terça-feira, 22 de julho de 2014

Cinemaniac Indica (Caminho para Liberdade)


Inspirado em uma impressionante história real, Caminho para a Liberdade mostra que o experiente diretor Peter Weir segue sendo um dos realizadores mais diferenciados da atualidade. Nos apresentando uma incrível história de sobrevivência, no mais pleno sentido da palavra, o diretor desfila o seu talento ao narrar a jornada de sete prisioneiros soviéticos e a luta deles para recuperarem as suas vidas. Ainda que alguns contestem a veracidade desses fatos, Weir opta por acreditar 100% nos relatos, explorando todas as nuances e traumas de cada um dos envolvidos. Tudo isso, embalado por expressivas atuações, uma impecável fotografia e um grande trabalho de maquiagem.



Enquanto o Nazismo e o holocausto se tornaram temas amplamente recorrentes em Hollywood, a ascensão e as consequências do Comunismo quase sempre acabaram em segundo plano. Muitos não sabem, no entanto, que assim como os nazistas, os comunistas também tinham os seus temidos campos de concentração. Conhecidos como Gulags, o espaço localizado nos confins da Sibéria reunia todos os considerados dissidentes políticos e traidores pelo regime. Enfatizando as mazelas envolvendo o impacto do regime liderado por Stalin, Caminho para a Liberdade revela o impacto do comunismo na rotina de  alguns países europeus.


Baseado nos relatos do sobrevivente Slavomir Rawicz, o roteiro assinado por Weir e Keith R. Clarke narra a história de Janusz (Jim Sturgess), um prisioneiro de guerra polonês levado para um desses campos de trabalho forçado. Tendo que sobreviver ao intenso frio, a racionada comida e ao trabalho forçado, o jovem decide usar a sua experiência na selva para conseguir uma improvável fuga. Ao lado de um americano (Ed Harris), de um soviético com dívidas (Colin Farrel), de um ex-Padre (Gustaf Skarsgård) e de mais três outros prisioneiros, Janusz terá que cruzar as fronteiras de alguns países para escapar da cortina de ferro que se instalou por toda Europa.


Sem pressa para desenvolver seus personagens, Peter Weir mostra o seu talento na condução desta incrível jornada. Explorando habilmente as nuances de cada um dos envolvidos, e o reflexo da guerra nas suas respectivas vidas, Weir faz com que o público, pouco a pouco, vá se conectando à história deles. Sem privilegiar os rostos conhecidos, a trama esquece os clichês do gênero, conduzindo de forma extremamente verossímil toda a degradação física e mental em meio a grande fuga. Méritos para o elogiado trabalho de maquiagem, que, inclusive, foi indicado ao Oscar de 2011. Ainda que a trama tenha um grande peso, e que Weir não suavize no sofrimento dos envolvidos, a bela e impecável fotografia funciona como um ferramenta de contraste. Utilizando toda a beleza natural de cada uma de suas locações, a fotografia assinada Russell Boyd vai do gélido ao desértico de forma ímpar, dando um interessante toque de amenidade ao longa. Desempenho, diga-se de passagem, igualmente expressivo ao já apresentado no último trabalho com Peter Weir, o ótimo O Mestre dos Mares.


Com personagens multidimensionais em mãos, o experiente diretor mostra como tirar o máximo de um talentoso elenco. A começar pelas expressivas atuações de Ed Harris e Collin Farrel, que demonstram intensidade ao interpretarem dois fortes e complexos personagens. O mesmo, aliás, acontece com os sempre competentes Jim Sturgess e Saoirse Ronan. Com a missão de liderar o time de sobreviventes, o Janusz vivido por Sturgess se mostra extremamente convincente ao longo de toda a película. Já Ronan, mostra porque é uma das atrizes jovens mais elogiadas da atualidade. Apesar de sua feminilidade e aparente fragilidade, a atriz mostra grande força e vigor físico. Méritos para o roteiro, que a explora de forma precisa e totalmente digna. Abrindo espaço para todos os outros personagens, Weir permite que rostos menos conhecidos também tenham destaque, como nos casos do ator sueco Gustaf Skarsgård e do carismático romeno Dragos Bucur.


Demonstrando grande cuidado com todo o contexto histórico, Caminho para a Liberdade é um daqueles filmes que entretém e esclarecem de forma única. Lidando de forma habilidosa com todo o drama humano, Peter Weir usa dos simbolismos para enfatizar o quão longa foi essa caminhada. Até porque, diferente dos nazistas, os soviéticos saíram como vencedores da Segunda Guerra Mundial. O Comunismo vigorou por décadas. E a perseguição aos "inimigos políticos" fizeram ainda mais vítimas. Fato que, sem dúvida alguma, só aumenta a importância deste expressivo trabalho. 

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