sábado, 3 de setembro de 2016

Star Trek: Sem Fronteiras

Orgulho Trek

Revitalizada com excelência por J.J Abrams, a franquia Star Trek atinge o seu ápice nesta nova fase no empolgante Sem Fronteiras. Sob a batuta de dois fãs confessos da série, o diretor Justin Lin (Velozes e Furiosos) e o roteirista Simon Pegg (Todo Mundo Quase Morto), o terceiro capítulo é o que melhor consegue absorver o espírito da obra original, equilibrando aventura, Sci-Fi e comédia ao resgatar elementos tradicionais do universo Trek, entre eles a pluralidade de espécies, a aura exploratória e a conexão emocional entre os membros da USS Enterprise. Ainda que os conflitos mais densos sigam em torno do trio Kirk, Spock e Uhura, o novo longa se arrisca ao desconstruir esta solidificada equipe, ressaltando a diversidade que os une ao permitir que cada um dos principais tripulantes tenha o seu "lugar ao sol" nesta continuação. Na verdade, mais do que os espetaculares efeitos visuais e as memoráveis sequências de ação, Star Trek: Sem Fronteiras se orgulha em valorizar o poder e a particularidade dos seus icônicos personagens, nos fazendo enxergar os motivos que mantiveram a chama desta franquia acesa nos últimos cinquenta anos.



Mesmo com uma complicada missão em mãos, Justin Lin e Simon Pegg superam as elevadas expectativas ao apresentarem um longa consciente das suas responsabilidades. No ano em que a aclamada franquia completa o seu quinquagésimo aniversário de lançamento, a dupla não só captura a essência aventureira da série original, como também abre espaço para um individualizado estudo de personagem, encontrando um meio termo capaz de agradar tanto os fãs de um blockbuster mais descompromissado, quanto àqueles que se acostumaram a curtir as intrépidas missões da nave USS Enterprise. Com leveza e sensibilidade, o argumento transita entre os gêneros de maneira ágil e espontânea, fazendo um inteligente uso do fator nostalgia ao nos aproximar dos sentimentos mais íntimos dos seus tripulantes. Por mais que alguns dos conflitos não sejam tão bem aproveitados, vide os superficiais dilemas amorosos envolvendo Spock e Uhura, Lin mostra categoria ao absorver as características mais marcantes de cada um dos personagens, esbanjando um excepcional senso de simultaneidade ao realçar a sintonia entre eles mesmo com a equipe fisicamente desarticulada. Além disso, o realizador consegue ditar o tom da película sem qualquer tipo de dificuldades, dando uma abordagem inesperadamente madura a temas que poderiam ser facilmente banalizados.


Na trama, após uma cansativa missão de exploração intergalática, a tripulação da nave USS Enterprise ganha uma folga ao chegar a gigantesca Yorktown, a mais nova base da Frota Estelar. Indeciso quanto ao seu futuro como capitão, James T. Kirk (Chris Pine) parece disposto a assumir uma função junto ao alto escalão da Federação dos Planetas Unidos. Nesse meio tempo, o calculista Sr. Spock (Zachary Quinto) é pego de surpresa ao receber uma trágica notícia, uma novidade capaz de modificar o seu rumo dentro da Frota e a sua relação com a bela Uhura (Zoe Saldana). O tão aguardado descanso da tripulação, no entanto, é abreviado quando eles recebem um pedido de socorro em uma afastada região da galáxia. Ao chegar lá, porém, eles são recebidos com um devastador ataque de um misterioso inimigo, o nefasto Krall (Idris Elba). Acuados e sem ter a quem recorrer, Kirk e os seus comandados são obrigados a se refugiar num desconhecido planeta, se separando na tentativa de sobreviver a esta impiedosa ameaça. Contando com a ajuda da indomável Jaylah (Sofia Boutella), uma sobrevivente que já havia sentido na pele a força deste rival, os membros da Enterprise precisarão se reagrupar neste inóspito planeta e impedir que uma perigosa arma caia em mãos erradas.


Com uma premissa simples e consistente em mãos, Justin Lin transforma Star Trek: Sem Fronteiras numa aventura Sci-Fi envolvente e vigorosa. Sem tempo a perder, o novo 'status quo' dos membros da Enterprise é introduzido com inesperada contundência, assim como a presença do ameaçador Krall. Mesmo ser ter o peso do icônico Khan (Benedict Cumberbatch), o nefasto antagonista vivido por Idris Elba é uma das inúmeras surpresas positivas do longa, um vilão atual com uma motivação bem fundamentada e condizente com a pegada individualista defendida pelo roteiro. Somado a isso, o diretor é habilidoso ao explorar a opressividade de Krall, ampliando a atmosfera de tensão ao criar uma série de sequências fortes e naturalmente dolorosas. O grande trufo do novo Star Trek, no entanto, reside na maneira sagaz com que o argumento desconstrói velhas parcerias em prol desta proposta mais particular. Ao separa-los, o longa encontra espaço para identificar algumas nuances pouco aproveitadas na franquia, detalhes mais íntimos que só ajudam a solidificar o vínculo entre os tripulantes da Enterprise. Por mais que Spock e Kirk tenham um generoso tempo de cena juntos, Pegg opta por explorar novas possibilidades, aproximando personagens que até então não tinham um entrosamento tão reconhecido. Sem querer revelar muito, a relação entre Spock e Magro (Karl Urban) é hilária, assim como a improvável relação entre o temeroso Scotty e a destemida Jaylah. Num todo, aliás, os alívios cômicos são perspicazes e harmoniosos, potencializados pelo afiado tempo de comédia do roteirista e pela invejável química do elenco.


