quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Crítica | A Babá: Rainha da Morte

Menos familiar, mais divertido

Embora repita sem um pingo de vergonha a estrutura do longa original, A Babá: Rainha da Morte eleva a galhofa trash proposta pelo antecessor numa continuação livre de qualquer amarra. Indo de encontro ao tom “familiar” do primeiro filme, o diretor McG (As Panteras) não deixa escapar uma oportunidade sequer ao glorificar o “terrir” (a popular combinação entre o Terror e a Comédia) numa continuação absurda regada por um genuíno banho de ‘gore’, pelo senso de humor tresloucado e pelo faro apurado para o horror nonsense.  

No papel, a produção original Netflix é inteligente ao valorizar o melhor do original sem deixar de ampliar a mitologia. O background, aqui, é levado mais a sério. Uma nova personagem, a indômita Phoebe (Jenna Ortega, puro magnetismo), surge como um perspicaz motivo para o argumento olhar para o passado. Estamos diante de uma sequência com motivos para existir. Após sobreviver ao ataque da seita ocultista liderada por sua babá (Samara Weaving), o deslocado Cole (Judah Lewis, novamente engraçadíssimo) viu a sua situação piorar no colégio. Como ninguém acreditava na sua versão dos fatos, ele passou a ser tratado como louco por todos. Seria tudo fruto de uma mente criativa? Ou uma ameaça real prestes a cruzar o seu caminho outra vez?

É legal ver como a continuação acompanha o crescimento dos personagens. As imposições do ‘high school’ são melhores trabalhadas pelo texto. Quando Melanie (Emily Alyn Lind, uma grata surpresa) o convida para uma viagem, o agora “desprotegido” Cole se vê obrigado a lidar com velhos fantasmas num novo contexto. O despertar sexual novamente é atrelado ao medo do desconhecido e ao perigo. McG solidifica a narrativa ao usar o vazio de uma geração cada vez mais precoce à serviço da trama. A maluquice é potencializada não só pelo frisson hormonal, como também pela superficialidade dos millenials. Os alvos da vez aqui. Talvez o elo mais fraco da continuação, os novos personagens são propositalmente descartáveis. Um prato cheio para McG brincar com a trasheira. Por mais que o argumento prometa mais do que cumpra no que diz respeito ao estudo da psique de Cole, o cineasta compensa ao transitar entre o horror e a comédia com um senso de diversão revigorante. 

Mais do que rir do retorno dos estereotipados vilões, o longa se delicia com as espertas referências pop\cinematográficas, com as mortes grotescas e com o humor fora da caixinha. O elemento pop, inclusive, é explorado com maior esmero aqui, influenciando no desenvolvimento do cenário (que reverência de Evil Dead a O Rei Leão), no uso de alguns objetos cênicos (o bandolim numa cena de ameaça dialoga o filme favorito da personagem inserida nela) e na trilha sonora. Sem querer revelar muito, McG entrega uma das sequências de sexo mais impagáveis dos últimos anos. É legal ver como o cineasta abraça a tosqueira sem pudor e com criatividade. O CGI artificial, por exemplo, é proposital. Parecer ruim é um charme no cinema trash. Mais “devotado” ao horror que o original, A Babá: Rainha da Morte supera o antecessor ao arrancar risadas com a mesma facilidade com que decepa membros. Talvez seja esta a franquia que a Netflix tanto procura. 

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