Recheado de boas surpresas, o ano de 2017 foi no mínimo intrigante no que diz respeito ao 'modus operandi' da indústria do cinema norte-americano. Embora alguns dos gigantescos blockbusters tenham correspondido às elevadas expectativas quanto ao lucro, vide os estrondosos sucessos do recente StarWars: Os Últimos Jedi, do descolado Homem-Aranha: De Volta ao Lar e do afetuoso Guardiões da Galáxia - Vol. 2, alguns dos títulos de maior orçamento desta temporada (Blade Runner 2049, Ghost in The Shell, Liga da Justiça, Alien:Covenant) decepcionaram nas bilheterias, ligando o sinal de alerta dos grandes estúdios. Em contrapartida, filmes pequenos e\ou menos aguardados conquistaram o interesse do público com qualidade e criatividade, mostrando que nem só de 'hype' vive o cinema pipoca. Num ano recheado de grandes lançamentos, aliás, alguns títulos roubaram a cena com originalidade, coragem e virtuosismo técnico. O que era um problema se tornou solução. O que era dúvida virou sucesso. E de onde não se esperava nada saiu uma das obras mais inteligentes de 2017. Dito isso, neste Top 10 preparamos uma lista com as grandes surpresas cinematográficas deste ano. Como de costume aqui no blog, aliás, seguiremos o calendário de lançamentos do circuito comercial brasileiro, o que inclui as plataformas de streaming e VOD. Dito isso, começamos com...
De volta após um período em baixa, o criativo M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido, Corpo Fechado) recolocou a sua carreira nos trilhos com o instigante Fragmentado. Com o talentoso James McAvoy na pele de um homem com múltiplas personalidades, o longa coestrelado pela magnética Anna Taylor-Joy causou um enorme frisson no início do ano ao entregar mais uma das reviravoltas de Shyamalan. Tenso e instigante, o longa de baixo orçamento, cerca de US$ 9 milhões, se tornou um dos primeiros grandes sucessos de público ao faturar expressivos US$ 278 milhões mundialmente, comprovando o êxito da fórmula Blumhouse (entenda aqui) e a sagacidade de Shyamalan. Leia a nossa crítica completa aqui.
9º Wheelman (Dir: Jeremy
Rush)
Com produções cada vez mais engenhosas, a Netflix tem investido pesado
no mercado cinematográfico. Entre os títulos mais populares, entretanto, o
pequeno Wheelman se tornou um dos grandes lançamentos da empresa. Com Frank
Grillo no papel de um piloto de fuga envolvido num assalto mal sucedido, o
longa dirigido por Jeremy Rush coloca o espectador no banco do carona,
presenteando os fãs do cinema de ação com um thriller tenso, envolvente e
naturalmente empolgante. Um filme virtuoso que, apesar das limitações
orçamentárias, exibe um enorme gama de predicados técnicos. Uma obra que merece
dividir prateleira com Baby Driver e Velozes e Furiosos 8. Leia a nossa crítica completa aqui.
8º Lego Batman (Dir:
Chris McKay)
Sejamos bem sinceros. Até o início deste mês de junho, Lego: Batman era
a melhor produção dentro do DCU. Um passo acima do seu antecessor, o
divertidíssimo Uma Aventura Lego, o longa dirigido por Chris McKay reuniu os
grandes personagens da Warner numa comédia irônica e empolgante. Mais do que
simplesmente apelar para o 'fan service', a obra empolga ao subverter o status
do herói, ao rir dos clichês em torno de personagens como o Batman, esbanjando
perspicácia através de diálogos inteligentes e personagens cativantes. E num
ano em que a DC não conseguiu aproveitar um dos seus pontos mais fortes, a
incrível safra de vilões, o Coringa enciumado de Zack Galfianakis é
sensacional. Um dos pontos altos dentro do gênero em 2017. Leia a nossa crítica completa aqui.
7º Bom Comportamento
(Dir: Benny e Josh Safdie)
Após uma péssima primeira impressão, Robert Pattinson decidiu se desconstruir perante o público. Pintado inicialmente como galã teen, ele decidiu mostrar o seu talento, se distanciando dos estereótipos ao viver um deficiente mental de The Rover: A Caçada, um explorador solitário em Z: A Cidade Perdida e um bandidinho de quinta no ótimo Bom Comportamento. Sob a batuta dos irmãos Benny e Josh Safdie, o elegante longa extrai o máximo de Pattinson num filme marcado pelo ritmo incessante, pelo senso de urgência e pela sincera conexão entre os personagens. Um inesperado sucesso de crítica. Leia a nossa opinião completa aqui.
6º Atômica (Dir: David
Leitch)
Após nos brindar com a incrível Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria,
Charlize Theron entrou de vez no cinema de ação com o raivoso Atômica.
Comandado pelo ex-dublê David Leitch, do ótimo De Volta ao Jogo, o longa
colocou o espectador no centro da ação ao narrar as desventuras de uma espiã em
solo inimigo. Com sequências de ação realística de tirar o fôlego, Theron
esbanjou entrega física ao protagonizar as engenhosas coreografias de lutas, o
que fez de Atômica um dos filmes de ação mais impactantes de 2017. Pena que,
nas bilheterias, o longa faturou modestos US$ 95 milhões ao redor do mundo, um
valor “apenas” ok perto dos US$ 30 milhões de orçamento. Leia a nossa crítica completa aqui.