Não se engane, porém, com a aparência descartável da trama. Justin Lin é sutil ao explorar os conflitos mais íntimos dos personagens, principalmente os dilemas do Sr. Spock e do indeciso Capitão Kirk, evidenciando através deles o cansaço e o peso da liderança. Melhor ainda, aliás, é o faro do realizador na construção das memoráveis sequências de ação. Sem "apelar" para os reflexos de lente de J.J Abrams, Lin investe em virtuosos recursos práticos, a maioria deles envolvendo as detalhistas maquiagens e os engenhosos cenários inclinados. Através de inventivos movimentos de câmera e takes em ângulos inusitados, o diretor exibe o seu reconhecido talento nas angustiantes cenas de perseguição, transformando os corredores das naves num palco rico para os momentos mais frenéticos. É no espaço, no entanto, que Lin entrega alguns dos capítulos mais empolgantes desta continuação. Assim como nos longas anteriores, o CGI é utilizado com precisão tanto na construção dos planetas, quanto nas vorazes batalhas aéreas, criando uma sucessão de momentos espetaculares, bem montados e essencialmente distintos. Impulsionada pelo fator nostalgia, a cena envolvendo a derrocada da Enterprise é de cortar o coração, uma prova do respeito da equipe de produção no que diz respeito aos símbolos mais cultuados da franquia. Isso para não falar da arrepiante apresentação da grandiosa Yorktown, uma cidade futurista 'hi-tech' repleta de magníficos detalhes, entre eles os prédios em curva, os trens voadores e a aparência absolutamente 'clean'. Por outro lado, atrapalhada pelo dispensável uso do 3-D, a então reluzente fotografia de Stephen F. Windon (Velozes e Furiosos 7) se torna exageradamente escura em algumas das sequências noturnas, dificultando a compreensão do espectador em um ou dois momentos.


Quando o assunto é o elenco, a nova fase da franquia Star Trek segue muito bem servida. Estrela da trupe, o carismático Chris Pine cumpre a sua missão ao encarnar um Kirk mais errático e amadurecido. Numa transição crível e coerente, o ator absorve as dúvidas do seu personagem sem maiores problemas, nos apresentando a uma faceta mais responsável do capitão. Indo de encontro ao seu parceiro de set, Zachary Quinto nunca esteve tão "solto" no papel do lendário Spock. Impecável nos momentos mais densos, o ator surpreende nos takes mais bem humoradas, principalmente na relação com Magro, aproveitando a sagacidade do roteiro ao revelar um ótimo tempo de comédia. Por falar nele, Karl Urban faz um excelente uso do seu maior tempo em cena e entrega uma das melhores performances desta continuação. Com seu humor franco, o ator cria uma excelente dupla com Quinto, uma parceria marcada pelo sarcasmo e pelas inapropriadas referências filosóficas. Quem também ganha um merecido destaque é o criativo Simon Pegg. Agora roteirista, o britânico mostra o seu reconhecido entusiasmo ao longo da trama, se tornando o porta voz de alguns dos momentos mais engraçados da película. Assim como Pegg, aliás, o saudoso Anton Yelchin e o "esquecido" John Cho dão uma significativa contribuição para o rumo da trama, participando ativamente das gags e das primorosas sequências de ação. Já entre as caras novas, enquanto Idris Elba empresta a sua intensidade para o temido Krall, convencendo ao criar um vilão misterioso e ameaçador, a promissora Sofia Boutella esbanja carisma e aptidão física ao dar corpo a incrível Jaylah.


Uma película com orgulho da sua essência, Star Trek: Sem Fronteiras exalta a particularidade dos seus cultuados personagens ao propor uma mensagem otimista em prol da pluralidade e do pacifismo. Mesmo diante de alguns pequenos problemas, a excelente Zoe Saldana me pareceu um tanto quanto subaproveitada com a sua Uhura, Justin Lin entrega um blockbuster sincero e revigorante, uma obra à altura deste inestimável símbolo da cultura pop. Recheado de momentos marcantes, vide a sequência ao som do hit 'Sabotage', o terceiro capítulo desta nova fase equilibra passado e presente de maneira contextualizada e intuitiva, prestando uma enorme reverência àqueles que ajudaram a construir esta duradoura história de sucesso.

Um comentário:

Unknown disse...

Sempre gostei da filmes. São muito interessantes, podemos encontrar de diferentes gêneros. De forma interessante, o criador optou por inserir uma cena de abertura com personagens novos, o que acaba sendo um choque para o espectador. Desde que vi o elenco de Star Trek Sem Fronteiras imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, pessoalmente eu irei ver por causo do ator Idris Elba, um ator muito comprometido. Eu vi recentemente Idris Elba em The Dark Tower. É uma historia que vale a pena ver. Para uma tarde de lazer é uma boa opção. A direção de arte consegue criar cenas de ação visualmente lindas.