Subtexto feminista à serviço da aventura
Um background sólido potencializado pelas expansivas performances de Millie Bobby Brown e Helena Bonham Carter. É na maneira com que constrói o laço entre filha e mãe que reside o diferencial de Enola Holmes. Os flashbacks trazem o passado para o presente com a intenção de mostrar a troca de experiências e a natureza preparatória do vínculo. Estamos diante de um ‘coming of age movie’ com elementos comoventes. O “abandono”, aqui, ganha um novo sentido quando descobrimos os segredos em torno dele. Através da sua intrépida protagonista, Bradbeer eleva o nível da película com comentários potentes sobre o poder do voto, a importância da representatividade e da emancipação feminina. Os olhares de Brown para o público, muitas vezes, sublinham um passado que muitas pessoas insistem em transformar em presente. Como o próprio filme exalta, um voto faz toda a diferença.
Nos momentos em que se vê obrigado a abraçar a aventura, por outro lado, Enola Holmes oscila. Faltam ideias para Bradbeer preencher as inchadas duas horas de projeção. Personagens como o próprio Sherlock, a rígida Miss Harrison (Fiona Shaw) e a matriarca vivida por Frances de La Tour mereciam mais tempo de tela. O longa depende demais da energia de Millie Bobby Brown. Se por um lado a subtrama envolvendo o nobre marquês vivido por um simpático Louis Partridge cresce harmoniosamente, por outro o longa perde oportunidades ao explorar a inversão dos clichês do gênero. Tanto no humor, quanto na ação. Aqui a mocinha não tem nada de indefesa. Esqueça o "sexo frágil". Enola foi criada para ganhar as suas próprias lutas. A atriz, por sinal, esbanja fisicalidade sempre que preciso, o que torna a dinâmica mais interessante. Mas nunca à altura do pano de fundo dramático. Com uma direção de arte refinada e um elenco afiadíssimo (Sam Claffin rouba a cena como um retrógrado Mycroft), Enola Holmes, ao contrário de diversos títulos do segmento, fisga muito mais pela identificável mensagem feminista do que propriamente pela aventura. O empoderamento, no fim, é a bomba mais eficiente contra os sistemas machistas.
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