sexta-feira, 10 de junho de 2016

Truque de Mestre: O Segundo Ato

Mais factível e bem humorada, continuação entrega um truque que nunca decola

No rastro do bem sucedido primeiro longa, Truque de Mestre: O Segundo Ato se mostra um passatempo divertido, mas inegavelmente oscilante. Com a intenção de apresentar uma obra maior e mais engenhosa, o diretor Jon M. Chu (G.I Joe: Retaliação) se escora numa série de soluções frágeis e implausíveis ao construir esta frenética e aventureira sequência. Ainda que os números de ilusionismo se mostrem mais factíveis aos olhos do público, reduzindo os exageros apresentados no filme anterior, o realizador se vê preso a um argumento que promete bem mais do que cumpre. Num primeiro momento, amparado pela química do talentoso elenco, a película aponta para um caminho instigante e misterioso. À medida que as peças do quebra cabeça começam a se encaixar, no entanto, o grande plano dos Quatros Cavaleiros se revela simples e pouco recompensador, culminando num punhado de apressadas reviravoltas e num clímax tão problemático quanto o do original. Desta forma, eficaz ao preparar o palco para o seu grande número, O Segundo Ato falha ao entregar um truque que nunca decola.




Sob a supervisão do mágico David Copperfield, Truque de Mestre 2 é bem melhor resolvido no que diz respeito aos números de mágica. No melhor estilo Mister M, o longa não esconde do espectador os segredos por trás dos "golpes" dos Quatro Cavaleiros, tornando as investidas do grupo mais críveis e atraentes. Ainda que o uso da tecnologia esteja no foco da trama, a continuação realça com mais precisão a habilidade dos ilusionistas, construindo algumas sequências realmente chamativas. Na melhor delas, durante uma divertida invasão, os mágicos desafiam as leis da física ao passar de mão em mão uma carta com um chip roubado durante uma minuciosa revista. Quando o assunto é o enredo propriamente dito, porém, o argumento assinado por Ed Solomon e Pete Chiarelli não se escora em soluções tão verossímeis. Recheado de furos e situações requentadas, O Segundo Ato se passa um ano e meio depois dos episódios do primeiro longa. Isolados após o golpe dado no multimilionário Arthur Tressler (Michael Caine), Atlas (Jesse Eisenberg), McKinney (Woody Harrelson) e Jack (Dave Franco) mostravam certa frustração com a acomodação do líder Dylan (Mark Ruffalo). A mente por trás dos Cavaleiros, no entanto, já tinha um novo alvo em mente: o gênio da informática Owen Case (Ben Lamb). Durante a realização da grande revelação, no entanto, o grupo é surpreendido pelo contra-ataque de um desconhecido rival: o excêntrico Walter Mabry (Daniel Radcliffe). Expostos e desconfiados, o quarteto precisará se unir para retomar as rédeas da situação, sem saber o tamanho da ameaça que estão prestes a enfrentar. 


Inicialmente ágil e envolvente, o primeiro ato deixa uma excelente impressão ao introduzir os novos e ao situar os velhos personagens. Impulsionado pela fluída montagem, Jon M. Chu é habilidoso ao preparar o terreno para a primeira grande reviravolta, investindo numa abordagem mais leve, consciente e bem humorada. Substituta de Isla Fisher, a atriz Lizzy Caplan (A Entrevista) arranca uma série de risadas ao interpretar a esquisita Lola, uma ilusionista de gosto duvidoso que se transforma num dos grandes acertos desta continuação. Além dela, Daniel Radcliffe surge em cena com um tipo afetado e naturalmente dúbio, um personagem com potencial para rivalizar com os Quatro Cavaleiros. A partir do oscilante segundo ato, no entanto, as falhas do argumento começam a ficar mais evidentes. Como se não bastassem as inúmeras soluções convenientes, o recurso da hipnose é quase banalizado ao longo da trama, os roteiristas apostam em elementos frágeis e extremamente problemáticos. Mesmo mais factíveis, os planos dos ilusionistas seguem se sustentando em situações forçadas e absurdas, detalhes que não devem passar despercebidos do espectador mais atento. Até a cena mais legal do longa, a já citada sequência da carta, não precisaria ter acontecido se um dos charlatões tivesse a escondido em uma das mangas. Um truque que, cá entre nós, qualquer mágico mequetrefe tem a obrigação de fazer. Nenhum destes equívocos, no entanto, supera a desastrosa presença de um caricato antagonista ligado ao passado de McKinney. Uma figura ridícula e completamente destoante.


Pra piorar, na ânsia de aparar algumas arestas deixadas no antecessor, os roteiristas resolvem reciclar alguns dilemas em torno dos velhos protagonistas. Sem querer revelar muito, enquanto um deles simplesmente "asfixia" o promissor Walter Mabry, o outro ganha um poder de influência no mínimo exagerado. Todos os deslizes, no entanto, seriam amenizados se o tal truque de mestre fosse realmente empolgante. O que, infelizmente, não acontece aqui. Ainda que sob um ponto de vista micro os números de mágica funcionem a contento, o grande golpe é simples e nada impactante, assim como as esvaziadas reviravoltas. Na verdade, apesar de lidar novamente com sentimentos como a raiva e a vingança, as motivações dos personagens soam um tanto quanto artificiais dentro do último ato, evidenciando a incapacidade do roteiro ao explorar as nuances dos protagonistas. O resultado é um clímax raso, acelerado e exageradamente explicativo. Por outro lado, mesmo limitado pelos deslizes narrativos, Jon M. Chu constrói uma continuação esteticamente elegante. Fazendo um excelente uso da vibrante fotografia de Peter Deming (O Segredo da Cabana), o realizador tira um enorme proveito do exotismo do cenário chinês ao idealizar sequências divertidas e realmente inventivas. Numa delas, a fuga de um mercado local se torna o palco para uma cena de ação engenhosa e recheada de truques. Num todo, aliás, Chu consegue fisgar a atenção do espectador ao longo das quase duas horas de projeção, dando uma roupagem charmosa a um argumento que fica aquém das expectativas.


Ainda que se esforce para responder algumas das perguntas deixadas no longa original, Truque de Mestre: O Segundo Ato funciona no momento em que esquece o passado e se concentra neste novo desafio. Apesar das competentes atuações de Mark Ruffalo (à vontade), Dave Franco (impagável), Jesse Eisenberg (contido) e Morgan Freeman (misterioso), Lizzy Caplan e Daniel Radcliffe roubam a cena ao acrescentar novos ingredientes ao 'status quo' dos Quatro Cavaleiros, se transformando no grande diferencial desta continuação. À medida que se aproxima do aguardado golpe, no entanto, as surpresas não se revelam à altura dos mistérios, reduzindo o impacto desta escapista, dinâmica e esquecível aventura.

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