Responsável
por quase ocasionar um incidente internacional entre os EUA e a Coreia
do Norte, a sátira A Entrevista passa longe de causar um estrago digno das polêmicas que cercaram a sua distribuição. Pivô dos ataques de hackers norte-coreanos aos servidores da Sony, o que gerou uma serie de revelações envolvendo os
bastidores de Hollywood, o longa chegou a ter a sua pré-estreia cancelada nas
salas norte-americanas em função de ameaças terroristas. Atraindo a
atenção - até mesmo - do presidente Barack Obama, que veio a publico
para questionar a decisão do estúdio, a comédia
dirigida por Evan Goldberg e Seth Rogen (É o Fim, Vizinhos, Superbad - É hoje) chega aos cinemas se contentando ao
explorar as já reconhecidas fórmulas dos principais trabalhos da dupla. O que, verdade seja dita, não chega ser um grande
problema, já que esta paródia sobre os filmes de espionagem encontra no hilário desempenho de James Franco e numa extravagante versão do recluso ditador Kim Jong-Un as armas que precisava para cumprir a sua principal missão.
Pra decepção daqueles que esperavam uma ácida crítica ao regime ditatorial norte-coreano, os realizadores novamente encontram no 'bromance' regado a sexo, drogas e imaturidade um poderoso aliado na construção desta inusitada sátira. Enquanto os questionamentos se mostram inocentemente rasos ao retratar as mazelas envolvendo o povo norte-coreano, a trama se apoia na reconhecida química dos amigos James Franco e Seth Rogen para fazer desta ignorante dupla de "heróis norte-americanos" os pilares de uma comédia repleta de altos e baixos. Na trama, após completarem dez anos à frente de um popular programa de celebridades, o afetado apresentador Dave Skylark (Franco) e o produtor Aaron Rapaport (Rogen) parecem viver o auge de suas vidas. Apesar da grande audiência, no entanto, Rapaport se incomoda com o fato de ser reconhecido como um profissional sensacionalista. Disposto a mudar este cenário, os dois resolvem alçar voos mais altos quando descobrem que o recluso ditador Kim Jong-Un (Randall Park) é um grande fã de Dave e que ele estaria disposto a dar uma entrevista exclusiva para o programa. Diante da oportunidade de suas vidas, os dois acabam se metendo em grandes confusões (valeu Sessão da Tarde!) ao serem convencidos por uma sensual agente da CIA (Lizzy Caplan) a se tornarem parte de um plano para matar o líder da Coreia do Norte.
Se escorando nas piadas de cunho sexual, algumas repetidas em excesso, nas referências a elementos da cultura pop, os fãs de O Senhor dos Anéis vão gostar, e na impagável presença de James Franco, um talentoso ator que felizmente não se leva a sério, o argumento assinado por Dan Sterling concentra a sua mira no enigmático líder da Coréia do Norte. Explorando com perspicácia a aura superior em torno de Kim Jong-Un, o roteiro é inspirado ao nos apresentar este governante como uma figura completamente excêntrica, repleta de fragilidades, gostos inusitados e com a necessidade de se comprovar perante a figura do pai. Uma representação nonsense e carismática, que funciona principalmente na improvável parceria com Dave. Construída para comprovar o poder de influência do ditador norte-coreano, esta exótica amizade só é potencializada pelo pitoresco desempenho de Randall Park, se tornando o ponto alto do roteiro. A centelha criativa do argumento, no entanto, é logo apagada, e a sátira se torna simplória ao se prender exclusivamente nos dilemas envolvendo Dave, Aaron e a vazia tentativa de assassinato do ditador. Uma opção verdadeiramente frustrante, confesso que esperava algo a mais do que os simples ataques à figura de Jong-Un, mas que não influencia na capacidade do longa em entreter o espectador com sequências ora exageradas, ora espirituosas. Com destaque para o hilário passeio de tanque ao som de Kate Perry, e para a forma esperta com que a trama utiliza a vulnerabilidade do ditador dentro do clímax.
Por mais que o último ato consiga empolgar através do absurdo, incrementado pela presença da sexy militar norte-coreana vivida por Diana Bang (Bates Motel), Evan Goldberg e Seth Rogan não parecem se esforçar para fazer de A Entrevista um passo adiante em suas respectivas carreiras. Recorrendo mais uma vez ao bromance e ao despudor da debochada dupla de protagonistas, esta estereotipada e politicamente incorreta comédia peca justamente pela falta de ousadia enquanto sátira. Uma brincadeira de aura quase inocente, que se não mostra a contundência necessária para ser alvo de tantas polêmicas, ao menos elucida a falta de noção dos norte-americanos perante os reais problemas do isolado povo da Coréia do Norte. Menos mal que a missão de divertir estes dois "agentes" conseguem cumprir.
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