Confesso que não era um
entusiasta de Toy Story 4. Não conseguia entender o motivo da Disney retomar
uma franquia brilhantemente encerrada no seu terceiro filme. Poucas vezes o
ponto final foi tão marcante. O interesse comercial, porém, outra vez falou
mais alto. Menos mal que sem arranhar o que foi entregue previamente. Fazendo
da despretensão o seu principal aliado, Toy Story 4 é um retorno agradável a um
universo por si só cativante. Embora parta de uma premissa até certo ponto
requentada, a chegada de um novo e peculiar brinquedo, o longa dirigido por Josh
Cooley supera as expectativas ao apostar muito nos seus carismáticos
personagens. Nos antigos e principalmente nos novos.
Por mais que os protagonistas
Woody, Buzz, Beth e Jessie sigam como a bússola moral na continuação, o
realizador surpreende ao nos presentear com uma fantástica gama de novos
brinquedos. Muito mais do que o agente catalisador da trama, o garfinho Forky
(voz de Tony Hale), em especial, é impagável. É legal ver como o roteiro brinca
com a identidade do personagem. Ele é fruto da mente criativa de uma criança. O
novo brinquedo predileto nasce do improviso. Mais infantil impossível. E não é
só isso. A sua crise existencial ajuda a realçar a face mais altruísta de Woody,
que, tal qual no primeiro filme, volta a ter o centro das atenções aqui. Estamos
diante de uma curiosa passagem de bastão entre o novo e o velho favorito.
Esqueça o clima de rivalidade do primeiro filme. O caubói amadureceu neste
percurso. A sua relação com Andy trouxe experiência. E ele, agora, só quer que
a sua nova dona, Bonnie, tenha uma infância feliz. Um belo arco valorizado
pelas novas estrelas deste lúdico show.
O que falar, por exemplo, dos
hilários ursinhos Ducky (Keegan-Michael Key) e Bunny (Jordan Peele), ou do extravagante
Duke Caboom (voz de Keanu Reeves) e até mesmo da complexa Gabby Gabby (voz de
Christina Hendricks). Por sinal, é legal ver como o diretor Josh Cooley renega
convenções ao não se prender tanto a figura de um antagonista. Numa bem-vinda
subversão do que foi o fantástico terceiro filme, a sequência é astuta ao
discutir o desapego sob uma lógica invertida. Em sua essência mais pura, na
verdade, Toy Story 4 é um filme (pasmem) sobre aposentadoria. Sobre missões
cumpridas. Sobre oportunidades dadas e as perdidas. Pela primeira vez nos
quatro filmes me dei conta que o Woody já beira os 70 anos. Talvez por isso os
brinquedos, aqui, ganham uma “voz” mais ativa. A aventura aponta para um mundo
novo. Mais divertido, mais colorido, mais livre. Um senso de amplitude
explorado com perspicácia nesta continuação. A brincadeira fica bem mais
divertida quando eles invadem um expressivo (e por vezes sinistro) antiquário,
ou um colorido parque de diversões. Os personagens, desta vez, não se revelam
tão inertes ao meio humano. As sacadas encontradas pelo longa para os mover
pelo cenário vão bem além dos cones laranjas. O mundo de Toy Story nunca foi
tão bonito, habitável e ilimitado.
Leve, despretensioso, mas com
algo a acrescentar, Toy Story 4 quebra velhos paradigmas da franquia ao
expandir os horizontes dos seus personagens. O resultado é uma jornada de
descobertas criativa, visualmente magnífica e emotiva como de costume. No fim,
as lágrimas se confundem com um sorriso, como aquele que nós damos quando
reencontramos velhos (e queridos) amigos.
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