Uma inteligente sinergia entre a realidade e a fantasia
Um dos filmes mais criativos de 2017, Colossal faz um primoroso uso dos
simbolismos ao discutir os conflitos de uma mulher à beira do caos. Transitando
com sagacidade entre a fantasia e a realidade, o longa dirigido e roteirizado
pelo Nacho Vigalondo surpreende ao misturar comédia, drama e suspense com rara
originalidade. Embora peque por alguns problemas narrativos, principalmente
quando o assunto é o desenvolvimento dos personagens de apoio, o realizador
espanhol compensa ao investir pesado no denso subtexto.
Por mais que num primeiro momento o argumento flerte com o humor mais escapista, Nacho Vigalondo mostra inesperada destreza ao mudar o tom da sua película, ao explorar os conflitos por trás da aparição de um gigantesco monstro. Impulsionado pela magnífica performance de Anne Hathaway, magnética na pele de uma mulher alcoólatra abandonada pelo seu insensível namorado (Dan Stevens, positivamente detestável), o curioso longa é inteligente ao traduzir os dilemas da protagonista, criando um inusitado paralelo entre ela e a monstruosa criatura.
Numa sacada de mestre, Ncho Vigolondo usa o viés metafórico da premissa
em prol do desenvolvimento da personagem, se distanciando habilmente do
elemento fantasioso ao falar sobre temas como o alcoolismo, a violência
doméstica e os perigos em torno de um relacionamento abusivo. Pintado
inicialmente como um mero interesse amoroso, o complexo amigo de infância vivido
por Jason Sudeikis (excelente) cresce de maneira assustadora em cena,
reforçando o viés realístico da trama ao potencializar os problemas da
protagonista. Sem querer revelar muito, o realizador é genial ao explorar o
sentimento de culpa de uma mulher agredida sob um prisma realmente fantástico,
culminando num clímax libertador e naturalmente empolgante.
Somado a isso, mesmo limitado pelo baixo orçamento, o diretor espanhol
faz um criativo uso do CGI ao compor a gigantesca criatura, buscando referência
em títulos como Cloverfield: O Monstro (2007) e Monstros (2010) ao
"esconder" as imperfeições visuais com inventivos enquadramentos e o
perspicaz uso da fotografia noturna. Dito isso, com ironia e ousadia, Colossal
empolga ao, em sua essência mais pura, defender o 'gilr power' num contexto bem
mais mundano e realístico. Que grata surpresa!
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