segunda-feira, 7 de junho de 2021

Crítica | Freaky: No Corpo de um Assassino

O catfish nos slasher movies

O ‘slashers movies’ não existiriam sem as suas ‘final girls’. Por trás de todo assassino serial mascarado que se preze sempre vai haver uma resiliente mulher. Millie (Kathryn Newton) seria uma ‘final girl’ de respeito. Ela tinha poucos amigos. Sofria bullying. Não namorava. A heroína modelo. E se, num golpe do destino, a ‘final girl’ se tornasse a ‘first girl’? Freaky brinca com as convenções dos slashers ao propor uma inusitada troca de arquétipos. O longa dirigido por Christopher Landon é original ao romper com a estrutura clássica do segmento. A morte, aqui, ganha outro sentido. Bem conhecido no mundo tecnológico. A morte é uma apropriação. É o roubo da identidade.

Atacada precocemente, a ‘final girl’ se torna o ‘serial killer’. A partir de um plot rocambolesco, o cineasta fisga ao imprimir a maldade num rosto tão “familiar”. Presa no corpo do assassino (Vince Vaughn), Millie tem que se expor para reverter a maldição. Ela tinha a força. Ele tinha a proteção do único arquétipo indestrutível do segmento. É curioso assistir a um slasher sob a óptica daquele que deveria causar o terror. Christopher Landon usa a troca de corpos para construir o perigo. O conceito de catfish é reinterpretado. Escondida na persona mais zoada do colégio estava um vilão com sede de sangue. A máscara dele era a face corada de uma jovem de 17 anos. O flerte com a incorreção fica claro na estereotipificação dos que oprimem Millie. Tipos descartáveis que sugerem o viés revanchista do texto. O potencial ambíguo da trama era evidente.

A execução, porém, é frouxa. Freaky até brutaliza sem pudor. O gore é de primeira. Newton veste a carapuça psycho com convicção. Quando invade o terreno da comédia, porém, Landon torna tudo leve demais. Apesar da impagável presença de Vince Vaughn (a afetação teen  na sua performance é divertidíssima), o longa não empolga ao seguir os passos dele(a) na luta pelo velho corpo. O dispersivo roteiro sacrifica a tensão (e a criatividade) ao investir em personagens de apoio sem sal, no sentimentalismo familiar e em piadas fracas. Isso explica a grosseira queda de ritmo dentro da metade final. Freaky tenta, mas não subverte o arquétipo da ‘final girl’. Landon perde oportunidades ao nunca focar na remodelada relação entre vilão e heroína.

Texto originalmente postado no perfil do Instagram. Me siga por lá @blog_cinemaniac. 

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