O cinema perdeu hoje uma legenda. Estrela de Spartacus e Glória Feita de Sangue, o ator Kirk Douglas faleceu nesta quarta (05), aos 103 anos. As causas não foram divulgadas. Pai do também ator Michael Douglas, Kirk escreveu seu nome na Sétima Arte com grandes filmes e uma postura independente em Hollywood. Ao mesmo tempo em que protagonizava títulos do quilate de 20.000 Léguas Submarinas, Sede de Viver, Sete Dias de Maio, O Invencível e A Montanha dos Sete Abutres, o astro ficou conhecido pelos seus atos longe dos sets. Para quem não sabe, Kirk Douglas combateu na 2ª Guerra Mundial e no auge do macarthismo foi um dos poucos a sair em defesa dos seus companheiros de profissão e se insurgir contra a perseguição estatal. Em Spartacus, por exemplo, ele desafiou a indústria ao convidar o roteirista Dalton Trumbo para escrever o filme. Um dos muitos nomes na lista negra do senado norte-americano. Uma iniciativa corajosa que, de certa forma, serviu de incentivo para que tantos outros realizadores deixassem a sombra da repressão. Talvez por isso ele ficou conhecido como o "último durão" de Hollywood.
Nascido no dia 9 de Dezembro de 1916, Kirk Douglas cresceu na cidade de Amsterdam, no Estado de Nova Iorque. Filho de imigrantes russos, ele conviveu com a pobreza extrema e o preconceito desde a sua infância, o que talvez explique a sua personalidade forte e inabalável. Responsável por ajudar no sustento da sua família e dos seus próprios estudos durante a juventude, Douglas utilizou uma lista com as suas honrarias escolares, a maioria delas envolvendo a atuação em pequenas peças, para conquistar uma vaga na Universidade St. Lawrance. Não demorou muito, porém, para que o seu talento chamasse a atenção da consagrada Academia Americana de Artes Dramáticas de Nova Iorque, a mais antiga escola de atuação em língua inglesa do mundo. Com uma bolsa de estudos em mãos, o jovem ator passou a investir em pequenas montagens da Broadway. Neste meio tempo, aliás, ele conheceu a então jovem Lauren Bacall (Uma Aventura Na Martinica), uma parceira de classe que viria a se tornar uma peça decisiva para o início da sua carreira cinematográfica. Antes de conquistar a primeira chance em Hollywood, no entanto, Kirk se alistou a Marinha Americana em 1941, servindo com louvor até o término da Segunda Guerra Mundial.
De volta aos EUA, o ator estreou nos cinemas no drama noir O Tempo Não Apaga (1946), um papel conseguido graças ao esforço de Bacall, que usou a sua influencia para convencer o produtor Hal B. Wallis a dar uma oportunidade ao seu amigo. O que se viu nas décadas seguintes foi a construção de uma aclamada carreira, uma trajetória marcada pelas grandes atuações, pelas produções arrojadas e pela sua vocação ativista. No auge do Macartismo, inclusive, Kirk foi um dos poucos grandes astros a se erguer contra a perseguição política aos realizadores considerados comunistas, um tema brilhantemente retratado no recente Trumbo (2016). "Para o mundo, ele era uma lenda, um ator da idade de ouro dos filmes que viveu seus anos dourados, um humanitário cujo compromisso com a justiça e as causas em que ele acreditava estabeleceram um padrão que todos nós temos que buscar", escreveu Michael Douglas sobre o pai. Ao longo de sua carreira, Kirk Douglas conseguiu três indicações ao Oscar de Melhor Ator (por Invencível, Assim Estava Escrito e Sede de Viver), mas só levou a estatueta dourada pelo conjunto da sua obra, em 1996.
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