quinta-feira, 17 de outubro de 2013

É o Fim

Comédia nonsense de amigos acerta ao brincar com os egos das estrelas de Hollywood, mas acaba pecando pelo excesso.


Dizer que É o Fim é uma grande brincadeira cinematográfica não seria um erro da minha parte. Afinal, o longa de estreia dirigido pela dupla Seth Rogen e Evan Goldberg (roteiristas dos ótimos Segurando as Pontas e Superbad) reúne alguns dos principais nomes da comédia atual, numa trama absurda, interpretando - teoricamente - eles próprios. Brincadeira essa, que, aliás, acabou surgindo após o êxito comercial da dupla Seth Rogen e Jay Baruchel. Na verdade, no ano de 2007, a dupla aproveitou um tempo livre em suas agendas para rodarem o curta-metragem Seth e Jay contra o Apocalipse, trabalho que acabou dando origem ao longa. Os dois, no entanto, não esperavam que essa "brincadeira" atingisse uma proporção tão grande, seja na construção do elenco, que conta ainda com James Franco, Jonah Hill e Danny McBride, seja também na atmosfera apocalíptica, muito bem construída digitalmente. E essa "grande" brincadeira hollywoodiana acaba dando muito certo, principalmente por lidar - sem pudores - com os egos por trás dos astros do cinema. Nem os excessos, e a oscilação na qualidade das piadas, estragam o resultado final desta nonsense comédia pós-apocalíptica. 

Quem acompanha de perto o trabalho de Seth Rogen, sabe que o ator e roteirista canadense tem um estilo bem próprio de humor. Quase sempre interpreta o mesmo personagem, e junto dessa safra de humoristas acabou popularizando o gênero "bromance", uma comédia-romântica mais masculina, destacando os laços de amizades entre homens. E é justamente esta a grande inspiração para É o fim, um filme que acima de tudo fala sobre amizade. Aqui, porém, essa amizade é entre astros de Hollywood, em meio ao apocalipse na terra. Na trama, assinada por Rogen, Goldberg e Jason Stone - diretor do curta-metragem original - o longa segue narrando a amizade da dupla canadense Baruchel e Rogen, que se reencontram em Los Angeles após quase um ano separados. Na verdade, enquanto Rogen se adaptou bem a vida na movimentada cidade, Baruchel não parece muito entusiasmado ao voltar. Após um dia típico da dupla, com direito a televisão 3-D, maconha e hambúrgueres, Rogen leva Baruchel, a contragosto, para a festa de inauguração da nova casa de James Franco. Na "fortaleza" do ator, a dupla acaba encontrando várias figuras conhecidas, incluindo ai Craig Robinson, Jonah Hill, Jason Siegel, Rihanna, entre muitas personalidades e conhecidos parceiros da vida profissional da dupla. Baruchel, no entanto, não se mostra muito a vontade na festa, e decide ir comprar um cigarro ao lado de Rogen. Já alterados, os dois acabam presenciando uma série de eventos sobrenaturais, e decidem que a casa de Franco é o melhor lugar para tentar sobreviver ao apocalipse.


Em cima desta inusitada trama, a grande sacada do roteiro é parodiar algumas características que marcam publicamente esses atores. Piadas então com a sexualidade de Franco, ou com o fato de Jonah Hill ter concorrido ao Oscar, são recorrentes e exploradas de forma ácida e sem pudores. No entanto, apesar dos atores - aparentemente - interpretarem a si próprios, fica nítido que na verdade eles não passam de personagens com poucas conexões com a vida real. Não espere então ver o verdadeiro James Franco ou Seth Rogen em cena. Tudo não passa de uma grande piada, mas daquelas que não se prendem a limites, principalmente quando lidam com o lado egocêntrico das estrelas. Adotando a linha do "perco o amigo, mas não a piada", a liberdade criativa dos roteiristas oscila entre o ousado e o desnecessário. Ao mostrar personalidades completamente diferentes do que estamos acostumados a ver em cena, como um Michael Cera surtado, e ao encher a trama de hilários diálogos repleto de referências a cultura pop, É o fim acerta em cheio e provoca inúmeras risadas. Os ataques verbais entre os "sobreviventes" são muito bons, e as piadas envolvendo os trabalhos recentes de cada um funcionam.  Por mais incrível que pareça, até as piadas envolvendo a religião são interessantes, e mesmo politicamente incorretas, funcionam sem serem ofensivas aos espectadores. Quando o roteiro passa ao humor mais físico, porém, o longa acaba beirando o constrangedor, se escorando em soluções forçadas e de violência desnecessária. Essa oscilação só não atrapalha o resultado final, porque o clímax de É o Fim é uma das coisas mais criativas dentro da comédia nos últimos anos. Não vou nem escrever mais nada para não estragar essa grata surpresa, que reúne trilha sonora inusitada e ótimos efeitos visuais.


Com relação ao elenco, dando sequência ao curta-metragem, a trama tem como protagonistas a dupla Baruchel e Rogen. E dentro dos seus usuais tipos cinematográficos, a dupla demonstra uma conhecida grande química, funcionando muito bem em cena. Outro destaque do longa é Craig Robinson (A Ressaca), que normalmente acaba ficando em segundo plano, mas aqui rouba a cena em diversos momentos. Completam o quinteto de sobreviventes o trio James Franco, Jonah Hill e Danny McBride, esse último, aliás, com seu humor mais grosseiro e repleto de conotação sexual, surge como a grande surpresa do filme. Verdade seja dita, todos os seis atores estão muito bem em cena e parecem levar a amizade da vida real para as telas. A química em cena é ótima e - a partir daí - fica nítida uma série de improvisos. Além deles, sem querer estragar surpresas, o filme tem excelentes participações especiais, com destaques para Michael Cera e Emma Watson.


Reunindo uma série de atores que estão no auge dentro do cenário atual da comédia, É o Fim surge como uma espécie de Os Mercenários do humor. Um filme que sem se levar a sério, constrói uma ácida sátira envolvendo as personalidades hollywoodianas e os seus respectivos egos. Afinal, quer coisa melhor do que rir de sim mesmo? Ao pecar pelo excesso, no entanto, o filme perde um pouco desta opção original.

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