Explorando com perspicácia a mecânica dos principais jogos atuais, No Limite do Amanhã é um daqueles trabalhos que cumpre o que promete. Dirigido pelo competente Doug Liman, de A Identidade Bourne, o longa é um entretenimento descompromissado que surpreende graças à roupagem original dada a uma premissa requentada. Lidando com temas recorrentes dentro do gênero, incluindo as idas e vindas temporais, a película aposta no carisma de Tom Cruise e no ritmo acelerado dos games para conquistar as novas gerações. Tudo isso, no entanto, sem deixar de fora a pegada Sci-Fi necessária para que toda esta mistura viesse a funcionar.
Imagine você a dificuldade em começar um jogo que não tenha check point. Não importa o quão próximo você esteja de cumprir a sua missão, em caso de morte toda a sua evolução dentro do game será jogada no lixo. Em cima desta premissa, digna dos clássicos oitentistas do Arcade, os roteiristas Christopher McQuarrie e Jez Butterworth não se perdem em meio as incessantes cenas de ação e concebem uma trama surpreendentemente redonda. Se inspirando no romance "All You Need is Kill", de Hiroshi Sakurazaka, o longa narra a história do Tenente-coronel Bill Cage (Tom Cruise), um porta voz do exército norte-americano que se apresenta ao General inglês Brigham (Brendan Gleeson) para ajuda-lo a deter uma grande invasão alienígena. Responsável por colocar a vida de muitos soldados em risco, Brigham queria encontrar uma forma para melhorar a sua imagem junto ao público.
Após uma ordem inesperada, Cage acaba batendo de frente com o general e perde todo o poder de sua patente. Sem qualquer tipo de experiência em batalha, o tenente é colocado na linha de frente no dia D contra os alienígenas. Tentando sobreviver em meio a este caótico cenário, um golpe do destino acaba lhe dando um improvável dom: o de reviver todo o último dia antes do grande conflito. Preso no tempo, Cage tenta avisar, sem sucesso, que essa guerra iria dizimar boa parte dos soldados humanos. Numa dessas idas e vindas ele acaba "salvando" a guerreira Rita Vrataski, vivida por uma vigorosa Emily Blunt, símbolo da resistência e conhecida como a grande esperança contra os alienígenas. Demonstrando grande interesse na capacidade de Cage, Rita resolve investir o seu tempo no treinamento militar do Tenente na tentativa de torna-lo a última arma realmente efetiva contra os aliens.
Escapando do didatismo excessivo, o envolvente argumento tem como grande mérito a forma como aborda toda a vertente Sci-Fi presente na trama. Encontrando soluções bem amarradas para explicar os motivos envolvendo o novo "dom" de Cage, os roteiristas mostram ainda mais inspiração ao desenvolverem todas as idas e vindas no tempo. Sem deixar grandes furos, o que por si só é um fato raro dentro do gênero, toda a essência narrativa dos principais jogos em primeira pessoa é captada, permitindo que a trama ganhe ritmo e boas doses de humor. Com destaque para a bem-vinda inversão de forças entre os gêneros, já que enquanto Tom Cruise encarna um assustado e nada corajoso militar, Emily Blunt é a guerreira "bad-ass" que não teme nada, nem ninguém. Por falar nesta parceria, o inusitado processo de treinamento militar de Cage é muito bem conduzido por Doug Liman, ganhando uma invejável fluidez. Apesar de alguns episódios se tornarem recorrentes dentro da trama, incluindo a repetição de diálogos, a ótima montagem evita que o longa se torne repetitivo ou enfadonho. Pelo contrário, já que cada novo avanço de Cage representa uma série de diferentes possibilidades para os envolvidos nesta batalha.
Se dentro do Sci-Fi a trama se mostra bem amarrada, o mesmo já não podemos dizer do desenvolvimento da relação envolvendo Cage e Rita. Apesar da eficiente química entre Tom Cruise e Emily Blunt merecer elogios, os clichês do forçado interesse romântico soam desinteressantes e inexpressivos em meio a uma batalha que pode dizimar a raça humana. Outro ponto que incomoda fica pela concepção estética dos tais alienígenas. Apesar das muitas mortes e da destruição impressionar, Liman não consegue criar a tensão necessária no espectador, diminuindo boa parte do impacto visual de seus antagonistas. Nenhuma dessas pequenas falhas, no entanto, incomoda mais do que o forçado clímax. Mesmo com algumas decisões pertinentes, principalmente na mudança envolvendo o rumo de Cage, as soluções encontradas para fechar a boa premissa são extremamente concessivas e descartáveis. Ainda que os realizadores nos apresentem a um design de produção, com direito a takes aéreos, armaduras realisticamente robóticas e muita destruição, a câmera frenética e a velocidade da ação não se mostram tão inventiva aos olhos do público. Uma acelerada desnecessária que, inclusive, diminui o espaço do elenco de apoio no grande desfecho.
Demonstrando uma inspiração maior com o aspecto Sci-Fi, No Limite de Amanhã é um daqueles raros filmes de ação que tentam privilegiar a capacidade de seu argumento. Ainda que a ação incessante esteja presente em boa parte das 1 h e 50 min de projeção, o talento da dupla de protagonistas e a sagacidade do roteiro são os responsáveis por darem uma roupagem diferenciada a um tema requentado. Além disso, assumindo a mecânica dos principais jogos da atualidade, o longa mostra como era duro jogar videogame num período em que os check points nem sonhavam em existir.
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