Espetáculo visual. Essas duas palavras já poderiam resumir bem o que é Círculo de Fogo, o mais novo filme do diretor mexicano Guillermo del Toro. Grandioso e tecnicamente perfeito, o longa não se resume apenas ao impacto construído pelas gigantescas batalhas entre robôs e alienígenas. O resultado é um filme que acerta justamente ao saber aliar uma trama eficiente à tão elaborada construção digital concebida por Del Toro. Um realizador que nunca escondeu o fato de ser um grande fã dos filmes japoneses que popularizaram esse gênero. Em outras palavras, é um filme feito por um fã "nerd", com carinho e cuidado, fato que talvez seja a melhor explicação para o excelente conteúdo do material apresentado.
É impossível não se empolgar, não se mexer na cadeira do cinema, ao ver os grandes embates entre robôs e alienígenas. Visualmente todos sabiam que o filme chamaria a atenção, até porque ao longo de sua carreira o diretor mexicano sempre teve muita criatividade para conceber artisticamente os seus trabalhos. Vide os ótimos Hellboy e O Labirinto do Fauno. Como era de se esperar, todas as criaturas apresentadas em Círculo de Fogo são detalhadamente exploradas e bem construídas digitalmente, repletas de referências aos filmes japoneses. Profundo entendedor do assunto, Del Toro mostra muito cuidado com os detalhes do grandioso filme e, por mais paradoxal que seja, esse acaba sendo o diferencial do longa. Desde o cuidado na movimentação das enormes criaturas, passando pela atenção com a proporção em cena e chegando aos pequenos detalhes na construção dos personagens, fica nítido o toque do diretor. Sem querer estragar o grande impacto visual das cenas, eu destaco o cuidado na construção dos Jaegers, cada um com a personalidade de seu respectivo país. Enquanto o Russo tem um aspecto forte, lento e ultrapassado, numa referência clara ao período da URSS, o Chinês tem uma aparência moderna e atualizada, logicamente ligada a capacidade 'hi-tech' mais inventiva do povo asiático. A movimentação dos robôs, lenta e pouco natural, contra a dinâmica mais veloz das criaturas, é outro ponto que só um grande fã poderia levar para o cinema.
E como se não bastasse a excelente construção digital dos personagens, Del Toro mostra perícia também na condução da ação nas telonas. Esqueça então a overdose de robôs apresentada pelo diretor Michael Bay em Transformers. Aqui, o mexicano filma com extrema perícia e personalidade as grandiosas cenas, em diversos ambientes, explorando não só o embate em si, mas também os ótimos cenários. Sem poupar na destruição, realística, mas inverossímil, o detalhismo do diretor mexicano só não impressiona mais do que as gigantescas e bem elaboradas batalhas.
Se tecnicamente o longa é perfeito, a trama em nenhum momento deixa a desejar. Pelo contrário, o roteiro é eficiente, clichê em alguns momentos é verdade, mas sem subestimar a inteligencia do espectador com explicações desnecessárias. Mesmo sem se aprofundar em algumas subtramas interessantes, o argumento é eficaz, nada simplório e consegue fugir do tradicional apelo político que esses trabalhos costumam proporcionar. Assinado pelo próprio Guillermo del Toro, o longa se passa em futuro bem próximo, onde uma fenda no oceano pacífico acabou abrindo uma espécie de portal para gigantescas criaturas alienígenas, que foram chamadas de Kaiju. Após semanas tentando destruir as primeiras criaturas, os humanos decidem criar uma força de contra-ataque, os Jaegers, gigantescos robôs que comandados por duas pessoas acabam sendo os rivais ideais para as grandes criaturas. Comandados pelo Marechal Stacker (Idris Elba), os Jaegers acabam se popularizando pelo mundo e ganhando ares de celebridades. O problema é que com o passar dos anos, uma nova invenção coloca os Jaegers em segundo plano, forçando praticamente o término deste projeto. Quando esse novo invento não se prova útil, os jaegers passam a ser uma última solução na batalha contra os Kaijus. Diante deste cenário, uma equipe de resistência é montada para uma última grande missão, que pode colocar fim a esse perigo alienígena.
Além do acerto no aspecto visual, Guillermo del Toro mostra também um bom trabalho na escolha e condução do elenco. Apesar de não ter um grande "nome" do cinema atual, fato que vem sendo classificado como o grande culpado pelo fraco resultado nas bilheterias nos EUA, o elenco tem um desempenho acima da média. A começar pela dupla de protagonistas Idris Elba (Thor) e Charlie Hunnam (A Tentação), dois promissores atores que conseguem demonstrar um bom equilíbrio no longa, convencendo tanto nas cenas de ação, como também nos momentos mais dramáticos. Grande parceiro do diretor mexicano, Ron Perlman (Hellboy) também tem uma boa atuação, preenchendo bem o eficiente elenco de apoio que conta ainda com Rinko Kikuchi (Babel), Charlie Day (Quero matar meu Chefe), Max Martini (Contato) e Clifton Collins Jr (Star Trek).
Filme pipoca do ano até o momento, Circulo de Fogo merece ser visto com o melhor apuro técnico possível. Ou seja, não deixe de assisti-lo em 3-D, que mesmo convertido é muito bom, e se possível em IMAX. Garanto, a experiência será excepcional. Longa mais caro realizado por Guillermo del Toro, Circulo de Fogo é mais um passo certeiro dado na carreira deste diretor mexicano. Um filme bem construído, com ótimo ritmo e visualmente impactante que aposta nas referências certas. Aquelas que só mesmo um fã poderia levar para as telonas.
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