ao caminho das
boas atuações. Após contracenar com um verdadeiro ícone do cinema norte-americano, Gerwig
voltou a trabalhar com o seu marido no excelente Mistress America (2014). Dando
vida a uma espécie de super-heroína da geração do desapego (foto acima), a atriz arrancou
elogios da crítica ao encarar uma jovem independente que não se deixava levar
pelos tabus sociais impostos pelo mundo adulto. Assim como em Frances Ha, Greta
Gerwig cria uma figura moderna e encantadora, uma figura humana repleta de
dúvidas e certezas. Ela, aliás, foi também responsável pelo ótimo roteiro,
comprovando o seu faro na construção de memoráveis personagens femininas.
Consolidada como uma estrela do circuito independente, Greta Gerwig
voltou a interpretar uma figura autêntica no cômico O Plano de Maggie (2016). Conduzido
pela talentosa Rebecca Miller, o longa brinca ao discorrer sobre os
relacionamentos atuais dentro de um contexto irônico e levemente surreal. Na
pele de uma jovem independente que resolve ter um filho sem precisar de um
marido e um casamento, a atriz enche a tela de energia ao absorver o misto de
excentricidade e independência da sua Maggie. Após dividir a tela com os
excelentes Ethan Hawke e Juliane Moore, Gerwig ganhou um importante papel
feminino no comovente Jackie (2017). Dando vida a assistente pessoal da ex-primeira
dama Jackeline Kennedy (Natalie Portman), a atriz imprimiu humanidade a sua
pacata personagem e deixou a sua marca no elogiado longa dirigido por Pablo
Larraín. Um fato que, aliás, se repetiu no seu último grande trabalho, o
extraordinário Mulheres do Século 20. Num filme essencialmente feminino, Gerwig
encara a fotógrafa Abbie, um jovem rebelde e independente que escondia num
comportamento punk a sua face mais frágil. Sob a batuta do sensível Mike Mills,
ela brilha ao reproduzir os anseios da sua geração no auge da transformadora
década de 1970. Uma personagem autêntica e marcante que diz muito sobre a
personalidade de Greta Gerwig. Uma jovem talentosa que, contrariando as
expectativas mais comerciais, trilhou seu próprio caminho no cinema independente
ao encontrar neste segmento a liberdade necessária para dar voz as suas
cativantes personagens.
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