Subvertendo toda a atmosfera já conhecida envolvendo os super-heróis, Kick-Ass chegou aos cinemas em 2010 para revolucionar o gênero. Apostando na ótima HQ da dupla Mark Millar e John Romita Jr, na manutenção da violência e do humor-negro, e no talento do diretor britânico Mathew Vaughn, o longa foi um sucesso de público e crítica. Não demorou muito para que a continuação saísse do papel, e três anos depois chega aos cinemas Kick-Ass 2, um longa igualmente divertido, mas sem aquele frescor do trabalho original. Agora com Jeff Wadlow na direção, e Vaughn apenas na produção, a sequência maximiza a fórmula do primeiro filme, sem perder a fidelidade aos quadrinhos. Em outras palavras, são mais heróis, mais vilões, altas doses de violência, mais humor, e inevitavelmente, mais clichês. Nada que atrapalhe o resultado final da continuação, até porque Wadlow se mostra uma opção certeira na direção, e o carisma de Hit-Girl - e sua turma - segue levando os fãs do gênero ao delírio.
E isso acontece graças ao bom trabalho de Wadlow, que mostra um extremo cuidado na adaptação do segundo capítulo da HQ. Também responsável pelo roteiro, o diretor consegue abrir um interessante espaço para o elevado número de heróis e vilões que ganham a tela, adiciona novos dramas no longa, e - logicamente - se mantém fiel o arco envolvendo a personagem Hit-Girl, ou melhor, a agora adolescente Mindy Macready. A trama de Kick-Ass 2 se passa poucos anos depois dos eventos do primeiro filme. Após a morte de Big-Daddy, a dupla de heróis Mindy (Chloe Moretz) e Dave (Aaron Johnson) tenta levar a vida em meio aos adolescentes. Mindy, agora sob a guarda de Marcus (Morris Chestnut), prometeu deixar de viver a heroína Hit-Girl, enquanto Dave não consegue se readaptar a sua rotina. Ciente que Mindy está focada em se tornar uma adolescente comum, Dave passa a procurar novos parceiros e acaba encontrando o Coronel Estrelas (Jim Carrey), líder do grupo Justiça para Sempre. Alheio a tudo isso, Red-Mist (Christopher Mintz-Plasse) decide se tornar o maior vilão do mundo, e com a ajuda do ex-capanga de seu pai (John Leguizamo) vira o Motherfucker. Um excêntrico vilão com uma única obsessão: buscar vingança contra Kick-Ass e sua nova turma de heróis.
Com uma narrativa ágil, repleta de associações visuais as histórias em quadrinhos, como nas transições de cenas e no uso dos tradicionais balões com texto, Jeff Wadlow tem como grande mérito a forma como apresenta os novos personagens. Sem grande enrolação, e com um texto afiado, o diretor destaca - um a um - todos os principais vilões e heróis, enfatizando suas características, suas intenções e o que os levaram a tais situações. Para completar esse ótimo cartão de visitas, a caracterização dos personagens é extremamente fiel aos quadrinhos, com a adição de alguns interessantes detalhes, que só contribuem para a construção estética deles. Nessa recriação de novos personagens da HQ, vale destacar a ótima Mother Russia, destruidora participação de Olga Kurkulina, o divertido Coronel Estrelas, Jim Carrey eleva o patamar com uma divertida atuação, o carismático Gravidade (Donald Faison), a sexy Night Bitch (Lindy Booth) e o sensível Homem Inseto, que traz Robert Elms num personagem de interessante contexto social. Com os "exércitos" formados, Wadlow também mostra talento na condução das cenas de ação, que são mais violentas, mas com a mesma energia e a velocidade do primeiro filme. O grande clímax, repleto de cenas paralelas, é conduzido de forma empolgante e altamente satisfatória para qualquer fã dos filmes do gênero. Além disso, o humor negro sempre presente na HQ é novamente bem explorado, rendendo eficientes piadas e momentos extremamente divertidos - a cena envolvendo o "amadurecimento sexual" de Mindy é uma das melhores coisas do filme. No entanto, o grande pecado da trama fica - justamente - pelas falhas no desenvolvimento da adolescente Hit-Girl e sua tentativa, aos 15 anos, de se tornar uma adolescente comum.
Na verdade, Waldow acerta ao explorar os estereótipos das adolescentes nessa inclusão da Hit-Girl na atmosfera adolescente. A cena da dança, já divulgada no trailer, é ainda melhor no filme. Pena que os clichês não param por ai, e o desenvolvimento deste lado do roteiro acaba apelando para fórmulas esgotadas e um desfecho escatológico, completamente fora do contexto da trama. Em contrapartida, Chloe Moretz está novamente brilhante. Agora mais "crescida", Moretz consegue manter toda a atmosfera envolvendo a jovem Hit-Girl, sem deixa de lado aquele ar surtado do primeiro filme. É o grande destaque do filme, mostrando um vibrante desempenho não só nas cenas de ação, já que continua sendo a grande perita nas lutas, como também nos momentos mais "adolescentes". Vale destacar também o acerto no desenvolvimento do "supervilão" Motherfucker que - de certa forma - apaga essa má impressão deixada pelo arco Hit-Girl. Christopher Mintz-Plasse está novamente muito bem em cena, com um personagem carregado no humor-negro e nas referências à cultura pop. Kick-Ass 2, aliás, é certeiro nestas referências, usando inclusive uma série de citações a outros grandes nomes dos quadrinhos. Fecha o trio de protagonistas um automático Aaron Johnson, que visualmente mais "bombado", mantém a pegada do Kick-Ass original, se destacando pela ótima química com o carismático esquadrão Justiça para Sempre.
Um filme concebido para os fãs, seja dos quadrinhos ou do longa original, Kick-Ass 2 não consegue manter o nível do original o que nem de longe representa algum demérito pela qualidade do primeiro longa. Apesar do afastamento de Mathew Vaughn da direção, o novato Jeff Waldow mostra qualidade e conduz as quase 2 horas de projeção no estilo que o fã mais gosta. O resultado é uma obra altamente divertida, que prioriza a manutenção das principais características da HQ, brinca com a velha dualidade do "bem contra o mal", e abre espaço para uma nova, e desde já, promissora sequência.
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