Dono de uma filmografia singular recheada de altos e baixos, Luc Besson se tornou um daqueles raros realizadores que, graças aos seus melhores projetos, ganhou um status que nem os seus piores trabalhos foram capaz de arranhar. Responsável por sucessos como Imensidão Azul (1988), Nikita: Criada para Matar (1991), O Profissional (1994), O Quinto Elemento (1997) e mais recentemente o ousado Lucy (2014), o diretor francês se tornou referência no cinema de ação, principalmente após a fundação do seu próprio estúdio, a Europacorp. Ao lado do produtor Pierre-Ange Le Pogam, Besson consolidou o nome de uma nova safra de diretores franceses, entre eles Louis Leterrier, Pierre Morel e Michel Gondry, tirando do papel as trilogias Carga Explosiva (2002-2008) e Busca Implacável (2008-2014), o elogiado Ong Bak: Guerreiro Sagrado (2003), o original Cão de Briga (2005), o popular B-13: 13º Distrito (2008), o cultuado Rebobine por Favor (2008), o excelente O Concerto (2010), o comovente Até a Eternidade (2010) e uma séries de outros filmes dos mais variados gêneros. Um viés eclético que, aliás, sempre se fez presente na sua carreira enquanto diretor.
Com uma assinatura irreverente e a coragem necessária para dar vida a títulos audaciosos, Luc Besson ampliou o escopo dos seus projetos ao flertar frequentemente com outros segmentos, incluindo o drama, a comédia, o Sci-Fi e a fantasia, o que fica bem claro no seu mais novo lançamento, o imponente Valerian e a Cidade dos Mil Planetas. Inspirado na aclamada HQ sessentista Valerian e Laureline, da dupla Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, o realizador francês exprime a sua paixão pelo conteúdo original numa aventura esteticamente magnífica, uma produção com efeitos visuais impactantes, uma riquíssima construção de mundo e um magnético casal de protagonistas. O problema é que, narrativamente, o filme surge como um daqueles projetos que nasceram datados. Assim como os "incompreendidos" John Carter: Entre Dois Mundos e Meu Amigo, O Dragão, Valerian se revela uma aventura à moda antiga, um filme puro, com uma temática sentimental e um senso de humor ingênuo que parece incompatível com o atual cenário dos blockbusters hollywoodianos. O resultado é um estonteante fracasso comercial, uma obra de US$ 177 milhões que não chegou nem perto da casa dos US$ 50 milhões nas bilheterias americanas. Um insucesso que, aqui, não deve ser associado a qualidade do longa. Na verdade, apesar do roteiro estruturalmente falho e da evidente fragilidade do texto, Besson capricha no aspecto imagético, realçando a grandiosidade deste particular universo numa obra vigorosa que não peca pela omissão.
Com uma assinatura irreverente e a coragem necessária para dar vida a títulos audaciosos, Luc Besson ampliou o escopo dos seus projetos ao flertar frequentemente com outros segmentos, incluindo o drama, a comédia, o Sci-Fi e a fantasia, o que fica bem claro no seu mais novo lançamento, o imponente Valerian e a Cidade dos Mil Planetas. Inspirado na aclamada HQ sessentista Valerian e Laureline, da dupla Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, o realizador francês exprime a sua paixão pelo conteúdo original numa aventura esteticamente magnífica, uma produção com efeitos visuais impactantes, uma riquíssima construção de mundo e um magnético casal de protagonistas. O problema é que, narrativamente, o filme surge como um daqueles projetos que nasceram datados. Assim como os "incompreendidos" John Carter: Entre Dois Mundos e Meu Amigo, O Dragão, Valerian se revela uma aventura à moda antiga, um filme puro, com uma temática sentimental e um senso de humor ingênuo que parece incompatível com o atual cenário dos blockbusters hollywoodianos. O resultado é um estonteante fracasso comercial, uma obra de US$ 177 milhões que não chegou nem perto da casa dos US$ 50 milhões nas bilheterias americanas. Um insucesso que, aqui, não deve ser associado a qualidade do longa. Na verdade, apesar do roteiro estruturalmente falho e da evidente fragilidade do texto, Besson capricha no aspecto imagético, realçando a grandiosidade deste particular universo numa obra vigorosa que não peca pela omissão.