5º John Wick: Um Novo dia
para Matar (Dir: Chad Stahelski)
Continuação do elogiado De Volta ao Jogo, John Wick: Um Novo Dia para Matar se revelou uma das raras continuações superiores ao original. Responsável pelo popular primeiro longa, Chad Stahelski elevou o patamar do gênero ao entregar um dos filmes de ação mais artísticos dos últimos anos. Indo além das implacáveis sequências de ação, potencializadas pela entrega física do astro Keanu Reeves, Stahelski impressionou ao nos brindar com uma obra visualmente refinada, recheada de enquadramentos estilosos, uma cinematografia brilhantemente iluminada e uma imponente direção de arte. Um filmaço que, para ser bem sincero, só não entrou na minha lista de melhores do ano devido ao exagerado gancho final, um desfecho anticlimático que reduziu o impacto da película como um todo. Leia a nossa crítica completa aqui.
4º Thor: Ragnarok (Dir:
Taika Waititi)
O calcanhar de Aquiles da Marvel, o universo Thor era o grande desafio
da Marvel Studios. Embora o deus nórdico e o seu irmão, o dúbio Loki, funcionem
a contento dentro do universo compartilhado, os filmes solos do herói eram os
menos "originais" da franquia. Tudo mudou, no entanto, quando Kevin
Feige decidiu arriscar, e escalou o excêntrico Taika Waititi para dirigir o
arco mais pesado do herói. O resultado é o audacioso Thor: Ragnarok uma comédia
aventureira sobre o fim do mundo. Com Chris Hemsworth completamente à vontade
no papel, o longa conseguiu absorver o senso de urgência do arco numa obra
hilária, criativa e desapegada. Um filme que, apesar da pegada irônica de
Waititi, soube contornar um problema da Marvel e não economizou quando o
assunto é o senso de consequência da trama. Apesar das críticas dos mais
intransigentes, Thor: Ragnarok faturou até o momento US$ 843 milhões ao redor
do mundo, a maior bilheteria dentro da trilogia Thor. Leia a nossa crítica completa aqui.
3º Mulher-Maravilha (Dir:
Patty Jenkins)
Após o fracasso de Esquadrão Suicida e Batman Vs Superman: A Origem da
Justiça, Mulher-Maravilha surgia como a última grande esperança do Universo
Cinematográfico da DC. Além de Gal Gadot ter se revelado a melhor coisa no
longa de Zack Snyder, o material de divulgação do longa era impactante, uma
ponta de esperança diante de tantos problemas. Para a felicidade dos fãs do
gênero, entretanto, Mulher-Maravilha se revelou o filme de super-herói mais
importante dos últimos anos. Na vanguarda do segmente, Jenkins exaltou o 'girl
power' ao fazer Diana Prince a heroína que o cinema precisava. Sem os problemas
de tom dos filmes anteriores, Mulher-Maravilha se revelou uma das grandes
surpresas de 2017, uma aventura leve e empolgante que se orgulhou da essência
'power' da personagem. Leia a nossa crítica completa aqui.
2º It: A Coisa (Dir: Andy
Muschietti)
Com uma fantástica 'vibe' nostálgica, It: A Coisa subverteu a lógica ao
buscar referência num produto que se inspirou no seu material fonte. Ficou
confuso? Eu explico. Logo após o frisson inicial em torno do lançamento do
longa, várias pessoas relacionaram o êxito do novo It ao sucesso de Stranger
Things. Embora o hype em torno da série da Netflix tenha ajudado a impulsionar
a nova adaptação da obra de Stephen King, o fato é que o livro It (1986), antes
de qualquer coisa, serviu como referência para uma safra de filmes e
realizadores. De Garotos Perdidos (1992) ao próprio Stranger Things, várias
obras seguiram a estrutura idealizada por King, preparando o terreno para esta
nova (e triunfante) versão cinematográfica. Sob a eclética batuta de Andy
Muschietti, o longa capturou a aura da obra original ao equilibrar comédia,
suspense e terror com maestria, resgatando o espírito oitentista ao investir
numa película genuinamente empolgante. Os personagens são ótimos. O elenco
entrosadíssimo. A direção engenhosa. O Pennywise de Bill Skarsgard é incrível.
Em suma, recheado de momentos memoráveis, It: A Coisa se tornou um estrondoso
sucesso de crítica e de público. Mesmo com um orçamento modesto para o universo
blockbuster, cerca de US$ 35 milhões, o longa surpreendeu a todos ao render US$
698 milhões ao redor do mundo, um resultado fantástico e que faz jus ao grau de
qualidade do longa. Leia a nossa crítica completa aqui.
1º Corra! (Dir: Jordan
Peele)
O nosso primeiro lugar nesta lista, entretanto, não poderia ser de
outro. Tal qual a grande surpresa de 2016, o extraordinário Rua Cloverfield 10,
Corra! era o tipo de filme que sequer estava no radar do grande público. Embora
nos esforcemos para acompanhar as notícias sobre os bastidores da Sétima Arte,
o longa dirigido por Jordan Peele foi crescendo sorrateiramente, ganhando força
no bom e velho "boca a boca". Recebido com entusiasmo pela crítica
norte-americana, o ácido suspense racial causou um verdadeiro estardalhaço
dentro dos EUA, se tornando um dos filmes mais rentáveis da história recente do
cinema por lá. Com um orçamento enxuto típico da Blumhouse Productions, cerca
de US$ 4,5 milhões, o longa estrelado pelo excelente Daniel Kaluuya faturou
inimagináveis US$ 175 milhões somente em solo americano (US$ 254 milhões ao
redor do mundo), reforçando a retomada do cinema autoral dentro de Hollywood.
Um 'hype' que, indiscutível, se reflete na qualidade do material apresentado.
Inteligente, irônico e crítico, Corra! instiga ao tratar o preconceito sob a
sua face mais velada, nos presenteando com uma marcante (e agressiva) reflexão
acerca deste espinhoso tema. Que baita filme! Leia a nossa crítica completa aqui.
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