quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Como Sobreviver a um Ataque Zumbi

Estúpido e divertido, longa se revela um 'terrir' de respeito


Como sobreviver a um Ataque Zumbi é estúpido? Sim. É infame? Inegavelmente. É trash? Sem dúvidas. Mas não era isso que deveríamos esperar de um filme do gênero? Com Certeza! Indo do besteirol descerebrado de American Pie à irreverência 'gore' de Tá todo Mundo Quase Morto, o longa dirigido por Christopher Landon (Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal) arranca uma consistente dose de risadas ao colocar um grupo de adolescentes diante de uma ameaça totalmente inusitada. Com um roteiro que funciona dentro da sua proposta descompromissada e um elenco totalmente entrosado, o realizador cumpre a sua missão ao resgatar a tradição do popular gênero 'terrir', criando um blockbuster capaz de transitar entre a comédia e o horror sem se levar a sério por um segundo sequer.


Mesmo sem ter a originalidade dos mais cultuados representantes do gênero, entre eles Fome Animal (1992), Uma Noite Alucinante 3 (1993), Zumbilândia (2009) e o próprio Tá Todo mundo Quase Morto (2004), Como Sobreviver a um Ataque Zumbi não decepciona quando o assunto é o universo zumbi. Numa opção no mínimo ousada, o argumento assinado por Carrie Lee Wilson, Emi Mochizuki e pelo próprio Christopher Landon adiciona um pouco mais de inteligência as suas criaturas, permitindo que elas tragam consigo alguns lampejos da sua vida. Sem querer revelar muito, se prepare então para ver zumbis stripers, atiradores e (pasmem vocês) cantores. A homenagem à "princesa do pop" Britney Spears é impagável. Não se engane, porém, com a aparente inofensividade das criaturas. No melhor estilo Extermínio, os mortos vivos são ágeis e ameaçadores, dando ao realizador a oportunidade de criar alguns momentos genuinamente tensos. Além disso, a equipe de maquiagem faz um interessante trabalho na concepção dos zumbis, que surgem em cena com um visual pálido crível e bem tradicional. 


Com uma premissa sólida em mãos, Christopher Landon também não encontra dificuldades para construir eficientes gags. Por mais que o roteiro se renda exageradamente ao típico besteirol norte-americano, as exóticas piadas de cunho sexual funcionam inesperadamente bem dentro deste contexto e rendem uma série de sequências estúpidas, por vezes bizarras, mas ainda assim divertidas e desavergonhadas. Daquelas que não causam qualquer tipo orgulho, mas que arrancam inevitáveis risadas. Na trama, amigos desde a infância, o trio Ben (Tye Sheridan), Carter (Logan Miller) e Augie (Joey Morgan) cresceu unido pelo escotismo. Incomodados com a impopularidade, os dois primeiros pareciam dispostos a largar o grupo, mas não sabiam como contar ao simpático e entusiasmado Augie. Surpreendidos com um convite para uma concorrida festa, Ben e Carter resolvem abandonar o parceiro durante um acampamento, sem saber que uma epidemia zumbi iria assombrar a cidadezinha em que eles moravam. Apavorados, os dois são salvos pela sexy Denise (Sarah Dumont, confiante em cena), uma jovem garçonete que trabalhava numa casa de striptease. Contando com esta inesperada ajuda, os escoteiros resolvem se unir para salvar o amor da vida de Ben, a radiante Kendall (Halston Sage, uma simpática donzela indefesa), a garota popular que sempre o manteve na perigosa 'friend zone'. 


Apesar dos inúmeros clichês, Como Sobreviver a um Ataque Zumbi se desenvolve com agilidade e perspicácia. Sem qualquer tipo de enrolação, a epidemia é introduzida com objetividade, assim como a amizade entre Ben, Carter e Augie. Mesmo sem se aprofundar nesta relação, Christopher Landon não encontra problemas para realçar a cumplicidade entre os três, impulsionado pelo carisma e pela evidente química entre os promissores protagonistas. Com um afiado senso de humor, o trio absorve as piadas mais trash com absoluta energia, impedindo que as gags recaiam no terreno do mau gosto. Oriundo do cinema 'indie', Tye Sheridan convence como o responsável Ben, um adolescente de bom coração que se incomoda em "abandonar" o seu amigo escoteiro. No mesmo nível do seu parceiro de cena, Logan Miller arranca uma série de risadas com o afiado Greg, um jovem com hormônios em ebulição que só desejava participar da festa dos seus sonhos. Já Joey Morgan surpreende ao capturar a inocência do atrapalhado Augie, protagonizando algumas das melhores piadas da película. 


Sempre que invade o terreno do sexismo, no entanto, Como Sobreviver a um Ataque Zumbi sai dos trilhos. Como se não bastassem as desnecessárias piadas com peitos e sexo oral, as personagens femininas são em sua maioria tolas e\ou indefesas. A única exceção fica pela 'bad-ass' Denise, uma figura com aparência sexualizada, vide o seu short curto e o seu generoso decote, mas que se revela um tipo inteligente e importante para o andamento da trama. Outro ponto que incomoda são as confusas sequências de ação. Ainda que funcionem em alguns momentos, as cenas mais aceleradas são escuras e mal montadas, escancarando os inúmeros problemas de acabamento e as limitações impostas pelo modesto orçamento. Menos mal que, nos momentos de maior suspense, Christopher Landon mostra categoria ao construir as sequências mais tensas, explorando o potencial de ameaça dos seus zumbis sem abdicar da comicidade por trás desta exótica premissa. Sem medo de errar, a cena envolvendo um ridículo gato assassino é tão tosca, mais tão tosca, que se torna surpreendentemente boa. Neste sentido, aliás, é preciso dizer que Landon revela habilidade ao arquitetar as nojentas cena mais 'trash', que, em nenhum momento, soam redundantes e\ou incoerentes com a proposta defendida pela película. 


Recebido de maneira negativa pela crítica e pelo público, o longa faturou desastrosos US$ 3 milhões em solo norte-americano, Como Sobreviver a um Ataque Zumbi oferece tudo aquilo que eu esperava ver em um filme envolvendo escoteiros e zumbis. Por mais que o tom excessivamente familiar reduza o impacto desta comédia de horror, Christopher Landon mostra talento o bastante para transitar entre estes contrastantes gêneros, fazendo um excelente uso de elementos pop (a eclética trilha sonora é afiadíssima) ao construir um 'terrir' capaz de caminhar com as suas próprias pernas. 

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