Como filho, posso dizer que ser pai é uma missão dura. E alguns diretores sabem como retratar esta dificuldade. Neste Dia dos Pais, no Cinemaniac uma lista com quinze grandes filmes sobre a paternidade. Entre clássicos e sucessos recentes, no artigo passado e presente se misturam comprovando que os anos passam, a mentalidade muda, mas os problemas persistem. Dito isso, começamos com...
- Ladrão de Bicicletas (1948)
E começamos a lista com um dos grandes clássicos do cinema italiano. Dirigido por Vittorio De Sica (Sandálias do Pescador), Ladrão de Bicicletas vai a fundo nas questões morais ao narrar a dilacerante jornada de um pai e o seu pequeno filho em prol do sustento próprio. Estrelado pelos expressivos Lamberto Maggiorani e Enzo Staiola, o longa acompanha as desventuras de Antonnio, um trabalhador de origem humilde que luta para sustentar a sua família. Contando com o apoio do filho Bruno, o homem resolve comprar uma bicicleta para conseguir uma vaga num novo emprego. Vendendo boa parte dos seus últimos bens de valor, ele consegue comprar o seu futuro ganha pão, mas logo vê os seus sonhos frustrados com o roubo da sua "bike". Desesperado, Antonio parte numa angustiante busca pelas ruas de Roma, colocando em cheque não só o seu código de ética, mas também todas as lições ensinadas ao jovem Bruno. Dissecando com rara frieza os trágicos reflexos do pós-guerra, Ladrão de Bicicletas impressiona ao construir uma memorável relação entre pai e filho, num comovente e realístico conto sobre a honestidade. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
- O Sol é Para Todos (1963)
Na minha opinião uma das maiores figuras paternas dentro da sétima arte, Atticus Finch é também um daqueles personagens inestimáveis. Interpretado com intensidade por Gregory Pack, o protagonista de O Sol é para Todos se coloca contra tudo e contra todos para mostrar aos seus dois filhos a importância da justiça. Dirigido por Robert Mulligan (Houve uma Vez no Verão), o longa acompanha a jornada do advogado Atticus, um pai de família que sempre se esforçou para dar o melhor exemplo para os seus dois filhos. Quando um jovem negro é acusado de um violento crime, o zeloso homem resolve oferecer seus serviços para ele, incitando a ira da preconceituosa sociedade local. Lutando contra ameaças, ataques e uma série de outras dificuldades, Atticus transforma este caso numa impressionante lição de caráter ao expor o pior do ser humano. Utilizando esta contundente crítica social de maneira comovente, Mulligan faz desta avassaladora premissa uma jornada de aprendizado para as duas crianças, construindo uma adorável relação entre um corajoso pai e os seus dois compreensivos filhos.
- O Poderoso Chefão (1972)
De um clássico para outro clássico, O Poderoso Chefão é acima de tudo um filme sobre a família. Estrelado com brilhantismo pelo icônico Marlon Brando (Os Deuses Vencidos), este precioso relato sobre a máfia italiana expõe através de uma espiral de violência a relação de um patriarca do mundo do crime com os seus filhos, se aprofundando nos reflexos desta criação na rotina do explosivo Sonny (James Caan), do acuado Fredo (John Cazale), do idealista Michael (Al Pacino) e da indomável Connie (Talia Shire). Explorando com rara felicidade a imponente figura paterna de Dom Corleone, o diretor Francis Ford Coppola explora como poucos esta relação entre um pai e os seus filhos, destacando cena após cena o apreço da máfia italiana pela família. Vencedor do Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator (Brando) e Melhor Roteiro Adaptado. Acho que não preciso escrever mais nada sobre este magistral trabalho. Leia aqui o nosso Top 10 sobre as grandes Trilogias Cinematográficas.
