terça-feira, 21 de julho de 2020

Crítica | Desperados

Problemático enquanto romance, constrangedor enquanto comédia

Nasim Pedrad foi uma das grandes surpresas do remake de Aladdin. Na pele da dama de honra de Jasmine, a atriz iraniana roubou a cena sem qualquer dificuldade. Por ela resolvi dar uma chance a mais nova comédia-romântica da Netflix Brasil. Pobre Nasim Pedrad... Desperados é um erro retumbante. O longa dirigido por LP, tal qual um cantor desafinado, não alcança uma nota certa. Estamos diante daquele tipo de obra que vai do grave ao agudo sem qualquer tipo de cuidado. Disposto a requentar um arco batido, o roteiro assinado por Ellen Rapoport até tenta apostar em novos elementos. Claramente influenciado por Missão Madrinha de Casamento (2011), o argumento mira um público mais adulto com o seu humor inicialmente verborrágico e suas protagonistas com dilemas mais maduros.

Wesley (Nasim Pedrad), a desesperada do título, chegou aos trinta e poucos anos desempregada, quebrada e solitária. Brooke (Anna Camp), sua amiga, não consegue sair de um relacionamento frustrante. Já Kayle (Sarah Burns) sofre por não conseguir ter filhos. Uma trinca que poderia até funcionar se não fosse a completa imaturidade do texto. Desperados quer empoderar, mas peca ao não levar a sério as emoções das personagens. Elementos como a relação de sororidade entre as amigas, a crise de baixa estima e até mesmo a tardia descoberta sexual de uma delas são explorados de forma covarde. Como se o longa quisesse preencher uma agenda desconstruída que não casa com o tom exótico\clichê do filme. Todos os conflitos delas (e entre elas) são reduzidos à antecipáveis twists narrativos.


O humor, que até funciona no primeiro ato, logo descamba para o absurdo. Do tipo mais constrangedor possível. O que falar da bizarra sequência do golfinho? Para piorar, o clima de romance é inexistente. Nada justifica o esforço de Wes para recuperar um e-mail mandado por engano. Todas as boas intenções (e as soluções visuais) iniciais sucumbem diante da falta de paixão e graça do roteiro. Desperados, na verdade, só não é um desastre total graças ao esforço do elenco. Nasim Pedrad é carismática e eleva as suas gags. Anna Camp diverte como de costume ao viver a personagem de costume. Lamorne Morris é talentoso e confere ao seu Sean um sopro de sobriedade que falta ao filme como um todo. São eles que trazem algum sentido a mais nova (e esquizofrênica) produção Netflix. Uma obra que mira na sátira inteligente de Paul Feig, mas acerta nos mais emburrecidos filmes de Adam Sandler.


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