Uma mistura de Bom Dia Vietnã (1987) com Guerra ao Terror (2009), Uma
Repórter em Apuros oferece um ponto de vista curioso sobre a função do
correspondente de guerra. Indo de encontro aos relatos mais sérios, a comédia
dirigida pela dupla John Requa e Glenn Ficarra flerta com o humor satírico ao
investigar as desventuras de uma repórter em solo afegão, expondo o lado mais
absurdo por trás da rotina destes corajosos profissionais. Embora inserido
dentro de um contexto quase inofensivo, o longa envolve ao desvendar o 'modus
operandi' dos jornalistas em solo estrangeiro, incluindo os excessos e excentricidades,
encontrando na afiada performance de Tina Fey o misto de cinismo e realismo
necessário para dar credibilidade a esta irreverente película.
Impecável ao explorar os contrastes em torno da presença feminina dentro
deste ambiente hostil e majoritariamente masculino, John Requa e Glenn Ficarra
são igualmente habilidosos ao jogar uma luz sobre a faceta mais absurda da
rotina dos correspondentes de guerra. Através do olhar dos interessantes
personagens de apoio, entre eles a espevitada repórter australiana Tanya
(Margot Robbie, reluzente), o experiente fotógrafo Iann (Martin Freeman,
carismático) e o zeloso guia afegão Fahim (Christopher Abbott, ótimo em cena),
os realizadores esbanjam irreverência ao revelar aquilo que os telejornais não
costumam mostrar. Embora o aspecto jornalístico esteja no centro da trama,
principalmente quando o assunto é a crescente busca pelo furo da reportagem e o
jogo de influência por trás das grandes entrevistas, o longa foge do lugar
comum ao expor os anseios mais "mundanos" dos correspondentes, os
exóticos momentos de diversão e as variadas relações dentro deste seleto grupo.
Sem querer revelar muito, enquanto a bela Tanya surge como uma espécie de
'host' dentro deste exótico cenário, o leal Fahim protagoniza o arco mais
sincero do longa, justamente por se tornar o único capaz de enxergar os perigos
em torno das atitudes de Kim na zona de guerra. Além disso, com naturalidade e
energia, o argumento é preciso ao traduzir o realístico processo de
transformação da protagonista, a sua completa adaptação ao ambiente afegão, uma
mudança moldada pela forte adrenalina experimentada durante o período em solo
estrangeiro.
Por mais que os problemas narrativos sejam evidentes, a maioria deles
envolvendo a queda de ritmo no segundo ato e o estereotipado ministro afegão
interpretado por Alfred Molina, o longa se sustenta também na condução invectiva
de John Requa e Glenn Ficarra. Responsáveis pelo excelente Amor a Toda Prova
(2011), os realizadores investem numa abordagem singular, um trabalho marcado
pelo positivamente inoportuno setlist, pelos expressivos planos abertos e pelo realista
trabalho da direção de arte, principalmente na construção do deteriorado
cenário afegão. Detalhe: o filme foi rodado no Novo México, nos EUA. Em suma,
com um sagaz senso de humor, uma cativante gama de personagens e um importante
cuidado quanto ao contexto político do conflito, Uma Repórter em Apuros se
torna relevante no momento em que decide mostrar a tão explorada Guerra do
Afeganistão sob um ponto de vista irônico, feminino, por vezes ingênuo, mas
inegavelmente autoral.
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