- Edward Mãos de Tesoura (Direção: Tim Burton)
- Uma Linda Mulher (Direção:
Garry Marshall)
O que falar da comédia romântica definitiva? Dizer que Uma Linda Mulher criou um novo subgênero seria um exagero da minha parte. Lá atrás, nos anos 1930, filmes como Aconteceu Naquela Noite merecem esse crédito. É inegável, porém, que o longa dirigido por Garry Marshall reescreveu as regras do segmento e o transformou num dos mais rentáveis da década de 1990. Guiado pela radiante performance de Julia Roberts, no trabalho que catapultou a sua carreira rumo ao estrelato, o realizador conquistou plateias ao redor do mundo ao narrar o romance entre um charmoso executivo (vivido por um sedutor Richard Gere) e uma desbocada garota de programa. A disfuncionalidade desta relação transformou a obra em algo único. Marshall apimentou as coisas ao realçar os contrastes entre os protagonistas, ao valorizar o choque entre mundos totalmente distintos. É impossível não se apaixonar por Julia Roberts. Um talento bruto que, graças a perspicaz condução de Marshall, explodiu em cena numa das performances mais icônicas dos anos 1990.
- Louca Obsessão (Direção: Rob Reiner)
Reparem na versatilidade desta lista. No mesmo ano em que Uma Linda Mulher seduziu o público com um casal revigorante, Louca Obsessão pisou com os dois pés no acelerador da insanidade ao narrar as desventuras de um escritor acidentado “sequestrado” pela sua fã número 1. O que o trio Rob Reiner, James Caan e principalmente Kathy Bates fazem aqui é digno de elogios. Um filme pequeno em sua aparência explode à medida que as reais intenções dos personagens ganham forma. Com base no inquietante texto de Stephen King, o cineasta catalisa a tensão a partir da impotência do protagonista diante desta fã instável, possessiva e violenta. Nas entrelinhas, Reiner é habilidoso ao pincelar um comentário provocante sobre a relação de posse (ou seria aprisionamento) do público para com uma obra de ficção. Mais atual impossível. Merecidamente, aliás, Bates fechou o ano com o Oscar de Melhor Atuação. Uma das grandes vilãs do cinema moderno.
- O Vingador do Futuro (Direção: Paul Verhoeven)
Com uma forte influência dos anos 1980, O Vingador do Futuro é o tipo de obra inigualável. Um Sci-Fi criativo, com elementos visuais\narrativos icônicos, impulsionado pela carismática performance de Arnold Schwarzenegger. Ainda hoje, três décadas depois, tudo no filme soa original. A ambígua premissa, os expressivos efeitos práticos, o viés rebelde\anárquico. A partir de uma premissa provocante, um homem de meia idade frustrado se vê envolvido numa conspiração em Marte, o ousado diretor Paul Verhoeven transita entre a ficção-científica e a ação com maestria ao nos colocar sempre em dúvidas sobre a realidade dos fatos. O que Quaid viveu ao longo do filme foi real? Ou apenas fruto de um escapista programa de realidade virtual? Para o público, porém, essa indagação pouco importa. Estamos diante de uma das experiências cinematográficas mais vigorosas e peculiares da sua geração.
- O Ataque dos Vermes Malditos (Direção: Ron Underwood)
Vocês não sabem como eu me surpreendi em descobrir que O Ataque dos Vermes Malditos segue uma experiência extremamente divertida. Ao contrário de muitos títulos da sua geração, o longa estrelado por um radiante Kevin Bacon transita com desenvoltura entre a empolgação e a tensão ao acompanhar as desventuras de um grupo de moradores de uma pequena cidade desértica diante de uma ameaça escondida de baixo da terra. Com olhos mais maduros, foi legal perceber a preocupação do diretor Ron Underwood em não só refletir sobre os EUA do início dos anos 1990, como também valorizar elementos como a diversidade do elenco, a construção dos personagens de apoio e o empoderamento feminino. Uma pérola cult noventista que sobrevive facilmente ao teste do tempo.
- Dias de Trovão (Direção: Tony Scott)
Um dos meus dramas esportivos favoritos, Dias de Trovão nos faz sentir o cheiro de pneu queimado e de gasolina ao narrar as desventuras de um piloto às avessas com a iminência da aposentadoria precoce. Com a assinatura intensa e positivamente brega de Tony Scott, o longa estrelado por um jovem e imparável Tom Cruise empolga ao mergulhar na rotina de um piloto, na sua relação com os companheiros de time, com os rivais, com as mulheres que cercam a sua vida. Como se não bastasse as impressionantes\enervantes sequências de corrida, o casal interpretado por Tom Cruise e Nicole Kidman é do tipo que solta fagulhas sempre que está em cena. Contando ainda com a sempre marcante presença do ator Robert Duvall e com uma trilha sonora com a cara dos anos 1990 assinada por Hans Zimmer, Dias de Trovão é o Top Gun das pistas da Nascar.
