sexta-feira, 24 de junho de 2016

Independence Day: O Ressurgimento

Apesar dos predicados visuais, O Ressurgimento é um blockbuster que carece de personalidade

Há exatas duas décadas, Independence Day "invadia" os cinemas ao redor do mundo abalando as estruturas da indústria do entretenimento. Impulsionado por uma massiva campanha de marketing, o Sci-Fi catástrofe dirigido pelo alemão Roland Emmerich conquistou a atenção do público ao apresentar incríveis efeitos visuais, explosivas cenas de ação, muita destruição e o carisma do astro em ascensão Will Smith. Recheado de momentos memoráveis, o longa faturou expressivos US$ 817 milhões mundialmente, se tornando a maior bilheteria do ano e um dos principais blockbusters da década de 1990. Em suma, uma aventura altruísta com começo, meio e FIM. Atualmente, porém, poucos são os sucessos de outrora que resistem (ou "sobrevivem") ao apetite voraz de Hollywood para uma continuação. Eis que vinte anos depois, numa realidade totalmente diferente, chega aos cinemas mundiais o gigantesco ID4: O Ressurgimento, uma sequência tecnicamente virtuosa, mas sem um pingo de personalidade. Novamente sob a batuta de Emmerich, o filme se perde ao tentar conciliar passado e presente num argumento inchado e exageradamente requentado, esbarrando nas suas próprias pretensões comerciais ao atirar para todos os lados na tentativa de ampliar o seu público alvo. Em outras palavras, apesar dos inegáveis predicados visuais e da bem intencionada pluralidade étnica, o novo Independence Day não chega nem perto de causar o impacto do seu antecessor.



Num primeiro momento, no entanto, O Ressurgimento parecia apontar para um caminho realmente inventivo. Roland Emmerich precisa de poucas cenas para apresentar o mundo pós 1996, um cenário pacífico e futurista onde os seres humanos aprenderam a coexistir em harmonia após a invasão alienígena. Com a intenção de se armar para uma possível revanche extraterrestre, os principais governos se uniram para construir um sistema de defesa internacional, se apropriando da tecnologia alien ao montar uma frota espacial liderada por alguns dos melhores pilotos do mundo. Entre eles o popular Dylan Hiller (Jessie T. Usher), um militar destemido que convivia com os feitos do seu amado pai, o falecido Capitão Steven Hiller (Will Smith). Dono de um temperamento forte, ele construiu uma rixa com o irresponsável Jake Morrison (Liam Hemsworth), um carismático órfão que era conhecido pelo seu estilo arrojado de pilotagem. Apaixonado pela jovem Patricia (Maika Monroe), a querida filha do presidente Whitmore (Bill Pullman), Jake é pego de surpresa ao se deparar com um novo ataque alienígena. Ao lado do Dr. David Levinson (Jeff Goldblum), o piloto parte em busca de um artefato que poderia ser decisivo na luta contra os extraterrestres, sem saber que desta vez os terráqueos terão que enfrentar uma ameaça ainda mais hostil e devastadora. 



A rigor, Independence Day: O Ressurgimento se esforça para emular as fórmulas escapistas do seu antecessor. Assim como no primeiro longa, o argumento assinado por Nicolas Wright, James A. Woods, Dean Devlin, Roland Emmerich e James Vanderbilt aposta numa abordagem familiar e nas variadas subtramas ao mostrar a invasão alienígena sob diversos pontos de vista. Neste caso, porém, o resultado é desequilibrado, simplório e carente de ritmo. Além de apressados e previsíveis, os arcos se cruzam de maneira pouco harmoniosa, subaproveitando o peso dramático de alguns acontecimentos em prol de soluções forçadas e\ou genéricas. Ao contrário de títulos como Star Wars: O Despertar da Força e Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, o novo ID4 não é tão convicto ao equilibrar o passado e o presente da franquia. Por mais que Jeff Goldbum (o investigador) e Bill Pullman (o motivador) figurem entre os pontos altos desta continuação, a impressão que fica é que eles estão em cena para cumprir a mesma função do filme anterior, reduzindo o impacto e o senso de nostalgia em torno destes dois importantes personagens. Pra piorar, os alívios cômicos são pobres e por vezes irritantes, um dos pontos mais frágeis desta oscilante continuação. A única exceção é o divertido Charlie Miller (Travis Tope), o carismático melhor amigo de Jake e um dos tipos mais entusiasmados do longa. 


Somado a isso, na ânsia de abraçar a integração defendida pela premissa, os roteiristas inflam o argumento ao dar uma falsa representatividade aos personagens, sejam eles americanos, africanos, asiáticos e europeus. Na hora de desenvolvê-los, no entanto, os problemas ficam evidentes, principalmente quando percebemos o quão rasos, estereotipados e narrativamente irrelevantes são alguns deles. Sem querer revelar muito, enquanto a cientista francesa Catherine Marceaux (Charlotte Gainsbourg) se mostra uma figura totalmente dispensável, a pilota chinesa Rain Lao (Angelababy) parece estar em cena somente para atrair a atenção do mercado oriental. Ainda assim, o líder tribal interpretado Deobia Oparei é uma das boas novidades desta continuação e entrega algumas das melhores cenas da película. Além disso, atrapalhado pelo excessivo número de subtramas, Roland Emmerich encontra dificuldades para introduzir os motivos por trás da rixa entre Jake e Dylan, impedindo que o público crie um vínculo natural com os novos protagonistas. Desta forma, limitados pela superficialidade do enredo, os jovens Liam Hemsworth e Jessie T. Usher até se esforçam, mas não conseguem entregar um trabalho à altura dos carismáticos Bill Pulman e Jeff Goldblum. Pra ser sincero, em nenhum momento eles parecem ter a bagagem necessária para segurar uma produção deste porte. Por outro lado, O Ressurgimento é bem melhor resolvido no que diz respeito a apresentação desta gigantesca nova ameaça, brincando com as nossas expectativas ao mostrar que algumas velhas táticas podem não funcionar duas vezes. Nesse sentido, aliás, é interessante ver como Emmerich busca referências no longa original ao construir uma frota alienígena ainda mais preparada e agressiva.


Narrativamente oscilante, ID4 ganha alguns pontos extras graças aos seus virtuosos predicados visuais. Assim como no original, Roland Emmerich investe em espetaculares sequências de ação, realçando com rara nitidez a ação devastadora dos alienígenas em contato com o planeta Terra. Ainda que não tenham o mesmo peso do antecessor, as cenas de destruição são grandiosas e esteticamente impecáveis, comprovando o enorme poder de fogo desta nova invasão alienígena. Além disso, o diretor alemão faz um excelente uso do CGI ao valorizar a presença dos aliens, principalmente quando abre espaço para os combates em menor escala. Como se não bastassem as insanas sequências aéreas, Emmerich faz questão de dar um corpo aos novos antagonistas, investindo em confrontos mais físicos e terrestres. O resultado é um clímax inventivo, limpo e positivamente distante do que foi apresentado no primeiro ID4. Dentro do competente último ato, aliás, o alemão mostra categoria ao aproveitar o máximo dos seus personagens, exibindo senso de simultaneidade ao coloca-los em ação de maneira conjunta e equilibrada. Ainda assim, apesar do versátil design de produção 'hi-tech', da fotografia nostalgicamente azulada e do funcional 3-D, Independence Day: O Ressurgimento carece de momentos genuinamente altruístas e arrepiantes, sequências que resgatem a imponência, o fator humano e o senso de bravura da obra original.

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