quarta-feira, 13 de maio de 2015

Cinemaniac Indica (A Busca)


Uma família prestes a ruir. Um casamento destruído. Um filho solitário. Tirando um belo proveito deste cenário extremamente recorrente, A Busca promove uma tocante reflexão ao narrar a jornada de um pai à procura do seu filho. Contando com a espetacular performance de Wagner Moura, brilhante ao passear pelas nuances do seu personagem, o longa dirigido por Luciano Moura foge do lugar comum ao dar contornos simbólicos e visualmente irrepreensíveis a um road-movie pelo interior do Brasil. Uma visão original e envolvente sobre um tema muitas vezes explorando dentro da sétima arte: a capacidade do ser humano em se redescobrir.

Trazendo no currículo a experiência na publicidade, Luciano demonstra grande habilidade ao falar através das sua expressivas imagens. Ainda que inicialmente o longa siga um caminho mais convencional, exalando tensão ao mostrar a crise entre pai e filho, pouco a pouco o realizador traz a esta história uma atmosfera absolutamente sensível, quase onírica, encontrando em cenários remotos, e nos expressivos personagens, a base para esta compreensiva aventura. Na trama, assinada pelo próprio diretor e por Elena Soarez, conhecemos Theo Gadelha (Moura), um pai\marido possessivo que não consegue tolerar a ideia da separação. Visivelmente irritado com a sua situação, ele tenta convencer o seu filho, Pedro (Brás Antunes), a fazer uma viagem de intercâmbio. Indignado com a recusa do garoto, que estava a beira do seu décimo quinto aniversário, Theo entra de vez em rota de colisão com a esposa (Mariana Lima), cada vez menos influente sobre o jovem. Após esta grande briga, no entanto, o casal terá que se unir quando Pedro simplesmente desaparece, fazendo com que Theo parta numa desesperada busca não só pelo seu filho, mas também pela manutenção da sua família. 


Vendido como uma obra de suspense, A Busca nem de longe se resume a esta unicidade de gênero. Através de diálogos ora mais intensos, ora bem humorados, ora comoventes, o argumento é habilidoso ao desenvolver a vigorosa odisseia de Theo. Dando vida a um personagem cheio de camadas, Wagner Moura desfila o seu reconhecido talento ao compor um tipo complexo, que cresce à medida que vai se tornando mais afetuoso. Numa premissa realmente bem resolvida, Theo é obrigado a passar por uma dupla jornada de descoberta, lidando não só com as suas falhas e inseguranças, mas também buscando conhecer verdadeiramente o seu próprio filho a partir das pistas deixadas por ele. Apesar da história girar em torno da figura paterna, é interessante ver como a trama abre espaço para os pontuais coadjuvantes, que cruzam o caminho de Theo contribuindo habilmente para esta jornada de redenção. Se apoiando com inspiração nos simbolismos, cada um destes personagens dialoga diretamente com este aflito pai, ressaltando questões interessantes envolvendo a instituição familiar. Sem querer revelar muito, desde o idoso que se recusa a emprestar o seu celular, pois precisa dele para se comunicar com a sua filha, até o isolado barqueiro, que fez da sua balsa a casa perfeita, todos acabam abrindo os olhos de Theo para aquilo que realmente é importante para ele, para a sua verdadeira função como pai de família. Com destaque para a emblemática sequência envolvendo a festa hippie, que culmina com um dos momentos mais significantes do filme.


Demonstrando a mesma categoria ao trabalhar com as metáforas visuais, a piscina é um elemento explorado brilhantemente, A Busca é um relato intimista e comovente sobre um pai disposto a manter sua família. Dando contornos particulares a jornada de Theo, chama a atenção a forma como a fotografia parece acompanhar as emoções do personagem, Luciano Moura deixa um ótimo cartão de visitas ao promover um longa autoral e livre das amarras geralmente impostas por selos como a Globo Filmes. Por mais que este precioso relato cultive uma aura convenientemente inocente em muitos momentos, aparentemente incompatíveis com a voracidade do mundo moderno, é nesta atmosfera ligeiramente "fabulesca" que este drama com toques de suspense encontra o seu verdadeiro charme. Uma forma revigorante para lidar com temas sérios e cada vez mais recorrentes dentro da nossa sociedade. 

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