- Convenção das Bruxas (Direção: Nicolas Roeg)
Sério. O programador que foi responsável por permitir que Convenção das Bruxas passasse nas sessões vespertinas dos anos 1990 ajudou a traumatizar uma geração. Por trás do ar aparentemente inofensivo da premissa, o cultuado diretor Nicolas Roeg esconde uma história sombria sobre um garotinho obrigado a desafiar um grupo de bruxas reunidas numa convenção no hotel em que ele estava hospedado. Com um (hoje) revigorante ar nostálgico, o cineasta encontra um corajoso meio termo entre a aventura e o terror, extraindo o máximo do elemento bruxaria ao caprichar no visual\perversidade das antagonistas. Os efeitos práticos desta obra são primorosos. Angélica Houston surge apavorante em cena no momento em que literalmente se “despe” do seu rosto. Um filme impactante que merece permanecer vivo no imaginário das novas gerações.
- Ghost: Do Outro Lado da Vida (Direção: Jerry Zucker)
O ano de 1990 deu a dica. A década de noventa seria dos romances. Como se não bastasse o sucesso de Uma Linda Mulher, Ghost: Do Outro Lado da Vida arrancou lágrimas ao redor do mundo ao redimensionar o conceito de amor “impossível”. Mais do que consagrar as carreiras de Patrick Swayze, Demi Moore e Whoopi Goldberg, o longa dirigido por Jerry Zucker levou o espiritismo para o grande público num filme com muito a dizer sobre a sua época. O drama da violência se funde ao romance e também à comédia numa obra capaz de transitar por elementos de natureza tão contrastante. Ghost é uma obra trágica, mas ao mesmo tempo esperançosa. Triste e ao mesmo tempo cômica. Escapista, mas também realista. Recheado de momentos icônicos, a sequência do vaso, por sinal, é daquelas que transcendeu a barreira da cultura pop, Ghost: Do Outro Lado da Vida se revelou um sucesso inacreditável. Com orçamento de US$ 22 milhões, o longa faturou mais de US$ 500 milhões mundialmente, se tornando assim um dos mais bem-sucedidos títulos na história do gênero.
- Aracnofobia (Direção: Frank Marshall)
Um filme de terror raiz, Aracnofobia resgatou uma tradição que andava meio que esquecida no cinemão Hollywoodiano: a dos monstros da natureza. Por si só, os seres aracnídeos já causavam certa aflição (para não dizer ojeriza). O que Frank Marshall faz aqui, no entanto, é transformação este sentimento de aversão em pavor. Com efeitos práticos impactantes e uma direção muito cuidadosa, o longa estrelado por Jeff Daniels potencializou esta fobia ao tornar estes pequenos seres em verdadeiras máquinas de matar. Embora biologicamente problemático, o filme mostrou perspicácia ao extrair o terror do medo reconhecível, se tornando assim num verdadeiro clássico das sessões vespertinas dos anos 1990. Como se não bastasse os seus muitos méritos, Aracnofobia transformou atos simples como tomar um banhou ou ir ao banheiro em algo bem menos relaxante.
- Nikita (Direção: Luc Besson)
Eis um filme importante. Nikita: Criada para Matar ajudou a empoderar as mulheres no cinema de ação. Reconhecido pelo seu olhar de admiração pelo feminino, o diretor Luc Besson deu a atriz Anna Parillaud a chance de estrelar um thriller expressivo, com elementos ainda hoje influentes no gênero. Antes de se tornar uma referência no cinema de ação, o cineasta francês transitou entre o drama e o suspense ao acompanhar a jornada de uma mulher disposta a tudo para recuperar a autonomia. Um belo filme, com uma marcante protagonista.