Com roteiro assinado pelo próprio Luc Besson, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas patina ao selecionar mal as suas prioridades. Ao definir que o foco da sua versão estava na imatura relação entre os orgulhosos protagonistas, o mulherengo Major Valerian (Dane DeHann, à vontade em cena) e a independente Sargento Laurelline (Cara Delevingne, radiante ao capturar a ironia impertinente da sua personagem), o realizador francês "sacrifica" os promissores dilemas mais densos em prol da aventura, se rendendo ao escapismo ao investir numa trama em que o senso de perigo é praticamente nulo. Por mais que a conflitante dinâmica dos dois seja realmente atraente, principalmente durante as imersivas missões, Besson não encontra um meio termo, o equilíbrio entre o desenvolvimento deste arco íntimo e a construção da ameaça. Um pecado que, diga-se de passagem, só se torna mais nítido diante dos brilhantes quinze minutos iniciais. Com um invejável poder de síntese e pouquíssimos diálogos, o diretor não só introduz o viés pacifista de Alpha, uma estação espacial "aberta" para todos os povos terráqueos e intergaláticos, como também reforça a presença do elemento dramático, nos brindando com uma sequência poderosa que poderia reverberar de maneira bem mais convicta ao longo da película. O sopro de inspiração narrativa, porém, para por ai. Na verdade, embora nunca soe monótono ou desinteressante, o argumento em nenhum momento consegue replicar o peso das cenas iniciais, muito em função da inocência com que Besson trata temas como o genocídio de espécies, a ambição humana e o crescente elemento conspiratório. Em outras palavras, a ousadia do realizador ficou reduzida ao aspecto visual.
Até porque, narrativamente, Valerian é também um filme falho. Além de optar por seguir o caminho mais fácil, Luc Besson o faz num roteiro básico e com inúmeros problemas estruturais. Indo de encontro ao bem resolvido primeiro ato, quando tudo se traduz naturalmente em cena, o diretor francês começa a vacilar no momento em que nos subestima ao investir em grosseiros diálogos expositivos. Numa das cenas mais importantes do longa, a tão esperada apresentação da incrível Cidade dos Mil Planetas, o veterano parece simplesmente não acreditar no poder das suas imagens, reduzindo a sensação de maravilhamento ao investir em explicações quase literais sobre o funcionamento de Alpha e a integração das espécies. O mesmo, aliás, acontece dentro do redundante último ato, quando os segredos em torno do sequestro do comandante Flitt (Clive Owen, esquecido) são desvendados da maneira mais preguiçosa possível. Sem querer revelar muito, Besson apara as arestas da trama através de diálogos pobres e requentados flashbacks, expondo outro grande problema do argumento: o descuidado desenvolvimento do arco envolvendo os habitantes do planeta Mül. Com uma estrutura narrativa engessada e completamente linear, o realizador francês praticamente não "desgruda" do casal de protagonistas, subaproveitando o drama destes sábios personagens em prol da aventura e da construção do romance entre Valerian e Laureline. Ainda que esta opção não afete o senso de entretenimento, nem tão pouco o ritmo da película, o fato é que Besson custa a encontrar brechas para os extraterrestres, e se vê obrigado a resolver todas as questões em torno deles num clímax verborrágico, inchado e recheado de soluções frágeis. Por fim, apesar das evidentes boas intenções, os diálogos de cunho sentimental são majoritariamente genéricos e pouco sutis, prejudicando as lições emotivas sobre o amor, a confiança e o respeito às diferenças levantadas no último ato. Uma mensagem singela e bem-vinda que, dentro do contexto ingênuo proposto pelo longa, nem soa tão piegas assim.
A previsibilidade do roteiro, porém, é amenizada pelo espetáculo visual proposto por Luc Besson. Com imersivos planos gerais, enquadramentos expansivos e sequências arrojadas o realizador encanta ao capturar a pluralidade e a riqueza de detalhes do universo criado por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières. Fazendo jus ao polpudo orçamento, ele investe pesado no CGI e na refinada técnica de captura de movimentos, criando personagens exóticos e naturalmente impactantes. Como não elogiar, por exemplo, a expressividade dos Mül's, uma raça majestosa, de olhar humano, que protagoniza as sequências mais densas da trama. Ou então a excentricidade dos três aliens chantagistas, uma espécie alada de Alf (o ET falastrão da série de TV) que rende alguns dos momentos mais divertidos da película. Me arrisco a dizer, inclusive, que alguns dos extraterrestres soam mais eloquentes que a própria Cara Delevingne, uma modelo\atriz magnética que, apesar do seu esforço e da sua inegável evolução, ainda exibe uma limitada gama de expressões em cena. Embora o foco esteja nos humanos, Besson exibe a sua virtuosa assinatura ao traduzir a integração entre as espécies, a variedade de cores, formas e figurinos, o que fica bem claro nas vívidas sequências externas em Alpha. A cena em que o agente Valerian caminha pela zona de prostituição, por exemplo, é um deleite visual, tamanha a quantidade de figuras exóticas e a constante sensação de movimentação. O realizador, aliás, esbanja categoria ao criar também os vigorosos e habitáveis cenários digitais.
