sábado, 25 de maio de 2019

Crítica | Fim do Mundo – Rim of The World

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No papel, Fim do Mundo tinha todos os ingredientes necessários para funcionar. Um ‘plot’ do tipo “crianças vs mundo” que tem feito muito sucesso em títulos recentes como Super 8 (2011), Ataque ao Prédio (2011), It: A Coisa (2017) e (claro!) Stranger Things. Um elenco diversificado e carismático. Uma janela de exibição do porte da Netflix. O resultado, porém, é uma verdadeira bagunça visual e narrativa que se escora basicamente no humor carregado de referências pop e na genuína energia juvenil impressa pelos protagonistas. Sob a confusa batuta do diretor McG (As Panteras), num dos piores trabalhos da sua irregular filmografia, Rim of The World (no original) se revela uma aventura com seríssimos problemas de tom, efeitos digitais dolorosamente artificiais e um argumento incapaz de sustentar as pretensões narrativas do diretor. Nunca pensei que fosse escrever isso, mas os incontáveis clichês e as conveniências narrativas são o menor dos problemas aqui. 


Na verdade, O Fim do Mundo é o tipo de produção com um quê esquizofrênico que mira em muitos alvos, mas acerta em bem poucos. Talvez com receio em ser apenas mais um título de um subgênero que, lá atrás, consagrou clássicos modernos como E.T, Os Goonies, Deu a Louca nos Monstros e Os Garotos Perdidos, McG arrisca ao tentar ir além das (baixas) expectativas em torno do projeto. E falha retumbantemente. Logo nos primeiros minutos de projeção, por exemplo, o roteiro assinado por Zack Stentz (dos bem-sucedidos Thor e X-Men: Primeira Classe) surpreende ao flertar com elementos satíricos enquanto estabelece a rotina dos protagonistas num acampamento de verão. Confesso que custei a entender a “brincadeira” com os estereótipos raciais, a idiotização dos adultos e o “namoro” com um humor mais ácido. Uma opção inicialmente corajosa e que garante algumas boas risadas. O ‘insight’ racial sobre Toy Story, em especial, é impagável. Não demora muito, porém, para o filme romper com esta proposta. Quando os adultos “saem” de cena e a invasão alienígena ganha corpo, McG sacrifica esse sopro de originalidade em detrimento de uma abordagem genérica e que (pior!) se leva a sério demais.


Por mais que o humor referencial siga vigorando ao longo da película, ora com inspiração (a cativante sequência da bicicleta remete espertamente a E.T: O Extraterrestre), ora de maneira forçada (até O Urso de Werner Herzog é citato), Fim do Mundo começa a frustrar à medida que não se contenta em ser apenas uma aventura escapista. Com uma superficialidade constrangedora, McG esbarra nas suas próprias pretensões ao tentar criar um ‘background’ dramático para cada um dos protagonistas. O resultado é um show de clichês piegas que nunca convence. Tudo é muito previsível. Muito antecipável. Embora o entrosamento entre os garotos seja natural, o longa pisa diversas vezes no freio do entretenimento ao tentar criar um contexto que bem pouco tem a acrescentar a jornada dos personagens. Em It: A Coisa, por exemplo, o diretor Andy Muschietti, fiel ao texto de Stephen King, preenche a trama com temas sérios, com conflitos pessoais que, mais a frente, seriam tratador com a devida complexidade pelo roteiro. Aqui não. Quem se importa se o tímido jovem Alex (Jack Gore) perdeu o pai de maneira trágica. Ou se o verborrágico riquinho Dariush (Benjamin Flores Jr.) está prestes a ter que mudar o seu estilo de vida. São dilemas que, tratados de forma rasa, pouco acrescentam a jornada dos personagens. Gente, isso é um filme de crianças versus alienígenas. Eles só tinham que correr, reagir, discutir e arrancar boas risadas durante esta jornada. Sempre que possível, no entanto, McG pesa a mão na tentativa de criar sequências lacrimosas, de vender uma proposta “filme família” que só torna as coisas mais quadradas e insossas. O que, por sinal, é uma pena, até porque, nos momentos em que abraça o escapismo sem grande vergonha, o resultado é satisfatório devido a facilidade do elenco em encarar o viés cômico proposto pelo roteiro e a capacidade de McG em criar situações capazes de estreitar os laços entre os personagens.


Os grosseiros defeitos de Fim do Mundo, no entanto, não ficam reduzidos ao aspecto narrativo. Consciente das limitações orçamentárias, mas com grandes ambições, McG investe num conjunto visual igualmente problemático. Na tentativa de “distrair” a atenção do público para o (em sua maioria) terrível CGI, o realizador muda constantemente a palheta de cores da obra, escurecendo muitas das cenas com filtros ora avermelhados, ora azulados. Uma mistura nada inspirada de Perdido em Marte com John Wick. Toda a sequência da invasão alienígena, por exemplo, é de uma confusão estética desconfortável, potencializada pela genérica fotografia saturada de Shane Hurlbut. Em muitos momentos um segmento do longa não parece dialogar visualmente com o próximo. Curiosamente, porém, o conceito estético da indestrutível criatura alienígena é interessante e ela ameaça. Talvez o lampejo de assinatura numa obra um tanto quanto desleixada. Recheada de soluções convenientes, vide o bizarro desmaia\acorda de Dariush dentro do clímax, e com uma das mais constrangedoras propagandas comerciais da história recente do cinema, O Fim do Mundo decepciona por não abraçar aquilo que poderia transformá-lo numa experiência genuinamente divertida. Mesmo diante de alguns óbvios predicados, McG descaracteriza o longa ao esvaziar o potencial “filme B” do projeto, renegando o descompromisso proposto pelo subgênero ao falhar em capturar a essência de alguns dos inúmeros filmes aqui reverenciados.

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