- Um Tira no Jardim de Infância (Direção: Ivan Reitman)
Basta olhar para Arnold Schwarzenegger para entender como a “safra” de 1990 foi extremamente versátil. O mesmo ator que chutou traseiros em Marte no anárquico O Vingador do Futuro, viveu um policial com jeito para cuidar da criançada no adorável Um Tira No Jardim de Infância. Um verdadeiro “filme evento” nas minhas sessões vespertinas dos anos 1990. Preciso confessar, o Thiago criança parava tudo para ver esta pérola nas sessões vespertinas. Como se não bastasse a cômica presença de Schwarzenegger num universo tão “infantil”, o longa dirigido por Ivan Reitman conseguiu aproximar a ação dos “filmes família”. Ao mesmo tempo em que rir da disfuncionalidade do detetive infiltrado numa escola primária, o realizador se preocupa em construir a tensão em torno do protagonista, em trabalhar o perigo que cerca a vida daquelas crianças. Reitman fala sobre abuso paterno numa época em que o tema só era abordado em filmes voltados para o público adulto. Recheado de sequências icônicas, muitas delas permanecem memes até hoje, Um Tira no Jardim de Infância preparou o terreno para a mudança de curso na carreira de Arnold Schwarzenegger. Num movimento perspicaz, o astro de Conan e O Exterminador do Futuro flertou pouco a pouco com a comédia\aventura, nos presenteando com títulos do quilate de O Último Grande Herói (1993), True Lies (1994), o insano Junior (1994) e o natalino Um Herói de Brinquedo (1996).
- Gremlins 2: A Nova Geração (Direção: Joe Dante)
Como uma sequência pode ser original? É raro, mas pode acontecer. Com uma pegada ainda mais transloucada, Gremlins 2: A Nova Geração amplificou o melhor do seu imersivo antecessor ao valorizar o máximo das esquizofrênicas criaturas. O criativo diretor Joe Dante chutou o balde ao transformar os Gremlins em verdadeiras pragas. O que já era divertido fica ainda mais quando um prédio ultramoderno se torna o palco para o novo ataque dos gosmentos monstros verdes. Aqui eles cantam Frank Sinatra, eles quebram a quarta parede, eles destroem tudo o que o vê pela frente. Dante capricha no ‘gore’, no humor absurdo, no elemento cômico. Ao contrário do cultuado primeiro filme que, a meu ver, funcionava melhor na época do lançamento, a continuação não se leva a sério por um segundo sequer, o que a transforma num prato cheio para os fãs de uma comédia mais escrachada\insana. Recheado de referências pop (quando isso não era moda em Hollywood), Gremlins 2 é um ponto final no escapismo dos anos 1980.
- A Ambulância (Direção: Larry Cohen)
Aqui eu deixei o elemento nostálgico falar mais alto. Olhe esse comercial (link aqui). Esse era o tipo de filme que passava a uma e trinta e cinco da tarde nos anos 1990. Que época maravilhosa para crescer. De longe o título mais obscuro da lista, A Ambulância me causava calafrios. Como se não bastasse o medo de hospital, o longa escrito e dirigido por Larry Cohen (Nasce Um Monstro) transforma uma equipe de resgate em psicopatas numa obra tão intrigante quanto absurda. Estrelado por Eric Roberts e James Earl Jones, o filme ganhou um status cult graças as inúmeras exibições nesta faixa de horário. E olha, funciona na revisão. Vou além, se o longa perde pontos no quesito tensão, o senso de humor de Cohen é digno de nota. Na pele de um quadrinista um tanto transloucado, Roberts é um herói pouco funcional, carismático e muito bem-intencionado. O longa, que conta com a participação especial do saudoso Stan Lee, sabe tirar proveito desta aura inconsequente\cômica sem enfraquecer o suspense. O visual vintage da ambulância, combinada com a iluminação esverdeada, cria um elemento cênico realmente ameaçador. Um filme charmoso e peculiar que vale ocupar um lugar nesta seleção.
- Lembranças de Hollywood (Direção: Mike Nichols)
E fecho a lista com um dos títulos mais subestimados da carreira de Meryl Streep. Com base nas experiências da atriz Carrie Fisher, a Princesa Leia da franquia Star Wars, Lembranças de Hollywood escancarar o quão difícil é ser mulher em Hollywood num filme íntimo e ao mesmo tempo revelador. Sob a delicada batuta de Mike Nichols, o longa traduz o efeito corrosivo causado por uma impositiva indústria na rotina de mãe e filha unidas não só pelo laço consanguíneo, mas também pelo estrelato. Impulsionado pelas potentes performances de Meryl Streep e Shiley McLane, o diretor extrai o máximo do desconfortável texto de Fisher, refletindo sobre a vulnerabilidade feminina numa época em que movimentos como o Me Too nem sonhavam em existir. Um filme importante e extremamente atual que não merece cair no esquecimento.
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