- Kramer vs Kramer (1978)
Um dos filmes definitivos envolvendo a relação entre pais e filhos, Kramer vs Kramer leva a paternidade para os tribunais numa envolvente história de superação. Evidenciando os impactos do divórcio na estrutura familiar de um pequeno jovem, o longa dirigido por Robert Benton (O Mundo aos Seus Pés) acompanha a atripulada rotina de Ted Kramer (Dustin Hofman), um pai de família que coloca o seu trabalho em primeiro lugar. Incomodada com a situação, a sua confusa esposa Joanna (Meryl Streep) decide se divorciar repentinamente, deixando o pequeno Billy (Justin Henry) aos cuidados do pai. Obrigado a dividir o seu escasso tempo com o filho, pouco a pouco Ted vai se revelando uma grande figura paterna, construindo com o garoto uma relação afetuosa e de muito zelo. Quando tudo parecia se encaixar, no entanto, Joanna reaparece querendo na justiça a guarda do filho. Lutando contra a previsibilidade do sistema judiciário, e a preferência dada a figura materna, Ted terá que se dedicar como nunca para comprovar que o lugar do pequeno Billy é ao seu lado. Indo do drama familiar ao filme de tribunal com grande inspiração, Kramer vs Kramer conseguiu grande sucesso, recebendo cinco estatuetas do Oscar, incluindo a de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante.
- O Campeão (1979)
Em meio a uma série de clássicos nesta lista, O Campeão nos envolve e despedaça com a incrível relação entre um problemático pai e o seu cativante filho. Dirigido por Franco Zefirelli (Callas Forever), este comovente longa nos apresenta ao incorrigível Billy Flinn, um pugilista fracassado que desperdiçou várias oportunidades devido ao seu comportamento instável e o vício em jogos. Apesar de ser um péssimo exemplo, ele, no entanto, é tratado como herói pelo carismático T.J (Rick Shroder), seu único e adorável filho. Agora como treinador de cavalos, Billy tenta retomar as rédeas de sua vida, mas acaba surpreendido com a volta da mãe do garoto (Faye Dunaway), uma ricaça que parece interessada em assumir a guarda do filho. Sem ter como competir financeiramente, Billy decide voltar ao mundo do boxe, acreditando que nos ringues estaria a última grande chance de sua vida. Contando com as estupendas atuações de Jon Voight e Rick Shroder, O Campeão nos apresenta a uma história simples e completamente humana envolvendo a forte ligação entre um pai e o seu filho.
- Paris, Texas (1984)
Um relato comovente sobre um homem perdido disposto a reunir o que sobrou da sua família, Paris, Texas encanta ao restabelecer um fragilizado laço paterno. Num dos mais comoventes trabalhos da sua refinada filmografia, o cultuado Wim Wenders brilha ao construir uma obra recheada de simbolismos. As cores não só traduzem o emocional dos personagens, como também os unem. Isso pra não falar dos virtuosos enquadramentos e do excelente elenco. Harry Dean Stanton, Nastassja Kinski e Hunter Carson impressionam. O mais legal, aliás, é a forma madura com que Wanders utiliza o viés lúdico, criando um arco familiar leve, íntimo e brilhantemente escrito. Sem um pingo de pressa, Wenders é cuidadoso ao desenvolver a jornada de reaproximação entre um errático pai e o seu esperançoso filho, ao se debruçar sobre os dilemas de ambos, uma relação singela e humana que cresce até o revelador último ato. Em suma, Paris, Texas é um filme indispensável e entrega um dos abraços mais honestos e revigorantes da história do Cinema.
- Em Nome do Pai (1993)
Confesso que está opção é para corrigir um grande erro desse que aqui escreve. Estrelado pelo grande Daniel Day Lewis, Em Nome do Pai já deveria ter figurado na primeira versão dos maiores pais do Cinema. Dirigido por Jim Sheridan, o longa narra a história de um pai (Pete Postlethwaite) que faz de tudo para livrar o filho (Day Lewis), um rebelde do grupo IRA, da prisão. O pai também acaba condenado, fato que só complica a situação do filho. Ele, no entanto, conta com a ajuda de uma advogada (Emma Thompson) para encontrar as irregularidades do caso. Um baita filmes, que explora com primor toda a profundidade da relação entre pais e filhos. Indicado a sete Oscar, o longa acabou perdendo espaço na premiação para o elogiado A Lista de Schindler.