Impulsionado pela irreverência estética da fotografia azulada de Thierry Arbogast (O Quinto Elemento), Besson brilha ao realçar as diversificadas paisagens, os contrastes presentes na Cidade dos Mil Planetas, indo da exuberância paradisíaca do planeta Mül à escuridão das profundezas de Alpha com extraordinária leveza e coesão cênica. Oriundo do cinema de ação, o francês é igualmente habilidoso ao construir as lúdicas sequências mais frenéticas. Entre cortes fluídos e inventivos movimentos de câmera, Luc Besson busca referência no universo dos games e do RPG ao usar elementos como o improviso, a realidade virtual (a sequência do deserto é genial) e o conceito de mundo aberto, preenchendo o longa com takes ágeis, engenhosos e totalmente compreensíveis aos olhos do público. A cada pequena nova missão da dupla, o realizador encontra a "desculpa" perfeita para revelar um pouco mais da magia da Cidade dos Mil Planetas, para explora-la com enorme dinamismo, criando um 'mise en scene' virtual revigorante e extremamente agradável. O único senão visual, na verdade, fica pela artificial relação entre os atores e alguns dos personagens digitais, ressaltando as pequenas falhas na texturização deles e consequentemente a presença do CGI. E um bom mágico não deve "revelar" os seus truques.
Impulsionado pela irreverência estética da fotografia azulada de Thierry Arbogast (O Quinto Elemento), Besson brilha ao realçar as diversificadas paisagens, os contrastes presentes na Cidade dos Mil Planetas, indo da exuberância paradisíaca do planeta Mül à escuridão das profundezas de Alpha com extraordinária leveza e coesão cênica. Oriundo do cinema de ação, o francês é igualmente habilidoso ao construir as lúdicas sequências mais frenéticas. Entre cortes fluídos e inventivos movimentos de câmera, Luc Besson busca referência no universo dos games e do RPG ao usar elementos como o improviso, a realidade virtual (a sequência do deserto é genial) e o conceito de mundo aberto, preenchendo o longa com takes ágeis, engenhosos e totalmente compreensíveis aos olhos do público. A cada pequena nova missão da dupla, o realizador encontra a "desculpa" perfeita para revelar um pouco mais da magia da Cidade dos Mil Planetas, para explora-la com enorme dinamismo, criando um 'mise en scene' virtual revigorante e extremamente agradável. O único senão visual, na verdade, fica pela artificial relação entre os atores e alguns dos personagens digitais, ressaltando as pequenas falhas na texturização deles e consequentemente a presença do CGI. E um bom mágico não deve "revelar" os seus truques.
Contando ainda com espertas referências ao universo pop e algumas recompensadoras participações especiais, a cantora Rihanna, em especial, rouba a cena numa performance criativa e provocante, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas contorna os inúmeros problemas narrativos ao nos oferecer uma aventura eficaz embalada por um memorável design de produção. Num dos projetos mais pessoais da sua filmografia, Luc Besson não poupou investimentos ao tirar do papel este (caríssimo) sonho antigo, utilizando o melhor da tecnologia atual numa adaptação corajosa e indiscutivelmente pessoal. Na verdade, embora se preocupe em resgatar temas fundamentais da HQ, entre eles a luta pela igualdade de gênero, o multiculturalismo e a harmonia entre as espécies, o realizador o faz dentro de um contexto ingênuo, quase pueril, refletindo as suas memórias mais afetivas ao reproduzir o maravilhamento do garotinho do interior que descobriu um mundo de cores e fantasia ao começar a ler esta influente produção francesa. Em suma, ao imprimir os seus sentimentos em tela, a sua visão sobre este vasto universo, Besson nada contra a atual corrente blockbuster ao entregar uma obra convicta, uma aventura com alma que, apesar dos evidentes problemas narrativos, não merece ficar marcada pelo insucesso comercial.
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