- Uma Babá Quase Perfeita (1993)
Estrelado pelo saudoso Robin Williams, Uma Babá Quase Perfeita merecidamente se tornou um grande sucesso de público. Dirigido por Chris Columbus, o mesmo de Harry Potter e a Pedra Filosofal e Uma Noite de Aventuras, o longa narra a história de Daniel Hillard (Williams), mais um daqueles pais que coloca o trabalho sempre à frente da própria família. Tudo muda, no entanto, quando a sua esposa (Sally Field) resolve pedir a separação e o distancia dos filhos (Lisa Jakub, Mara Wilson e Mathew Lawrence). Desolado com o afastamento das crianças, Daniel resolve se passar por uma idosa babá, reconquistando a confiança dos jovens com seu estilo extravagante e com as suas cativantes lições. Contando com o inesquecível carisma de Robin Williams, com direito a sequências icônicas como a dança ao som de "Dude (looks like a lady)", do Aerosmith. Vencedor do Oscar de Melhor Maquiagem, Uma Babá Quase perfeita se tornou um lucrativo sucesso, faturando mais de US$ 441 milhões ao redor do mundo.
- A Vida é Bela (1998)
Grande vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, derrotando o brasileiro e igualmente fantástico Central do Brasil, A Vida é Bela diverte e comove ao acompanhar o esforço de um pai para evitar que o filho sofra as consequências do Holocausto. Estrelado por Roberto Benigni e Giorgio Cantarini, o longa narra a história de Guido, um carismático judeu que é mandado para um campo de concentração junto do seu filho. Temendo pelo futuro do jovem, este zeloso pai resolve criar um grande jogo, fazendo daquele nefasto período uma grande brincadeira de criança. Emocionante e intenso, A Vida é Bela encanta ao mostrar o amor de um pai por seu filho de maneira honesta e completamente lúdica. Um daqueles filmes que nos faz refletir sobre a vida.
- O Filho da Noiva (2001)
Dirigido pelo premiado José Juan Campanella, O Filho da Noiva destaca duas gerações de pais e a relação entre eles. Estrelado pelo ótimo Ricardo Darin, esse emocionante drama narra a história de Rafael, um chefe de família que vem se dedicando muito mais aos negócios, do que a jovem filha. Em meio a crise econômica na Argentina, e as pressões familiares, Rafael sofre um ataque cardíaco. Disposto a dar um novo rumo a sua vida, ele decide vender o restaurante de sua família. Rafael, no entanto, não esperava que o seu pai (Héctor Alterio) lhe pedisse ajuda para consagrar a união com a esposa (Norma Aleandro), que padece vítima de Alzheimer. Apesar da trama girar em torno da "noiva", a relação entre pai e filho\filha é o grande ponto alto do longa, graças as grandes atuações de todos os envolvidos. Um tocante trabalho de Campanella, que anos mais tarde viria a ganhar o Oscar com o aclamado O Segredo de seus Olhos.
- Procurando Nemo (2003)
E a Pixar não poderia ficar de fora desta lista. Numa das maiores e mais celebradas produções do estúdio, Procurando Nemo mostrou que para um pai não existem limites para o bem estar do seu filho. Através de uma encantadora fábula marinha, o longa dirigido por Andrew Stanton nos apresenta ao zeloso Marlin, um peixe palhaço preocupado com a criação do seu filho Nemo. Vivendo num pequeno e protegido recife de corais, Marlin entra em desespero quando o pequeno peixe é capturado e vai parar num aquário. Disposto a enfrentar os perigos do oceano, esta figura paterna se une a desmemoriada Dory e partem numa incrível e divertida jornada. Vencedor do Oscar de Melhor Animação, Procurando Nemo se tornou um grande sucesso de público e crítica, faturando espetaculares US$ 936 milhões ao redor do mundo.
- À Procura da Felicidade (2006)
Inspirado numa incrível história real, À Procura da Felicidade não poderia faltar em qualquer lista do gênero. Conduzido com grande sensibilidade pelo diretor italiano Gabriele Muccino (Sete Vidas), o longa estrelado por Will Smith narra a revigorante jornada de Chris Gardner (Smith), um pai de família que apostou toda a sua verba numa aparelho de raio x que logo foi ultrapassado. Sem ter o que fazer com este equipamento, ele entra em desespero quando a sua esposa o abandona, deixando o seu pequeno filho aos seus cuidados. Desempregado e sem ter onde ficar, Chris resolver tentar a sorte como corretor da bolsa. Superando a desconfiança de todos, pouco a pouco ele começa a enxergar um novo panorama, mostrando persistência e a crença num futuro melhor. Impecável ao mostrar o drama por trás desta relação, Muccino brilha ao expor de maneira contida o sofrimento deste pai de família em crise, brindando o espectador com cenas ora devastadoras, ora singelas. Grandes atuações de Will Smith e do seu filho na vida real Jaden Smith.
- Os Descendentes (2011)
Dirigido por Alexander Payne (Sideways - Entre umas e outras), Os Descendentes era o típico filme que nas mãos erradas viraria apenas mais um drama familiar. Daqueles de arrancar algumas lágrimas ao assistir, mas que minutos depois já faz parte do passado. Felizmente não é isso o que acontece, e o que vemos é um filme inventivo, original, que escapa das mesmices na tentativa de mostrar a capacidade de superação de uma família no auge do seu mais complicado momento. Família, aliás, capitaneada por Matt King (George Clooney), um advogado de sucesso que em meio ao frenesi do seu trabalho, acabou a deixando em segundo plano, principalmente sua mulher Elizabeth (Patricia Hastie) e suas duas filhas Scottie (Amara Miller) e Alexandra (Shailene Woodley). Porém, tudo muda quando Elizabeth sofre um grave acidente de barco e fica entre a vida e a morte no hospital. Com a responsabilidade de cuidar novamente de sua família, Matt acaba descobrindo que a situação de sua esposa é o menor dos seus problemas, que incluem ai as suas duas problemáticas filhas, a venda de um terreno que pertence a família e, até mesmo, a traição de sua mulher. Um retrato comum, mas incrivelmente cativante, dos muitos dramas que algumas famílias tem de enfrentar em todos os anos.
- Nebraska (2013)
Um dos filmes mais carismáticos de 2013, Nebraska (leia a nossa crítica aqui) é um bem humorado road-movie sobre a retribuição de um filho a seu pai. Estrelado por Bruce Dern e Will Forte, o longa narra a curiosa história de Woody, um idoso que acredita ter ganho um milhão ao receber um propaganda pelo correio. Obcecado pelo prêmio, Woody começa a fugir de sua casa, na expectativa de chegar a cidade de Nebraska para receber o seu prêmio. Tocado pela situação do pai, David resolve investir no sonho e leva-lo para uma viagem na busca pelo "prêmio". Ao passar pela cidade natal de Woody, as coisas saem do controle quando ele espalha para seus familiares que está próximo de receber US$ 1 milhão. Explorando uma envelhecida parte dos EUA, o diretor Alexander Payne mostra todo o seu talento neste ótimo drama. Destaque para a genial atuação de June Squibb, brilhante como a esposa de Woody.
- Questão de Tempo (2014)
Um dos melhores filmes de 2013, Questão de Tempo (leia a nossa crítica aqui) é um drama com toques Sci-Fi realmente cativante. Estrelado por Domhnall Gleeson e Bill Nighy, o longa dirigido por Richard Curtis nos apresenta a relação de um pai e um filho ligados pelo mesmo dom: a possibilidade de voltar no tempo. Na trama, Tim (Gleeson) é um jovem desajeitado e tímido que não tem grande sucesso com as mulheres. Após uma tentativa de namoro frustrada, Tim completa 18 anos e descobre ter herdado o dom de seu pai (Nighty). Com a ajuda dele, o jovem então passa a usar o seu dom para encontrar um amor. Explorando com primor essa troca de experiências entre pai e filho, Questão de Tempo emociona, diverte e entretêm com a mesma qualidade. Através de sensívels diálogos, Curtis realça o aspecto mágico por trás de uma relação familiar, refletindo sobre o impacto do passado, no caso da criação, no futuro do seu filho. Um círculo virtuoso potencializado pela temática fantástica do longa, uma abordagem singular que enche de charme este adorável 'feel good movie'.
Menções Honrosas
Boyhood (2014), Todas as Formas de Amor (2010), Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003), Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), Os Donos da Rua (1991), Pais e Filhos (2013), A Estrada (2009) e A Música Nunca Parou (2011).
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